Quem tem mais de 30 anos lembra com carinho especial esse ótimo desenho animado japonês (Anime) que passava na falecida Rede Manchete, com uma dublagem excelente (e olha que eu odeio dublagem) e personagens carismáticos e profundos. Diria até que foi Yuyu que me fez expandir minha visão espiritual para além do mundo ocidental/espírita e lembrar que a interação com os mortos é algo tão comum para certas culturas que pode até passar despercebido pra alguém de fora.
Abaixo uma espécie de FAQ feito originalmente por Melinda Miller, que traduzi e adaptei em julho de 97 pra minha homepage. Considerando que o mangá está nas bancas, e (ao que parece) o desenho ainda passa em TV paga, serve como chamariz para as crianças irem se acostumando com o Reikai e os adultos com o Anime. 😉
O QUE O TÍTULO SIGNIFICA??
Consiste de 4 Kanji (Caracteres chineses), que não significam muito em sua disposição atual:
Yuu – tímido, pálido, fantasmagórico
Yuu – enclinar-se, relaxar, brincar
Hakusho – papel branco, relatar, informar
Pode ser traduzido como “Informe poltergeist”, mas “Relato de Atividades espirituais” parece ser mais adequado. (Nota: O primeiro yuu é o mesmo caractere do nome de Yuusuke Urameshi. Fantasmagórico, hein? 😉
TERMOS USADOS NO DESENHO:
Youkai – O que a nossa tradução chama de monstro (o que é um tanto agressivo) ou demônio, os japoneses usam para definir qualquer criatura sobrenatural (espírito não-exatamente-humano), sem nenhuma conotação pejorativa. You significa “encantador”, referindo-se ao encanto do sobrenatural; é uma palavra que pode ser usada junto a outros ideogramas que representem criaturas sobrenaturais simplesmente para reforçar essa natureza, ou pode ser usada como o adjetivo “sobrenatural”. Assim, temos You-kai = aparição, visão, fantasma ou espectro. Kai sozinho já significa “aparição/visão”, mas com You seu significado fica mais abrangente. As duas palavras referem-se a todos os espíritos e criaturas sobrenaturais, não apenas demônios.
Rei – Este Kanji basicamente significa “espírito; alma “. O Rei é parte da famosa arma “dedinho” de Yusuke, o Rei Gun. Também é o nome da espada do Kuwabara, o Rei Ken, e está presente também no chapéu da Genkai, em Kanji.
-Kai – Um sentido deste caractere é basicamente “mundo”. Aparece em “Rei-kai” (espírito + mundo = mundo espiritual), “Ma-kai” (demônio + mundo = inferno), entre outros.
O Mundo dos Humanos (Nin-gen-kai) é o que conhecemos. A Ki (energia) característica desse mundo é chamada de Ki Espiritual (Reiki).
O Mundo dos Demônios (Makai) representa as Trevas, Inferno, ou o que no espiritismo chamamos de umbral. Seu ambiente caótico é preenchido por uma Ki viciosa que exala uma fragrância pútrida, chamada de Ki Sobrenatural (You-ki).
O Mundo dos Espíritos ou Plano Astral (Reikai), por sua vez, representa a Luz. É um mundo de equilíbrio e ordem habitado por seres benevolentes. É a fonte da chamada Ki do Brilho Sagrado (Sei-kou-ki), o poder absoluto e pleno. É no Mundo dos Espíritos que os mortos dos planos materiais são julgados e enviados ao Inferno merecido (Ji-goku).
