Um antropólogo em Vênus

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» Parte 2 da série “Xamãs ancestrais” ver parte 1

Ayahuasca é uma bebida produzida a partir de duas plantas amazônicas: Banisteriopsis caapi e Psychotria viridis. O nome significa, literalmente, a “Videira dos Mortos”. Os cientistas sabem que a ayahuasca produz visões, principalmente por ser rica em DMT, um alucinógeno de ação extremamente rápida. Entretanto, os xamãs ancestrais têm conhecimento considerável do que ocorre após bebermos a ayahuasca, enquanto os cientistas não, principalmente porque a maioria jamais experimentou.

O tempo passa sem que eu tenha noção. Fecho meus olhos, e um grande desfile de visões subitamente se inicia… Começo a prestar atenção em uma imagem em particular, ou, mais exatamente, a uma área de meu campo visual interno, onde complexos padrões geométricos entrelaçados provam, numa inspeção mais cuidadosa, ser parte de uma grande serpente, aparentemente viva, com sua cabeça e sua cauda afastadas de mim. Posso distinguir as escamas individuais, retangulares, como janelas… Existe um círculo no centro de cada retângulo, círculos púrpura, girando como fogos de artifício, brilhando com a luz escura de um outro mundo onde agora estou… Aqui? Onde é aqui? Por que é um lugar onde vejo cores que não existem na vida cotidiana?

O xamã recomeça a entoar seu ritual. A cantoria inicia em tom mais baixo, mas aumenta, e aumenta… As serpentes são muito grandes, e todo corpo, da cabeça à cauda, é claramente visível para mim. Agora as cores castanho e amarelo predominam. Lendo sobre o assunto, antes de vir a Amazônia, aprendi que pessoas em regiões e culturas diversas, de todo o mundo, encontram serpentes na jornada da ayahuasca… Elas agora formam padrões de rodas e espirais entrelaçados, se fundem e depois se dividem em duplas individuais serpenteando em volta uma da outra, como a dupla hélice do DNA… A náusea chega com força e estou agora vomitando na escuridão…

Saio do círculo ritual e volto após vomitar, agora minha cabeça está aliviada. Então, de repente, dois seres completamente feitos de luz branca surgem a minha frente. São pequeninos – cerca de 1,20m de altura –, mas estou ciente apenas da parte superior de seus corpos, não vejo os pés. Sua faces têm mais ou menos o formato de um coração, com grandes testas e queixos estreitos e pontudos. Narinas e bocas, se é que as tem, são apenas fendas em suas feições suaves. Seus olhos são completamente negros e aparentemente sem pupilas… Eles parecem querer se comunicar. A tentativa de comunicação, que me parece telepática, não está funcionando por alguma razão. Sinto ansiedade e… frustração da parte deles. A náusea retorna, os seres de luz se vão, eu volto a vomitar na escuridão…

Os três últimos parágrafos são trechos (selecionados por mim) dos depoimentos de Graham Hancock [1], pesquisador e escritor britânico que resolveu participar dos rituais xamânicos de povos indígenas da Amazônia e de regiões da África. Em seu monumental Sobrenatural, Hancock parte da análise dos signos e símbolos pictóricos da arte rupestre para fazer uma associação fortuita desse tipo de imagem com as visões “psicodélicas” usualmente experimentadas em tais rituais, pelo menos por aqueles que efetivamente experimentam a ayahuasca, a iboga, e outras bebidas rituais que “trazem visões do outro mundo”. Esta associação não foi ideia original sua, mas sim de David Lewis-Williams, um professor, antropólogo e pesquisador de arqueologia cognitiva sul africano.

Segundo o modelo neuropsicológico de Lewis-Williams, a real origem da arte rupestre e, por conseguinte, da religião primal dos povos da pré-história, poderia ser mais profundamente explicada e compreendida se levarmos em consideração que o que estava sendo ali representado eram visões provenientes de estados de transe e consciência alterada, originários de experiências rituais extremadas (como danças até a exaustão e/ou a repetição de ritmos musicais durante horas e horas de ritual) e, principalmente, da ingestão de bebidas e substâncias naturais alucinógenas. Esta era, segundo sua teoria, a maneira mais simples e lógica de justificar o porquê da arte rupestre ter características tão enigmáticas, não encontradas na natureza, mas que estão representadas tanto em cavernas europeias quanto em inúmeras regiões africanas, distantes milhares de quilômetros, e milhares de anos na história, umas das outras.

