Texto muito bacana de K.G.Gomes, ou AbraxasImago.
Um dos grandes questionamentos do iniciante, ao meu ver, é o que “diacho” seria magia e do que ela serviria ao homem que tivesse domínio sobre ela.Isso por ser bastante comum os interessados nelas anteverem primeiramente seus benefícios em detrimento dos encargos impostos.
Pela etimologia da própria palavra sua origem é incerta. Os antigos persas tinham uma visão bem mística da magia,como algo dado ao homem como dons divinos.Muitos desses homens era tidos como “sábios” ou “magi”.Outra possível origem pode ter surgido com a palavra “imago”,que significa “ilusão” e “imagem”. Fazendo uma alusão ao já exposto como “imagem”,”ilusão”,”sábio” podemos arriscar em definir como a magia ser a arte dos sábios de criar coisas miraculosas.
Essa visão de prodígios por muito tempo foi levada pelas mais diversas culturas. Ninguém de fora da arte entendia seu funcionamento.Isso porquê as pessoas não conseguem entender a sua linguagem.
Em qualquer sistema de linguagem e tradução existe uma linguagem que o leigo não entende e a linguagem comum e acessível a sua compreensão, sendo esta separada por um hiato.Essa separação é que afasta o homem do entendimento total acerca daquilo que desconhece.A única maneira de fazê-lo entender algo é ensinando a ele essa linguagem por um sistema de tradução.
Parece viagem,mas a nossa gramática(por exemplo) na verdade é o resultado de séculos de desenvolvimento em cima de grimórios antigos.Sim, grimórios,que são livros de magia compilados ao longo de gerações por autores desconhecidos que atribuiam a autoria e popularidade em cima de autoridades míticas como Salomão,Abraão-O Judeu, Abramelin,etc.
Nesse grimórios o funcionamento de linguagem é o mesmo.Antes de chamar um demônio ou anjo à sua presença,o magista (termo moderninho para mago,mais bonito e menos galhofa) tinha de conhecer a sua hierarquia e função,como um ser vivo de algum filo do reino animalia ou mesmo um indivíduo autônomo que compunha algum dos setores de funcionamento de uma grande empresa ou corporação.
Sabendo a função e posicionamento o mago tinha de saber o seu símbolo arquetípico,uma imagem que codificasse tudo aquilo sobre a dita entidade e que penetrasse no seu subconsciente para acessá-la.Esse caráter de imagem é importante,note bem. A imagem é uma forma de linguagem,porque nela pode se concentrar diversos simbolismos e explicações complexas que levariam mais tempo e esforço de serem transpostas ao papel.
Bom,temos o nome do ser e o seu símbolo.Para ser feita a conexão o magista tem de iniciar uma chamada simples,algo como teclar os números corretos do telefone para poder ter um te-te-a-te-te com a entidade.Mas antes ele deveria estar prevenido de que autoridade investir sobre si e como tratar a entidade,o que falar sem vacilar e expor…em linguagem nada mais são do que pronomes de tratamento,artigos,substantivos…
…essa linguagem é que é fabuloso da magia.O uso da linguagem desconhecida ao grande público e sabida apenas pelo operador do prodígio não é para chamar atenção dos outros,mas do subconsciente do próprio homem.Apopantoskakodaimonos,abrahadabra e outras palavras são fórmulas especiais de acesso a certas áreas restritas do subconsciente que o indivíduo não conseguiria fazer sozinho com a própria consciência.
A arte e ciência entram justamente em comum da magia,porque há uma cosmologia e paradigmas próprios àquele que decide acessar portais ocultos pela realidade aparente das coisas. Pantáculos,círculos,velas,invocações teatrais,orações fervorosas,etc,são muito recorrentes porque existe a técnica e a arte que as desenvolve para acobertá-la daqueles que a querem perverter e não detém de sabedoria e tradução suficientes para entendê-la.Um erro nessa tradução ou não tem efeito ou,no pior dos casos,tem efeitos desastrosos sobre o magista ou sobre o curioso que apenas quer saber como é essa brincadeira,caindo numa puta de uma “bad trip”.
O primeiro passo para o entendimento é se conhecer.O auto-conhecimento é importante,porque a magia não somente mexe com a realidade objetiva que é externa a pessoa,mas com a subjetiva que é interna a este.Caso contrário,como esperas ter o “domínio” sobre uma entidade ou plano de existência se você mesmo não tem controle mínimo sobre sí?
O segundo passo seria conhecer o universo.Estudar todas as ciências-base,que são português,matemática,geografia,história,filosofia,teologia e ciências naturais(física,química e biologia) eram estudadas com afinco por todos os magos.Magia não é um estudo somente da metafísica,mas um aprendizado constante dos planos tangíveis e intangíveis.Paracelso,por exemplo,era químico,médico,filósofo e teólogo.Não à toa Paracelso(o “médico excelso”) é considerado o pai da química e medicina(tanto homeopática quanto alopática,por mais que os últimos e céticos o neguem),algo que o gabarita de forma inquestionável como apto para estudar magia.