MITOLOGIA JAPONESA E ASPECTOS CULTURAIS:
Yuyu Hakusho faz diversas referências ao obscuro (pro ocidente) mundo da mitologia oriental. Sei que há muito mais referências no desenho do que as que eu explico aqui, mas creio que isso já é um bom começo:
KITSUNE: Raposa, em japonês. Nas lendas japonesas, as raposas são cheia de artimanhas e mestras da ilusão. Elas rapidamente se vingam de quem as faz mal ou as perturbam de algum modo. Entretanto, elas podem ser generosas com quem as fizer algum favor. No desenho, Kurama é um Youko (basicamente um espírito de raposa) que costumava ser um famoso ladrão, até que um dia um caçador o feriu seriamente, e ele teve que ir para o mundo dos humanos se recuperar. Lá, nasceu como uma criança humana (de nome Suichi Minami) e ficou eternamente grato à sua mãe terrena pelo carinho da acolhida, carinho esse que ele extendeu à raça humana. Kurama domina e transforma em armas mortais uma variedade de plantas, mas seu verdadeiro poder só se manifesta em ocasiões especiais, que nem mesmo ele controla. É quando Youko domina sua personalidade (antes pacífica e gentil) e se transforma em um poderoso combatente.
ONI: Nome atribuído a monstros sobrenaturais em geral, como ogros, duendes, trolls, fantasmas e demônios. Vampiro e Zumbi são palavras compostas por Oni mais alguns outros kanjis, que passa a ser pronunciado Ki. Um vampiro (como a Miyu) é chamado Kyuu-ketsu-ki (monstro sanguessuga) e zumbi fica Fu-ga-ki (monstro faminto pútrido) ou apenas Ga-ki (monstro faminto). Duende tem um nome específico: Obake. Em Yuyu os Onis geralmente aparecem em pele de tigre, possuem chifres, grande boca e garras afiadas. O ajudante de Koenma é um Oni. E também aquele primeiro monstro que o Yusuke derrotou, o bicho que roubou a bola ágape e que sugava a alma das criancinhas.
SUZAKU, SEIRYU, BYAKO e GENBU: Na mitologia Chinesa, esses quatro são as personificações das quatro grandes bestas. Essas bestas são: pássaro, dragão, tigre e tartaruga. Esses quatro dividem o céu e o Zodíaco entre eles. O pássaro no Sul, e sua cor é vermelha. O dragão no leste, azul; a tartaruga no Norte, preto; e o tigre no oeste, branco. Eles aparecem quando finalmente Yusuke, Hiei, Kuwabara e Kurama se juntam. Enquanto Botan cuida de uma infestação de insetos na terra, eles vão lutar contra as quatro bestas no mundo espiritual.
ESPELHO, ESPADA e JÓIA: Esses três itens fazem parte das insígnias reais. Nenhum imperador pode ser coroado sem estes três itens. Na lenda, o Espelho das Trevas (Ankoku Kyou) foi presenteado ao primeiro imperador japonês por Amaterasu, assim como a Gema do Fantasma Faminto (Gaki Dama). A Espada da Magia Rendedora (Kouma no Ken) foi tirada da cauda de um dragão, por Susanoo, e depois dada à família imperial. No desenho, estes foram os itens roubados por Kurama e Hiei, dissidentes do mundo espiritual, bem no começo da aventura. Tais elementos (e personagens) também foram usados no Anime Fushigi Yugi.
ENMA DAIOH: O senhor e juiz da morte, segundo a tradição japonesa. O nome Enma vem do chinês Yanmo, tradução antiga de Yama, que é o nome do Deus da Morte hindu. É o pai do baixinho Koenma, aquele nenezinho invocado 🙂
MONTE HIEI e MONTE KURAMA: Montanhas da área de Kyoto. Tudo o que eu sei sobre o Monte Kurama é que há um importante (mas não muito mencionado) festival que acontece lá em outubro. Muito mais é sabido sobre o Monte Hiei. É uma das mais importantes montanhas do Japão. Fica no Norte, e acredita-se que nela há um portal pelo qual os Youkais (“demônios”) entram no nosso mundo. Por causa disto, há um grande número de templos aos pés do monte, sendo o mais importante deles o Enryakuji.