Diferentemente das outras teorias propostas pelos antropólogos em quase um século, esta está baseada em evidências bastante sólidas… Que por muito pouco não se perderam para sempre.

Até 1927, ano em que foi dada a última permissão oficial para se caçar bosquímanos, era legal para os brancos da África do Sul assassinar os san, cujas partes dos corpos eram exibidas orgulhosamente como troféus pelos matadores… Não, os bosquímanos, os san, não eram animais, eram seres humanos, como nós. Na realidade, faziam parte de uma das culturas mais ancestrais e persistentes de nossa história, e até meados do final do séc. XIX, ainda praticavam a arte rupestre. Os san eram, portanto, os continuadores de um estilo de arte que perdurou por dezenas de milhares de anos, até que fossem praticamente extintos pelos “grandes colonizadores racionais”. Poderíamos saber, afinal, se a teoria de Lewis-Williams faz mesmo sentido, desde que encontrássemos algum xamã san ainda vivo, e que ainda conhecesse os antigos rituais que originavam as visões representadas na arte rupestre. Alguns xamãs, algum conhecimento, ainda restou, mas o povo san não é mais o mesmo – seu espírito se foi, e com ele, qualquer esperança para que a arte rupestre pudesse continuar sua longa jornada.

Felizmente, alguma evidência restou, mais precisamente cerca de cem cadernos com notas escritas a mão, descrevendo a cultura e os rituais do povo san no final do séc. XIX, quando ainda praticavam sua arte nas pedras e cavernas. As entrevistas foram conduzidas pelo filólogo alemão Wilhelm Bleek e sua cunhada, Lucy Lloyd, dois acadêmicos muito adiante do seu tempo, que anteciparam com muita clareza a aniquilação que então pairava sobre o povo e a cultura san. O conteúdo de seu estudo permaneceu oculto da Academia até a década de 1930, quando um jornal sul africano fez uma breve referência aos cadernos. Apenas em meados das décadas de 1960 e 1970 os cadernos foram novamente mencionados na mídia especializada, até que Lewis-Williams finalmente colocou seus olhos neles: “mas que estranha experiência, folhear 12 mil páginas de cadernos de notas ancestrais, sobrenaturais” – descreveu o antropólogo acerca do evento.

De posse dos registros de uma cultura ancestral perdida, Lewis-Williams finalmente tinha a evidência que faltava para talvez a única teoria científica sólida jamais postulada acerca da real origem dos signos rupestres. Ainda assim, quando Hancock encontrou pessoalmente com o professor sul africano, não resistiu a lhe indagar:

“Afinal, o senhor já experimentou entrar em transe por meio de danças e batuques ritmados de tambor, ou jejuou por 40 dias até delirar, ou tomou o chá da ayahuasca ou qualquer outra substância natural psicoativa?”

Diante da negação veemente, Hancock perguntou o porquê, e Lewis-Williams deu de ombros:

Não quero fundir minha cuca e não estou nem um pouco interessado na experiência.”

Vênus, com sua superfície uniforme e seu brilho incomparável no céu noturno, sempre despertou o sonho da humanidade. A estrela vespertina parecia, certamente, um céu prometido, um mundo de luz… Entretanto, hoje sabemos que sua superfície é inóspita e, na realidade, bem mais próxima dos lagos de enxofre do inferno. Assim, também sabemos, ocorre com as drogas: num primeiro momento são estupendas, maravilhosas, mas depois viciam, e podem nos levar a ruína psíquica… Por tudo o que sabemos acerca delas, não é difícil compreender os motivos que levaram Lewis-Williams a evitar os chás alucinógenos e os estados de transe.

