O Mestre dos Fantoches

» Parte 1 da série “O que dizem os astros?”

“Nós podemos tomar o estado presente do universo como o efeito do seu passado e a causa do seu futuro. Um intelecto que, em dado momento, conhecesse todas as forças que dirigem a natureza e todas as posições de todos os itens dos quais a natureza é composta, se este intelecto também fosse vasto o suficiente para analisar essas informações, compreenderia numa única fórmula os movimentos dos maiores corpos do universo e os do menor átomo; para tal intelecto nada seria incerto e o futuro, assim como o passado, seria presente perante seus olhos.”

O texto acima é de autoria de Pierre Simon Laplace – grande matemático, astrônomo e físico, conhecido como “o Newton francês” –, um ávido defensor filosófico do determinismo. Segundo algumas doutrinas religiosas, Deus criou o universo e comanda absolutamente todos os eventos – cada fio de cabelo que cai e cada estrela cadente que penetra a atmosfera terrestre são fruto de um determinismo divino sob o qual não temos nenhum controle ou escolha.

Em sua crítica a astrologia, na série de TV Cosmos, Carl Sagan afirma que ela implica num perigoso fatalismo: “se nossas vidas são governadas por um conjunto de sinais de trânsito celestes, porque tentar mudar algo?”. Ora, há muitos céticos que criticam a astrologia ou a existência de um “ditador divino”, porém a idéia do determinismo não vem apenas de fontes ditas “místicas”.

O intelecto ao qual Laplace se referia em seu experimento mental foi batizado de Demônio de Laplace pelos seus biógrafos. Segundo a cosmologia de sua época, todas as partículas e planetas e estrelas exerciam influência gravitacional (e de outras forças) umas sobre as outras. Isso, e somente isso, poderia explicar todo o movimento dos corpos celestes e atômicos – exatamente por isso o Demônio teria em sua mente todo o passado e todo o futuro, todo o movimento do universo, como se fosse o presente. Para tal Demônio, nada que já ocorreu ou resta ocorrer será alguma novidade…

Laplace também esteve próximo a propor o conceito de buraco negro. Ele observou que poderiam existir estrelas maciças cuja gravidade seria tão grande que nem mesmo a luz escaparia de sua superfície. Na cosmologia moderna, sabe-se que tais singularidades existem, mas ainda não se sabe se a informação que é engolida por sua gravidade se perde ou é reaproveitada em algum outro lugar do universo. Essa é uma questão fundamental, pois se alguma informação é perdida, não seria mais viável conceber uma previsão do futuro como a de seu Demônio, pois ele não disporia mais de toda a informação necessária para sua previsão (embora decerto ainda disporia de muita informação).

Já a física quântica nos demonstrou o quão bizarro é o universo em suas partículas fundamentais. Hoje se sabe que é impossível prever o movimento (momentum) e a posição de partículas como um elétron: quanto mais se sabe sobre uma informação, menos se sabe sobre a outra. Tudo o que podemos determinar é uma probabilidade de tais partículas estarem neste ou naquele local – não podemos analisar a trajetória de uma única partícula como uma linha reta (física clássica), e sim como uma função de onda.

Finalmente, os neurologistas já descobriram que temos tantos neurônios no cérebro quanto estrelas em nosso horizonte cósmico. Segundo o filósofo Daniel Dennet, não existem coisas como experiências subjetivas; em vez disso ele propõe que o cérebro é um computador que possui informações de diferentes fontes com uma disposição para um comportamento particular e uma habilidade para distinguir entre estímulos diferentes. Esse é o ápice do determinismo: não apenas um determinismo divino ou a influência derradeira dos corpos celestes, mas a redução total de seres a coisas. Somos como poeira espalhada pelo vento, tudo o que fazemos, tudo o que pensamos, é determinado pelas reações químicas de partículas dentro de nossa cabeça. Eis o determinismo materialista.

Ante o evidente absurdo do determinismo – seja divino, astrológico ou material – tudo que posso dizer é isto: Ora, se tudo o que fazemos, todo nosso movimento e nosso pensamento, toda nossa razão e emoção, todas as nossas escolhas, são previamente determinadas, de que diabos adiantaria discutir o assunto filosoficamente? Se estaremos a discutir alguma coisa, não será por nosso livre-arbítrio (inexistente), mas sim porque fazemos parte de um teatro de fantoches… E nossa discussão, e todas as discussões, seriam apenas mais uma encenação de um Mestre dos Fantoches. Nossa angústia seria fruto do movimento dos corpos celestes. Nosso medo do futuro seria o resultado de alguma reação química em nosso cérebro. Seria o fim de toda a responsabilidade, o fim de toda liberdade, o fim da vida como algum dia foi compreendida… E isso é tudo o que tenho a dizer sobre o assunto.

