Miasma significa poluição, mas não no sentido que hoje lhe damos. Miasma é toda a sujidade associada ao mundano, a sujidade que este gera: quando corremos e transpiramos estamos a criar miasma, quando sangramos temos miasma, se caímos numa poça de lama geramos miasma.
Mas o miasma não se limita à sujidade física, incluindo também a sujidade espiritual, ética e mental. Assim, quando matamos algo de forma injusta criamos miasma, se ofendemos alguém também é miasma, se cometemos um crime aos Deuses fizemos miasma, os próprios pensamentos geram miasma.
Em suma, o miasma resulta da actividade humana. Situações especiais que geram miasma são o contacto com a morte, quer sejamos nós a matar ou morra alguém próximo de nós, um familiar ou amigo, e o sexo e nascimento. De realçar que nem o nascimento nem o sexo são considerados menos sagrados, mas quando acontecem as pessoas envolvidas ficam fisicamente sujas, pelo que é necessário um banho.
No caso do nascimento e da morte são também efectuados rituais especiais porque ambos representam as duas transições mais importantes da vida e, como tal, podem comportar forças que geram poluição.
De referir ainda que o miasma e as actividades que o geram não são consideradas negativas, profanas ou más, antes pelo contrário, há Deuses que estão directamente envolvidos nelas e muitos participam nelas e tanto o nascimento como a morte são simultaneamente as maiores geradoras de miasma e duas das coisas consideradas mais sagradas. O que se passa é que ir limpo a um ritual é uma espécie de etiqueta e os Deuses podem ficar ofendidos se desrespeitamos a etiqueta, porque isto mostra que os desrespeitamos a eles.
Finalmente, para as mulheres, a gravidez e a menstruação não são consideradas miasma, pelo que não há qualquer restrição nessas alturas – apenas se deve realizar a katarsis normal, incluindo um banho para remover a sujidade física que se acentua nessas ocasiões se não forem tomadas precauções.
Katarsis são todas as acções rituais que realizamos para nos livrarmos do miasma, quer seja porque vamos a um templo ou ritual e, portanto, não queremos desrespeitar os Deuses, quer porque apanhámos uma dose muito grande e queremos livrar-nos dela. Por vezes o miasma que temos é tão grande que é transmitido a outras pessoas, como acontece com os assassinos, e, por isso, devem realizar-se rituais para nos livrarmos dele.
Mas a katarsis não é apenas uma forma de remover a sujidade, ela também prepara a nossa mente e o nosso espírito, para além do corpo e do espaço, para um ritual, focando os nossos pensamentos e distinguindo a situação ritual de outras.
Ir a um ritual sem katarsis é um enorme desrespeito: seria como ir a um casamento sujo, ou a uma reunião de escritório com calções de banho e bikini. Tanto a sujidade como os calções de banho e o bikini não são negativos em si – é a sua presença em determinado contexto que os torna negativos, que os torna miasma. Realizarmos a katarsis, nestes exemplos, seria tomar banho e vestir roupas lavadas para o casamento e vestir algo formal para a reunião.
Por outro lado, se um dos noivo nos encontrar no dia a dia e nós formos mecânicos não se ofenderá da sujidade, do mesmo modo que um chefe que encontre o subordinado na praia não tomará por ofensa ele estar com fato de banho: até é provável que ele mesmo esteja.
Também os Deuses não se ofendem se no dia a dia os contactarmos com preces ou devoções espontâneas e tivermos miasma, mas em rituais a situação é mais distinta pelo que devem ser tomadas precauções.
Antes do Ritual
Limpeza da Pessoa
Antes de ir para o ritual devem-se efectuar acções específicas para se purificar a si mesmo, numa espécie de transição do mundano para o ritual. A principal acção é o banho, a limpeza física da pessoa através da água e, no caso moderno, dos sabonetes, champôs, géis de banho, perfumes, etc. Para festivais e grandes rituais é sempre necessário que a pessoa se arranje, tomando banho e perfumando-se e também vestindo roupas limpas ou especiais. Para devoções mais pequenas convém sempre lavar as mãos e a cara e os dentes, enquanto que para simples preces no momento não é necessário tomar qualquer destas atitudes.