A questão é: os povos antigos sabem muito bem desse perigo, e por isso mesmo jamais se utilizaram de suas plantas sagradas como diversão ou mera busca do prazer. Seus rituais sempre foram controlados, e seus xamãs sempre foram raros, escolhidos a dedo por sabe lá qual entidade… E, exatamente por isso, por terem sido tão poucos e tão especiais, hoje praticamente não existem mais.

Os xamãs ancestrais já se foram há muito, e nem mesmo entre os san restou algum. O espírito de um povo desaparece, e o deixa perdido, atordoado, procurando o suicídio, há menos que tal espírito retorne para os auxiliar, como a estrela da manhã… Mas não é fugindo de Vênus que vamos vislumbrar qualquer esperança de um dia os compreender melhor. Tal qual a ciência enviou sondas robô a estrela vespertina, e hoje a compreende muito mais do que há séculos atrás, os exploradores da mente não têm outra alternativa que não mergulhar neste outro mundo, repleto de serpentes, padrões geométricos, seres de luz e armadilhas na escuridão…

Mas, para tal, sondas e robôs não nos servem, precisamos realizar a travessia por nós mesmos. Graham Hancock teve a coragem de mergulhar no próprio lago em que empreendeu seu extensivo estudo – ele é o nosso antropólogo em Vênus.

» Na continuação: Quimeras mentais, homens feridos, e o delicioso Vin Mariani…

***

Leitura recomendada: Sobrenatural, de Graham Hancock (Nova Era).

[1] Retirados do livro recomendado acima.

***

Crédito das imagens: [topo] Susan Seddon Boulet (mulher xamã dançando em ritual); [ao longo] Pinturas do xamã peruano Pablo Amaringo, que serviu também como “guia” de Hancock nos rituais com ayahuasca.

 

O Textos para Reflexão é um blog que fala sobre espiritualidade, filosofia, ciência e religião. Da autoria de Rafael Arrais (raph.com.br). Também faz parte do Projeto Mayhem.

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Respostas de 18

  1. Rafael esse texto é brilhante não apenas pelo que diz, mas também pelo que não diz e que esta subentendido, muito bom.
    “A questão é: os povos antigos sabem muito bem desse perigo, e por isso mesmo jamais se utilizaram de suas plantas sagradas como diversão ou mera busca do prazer.”
    Essa mensagem é ótima, quem tiver olhos que leia e entenda.

    @raph – Mozart, meus textos geralmente são cheios de mensagens subentendidas, as vezes até para mim 🙂

  2. Muito legal sempre quis saber o que ele tinha experimentado. Eu tive uma experiência bastante intensa com a ayahuasca, tão intensa, que isso ecoou nas pessoas a minha volta e hoje tem acontecido bastante coisas depois disso.

    Gostaria de compartilhar também minha experiência com a ayahuasca, está sendo falada de forma compacta nesse post e distribuída em outros tantos que o seguem e o antecedem. Quem quiser olhar, sinta-se a vontade.

    AHO!!!!
    http://ensaiosefragmentos.wordpress.com/2013/04/27/a-pureza-de-espirito-e-ayahuasca/

    @raph – Obrigado Igor. Realmente, há muitos que relatam boas experiências. Mas vamos tomar cuidado e ter bom senso: (a) Ninguém é obrigado a tomar o Santo Daime; (b) Mesmo que queira tomar, geralmente não se inicia com doses grandes; (c) A experiência é religiosa, espiritual, e pode potencialmente lhe revelar aspectos de você mesmo que desconhecia anteriormente (alguns bons, outros nem tanto); se você está só a fim de “ter um barato”, o Santo Daime não é para você.

  3. Meu querido amigo, excelente texto.
    Entretanto, a conclusão sobre as drogas é por demais simplória; demonstra falta de conhecimento, especificamente, sobre a ayahuasca.

    Remédios controlados são receitados como se fosse água com gás, e pra achar sem receita é mais fácil do que comprar pão.

    Drogas são perigosas? Nem todas. Será tão perigoso tomar uma neosaldina? Tomar um copo de cerveja? Fumar um (UM) baseado vai fritar a sua cuca?