No entanto, se o livre-arbítrio de fato existe, se somos parcial ou totalmente responsáveis por nossas próprias escolhas, então a filosofia de Dennet cai por terra, o fatalismo dos astros se reduz a fantasias inapropriadas, e o Demônio de Laplace torna-se apenas mais um pretendente a Deus. Ora, se a física quântica nos demonstra que o futuro é feito de probabilidades, se as singularidades cósmicas nos deixam na dúvida se a informação é ou não perdida, me parece que o determinismo é uma ilusão… O que temos, em realidade, é um sistema. Um sistema cósmico muito bem orquestrado para que todo movimento gere outro movimento, toda ação gere outra ação, e todas as coisas e todos os seres sigam eternamente conectados em sua harmonia cósmica. Se alguém sabe do futuro de forma perfeita (como Laplace postulou), precisaria ter criado tudo o que há a partir de si mesmo, precisaria ser Deus.

» Na continuação, a sincronicidade de Jung, o Oráculo de Delfos e o porque de não precisarmos nos preocupar com a previsão do futuro…

***

Nota: Esta série de artigos não é centrada na Astrologia (embora toque no assunto), e sim nos conceitos filosóficos do determinismo e da liberdade.

Crédito da imagem: Gravura de autor anônimo, divulgada primeiramente em um livro de Camile Flammarion

O Textos para Reflexão é um blog que fala sobre espiritualidade, filosofia, ciência e religião. Da autoria de Rafael Arrais (raph). Também faz parte do Projeto Mayhem.

» Ver todos os posts da coluna Textos para Reflexão no TdC

Compartilhar:

Facebook
Twitter
Pinterest
LinkedIn

Respostas de 18

  1. Master of puppets i’m pulling your strings
    Twisting your mind and smashing your dreams
    Blinded by me, you can’t see a thing
    Just call my name, ‘cause i’ll hear you scream
    Master
    Master
    hehe, vou esperar a segunda parte para comentar de ‘verdade’

  2. http://papodehomem.com.br/metralhando-mitos-e-cliches-2-livre-arbitrio/
    Esse texto aí apresenta essa idéia que vc já conhece, mas talvez vc se interesse pelos comentários em que o autor do texto responde aos questionamentos e dúvidas que levantaram
    “Seria o fim de toda a responsabilidade, o fim de toda liberdade, o fim da vida como algum dia foi compreendida”
    e qual o problema disso?Sério mesmo, não é só medo do desconhecido?
    @raph – O que eu critico aqui é o argumento “8 ou 80”, mas especificamente o do “0% liberdade” – muito embora a mesma crítica certamente seria válida para o “100% liberdade”. Os estóicos (e o Gandalf) diziam que devemos nos preocupar apenas com o que podemos modificar, com as escolhas que podemos fazer no tempo que nos é dado escolher, pois todo o resto seria angustiar-se inutilmente com os afazeres da deusa Fortuna (simbolizando tudo aquilo que nos escapa ao controle na natureza) – e eu concordo com eles.
    Se, por outro lado, não houver liberdade alguma, então o fato de eu estar com medo do desconhecido ou não, de eu estar discordando de você ou não, tanto faz: não é culpa minha. A culpa é do Mestre dos Fantoches, seja ele um deus, um demônio de Laplace, ou o “aleatório” (o que mais ou menos dá no mesmo, pois não compreendemos exatamente nenhum destes)…