Relativamente às roupas, estas podem ser especiais para nós, quer sejam roupas que só usamos em ocasiões especiais, ou mesmo exclusivas para os rituais, quer sejam gregas, latinas, ou modernas. Roupas normais também servem, desde que nos esmeremos para causar “boa impressão” é suficiente. O único requisito é que, tal como a pessoa, as roupas sejam limpas: não serve a roupa com que andámos no dia anterior, por exemplo.
Actualmente muitos helenistas gostam de acrescentar outras formas de preparação para o ritual que não eram praticadas na antiguidade, mas que preparam melhor a mente e acalmam o espírito, permitindo que nos foquemos apenas no ritual e nos Deuses. Refiro-me, é claro, a meditações. Estas são inteiramente opcionais, mas na minha opinião acrescentam muito valor e profundidade a um ritual.
Na antiguidade existiam muitas formas de katarsis, incluindo o jejum, total ou parcial, purificação pelo sangue, purificação pelo fogo, banhos no mar ou rios, purificação pelos cereais, entre outras, quer realizadas antes quer depois do ritual, mas não vou referir-me a elas mais neste artigo.
Limpeza do Espaço
A limpeza do espaço antes do ritual era efectuada pelo neokoros que mantinha o templo sempre limpo, literalmente, varrendo-o e esfregando-o. Antes de um grande ritual a divisão deve sempre ser meticulosamente limpa, mas para rituais normais basta a limpeza normal, não é preciso que a divisão esteja “um brinco”. Para além disso, existem técnicas de limpeza rituais, hoje praticadas pela pessoa que efectuará o ritual.
Várias horas antes efectua-se a fumigação com enxofre. Esta consiste em queimar enxofre e deixar que este encha o ar, purificando-o. Pode ser feita uma prece a Apolo, Deus da purificação. Pessoalmente, quase nunca uso enxofre porque os meus rituais são de manhã e não dá tempo para que o cheiro do enxofre desapareça completamente, isto para além de os fumos serem tóxicos e se entranharem, especialmente em sofás ou camas. Eu prefiro usar o incenso, deixando o quarto completamente às escuras com vários paus de incenso acesos para que o encham completamente, abandonando-o depois das acções rituais para que fique numa espécie de incubação, que é o método porque Apolo mais se manifesta. O quarto permanece assim, completamente fechado, sem que nada nem ninguém lá entre antes do ritual, e a luz só volta aquando do ritual, nomeadamente da segunda acção purificante antes do ritual, para que se possa ver o que se faz, quer seja através de luz solar, de lâmpadas ou de velas.
Antes dos convidados chegarem, ou antes de entrar no quarto com as oferendas para fazer o ritual, a pessoa entra carregando consigo o khernips, uma taça com água. Então acende-se a chama sagrada e prepara-se o khernips, tornando a água sagrada. As formas de o fazer são muito variadas, pois não se conhece a forma usada na antiguidade, e não estão no propósito deste artigo. Após acender a chama e se preparar o khernips, coloca-se este à entrada para que todos os participantes se limpem antes de entrar.
Em rituais solitários costumo sair com o khernips, após o ter usado para me limpar a mim e ao espaço ritual, em sentido oposto ao do ponteiro dos relógios, e salpico todas as oferendas, deixando depois o khernips fora do quarto e entrando com as oferendas. No caso de rituais colectivos é normal que o khernips seja salpicado sobre os outros pela pessoa que o preparou e também sobre as oferendas, sendo depois novamente depositado fora do local do ritual, já que absorveu todas as impurezas e miasma e convém que esteja fora do espaço e das pessoas agora sagrados.
Durante o Ritual
Limpeza da Pessoa
A limpeza da pessoa durante o ritual propriamente dita é efectuada por ela mesma antes de entrar no espaço sagrado e pelo sacerdote, que a salpica novamente com khernips. Depois a pessoa é que se deve esforçar por manter os pensamentos centrados no ritual e por dar o melhor de si.
