Por Marcelino Conti.
Antropólogo UFF
Em meios aos ataques de racismo religioso, (as centenas de casos de intolerância somada as centenas de leis municipais equiparando as oferendas como lixo, e a tentativa de criminalizar o sacrifício de animais em rituais das religiões de matriz africana) surge a estória pra boi dormir: a “macumba” surgiu das oferendas deixadas nas encruzilhadas para que os escravos fugitivos pudessem se alimentar para aguentarem a fuga.
Como a estória esta mal contada ela começa dizendo que um “Professor Leandro”, que ninguém sabe o sobrenome, foi quem contou a grande novidade histórica, demonstrando total desconhecimento de coisas básicas das religiões de Matriz Africana.
O Candomblé, umbanda, batuque, tambor de mina, e todas as outras ricas em diversidade, com uma variedade de ritos e denominações locais, combinadas com a tradição africana da qual procedem, que não podem ser generalizadas como “macumba”.
O termo Macumba, originariamente dá nome a uma espécie de árvore africana e também um instrumento musical utilizado em cerimônias de religiões afro-brasileiras. Na primeira metade do século 20, as igrejas cristãs e em especial as neopentecostais numa estratégia de desqualificar essas religiões que consideravam profana, começaram a chama-las genericamente de macumba como uma forma pejorativa.
Dentro desta mesma lógica, os despachos( trabalhos, ebós) na encruzilhada ganharam fama de “macumba” porque são uma das expressões mais visíveis dessas religiões fora dos templos, ilês, terreiros e roças.
As oferendas de acordo com a “estória” contada é profana, nada tem de axé, nada tem de santo, são homens dando comidas pra outros homens. tenta apagar a HISTORIA que esses negros africanos expatriados, oriundos de diversos pontos da África, faziam parte dos de nações, possuíam culturas e língua propria , além, claro, das suas divindades e formas de culto, e que trouxeram as suas crenças, as suas praticas religiosas e as receitas das oferendas, bem como os lugares que estas deveriam ser oferecidas aos orixás.
A natureza sempre foi o local para as oferendas, as matas, florestas, cachoeira, rio, lagoa e praias, os saberes trazidos de África , associava cada um dos orixás a um local, uma cor, um dia da semana e determinados tipos de comida.
As oferendas nos caminhos e nas encruzilhadas, portanto nada tem haver com as fugas de negros, esses lugares representam simbolicamente a passagem entre dois mundos. O ponto de encontro entre o Profano e Sagrado, é um espaço de liminaridade, onde não se é uma coisa e nem outra, é o encontro das partes, o inicio e o fim no mesmo ponto.
Essa estória da carochinha, tem motivos subliminares, destaco um dentre outros, nos fazer acreditar que as oferendas foram criadas por um motivo profano, hoje como não existem mais fugitivos, poderemos trata-las como lixo, criminaliza-las ficará mais fácil.
Continuenos a reverenciar aos nossos ancentrais e a nos ‘religare’ com os nossos orixas.
ASÈ