  3. Saudações.
    Minha crença pessoal é de que vemos o mundo como desejamos ver, como espécie e indivíduo, sendo essas duas Vontades intimamente ligadas.
    Matematicamente explicando (como se isso tivesse algum valor), imaginemos que somos cercados por infinitas realidades das quais “captamos”, a principio, apenas aquelas ligadas a nossa sobrevivência primária, isso é coerente, pois é fato que há infinitos pontos nos cercando e temos acesso a apenas cinco sentidos básicos, geralmente.
    Sendo assim, que mundo você deseja viver como indivíduo? Um mundo com sentido ou sem? Com? A resposta não é sincera. Um mundo sem sentido pode ter qualquer sentido, o que você quiser, inclusive um que haja duendes, gnomos, salamandras, etc…
    Como espécie, o que queremos? Aventura? RPG? Hum… dificilmente. Não queremos Leviatans e Krakens em nossos quintais quando tentamos preparar nossos filhos para sua pequena jornada de algumas poucas décadas de vida (com sorte).
    Liberdade ou o Mestre dos Fantoches? Ambas são tentadoras, admito.
    A liberdade absoluta é um mundo branco (alguém aí também curte Neon Genesis Evangelion?).
    Merovíngio de Matrix: “fora a nossa aparência formal, a verdade é que estamos fora de controle, causalidade…”
    Agradeço a atenção desculpando-me pelas possíveis palavras que ficaram em mau tom e desejando a todos o melhor possível (aff, lema escoteiro, hehehe).
    @raph – “Liberdade ou o Mestre dos Fantoches?” – Pois então, acredito que você esteja, como eu, nem no “8” nem no “80”, mas nos tons de cinza, no meio-termo, no caminho do meio… Nossa liberdade termina onde começa a liberdade do próximo, mas além desse lema moral, existem as pressões constantes do ambiente, da natureza, etc. Claro que não existe liberdade absoluta, talvez no nosso estado de consciência não exista nem 10% de liberdade. Mas existe alguma liberdade… Pois se for 0% liberdade, quem esta digitando isso não sou eu, e quem está lendo não é você – somos apenas bonecos nas mãos do Mestre dos Fantoches.

  4. Muito interessante o seu texto.
    Até que ponto somos determinados e até que ponto somos livres?
    Esse é um questionamento que tenho, e inclusive eu e um colega estamos numa pesquisa sobre o assunto.
    Recentemente, consegui ver matematicamente a existência de um livre-arbítrio (eu chamaria mais de um princípio indeterminado do que free will).
    O problema é que não encontrei nada no homem ainda que indique livre-arbítrio. Todas nossas atitudes parecem sempre determinadas e toda liberdade parece não passar de uma ilusão de um sistema muito bem feito de “inteligência artificial”.
    Talvez de fato não exista liberdade, mas sim um determinismo que somos incapaz de medir todas as variáveis… O que é um bom questionamento!
    Abraço,
    Teo, Igor
    @raph – Igor, eu acredito que existam “sementes de liberdade” em todos nós. Pense na consciência de uma formiga, de um bonobo, e de um homo sapiens – existe uma evolução na capacidade de se fazer escolhas, nem que seja derivada simplesmente da consciência da complexidade em torno de si. Dentre os seres humanos, acredito que a liberdade de pensamento advém de uma capacidade de autoconhecimento, de “dobrar-se sobre a própria consciência”, independente de ser através de meditação budista, de filosofia, ou psicologia, ou etc. O Chefe Seattle falou em “fim da vida e início da sobrevivência”, paradoxalmente em referência ao que os colonizadores americanos estavam realizando com sua “colonização”. Acho que a vida em liberdade se dá em proporção a consciência que temos do Cosmos, e das escolhas que nos são dadas. Ao passo que a “sobrevivência” é o que a maioria faz, anteriormente para ter o que comer, hoje simplesmente para entreter a mente quando estão empanturrados, e sem noção do que fazer a seguir…

  5. Assim como o primeiro que Comentou falou do Metallica com a musica Master OF Puppets, procurem o Album Rebirth do Angra e vejam quem está na Capa.

