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O Ovo

Atualizado: 24 de mar. de 2022



O escritor norte-americano Andy Weir escreveu um pequeno conto em 2009. É uma história que é ao mesmo tempo bonita e assustadora. Vou deixar você desbrava-la.

Você estava a caminho de casa quando você morreu. Um acidente de carro. Nada particularmente marcante, mas mortal, no entanto. Você deixou uma mulher e dois filhos. Foi uma morte indolor. Socorristas tentaram o impossível para lhe salvar, mas sem sucesso. Seu corpo estava tão machucado que é melhor desse jeito, acredite em mim… E lá, você me conheceu. “Então… o que houve?” você perguntou. “Onde estou?” “Você está morto,” eu disse, no mesmo tom que banalidades são ditas. Sem querer enrolar. Havia… um caminhão? Uma derrapagem…” “Sim,” eu disse. “Eu… estou morto?” “Sim. Mas não se preocupe. Todo mundo morre,” eu disse. Você olhou ao seu redor. Nada. Uma expansão de nada. Somente você e eu. “Que lugar é este?” Você perguntou. “É o paraíso?” “Mais ou menos.” eu disse. “Você é Deus?” você perguntou. “Sim,” eu respondi. “Eu sou Deus.” “Meus filhos… minha esposa,” você disse. “Sim, e?” “Eles ficarão bem?” “É isso que eu gosto de ver,” eu disse. “Você acabou de morrer, e sua primeira preocupação é a sua família. Isso é bom, eu gosto.” Você me observou com fascinação. Em seus olhos, eu não parecia com Deus. Só algum homem. Ou alguma mulher. Um exemplo de autoridade, talvez, mais do tipo professor do que o todo-poderoso. “Não se preocupe,” eu disse. “Eles vão superar. Seus filhos irão se lembrar de você como uma pessoa perfeita de todos os ângulos. Eles não tiveram tempo de desenvolver desprezo por você. Sua esposa irá chorar, tenha certeza, mas bem lá no fundo ela estará secretamente aliviada. Para ser honesto, seu casamento estava afundando. Se te ajuda, ela se sentirá muito culpada pelo sentimento de alivio.” “Oh,” você disse. “E agora? Eu irei para o paraíso, ou para o inferno, ou o quê?” “Nenhuma das opções,” eu disse. “Você irá reencarnar.” “Ah,” você disse. “Então os Hindus estavam certos!” “Todas as religiões estão certas, cada uma de sua forma,” eu disse. “Venha, vamos lá.” Você me seguiu enquanto caminhávamos pelo vazio. “Onde estamos indo?” “Nenhum lugar em particular,” eu disse. “É bom caminhar enquanto conversamos.” “Então, qual é o objetivo, de repente?” você perguntou. “Quando eu renascer, eu serei como um quadro em branco, certo?” Um bebê. E, portanto, todas as minhas experiências, e tudo o que eu já tenha feito nesta vida não contarão mais.” “Nem tanto!” eu disse. “Você tem em você todo o conhecimento, todas as experiências das suas vidas passadas. Você não se lembra agora, isso é tudo.” Eu parei de caminhar e lhe peguei pelos os ombros. “Sua alma é grandiosa, mais bonita, mais gigante que qualquer coisa que você pode imaginar. Um espírito humano não pode jamais conter mais do que uma pequena parte do que você é. É como colocar seu dedo em um copo d’água para ver se está quente ou frio. Você coloca somente uma pequena parte de você lá, e quando você a tira, você remove todas as experiências que ela teve.” “Você tem estado em uma forma humana pelos últimos 48 anos, então você ainda não se expandiu, para sentir o resto da sua imensa consciência. Se ficássemos aqui tempo suficiente, você começaria a lembrar de tudo. Mas não há porque fazer isso entre vidas.” “Quantas vezes eu reencarnei, então?” “Oh, muitas. Toneladas e toneladas. E em várias diferentes vidas. ” eu disse. “Desta vez, você será uma pequena garotinha camponesa na China de 540 a.C” “Espera, o quê?” você gaguejou. “Você está me enviando de volta ao passado?” “Bem, sim, tecnicamente, eu acho. Tempo, como você conhece, somente existe no seu universo. As coisas são diferentes de onde eu venho.” “De onde você é?” você perguntou. “Oh, claro,” eu expliquei “Eu venho de algum lugar”. Algum outro lugar. E lá há outros como eu. “Eu sei que você gostaria de saber como é lá, mas honestamente, você não entenderia.” “Oh,” você disse, um pouco desapontado. “Mas espera. Se eu reencarnei em outros tempos, eu fui capaz de interagir comigo mesmo algumas vezes.” “Claro. Acontece o tempo todo. E em cada vida sua, você só foi capaz de reconhecer aquela existência, você nem percebeu isso acontecendo.” “Então, qual o sentido disso?” “Sério?” eu perguntei. “Sério? você quer que eu te explique o significado da vida?” Não é um pouco clichê?” “Ok, mas foi uma pergunta razoável,” você insistiu. Eu olhei em seus olhos. “O significado da vida, a razão pela a qual eu criei este universo todo, é para você crescer.” “Você quer dizer a humanidade? Você quer que a humanidade cresça?” “Não, somente você. Eu criei esse universo somente para você. A cada vida você cresce, você se torna mais rígido e seu intelecto amadurece, se amplia.” “Somente eu? Mas então, e todos os outros?” “Não há mais ninguém,” eu disse. “Neste universo, só há eu e você.” Você olha para mim. “Mas e todas as outras pessoas na terra…” “Tudo faz parte de você. Diferentes incarnações de você.” “Espera… eu sou todo mundo!?” “Ah, aqui está você, começando a compreender,” eu disse, pontuando minha sentença com um tapinha de parabenização nas suas costas. “Eu sou toda a existência humana que já existiu?” “Ou que irá existir, sim.” “Eu sou Abraham Lincoln?” “E você é John Wilkes Booth também,” eu acrescentei. “Eu sou Hitler?” você disse, consternado. “E você é os milhões que ele matou.” “Eu sou Jesus?” “E você é aqueles que o seguiu.” Você continuou e silêncio. “Sempre que você leva alguém como uma vítima,” eu disse, “é você quem está sendo levado como uma vítima. Todo ato de generosidade que você fez, você fez. Todo momento feliz ou triste que um ser humano experimentou foi, ou será, experimentado por você.” Você continuou pensativo por um longo tempo. “Por quê?” você disse. Para que tudo isso?” “Porque um dia, você se tornará como eu. Porque é isso o que você é. Você é um de mim, meu filho.” Wow,” você disse incrédulo. “Você quer dizer que eu sou um deus?” “Não. Ainda não. Você é um feto. Você está em crescimento. Uma vez que você tenha vivido todos os tempos, você terá crescido o suficiente para nascer.” “Então todo o universo,” você disse, “é somente…” “Um ovo.” eu respondi. “Venha, agora é hora de você seguir em frente para a sua próxima vida.” Eu eu te encaminhei.

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