    O problema é a má utilização. Algumas são apenas mais difíceis do que outras para utilizar de forma proveitosa, num contexto espiritual. Outras, impossíveis (caso do crack e da maioria das drogas sintéticas

    Mas a ayahuasca tem um grande diferencial: a quantidade é autorregulada pelo organismo!
    Diferente de outras drogas, como cocaína, heroína, ou mesmo o chá de cogumelo, se você tomar ayahuasca além da conta, certamente vomitará.
    Não. Tem. Como. Segurar.
    E uma última curiosidade: o ayahuasca é praticamente a única substância que se tem conhecimento, cuja capacidade de resistência é inversa: quanto mais você toma, menos você precisa para atingir o mesmo estado de alteração de consciência – ou seja, se tomar a mesma dose sempre, ela ficará cada vez mais intensa; e justamente por esta intensidade ser aplicada a conta-gotas, quanto mais você toma, mais você consegue manter a consciência durante a experiência.

    E não, os xamãs não estão perdidos, quanto menos o espírito guia das plantas de poder. Te aconselho a procurar um dos centros da União do Vegetal, ou do Santo Daime, nas quais a bebida já é preparada num contexto ritualistico, bem como administrada, acreditando-se que existe um ser divino que habita na bebida.

    Mas cuidado!
    Existem muitos irresponsáveis por aí que não sabem o que estão fazendo por não ter conhecimentos sobre proteção, egrégora e obsessões ou de tradição ritualística.

    @raph – Então, primeiramente eu estava me referindo as drogas de maneira geral, mas ainda que consideremos somente o Santo Daime, ainda é muito perigoso simplesmente dizer “tudo bem, vai fundo que com o Santo Daime não tem problema”… Não por culpa dos indígenas, não por culpa dos que o usam no contexto que deve ser usado, mas pelos demais, que praticamente obrigam as pessoas a experimentar o Daime (que muitas vezes é até “batizado”). Tenho certeza que não é o caso das Casas que frequenta; mas isto também existe, infelizmente, e por isso devemos tomar bastante cuidado (quero dizer, este texto é para todos, até para quem nunca ouviu falar em Santo Daime).

    Sobre os xamãs, estava falando no contexto dos povos ancestrais (como os San) que foram dizimados (no caso dos San, literalmente caçados como animais). Uma vez fui num Terreiro e conversei com o espírito de um andino. Ele me contou que o povo dele foi dizimado pelos colonizadores, mas que ele (como muitos outros) decidiu “ficar para ajudar o povo a ser menos esquecido”. O “povo” que ele está ajudando é, de certa forma, o mesmo que dizimou sua tribo. É assim que funciona com o Amor…

    Aconselho a procurar, primeiramente, alguma igreja afiliada à Cefluris, ou UdV.

    Que a luz de Juramidam esteja com você!

    1. Caio, concordo muito contigo.
      Sinto que as pessoas de um modo geral, feito mães cancerianas ou piscianas, colocam medos nas pessoas sobre o uso de ayahuasca muitas vezes colocando no mesmo patamar de drogas extremamente danosas e falando mais da possibilidade incerta do mal que do bem certo que ela faz. Muita gente morre tomanto aspirina e buscopan e nem por isso foi proibido ou a gente fica cheio de dedo pra receitar à alguem.
      Mas a ayahuasca uau meu Deus que perigo, esse tipo de medo que fez a salvia divinorum, excelente planta sagrada, ser proibida no Brasil.
      Mas já sacamos que não era a onda do Raph 🙂 ótimo texto.

    2. Cumpre esclarecer que Santo Daime não é droga, é a ayahuasca sob o batismo de Mestre Irineu, fundador da Doutrina que, depois de sua passagem, se dividiu principalmente na Barquinha, União do Vegetal e a CEFLURIS que foi fundada pelo Padrinho Sebastião, sendo esta última a vertente mais promissora (no sentido de expansão e disponibilização do ayahuasca no Brasil e no mundo; não significa ser a melhor, cada um tem sua necessidade).