  6. Essa é a parte do Waking Life, quando um dos personagens argumenta a respeito desse assunto.
    Se Deus existe então não tem livre arbítrio pois ele sabe de tudo que vc vai fazer, escolher, e consequencias advinda disso. Tá.
    E se Deus não existe, então um pensamento, um movimento muscular, qualquer tipo de ação, isso é gerado por uma renca de reações químicas, e essas reações obedecem leis químicas e físicas, e se são LEIS, são determinadas e determinantes no desencadeamento da da ação/reação a algo.
    Ainda prefiro ver DEUS como moldador do mundo, e a parada lá que cita os seres humanos, como sendo deuses faz mt mais sentido, pois assim vc molda o mundo da maneira que quer, isso faz ligação com a magia, que é moldar o mundo de acordo com sua vontade.
    e por ai vai
    see ya
    @raph – Por isso as informações científicas no texto passam a ser relevantes. Pois se a informação se perde em buracos negros, independente de sabermos ou não “para onde ela vai”, torna-se impossível para um Demônio de Laplace saber “todo o futuro”… Mas, ainda pior, se a física quântica estiver correta – e apesar de gente como Einstein ter achado que não estivesse, os experimentos, milhares deles em décadas, tem comprovado que está – isso significa que em sua parte mais fundamental, as partículas do espaço-tempo “tem apenas uma probabilidade de estar aqui ou acolá”. Nesse caso, o Demônio de Laplace precisaria prever diversos universos ao mesmo tempo (o que significaria prever probabilidades de este universo estar “aqui ou acolá”), ou seja, sua previsão seria tão “precisa” quanto a chance de um elétron estar “aqui ou acolá” nesse momento. Por isso também se diz que “se você acha que entendeu Física Quântica, significa que não etendeu nada ainda” 🙂
    Mas, voltando ao que você disse acima, me parece que Deus tenha criado um sistema, e não programado um filme cósmico cheio de fantoches robôs. Nós somos tão somente os elementos conscientes do sistema, aqueles que podem eventualmente fazer escolhas e carregar suas almas consigo, seja para onde for. Nós somos uma forma do Cosmos conhecer a si mesmo.

  7. Ta, não consegui esperar a segunda parte para ver aonde vai chegar, mas e se na realidade somente entendemos melhor o por que da decisão ao inves de realmente toma-la ? Ou então: se já tomamos a decisão em nosso Eu superior atemporal e o nosso eu somente acha que tomou e não percebe que tudo já foi realizado, somente não chegou la para vivencia-lo com o ego ?
    @raph – Me parece que a sua reflexão é bastante válida… Talvez, em um “futuro” estado de Nirvana, possamos realizar a melhor de todas as previsões: a previsão do presente. Eu ainda estou pensando se altero o texto final da parte 2 para incluir uma breve referência a isso (apenas aqui no TdC)… Legal você ter pensado na mesma coisa, de certa forma.

    1. Então Raph, no caso não existiria previsão, as coisas estariam acontecendo agora, não ‘será’ e nem ‘foi’, somente ‘é’, então não existe previsão, somente existe o que é observado, no caso da fisica quantica, nao seriam previsoes de onde as particulas estao mas sim observar onde elas estao pq já estao la. E me baseio no conceito de que o Acid do saindodamatrix apresentou em alguns post dele : http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2004/02/arquivos_akashicos.html
      http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2009/08/espacotempo_e_a.html
      @raph – Essa é a ideia de “eixo e roda” na carruagem que percorre os velhos sulcos: a roda seria o movimento e junto com ele o espaço e o tempo. Mas ainda estaria sustentada no eixo, que não gira, mas irradia a essência das coisas. Eu volta e meia faço referência a essa ideia nos meus artigos, mas isso não significa que a compreenda por completo – na verdade eu a compreendo muito pouco.
      Uma vez conversei com um espírito incorporado numa festa “cigana” (isso certamente ainda será descrito na série de contos “festa estranha” no meu blog), e ao invés de perguntar (como a maioria das pessoas que haviam conversado com ela) como seria meu futuro próximo, se iria ganhar ou perder dinheito, se iria casar cedo ou nunca, etc., comecei a perguntar sobre os mistérios do universo. O espírito simplesmente me respondeu que “era apenas um espírito que cuidava de um lago no Japão a mil anos atrás, e que não era prudente saber do futuro, pois o homem ainda não está preparado para saber de sua morte”… Até hoje eu fico pensando no que ela me disse, até mesmo porque foi dito de forma tão sincera, que me pegou desprevinido 🙂

  8. Mais um inverno!
    Nada à frente… Apenas a neblina fria velando vagos faróis turvos? e árvores úmidas às vezes vindo.
    Meço o tempo pelas luzes e rasgo o asfalto subestimando meus limites. Meu destino está lá, em algum lugar… Tão distante após a curva…
    O vidro embaça,
    a visão diminui…
    Alguém me chama!
    Acordo logo sem saber de que lado estou…
    Eis a hora de encarar a cidade cinza que nunca dorme,
    embora sempre sonhe.
    Considero sim a possibilidade da existência do espírito,
    embora nenhuma prova evoque convicção suficiente num absoluto cujas regras incendeiem o desejo de tranquilidade em minha consciência.
    Mas acelero… Para o destino chegar mais rápido,
    embora os caminhos sejam sempre na neblina do meu próprio vazio…
    Fantoche…
    @raph – Muito bom Fabrício… Não sei se já havia escrito isso antes, mas fico muito feliz em poder ajudar (quem sabe) a “despertar” esses lampejos de reflexões profundas em quem se arrisca nesse caminho. Não é necessário explicar a poesia…