Limpeza do Espaço
Quando as pessoas entram no espaço sagrado, percorrem-no no sentido oposto ao ponteiro dos relógios, às vezes sob a forma de uma dança, que demarca claramente o espaço sagrado. Depois dá-se a oferta inicial de grão, em que cada pessoa tira um pouco de grão do cesto onde a faca sacrificial se encontra escondida, e segurando o grão todos o atiram para o chão, ficando em completo silêncio. O efeito é demarcar claramente o começo do sagrado e é fantástico, principalmente se foi antecedido por música e depois só se ouve o salpicar dos grãos que gradualmente é substituído por silêncio.
Então, o ritual propriamente dito começa.
Depois do Ritual
Quando o ritual acaba o espaço fica cheio de grão no chão e com as ofertas. Caso seja numa floresta deixa-se a área e o ritual está concluído. Mas quando o ritual se dá em espaços do interior convém que o espaço seja limpo, algumas horas depois, para que os Deuses possam apreciar totalmente as ofertas antes de as retirarmos. As ofertas perecíveis e libações são deixadas numa floresta ou parque, sendo as ofertas enterradas. Quando não há hipótese de o fazer podem ser simplesmente deitadas fora, mas embrulhadas num saco em separado.
Outras ofertas podem ficar no local por mais tempo, como por exemplo flores, estátuas, jóias, entre outras.
Lista
E aqui fica uma pequena lista para verificar antes do ritual:
– Fumigação do Espaço
– Ocasião especial (morte e nascimento) = purificação especial (jejum, ritual, entre outros)
– Banho e roupas novas/especiais
– Outras formas de preparação: meditação
– Khernips e Chama Sagrada
– Circumbalação
– Purificação por cereais e silêncio
Texto retirado do site:
http://www.portuskale.org/pratica/purificacao.html
Está em Português de Portugal, mas é muito bom. Espero que não tenham problemas em entender.
Respostas de 14
Ola Sr.
Em análise do texto, qualquer atitude humana pode produzir “miasma”? Existe algum sinônimo para esta palavra?
Em relação a “katarsis”, existe alguma a ser realizada todos os dias para purificação e preparação para os mesmos?
Obrigado.
Bom dia Tio,
Fiquei com a impressão que a pessoa que escreveu o texto sabia do que estava falando, mas não tem grande proficiência em escrever. Principalmente nos parágrafos iniciais, está incômodo de ler, não por causa do português ser de Portugal, mas por falha na estrutura textual mesmo. De qualquer forma, achei bem interessante… recentemente, começamos a usar incenso nas nossas reuniões no Capítulo, aliás.
Um abraço e comento no próximo texto,
Hugo Lima”
miasma é um tipo de assinatura que liberamos, assim como quando tocamos algo e criamos uma frequencia de vibração (barulho) que por sua vez pode ser percebido por outras pessoas ao seu lado???
Achei interessante existe algum ritual de limpeza antes de tranzar com a companheira por exemplo que um profano possa fazer sem ofender os Deuses!! que vai auxiliar e trazaer paz e prosperidade para quem está praticando???
Muito legal esse blog!!!
Muita luz a todos!!!!!
E por acaso o uso de drogas, alcool, maconha, haxixe, que são inclusive empregados religiosamente em algumas religiões.
Esses causariam miasma?
Oi gustavo, tudo bem? Então, o MDD, pode responder melhor, vou apenas dar uma opinião baseado no que eu conheci, ok?
As substâncias naturais, ervas e até mesmo o tabaco presentes nos cigarros industrializados são sagrados, da mesma maneira que uma maçã também é, no sentido que é algo que veio da Natureza.
Claro que a maçã orgânica é diferente daquela cheia de agrotóxicos. Energeticamente falando, todo o transporte e armazenamento da maçã também influencia, pois comer a maçã do mercado é diferente de comer uma maçã que vc acabou de colher da árvore.
