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Universo e nada mais

Atualizado: 21 de abr. de 2022




O termo “Filosofia Univérsica” foi cunhado pelo filósofo brasileiro Huberto Rohden, e nada mais é que uma forma latinizada do termo grego Filosofia Cósmica. A palavra de origem grega kosmos foi convertida no latim para universum, de unus mais versus, grosso modo, significa “um em diversos”. E a partir deste significado é que foi concebido o paradigma orientador desta corrente filosófica: o princípio de “unidade na diversidade”.

Para entendermos esse princípio, faremos uma viagem no tempo para o ano aproximado de 585 a.C. Numa antiga colônia grega chamada Mileto vivia um dos sete sábios da Grécia, o fundador da escola Jônica, conhecido por Tales. Esse professor maluco ensinava em sua escola que “a água é a origem e a matriz de todas as coisas”, evidentemente nem todos o levavam a sério, inclusive seus discípulos, mas ele não ligava, afinal, ninguém era obrigado a pensar como ele.

Mas será mesmo que devemos leva-lo a sério? Nietzsche, apesar da sua acidez e humor difícil, saiu do século XIX e embarcou comigo nesta viagem, e logo disse, não só pra mim, mas pra todos: “Sim, devemos levá-lo a sério, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e, enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado latente, prestes a se transformar, está contido o pensamento: Tudo é Um”.

Essencialmente, visões semelhantes são associadas ao trabalho intelectual de pensadores como, Parménides, Heráclito, Anaximandro, Platão, Plotino, Anaxímenes, Demócrito, Giordano Bruno, Spinoza, Berkeley, dentre outros. E foi no século XVIII que o filósofo alemão Christian von Wolff passou a designar esta corrente de “Monismo”, do grego monos que significa único. Seria muito cansativo detalhar cada vertente monista, para o nosso contexto basta sabermos que elas existem e que na visão monística da filosofia univérsica consideramos que todo o Universo é regido por um “princípio fundamental único”.

É muito provável que as conversas entre Einstein e Huberto Rohden [1] tenham gravitado em torno deste assunto, vale lembrar que Einstein passou boa parte da sua vida tentando expor este “princípio fundamental único” numa equação matemática que ele chamaria de Teoria do Campo Unificado [2]. Logo, Huberto Rohden passou a acreditar que este “monismo físico” da ciência deveria ter seu paralelo no “monismo metafísico” da filosofia. E como filósofo da religião, alinhou-se progressivamente com o monismo de modelo neoplatônico e oriental. Fato que o levou a trabalhar numa laboriosa integração do monismo filosófico, científico e religioso, resultando no pensamento central da Filosofia Univérsica: o Monismo Cósmico.


Na Filosofia Univérsica, o Cosmos é tomado como base e diretriz do pensamento e da vida humana, porque “as leis que regem o macrocosmo sideral regem também o microcosmo hominal”. Afirmação esta que possui raízes óbvias no Hermetismo, especificamente no conhecido princípio de correspondência: “O que está em cima é como o que está embaixo, e o que está em baixo é como o que está em cima.” Ou seja, há cerca de 4.000 anos, Hermes Trimegistrus já afirmava o que cientistas atuais de alguma forma também já afirmam, “o que é verdadeiro no macrocosmo é também verdadeiro no microcosmo e vice-versa”, isso é no mínimo curioso não?

“O princípio de correspondência, completando o da polaridade, afirma a organicidade do cosmo, ou seja, a lei da cooperação recíproca; não existe no Universo um único indivíduo, uma única célula, um único átomo, próton ou elétron, ou outra unidade mínima, em estado realmente isolado, separado das outras unidades, embora cada indivíduo seja distinto dos outros.” (Huberto Rohden)

Para alguns, tal ideia ainda pode parecer tão absurda quanto à de Tales ao afirmar que “tudo é água”, a meu ver, cientistas notáveis da nossa época, como Carl Sagan, de alguma forma reforçou este princípio ao dizer que “o Cosmos também está dentro de nós. Somos feitos de matéria estelar, somos uma forma do próprio Cosmos conhecer a si mesmo”. Dependendo da óptica, talvez nem Tales esteja errado, pois há 2460 anos antes de Charles Darwin, sua escola já afirmava que “O mundo evoluiu da água por processos naturais”, e Empédocles, discípulo de Tales, completaria mais tarde que “Sobrevive aquele que está melhor adaptado“.

Desde Einstein, uma das pesquisas essenciais em física é a busca de uma teoria definitiva e elegante que unifique as forças observadas na natureza. E dentre algumas linhas de pesquisa, é perceptível que há um afastamento gradual da concepção de “multiplicidade heterogênea” enquanto aproximam-se cada vez mais, de um certo “monismo homogêneo”, muito próximo ao que é divulgado na filosofia univérsica, e algumas vertentes ocultistas.

Cabe ressaltar que embora minhas pesquisas demonstrem certa admiração por esta filosofia, não entrarei no mérito de sua aceitação nem mesmo da sua refutação. Neste e em posts futuros, irei me deter apenas em investigar e expor determinados movimentos filosóficos, religiosos e científicos que nutriram a base desta tão rica e acessível filosofia desenvolvida em solo tupiniquim.

Notas [1] Nasceu no estado de Santa Catarina, Brasil em 1893. Formou-se em Ciências, Filosofia e Teologia. Precursor do espiritualismo universalista, trabalhou como professor, conferencista e escritor onde publicou mais de 65 obras sobre ciência, filosofia e religião. Foi tradutor da Bhagavad Gita, Tao Te Ching, O Evangelho de Tomé, O Novo Testamento, dentre outros. Propôs a Filosofia Univérsica como um meio de conexão do ser humano com a consciência coletiva do universo e florescimento da essência divina do indivíduo. Mais informações…

[2] Em física, uma “teoria do campo unificado” é um tipo de teoria de campo que permite que todas as forças fundamentais entre partículas elementares sejam descritas em termos de um único campo. Não há ainda nenhuma teoria do campo unificado aceita, e este assunto permanece como um campo aberto para pesquisa. O termo foi cunhado por Albert Einstein que tentou unificar a teoria da relatividade geral com o eletromagnetismo. Uma teoria de tudo é muito próxima da teoria do campo unificado, mas difere por não exigir que sejam campos a base da natureza, e também por tentar explicar todas as constantes físicas da natureza.


Livros, os verdadeiros portais para uma viagem no tempo. Carl Sagan, Cosmos. Friedrich Nietzsche, A Filosofia na Era Trágica dos Gregos. Huberto Rohden, O Pensamento Filosófico da Antiguidade. Três Iniciados, O Caibalion.

 

Fabio Almeida


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