  9. Se uma informação é perdida, ela não afetará o futuro. Logo, se o demônio de Laplace puder prever quais informações serão perdidas, o que me parece razoável dentro de uma visão não-quântica da mecânica, ele ainda possuirá conhecimento de todas as variáveis que causarão o futuro. Correto?
    De qualquer maneira, raph, sinto que seu trabalho está numa fase magnífica e me sinto feliz de poder me servir deles. Obrigado!
    @raph – Obrigado. Bem, pensando no que disse agora, se ignorarmos a MQ, realmente o demônio de Laplace poderia ter a previsão da informação perdida, como “rombos no futuro” que vão se expandindo juntamente com o espaço-tempo, já que cada vez mais informações serão “sugadas” pelos buracos negros… Porém, se essa informação nos burcados negros não for perdida, mas “transportada” para outra parte do universo, então o demônio de Laplace eventualmente também se confundiria com as “informações novas e inesperadas”, pois devemos lembar que ele conheceu a posição de todas as partículas apenas em UM momento, ele não seria nesse sentido um ser onisciente da dimensão temporal, mas um “vidente do futuro” baseando-se na onisciência das dimensões espaciais a partir de um dado momento do tempo…

  10. Em nível subatomico podemos dizer que “estamos uno com o todo”, que “oq está em cima é como oq está em baixo”, afinal, essencialmente, a minha composição é a mesma que existe nos limites do universo e além, não é?
    Fantoche não é bem a palavra certa, mas acredito que justamente por sermos essencialmente compostos da mesma forma que tudo no universo, estamos conectados com tudo por um grande emaranhado de “linhas”, e consequentemente, uma ação, mesmo que a nível sutil, ecoa por todas essas linhas. Isso é oq eu penso agora, daqui a pouco pode ser diferente haha
    É um tema bem interessante que permite pensar em infintias possibilidades.
    Muito bom.
    @raph – Obrigado… Fantoches ou robôs não teriam vontade nem poderiam ser responsáveis pelas própria ações, o Karma nada mais seria do que um jogo do Mestre dos Fantoches com ele mesmo. Já se existe alguma liberdade, mesmo que mínima, como a de crianças que podem brincar do que quiser, contanto que não saiam do parquinho, então passamos a ser responsáveis por nossas escolhas, por nossas brincadeiras; E assim aprendemos até que possamos brincar fora do parquinho.

  11. Ouço o seguinte sobre Deus, que ele é onisciente, onipresente, onipotente.
    A onisciência é a que mais me causa estranheza.
    Onisciência é saber o futuro de tudo e todos, se Deus sabe o futuro de tudo e de todos, logo não importa o que eu fizer, meu futuro já determinado então, pois Deus já o sabe. Obviamente, se meu futuro já traçado, isso seria uma baita de uma injustiça, e aonde fica o livre-arbitrio ?
    O que vocês acham o que é a Onisciência de Deus, dito por algumas religiões ?
    Eu prefiro acreditar que eu tenho milhares de destino em relação ao meu futuro, e Deus sabe cada um deles, e de acordo com as minhas escolhas eu posso traçar destino A ou B.
    @raph – Acredito que a onisciência de Deus possa ser entendida mais profundamente na medida em que tudo é criado a partir dele, a partir da substância que não pode crear a si mesma, a que se opõe ao nada. Se ele sabe de todo o passado, presente e futuro, também significa que não interveria diretamente, mas apenas indiretamente. Por isso acredito que somos nós que caminhamos em sua direção, pois ele não poderia “vir até nós”, visto que já está a nossa volta. Acho que no fundo essa questão não pode ser analisada de forma completamente racional, por isso fica muito complicado sequer tocar no assunto com palavras, mas eu tenho tentado 🙂
    Agora, no que tange o nosso destino, também acredito que tenhamos uma parcela de escolha, no mínimo, sobre ele… Daí minha crítica a qualquer forma de determinismo absoluto – que é o tema dessa série de 2 artigos.