      E o ayahuasca é uma substância “alucinógena” (uso as aspas pois pela doutrina, as “alucinações” são denominadas por Alex Polaris como mirações, partindo do princípio que nada está dissociado do Todo, portanto, guarda conexão com -alguma- realidade) cujo contexto indígena a utiliza como “panacéia” – medicina para todos os males. Não pela substância em si, mas pela possibilidade de realizar trabalhos espirituais de cura pelo êxtase xamânico, uma vez que a cultura xamânica e muitas culturas indígenas consideram corpo e espírito inseparáveis, sendo que qualquer tratamento deve ser realizado em ambos os planos para que seja, de fato, efetivo.

      Existem várias dissidências; vários “xamãs”, “padrinhos” e “líderes espirituais” independentes, na maioria sem saber direito das consequencias da administração do ayahuasca sem a devida proteção de egrégoras fortes e bem formadas.

      O interessante é que a doutrina do Santo Daime proíbe que você convide as pessoas – elas que devem mostrar interesse. Conta-se que o fundador, Mestre Irineu, dividia sua casa com um amigo que passou a vida toda junto de Irineu e este nunca lhe convidou para tomar o chá – está mais para vinho, pois é fermentado.
      Contudo, as crianças são batizadas pelo Daime pois seus pais fazem por eles a escolha – como o batismo ou a comunhão católica. E das crianças que eu vi que moram na comunidade e ingerem o Ayahuasca pela doutrina do Santo Daime desde cedo, me parece que tem muito mais consciência e maturidade do que outras crianças. Mas dá pra ver que nem todos gostam – nisso acho que peca um pouco a Doutrina, que prega por não convidar mas acaba forçando o batismo. Neste sentido, concordo com você, Raph.

      No entanto, em dois anos participando de trabalhos, vi que poucas das crianças não gostavam – menos de um quinto, pela minha estimativa (calcada na observação da participação e das reações das crianças durante os trabalhos).

      Geralmente, aliás, estes só vão nos de festividade, deixando os de Cura, Concentração e Desenvolvimento Mediúnico de lado – que demonstra sabedoria por parte dos educadores.

      Não, não é tudo bem tomar o Ayahuasca. Tem um ditado da doutrina do Santo Daime que diz, o Daime é para todos mas nem todos são para o Daime. Isto porque nem todos estão preparados para o exame de consciência que atua tanto no plano astral quanto no físico – mesmo que a consciência não consiga perceber todos estes fenômenos.

      Já fui em trabalhos que era uma bagunça – o dirigente fazia uma palestra sobre kundalini, energias sexuais (engraçado que a maioria das dissidências bate forte neste ponto, acho que por questões mal resolvidas dos próprios dirigentes) misturado com yoga, dividia as pessoas em três salas – xamânica, oriental (hindu) e egípcia – e ficava borrifando água nas pessoas deitadas. Característica notória do ayahuasca são as náuseas e os vômitos: ficar deitado é uma PÉSSIMA idéia. Tudo isso, sob a insígnea do tetragrammaton – uma mistureba, na minha humilde opinião. Tanto que durante o trabalho houve uma manifestação cujos dirigentes não conseguiram lidar e atrapalhou a experiência de TODOS.

      Por isso, sim, CUIDADO!
      Não pense que qualquer ayahuasca é Daime, nem que por ser Daime está tudo bem.

      @raph – É isso que quis alertar. Claro que todos aqueles que leem o TdC há tempos vão ter uma boa base para saber analisar e julgar quais grupos são sérios e quais não. O problema é que tem gente que publica meus textos noutros blogs, então no texto em si tenho de tomar cuidado para alertar para esse tipo de cuidado necessário.

