Kotodama, do japonês, literalmente, “espírito da palavra”, mais comumente traduzido como “poder da palavra”, é conhecido popularmente como a crença japonesa no poder das palavras, que pode alterar ambientes, afetar objetos e todo aquele hocus pocus que vocês já devem estar acostumados…
Que as palavras têm poder, nós já iremos chegar lá, mas vejamos os kanji, primeiro:
Quanto a “gen”, o seu significado é o de palavra oral.
O processo de formação dos kanji é muito interessante. Basicamente, há kanji que são chamados de ‘básicos’ ou ‘originários’, os quais serão utilizados como radicais na composição de kanji mais complexos. Dessa forma, “kuchi”, que significa “boca”, é um desses, vejam só:
Muito parecido com a parte inferior do kanji “gen”, certo? Errado! Eles são exatamente o mesmo! Agora vocês perguntam: “o que são aqueles “risquinhos” ali em cima”? Oras, o que vocês acham que são?
Sim, os japoneses são nerds e já sabiam física há milhares de anos atrás. Os risquinhos nada mais são do que a representação das ondas sonoras, a verbalização da palavra. Basta procurar qualquer dicionário pictográfico de kanji. Eles explicam como é que os kanji se formaram a partir de imagens que ilustram o sentido da palavra.
Para os que ainda desconfiam que “gen” significa a palavra verbalizada, tal kanji é usado como radical na composição da (e de várias outras) palavra “go”, que significa “idioma” ou “língua” (no sentido de ‘language’).
Já “rei”, o significado é “espírito”, “fantasma”, “alma penada”. Contudo, não podemos confundir com “tamashii”, cujo kanji é diferente e cujo significado é “alma”, “espírito”. Explico: enquanto “tamashii” significa a alma humana, “rei” é a essência espiritual propriamente dita.
Só para vocês terem uma idéia de como o buraco é mais embaixo, o kanji “tamashii” também é pronunciado como “kon”, que é um dos quatro elementos do xintoísmo. “Kon”, no shinto, também é chamado de “waketama”, ou seja, “almas separadas individualmente”, outra forma de dizer “crianças do kami”, ou seja, nós, os seres humanos. A alma (kon) é chamada dessa forma (waketama) porque ela é composta de quatro partes, quais sejam, “aramitama”, ou a coragem, “nigimitama”, ou a amizade, “sachimitama”, ou o amor, e “kushimitama”, ou a sabedoria.
É óbvio que o significado de cada uma dessas palavras é muito mais complexo e intrínseco, mas essa explicação fica para outra oportunidade…
Voltando ao significado de “rei”, que é o que importa nesse momento, no shinto, “rei” é outro dos quatro elementos.
Podemos associar “kon” ao intelecto que só os seres humanos possuem (a alma intelectiva de São Tomás de Aquino) e ao plano mental, enquanto “rei” é a manifestação do espírito e corresponde ao plano espiritual.
Após esse breve estudo etimológico, podemos finalmente conceituar Kotodama como a arte de animar através da verbalização da palavra.
Respostas de 7
Que bacana!
Acabei de assistir Wagaya no Oinari-sama e kotodamas são mencionados sempre durante o anime!
Tinha corrido atrás de saber o que eram, mas aqui tem uns detalhes a mais…
Valeu!
Lembrei dos experimentos de Massaru Emoto.
Excentente texto!
Oi, pessoal.
Esses termos são muito antigos.
A primeira vez que os ouvi, aqui no Brasil, foram ditos ainda nos anos 70, pelo grande mestre Tomio Kikuchi, que ainda hoje, em São Paulo, nos revela diversos significados do pensamento oriental antigo.
Parabéns pelo texto.
Condesmar.
Legal,são os Mantras do Japão xD.
Faz um post sobre Mudras tmb,os Kuji-in
Adorei a resposta. Estou devorando o conteúdo do teu blog, muito bonito.
O correto seria Kototama
pesquise pela oração ZENGUEN-SANJI criada por Mokiti Okada, é uma oração muito bonita e que emite grandes vibrações.
@Aoi Kuwan – O correto é kotodama. Quando um kanji é sufixo, sua pronúncia é modificada, daí advindo o uso de tenten (as duas vírgulas em cima do kana para indicar a mudança do som).
Cada dia mais eu vejo que nada é por acaso. Esse post aparecendo por aqui justamente quando eu me prontifiquei a voltar a estudar japonês (que havia estudado por 4 anos e havia parado desde 2013) graças aos exercícios do Sefirat Ha Omer, parece que tudo vai acontecendo pra me ajudar a continuar nesse caminho do autoconhecimento e de manter o foco nos meus objetivos (uma dificuldade imensa que eu tinha antigamente, e com os exercícios do Ômer consegui me organizar pra me forçar a fazer o que quero).