    1. Onisciência é algo como uma consequência do resto.
      Meu corpo é onisciente? Ele sabe tudo que acontece consigo mesmo? Meu braço esquerdo sabe o que acontece com o braço direito?
      Quando trabalhamos com inteligência artificial, é fácil ver como inteligências locais distribuem informações ao longo do sistema, fazendo com que o sistema pareça inteligente. O sistema sabe sua própria reação (tanto que reage), mas é incapaz de entender a reação das inteligências menores que fazem parte do sistema.
      Um formigueiro não sabe o que pensa cada uma de suas as formigas, mas o formigueiro INTEIRO reage quando uma formiga é atacada.
      Se um ser é “tudo” e está, de alguma forma, ciente de si mesmo, ele é também “onisciente”.
      @raph – E talvez Sagan estivesse em parte correto quando afirmou que somos uma forma do Cosmos conhecer a si mesmo. Pelo menos de uma forma de consciência (ou “ponto de vista”) que hoje compreendemos…
      A beleza disso aqui é que cada um acaba tendo sua opinião, mas no conjunto essas opiniões não necessariamente se anulam mutuamente, mas antes se complementam. Bem melhor do que mandar “infiéis” pra fogueira.

  12. Rolou essa discussão no meu Formspring ontem:
    http://www.formspring.me/anarcoplayba/q/215995925582086522
    “Acredita que o destino de cada um já está traçado ou que construímos nosso destino?”
    Sabe, esse conceito está mais que ultrapassado num universo de onze dimensões (na verdade, se você parar na 5º dimensão, que é onde eu consigo pensar, já está ultrapassado.
    Vem comigo:
    Pegue o ponto. Ele é adimensional. Desenhe outro ponto não coincidente e una: você tem uma reta, a primeira dimensão, o comprimento.
    Pegue a reta, desenhe um ponto não coincidente. Una com a reta e você tem um plano, a segunda dimensão (comprimento com altura).
    Pegue o plano, desenhe um ponto não coincidente. Una com o plano e você tem a terceira dimensão, a espessura.
    Pegue esse mundo tridimensional (que é onde você vive) e desenhe um ponto fora dele. Como? No Ontem. Ou no amanhã. Una e você tem a quarta dimensão, o tempo.
    Nesse sentido, se você pensar num mundo tetradimensional, você está diante de um destino traçado, porque tudo o que aconteceu e acontecerá já é na quarta dimensão.
    Só que se você der um passinho adiante, desenhar um ponto fora das quatro dimensões, você tem a quinta dimensão, que nada mais é do que tudo aquilo que não aconteceu e nem acontecerá. Ou seja: Na quinta dimensão, existe tudo aquilo que não é na quarta dimensão. Todas as possibilidades.
    Portanto,se você quer mudar a sua história, você só precisa encontrar um ponto fora da quarta dimensão e mudar pra ele.
    Mas o problema é que 95% das pessoas vivem num mundo tridimensional, acreditando que o passado já foi e o futuro será. Se você conseguir entender que o tempo é, uma parte dos problemas já está resolvida (saudades e insegurança).
    O Próximo passo é dar um passinho adiante e ir pra quinta. E aí, vc está pronto pra isso?
    @raph – Essa questão da quinta dimensão deve ser entendida como uma alegoria ou analogia (não no sentido que a física dá as dimensões extras, por exemplo através da Teoria das Supercordas), mas afora isso acredito que faça muito sentido o texto. Todas as dimensões, e tudo o que existe, ao final são parte da mesma substância do qual tudo o mais se irradia. Nesse sentido o único demônio de Laplace que existe, aquele que poderia saber de todos os pontos e de todas as probabilidades desses pontos, “passados” e “futuros”, seria a própria substância, que Espinosa também chamou de Deus.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Social Media

Mais popular

Receba as últimas atualizações

Assine nosso boletim informativo semanal

Sem spam, notificações apenas sobre novos produtos, atualizações.

Categorias

Projeto Mayhem

Postagens relacionadas

Mapa Astral de Pablo Picasso

Pablo Picasso (Málaga, 25 de outubro de 1881 — Mougins, 8 de abril de 1973), foi um pintor, escultor e desenhista espanhol, tendo também desenvolvido

Mapa Astral de Timothy Leary

Timothy Francis Leary, Ph.D. (22 de outubro de 1920 – 31 de maio de 1996), Professor de Harvard, psicólogo, neurocientista, escritor, futurista, libertário, ícone maior

Mapa Astral de Oscar Wilde

Eu não gosto muito de postar vários mapas seguidos, porque o blog não é sobre Astrologia, mas agora em Outubro/Novembro teremos aniversário de vários ocultistas