      Mas por outro lado, quem entra no Daime com seriedade e dedicação, num grupo também dedicado, tem grande chance de alavancar sua espiritualidade para outros patamares. Claro que não do dia para a noite, mas passo a passo, com dedicação 🙂

  4. Parabéns pelo texto, adorei a temática! Sentia um pouco de falta de ler sobre isso por aqui 🙂

    http://goo.gl/R4h3h
    http://goo.gl/ZNdbB

    Os links acima são de artigos interessantes que falam sobre pesquisas do chá no tratamento de transtornos mentais, expansão da consciência e males físicos – e sobre como pesquisas assim não são incentivadas por não serem rentáveis pra indústria farmacêutica. Vale a pena dar uma olhada e desmistificar um pouco a ayahuasca.
    Frequentava a União do Vegetal, mas fui impedida (mesmo tendo 23 anos) de continuar participando – minha família não sabia, algo inaceitável para eles. Voltei para o Daime e esse mês vou participar de um trabalho no Umbandaime, pra saber com qual casa me identifico mais.
    Tive experiências bem significativas com o chá, mas ainda sinto falta de uma casa com dirigentes firmes, que saibam o que fazem! Não sei se era exclusividade da minha cidade, mas, na UDV daqui, nem acreditar em incorporações os associados e dirigentes acreditam!
    Há algum conselho, literatura para iniciantes sem guia nessa jornada?

    @raph – Eu não sou nenhum especialista em Santo Daime, mas sobre uma literatura para iniciantes, recomendo o próprio “Sobrenatural” do Graham Hancock (ed. Nova Era). Abs.

    1. Letícia, tem o Livro das Mirações de Alex Polaris. Trata especificamente da linha de Padrinho Sebastião, acredito, que é a Cefluris: Centro Eclético da Fluente Luz Universal. O Santo Daime de Mestre Irineu era uma missão de evangelização mariana, de forte teor católico; e Padrinho Sebastião modificou a linha de trabalhos incluindo elementos da Umbanda e do Espiritismo, abrindo caminho para outras manifestações religiosas – daí o “eclético” do Centro.

      E o site http://www.nossairmandade.com/ tem o melhor conteúdo disponível na interwebs!

      Note-se que as maiores características do Santo Daime, a meu ver, é o cuidado com o Feitio, pois nele se dá o processo de consagração da Bebida e a manifestação do ser divino que nela habita; o trabalho cantado em hinos feitos especificamente para o daime, por daimistas (à exceção das correntes da UDV e barquinha e dissidências, que tem sons mecânicos escolhidos pelo dirigente – mas os trabalhos desenvolvidos por Mestre Irineu sempre foram cantados, pois a vibração da voz durante o estado alterado de consciência é catalizador e condutor da dinâmica do trabalho); e o contexto predominantemente cristão, com outros elementos religiosos ou não.

      @raph – O canto é realmente importante. Mesmo para os que são céticos quanto ao “canto consagrar a bebida”, não podemos negar que um ambiente de canto sagrado afeta diretamente a consciência, a “elevando” para estados alterados. E quando “cozinhamos com amor”, a comida (ou a bebida, no caso) fica sempre “mais gostosa” 🙂

    2. Nossa estou quaaaase comprando esse livro Sobrenatural do Graham Hancock!

      @raph – É bastante coisa pra ler, mas vale a pena. Quem é mais cético, no entanto, talvez não goste muito do 1/3 final do livro onde ele fala de ETs… Mas principalmente o primeiro 1/3 é totalmente compatível com a chamada “ciência oficial”.

  5. bate bastante com o conteúdo do livro Cartas do Yage, onde William Burroughs e
    Allen Ginsberg trocam informações sobre o uso da ayahuasca, alias, todo mundo que conheço que já experimentou se recorda das serpentes durante o transe. Talvez símbolos como ourobouros sejam a forma como nossa consciência consegue lidar com as vibrações do raio cósmico da criação.

  6. Bebo ayahuasca desde criança na UDV, é algo indescritível, de outro mundo.
    Quem bebe sabe, ayahuasca possibilita um salto altissimo na evolução e despertar espiritual, de acordo, claro, com a dedicação de quem bebe também.

    @raph – O fato de beber desde criança te aproxima muito mais do contexto original da ayahuasca. Se não me engano (você provavelmente saberá melhor que eu), nos povos indígenas as crianças tem a opção de escolher, em certo momento (não sei a idade exata), se vão ou não beber do chá. Aquelas que optam por não beber, geralmente passam o resto da vida sem beber. E as que optam por beber, geralmente bebem pelo resto da vida… Isto tem muito a ver com a ancestralidade do xamanismo.