Respostas de 11
Dias atrás, estava pensando. – Yu Yu(assim como outros animes tb) tem muito simbolismo e ligação com a mitologia oriental, bem que poderiam postar algum artigo relacionando esses aspectos… haha!
Muito bom, gostaria que fosse mais extenso(tanto o artigo publicado quanto ao anime) pois vale muito a pena!
“No desenho, estes foram os itens roubados por Kuwabara e Hiei, dissidentes do mundo espiritua.[…]” Opa, uma correção aqui, no caso Kurama e Hiei que roubaram os items : D
Valew!
Ah, ta pensando que berimbau é gaita?!
Ótimo texto.
Lembro como se fosse ontem de ver ele no Saindo da Matrix.
Acid, só algumas considerações:
Parte das Joias Espirituais:
“No desenho, estes foram os itens roubados por Kuwabara e Hiei, (…)”
Acho que na revisão acabou passando, Onde está Kuwabara, é o Kurama 😉
E seria interessante citar que o “Ko” de Koenma vem exatamente do ideograma 子, que se lê como Kô e significa “Criança”, sendo uma tradução literal algo como “Enma Criança” ou “Filho do Enma”.
Abraços!
Tem outro desenho do mesmo autor, HunterXHunter. É mt bom, lida com temas semelhantes, não parece ser algo profano.
É interessante refletir sobre o motivo de muitos adorarem desenhos/animes do estilo dos Cavaleiros do Zodíaco, Yu Yu Hakusho, Shurato, e alguns nem ligarem ou odiarem esta vertente cultural. Olho ao meu redor e tenho a prova de que a evolução espiritual é real, não que eu afirme isto apenas baseado em um ou dois fatos, mas por exemplo, um amigo meu sempre disse que nunca gostou destas series e hoje ele é evangélico, outros que eram fãs desde o começo delas hoje tem a mente aberta e receptiva a novas informações de cunho espiritual. Não que isso seja generalizado ou uma regra mas é apenas o que eu observo.
Que legal, não sabia de todas estas coisas. Eu assistia o desenho, mas muita coisa não entendia direito de onde tinham vindo. Agora muita coisa se encaixou.
Inclusive eu achei bastante curioso quando vi que o ENMA DAIOH também aparece no desenho do Dragon Ball Z, nesta hora que eu associei que este personagem deveria ser algo mais do que simplesmente criação do autor do mangá.
Muito bom!
Acho que uma tradução válida do título também seria algo como “As Aventuras do Fantasma Brincalhão.” Tudo a ver com o Yuusuke, convenhamos. xD
Ótimo esse artigo, é um dos poucos que eu já li que não é centrado nos mesmos aspectos que todos os sites/blogs repetem sobre YYH.
É legal lembrar que no mangá a Botan acessa o mundo espiritual através de projeção astral. No anime ficou diferente, ela materializa o corpo pra interagir no Ningenkai. Sempre quis entender de forma mais aprofundada como funciona o contato astral na mitologia japonesa justamente por causa disso. Enquanto os Youkais aparentemente conseguem transitar fisicamente entre o Ningenkai e o Makai tanto no mangá quanto no anime, os espíritos como a Botan e o Koenma tem essa necessidade de viajar astralmente no mangá. Qual seria a diferença então de um ser do Maikai e um do Reikai, já que teoricamente ambos seriam espíritos? Os youkai são mais num sentido de elementais, enquanto os seres do reikai são espíritos desencarnados de luz, é isso?
Cara, eu adorava esse anime! principalmente a dublagem que é muito manera, eu lembro até hoje do torneio sobrenatural onde o publico falava “ahhh eu sou toguroooooo, ahhh eu sou toguroooooo” hahahaha
Excelente post 😉
Muito bom texto! Agradeceria muito se fizesse análise semelhante com Neon Genesis Evangelion, animê que tenho até hoje enorme curiosidade e interesse em desvendar o simbolismo ali envolvido.