A mesma coisa ocorre com as ervas. O tabaco, a maconha, etc são sagrados, Mas foram profanados, No cigarro industrializado há muito mais impureza do que qualquer coisa. Agora a maconha por exemplo, se vc quer utilizá-la para um uso ritual (não o chamado uso recreativo), tudo que estiver no entorno irá influenciar. Começa pela própria qualidade da maconha, né? É claro que a plantada em casa não vai ser nem um pouquinho, energeticamente falando, igual a do traficante, isso sem contar as impurezas.
Além disso, como o artigo explica, tem que ter todo um cuidado com o ambiente para se fazer um uso ritualístico, mesmo se a erva for super pura.
Espero ter ajudado. 🙂
Oi DD… cara… acho q entendi o q é miasma. porem fiquei boiando no referido ritual… pra mim ficou fora de contexto…o q esse cara é? budista? espirita? ateu?
Quais são os miasmas e Katarsis menos obvios?
Tipo… o q a maioria das pessoas confunde?
Entre
sexo
alimentar
preparar alimento
musicas
drogas
masturbação
alcool…
Outra… quando eu posto aqui vc é notificado? e como fico a saber se vc respondeu ou não?
Olá!
Então o link está quebrado… Não sei a fonte. Os comentários são moderados, ou seja, eles só aparecem no site após aprovação da moderação, então o autor da postagem é notificado.
Quanto a sua pergunta, miasma é energia. Não importa a religião/filosofia da pessoa que escreveu (que é um iniciado), energia está o tempo todo em todo lugar, basta estarmos vivos para produzirmos e absorvemos energia. Miasma pode ser gerado por qualquer atitude nossa. Muitas pessoas se focam no sexo, no morte ou nas coisas que parecem mais forte, mas os pensamentos (e estamos o tempo todo pensando) geram miasmas, como informa o texto.
Por isso que Alan Kardec já escreveu em 1800 e tanto “Orai e Vigiai” Rubens Saraceni explica bem a questão de formas-pensamento, mas mesmo antes disso lá na Bíblia e lá nos textos judaicos antes da bíblia critã já havia conselhos sobre tentar manter sempre uma vibração elevada de pensamento, mesmo num dia a dia nem sempre favorável….
“Comemos carne de boi. Isto faz parte da economia da natureza sobre a terra.
Mas seremos muito estúpidos e egocêntricos se julgarmos que o touro e a vaca “foram criados” apenas para nos prover com bifes! Toda espécie viva luta pelo seu autoaperfeiçoamento. Sem dúvida, a ingestão de carne bovina introduz certas vibrações de ordem mais pesada em nossa psique. Mas isto nos permite viver e atuar em ambientes onde o vegetarianismo só conduziria à intolerância ou à impotência. Por outro lado, a nossa ingestão de carne bovina provÊ um elo magnético entre uma espécie mais evoluída (a nossa) e uma menos evoluída, o que introduz nossa gama vibratória na atmosfera psíquica da espécie cuja carne ingerimos. Esta interação beneficia a evolução da espécie de que nos alimentamos.
É por este motivo (entre outros) que pessoas vegetarianas por “motivos
morais”, e não apenas por necessidade dietéticas, são tolas e egoístas.”
Juro como não consegui entender o ponto do Marcelo Ramos Motta aqui. Concordo em muitas coisas com ele, e discordo em muitas outras, mas o que diabos ele tem contra quem opta não comer carne vermelha (até mesmo pela questão do miasma gerado)?
Inclusive, na cultura védica quando um brahmana tem uma morte na familia, ele se contamina e tem de ficar um periodo de algumas semanas sem poder realizar rituais, agni-hotras ou atender à deidade, o mesmo se dá quando se tem contato com certos animais ou sujeiras como fezes, urina e etc.
Já em contrapartida, quanto às deidades que trabalham com certos tipos de miasma, pode-se notar as deidades tântricas, como Kali-Bhairava por exemplo, onde seus adoradores e sadhakas residem em campos de cremação e realizam rituais com coisas que geralmente são consideradas sujas na cultura védica.
Ótimo texto!