    Acho que o que falta no site é uma coluna sobre enteogenia, seria muito proveitoso com certeza.

    @raph – Se quiser indicar o blog de alguém, sinta-se a vontade (geralmente é o Del Debbio quem “contrata” novos colunistas, mas eu posso sugerir a ele). Eu realmente não entendo muito do assunto, o que falo de enteogenia nesta série se baseia muito no conhecimento de Hancok; ou seja, o meu conhecimento é indireto.

  7. Gostei muito do texto Raph

    Li também todos os comentários, achei que o Caio e o Mauro adicionaram informações bem legais.
    Eu não tenho conhecimento, talvez nunca o tenha, então passarei muito longe dessas coisas rs

    Mas enfim, se faz bem ou mal, minha dúvida é para que isso é usado?
    Bom, no texto mesmo explica que causa “transe e consciência alterada”, faz parte de ritual… mas para que alguém iria querer isso?
    Talvez esta minha dúvida seja respondida no(s) próximo(s) texto 🙂

    @raph – Isso tudo realmente será abordado na próxima parte, que é a parte final da série 🙂

    1. o transe facilita a mediunidade.
      Pode ser obtido por meditação, certas cadências de percussão (como o tambor xamânico ou a percussão da umbanda) pela yoga, até mesmo durante uma prática esportiva intensa – todos os caminhos levam à Roma.

      Gideão dos Lakotas, embora seja um polêmico dissidente e eu despreze quase todo o trabalho dele, nos trás uma excelente definição: assim como a biologia tem o microscópio e a astronomia a luneta, a consciência tem o ayahuasca.

      1. Ola Caio,
        Obrigado pela atenção e esclarecimentos 🙂

        Não sei se deveria, mas achei engraçado ler “todos os caminhos levam à Roma”
        Gostei bastante da citação do Gideão também.

        O que me leva a refletir agora é que a natureza não da saltos (seria apenas em relação a evolução?), e se o transe da ingestão do ayahuasca facilita a mediunidade, seria correto a ingerir?
        Como mesmo os xamãs a tratavam com cuidado e poucos a ingeriam, entendi que estes a faziam para o bem da comunidade. E com esse cuidado que os xamãs tinham sobre a ingestão, digo que estranhei que hoje em dia pessoas inseridas no convívio social “moderno” façam a ingestão.

        Estudo a Gnosis (talvez seja necessário explicar que é a de Samael) e quando surgiu o assunto de ingestão de plantas (não especificamente a ayahuasca), foi claramente orientado que não deve ser feito (inclusive com citação de casos anônimos que tiveram efeitos colaterais quase irreversíveis), mas que se deve trabalhar com o elemental delas (não sei ao certo como).

        De maneira alguma quero dizer qual é o jeito certo ou errado (até mesmo porque eu não sei), mas achei interessante citar as informações que recebi para adicionar ao assunto e ao conhecimento.

    2. Raph, aconselho “Food of the Gods”, de Terence McKeena – bem como o True Hallucination. O primeiro é uma abordagem antropológica sobre o uso de enteogênicos e a teoria do “stoned ape” – que os povos pré-histórico utilizavam substancias enteogênicas, principalmente o psilobencis – famoso cogumelo da bosta da vaca – que causou uma transmutação da estrutura neural dos nossos antepassados, e o nascimento conjunto da razão e da religião como aspectos do mesmo fenômeno – o despertar do espírito.
      E o True Hallucinations conta a história do autor e seu irmão que vieram à amazônia peruana, se não me engano, e tomaram o cogumelo com ayahuasca, acabando por ver discos voadores e bolando uma teoria mirabolante – mas interessantíssima – desvelando a tênue linha que separa a sanidade da insanidade.

      @raph – Valeu Caio… Já ouvi falar do “Food of the Gods”, provavelmente o “Sobrenatural” do Hancock tem alguma influência dele, pois o tema é muito parecido, particularmente no início do livro (o livro é beeem longo).

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