O terceiro pode ser o estudo teórico desse conhecimento e a prática deste.Estudar hermetismo ou hermeticismo e praticar theurgia como os gregos antigamente faziam,ou ler cabala e recitar invocações de anjos ou confeccionar pantáculos diversos,ou mesmo rezar sobre a rosa na cruz e transmutar os elementos alquímicos que são inerentes ao seu próprio ser.
Isso se tratando de ciência,em arte não muda muito.O exemplo mais recorrente que me vem agora é o próprio Alan Moore.Ele é escritor, quadrinista,desenhista…e Mago!Ele é simplesmente foda!A frase que me tocou muito quanto a linguagem e que compartilho com vocês é que ele,ao atingir a casa dos 40 ou 50,poderia ter tido uma crise de meia-idade como todo mundo,mas resolveu pirar e se assumir como um mago…e de tanto dizer essas sandices ele se surpreendeu com a ironia do universo,pois a partir do momento que ele se assumiu como mago ele se tornou um.
Essa é a sutileza do caminho.
The mindscape of Alan Moore
(Obs:àqueles que como eu são jumentos em se tratando de inglês,no vídeo tem o recurso de tradutor de legendas fraquinho,mas que dá para se virar bastante,bastando configurar.)
Texto original do blog Lamparina Magicka, que vale ser colocado nos favoritos.
Respostas de 11
“O segundo passo seria conhecer o universo.Estudar todas as ciências-base,que são português,matemática,geografia,história,filosofia,teologia e ciências naturais(física,química e biologia) eram estudadas com afinco por todos os magos.Magia não é um estudo somente da metafísica,mas um aprendizado constante dos planos tangíveis e intangíveis.Paracelso,por exemplo,era químico,médico,filósofo e teólogo.Não à toa Paracelso(o “médico excelso”) é considerado o pai da química e medicina(tanto homeopática quanto alopática,por mais que os últimos e céticos o neguem),algo que o gabarita de forma inquestionável como apto para estudar magia.”
Gostei muito deste trecho do texto, e infelizmente, parece algo muito renegado. Tem gente que quer aprender a mover objetos com o poder da mente, mas não sabe nem calcular a velocidade de um objeto ao tocar o chão caindo da altura x…
Este tá com legenda em PT-Br. Abraço
http://youtu.be/4K1BSyX6IyA
Marcelo, li esse texto na internet, e fiquei um tanto confuso sobre a visão e a comparação com astrologia e oq vc nos passa aqui no blog, gostaria de saber oq acha sobre esse texto, serio da grande importancia pra mim!
@MDD – Conheço o caso do Newton. Anotei as 13 perguntas que ele faz, mas é impossível respondê-las em um comentário. estou elaborando um posto sobre isso. Deve demorar uns dias, mas vai ficar muito bom. São perguntas muito pertinentes e merecem respostas (algumas são simples, mas outras vão exigir alguma pesquisa).
Um texto muito esclarecedor. Tive até uns gozos aqui. (rs) Muito bom!
MDD, pergunta meio fora do tópico, mas eu andei pensando, os cientistas dizem que o universo vai “morrer” em um trilhão de anos, as estrelas não vão mais ter combustível e a vida não vai mais ser possível no universo, como vão ficar as reencarnações em Malkuth depois disso?
@MDD – estaremos em outras estrelas muito antes disso…
Realmente texto muito bom!
Orgulho da mamãe! 🙂
Cara,
Já que citou “The mindescape of Alan Moore”, você poderia colocar a definição de magia que ele dá no vídeo. Eu sei que no seu texto tem muito do que foi dito , à sua maneira, é que… Pô, ele matou a pau!
Grande texto
Aqui o documentário do Moore com legendas em português:
http://www.youtube.com/watch?v=KPzLgQv6EjY
Abraços
Muito bom texto!
Tem o documentário legendado também, aqui:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=4K1BSyX6IyA
Allan More possui alguma relação formal com a linguística?
@MDD – Até onde eu sei, ele fez só o colegial, mas sua relação com a linguistica é praticamente sobrenatural.
Um texto que de uns tempos pra cá venho pensando muito a respeito, já que na Magia e em rituais há o uso constante de determinadas palavras. As palavras têm poder para mudar a situação e são muito bem usadas em alguns nomes de personagens de filmes, vide o “O senhor dos anéis” por exemplo. Às vezes não me vejo igual à muitas pessoas, me sinto diferente e percebo que as pessoas sempre falam do mesmo jeito(com ênfase no início e fim de qualquer frase), não sei se seria alguma influência astral e/ou espiritual que recai sobre mim. Seria bom se o post pudesse ter uma continuação ou novos posts parecidos com este daqui. Espero ter ajudado em alguma coisa para vocês internautas. Desejo sucesso à todos…