Hércules e o Leão da Neméia


O Leão de Neméia – o aperfeiçoamento começa dentro de nós

O desafio de Hércules foi vencer um leão de pele invulnerável, que devastava rebanhos e devorava todos os que tentavam matá-lo. Aconselhado por Atena, deusa da sabedoria, a não usar a força, o herói estrangula a fera em sua caverna. “Nesse teste, Hércules ensina que a luta pelo aperfeiçoamento começa dentro de nós. Os leões de hoje são a violência e a agressividade e o desafio é buscar a harmonia, procurando antes de mais nada nossos recursos internos”

Antes de prosseguir, leia Os Doze Trabalhos de Hércules e a Iniciação.

Mitologia

Na cidade de Neméia vivia no fundo de uma caverna um leão terrível, concebido por Selene uma temida feiticeira. Querendo vingar-se dos habitantes da cidade que a haviam expulsado, fêz surgir esta terrível criatura. Cobrindo a pele do leão com uma poção mágica, a criatura se tornou indestrutível, sendo incapaz de ser transpassada por qualquer arma criada pelos homens. Quando saía da caverna, devorava os habitantes de Neméia. Assim padecia a cidade com a fúria de Selena.

No Olimpo vários heróis eram instruídos pelo centauro Quíron e dentre eles se destacava Hércules, um dos filhos de Zeus. Percebendo sua bravura, lealdade e dignidade apesar de seu orgulho, Zeus resolveu iniciar Hércules nos mistérios do Olimpo, escrevendo com letras de fogo em uma folha de ouro, as 12 tarefas.

O primeiro trabalho iniciático seria matar o Leão de Neméia. Indo em direção a Neméia, Hércules tentou entender o motivo desta tarefa tão simples. Ao encontrar a caverna, Hércules entrou decidido a matar a criatura com inúmeras armas. Ao se aproximar do fundo da caverna, ele percebeu o leão vindo lentamente em sua direção. O Leão era enorme e fixando o olhar em Hércules, com seus olhos brilhantes e enigmáticos, Hércules foi surpreendido pelo ataque do leão travando com ele uma batalha terrível.

Hércules fugiu da caverna assustado mas resolveu retornar com suas armas, porém percebeu que elas não serviam para matar o leão. Mais uma vez ele foi surpreendido pelo ataque feroz do monstro e fugiu. Fora da caverna Hércules refletiu sobre a tarefa e decidiu enfrentar o leão sem armas, talvez fosse essa a tarefa: usar sua razão em lugar de sua força.

Aproximando-se do fundo da caverna viu novamente o leão se aproximando e fixando seu olhar em Hércules. Surpreso, Hércules viu que o brilho nos olhos do leão era um espelho que refletia sua imagem. Ferozmente o leão avançava contra Hércules. Depois de uma longa luta, Hércules estrangulou o leão que caiu morto.

Levando seu corpo para fora da caverna, Hércules viu o tamanho real do animal, que não lhe parecia tão grande assim. Resolveu olhar mais uma vez em seus olhos e viu que nada havia lá dentro. Ele havia conseguido vencer a si mesmo e ao seu orgulho. Arrancou o pelo do animal e dela fez uma túnica, que o tornou indestrutível. E com a cabeça fez um capacete, que passou a usar em todas as outras tarefas, para sempre se lembrar que a força nunca deveria superar a razão.

Simbologia

A luta de Héracles ou Hércules com as feras representa a constante luta que temos para conter a fera que mora dentro de nós, ao mesmo tempo que preservamos nosso instinto vital e criativo. O leão está sempre associado à realeza e, mesmo em sua forma destrutiva, é o rei dos animais, egocêntrico e selvagem, o princípio infantil. Dessa forma, sempre que derrotamos e vestimos a pele do leão, as opiniões dos outros que antes nos intimidavam, já não tem mais valor pois estamos vestidos com uma poderosa couraça, nossa própria identidade.

No entanto, por mais heróica que seja, a pele do leão sempre representa o egocentrismo, a dificuldade de lidar com a frustração e com a raiva contida. Não sabemos lidar com a frustração por não conseguirmos o que queremos, pela auto-importância inflamada e o orgulho desmedido. Entretanto quando dominamos essa fera que mora em nós, podemos utilizá-la de forma construtiva. As conquistas e vitórias exigem que deixemos para trás as couraças, que carregam uma alma sem paixão.

Caminho de Iniciação

O Leão de Neméia é a viva alegoria das variadas e incontáveis forças instintivas e passionais existentes nos infernos da Lua (o Astral Inferior). Morto o Leão de Neméia, deve o adepto desintegrar sucessivamente o Demônio do Desejos (Judas), o Demônio da Mente (Pilatos) e, por fim, o Adepto prossegue seus trabalhos nesses infernos libertando partes de sua Consciência aprisionadas nos átomos do Demônio de Má Vontade (Caifás), que é o mais detestável dos três.

Esses três demônios são as três Fúrias dos Mistérios Buddhistas; em seu conjunto formam o Dragão das Trevas do Apocalipse de São João. No Apocalipse, o Dragão das Trevas é representado como um monstro de sete cabeças. Essas sete cabeças são os sete pecados capitais, portanto, o Leão de Neméia é o símbolo de todas essas forças diabólicas que vivem nos infernos da Lua psicológica.

Todo o trabalho de desintegração dos demônios que vivem nesses infernos planetários é executado pela Mãe Divina Individual. “Que teria sido de mim sem o auxílio de minha Divina Mãe Kundalini”, exclama Samael Aun Weor. “Desde o fundo do abismo chamava por minha mãe, e ela surgia empunhando a Lança de Eros…”. “Afortunadamente soube aproveitar ao máximo o coitus reservatus, para fazer minhas súplicas a Devi Kundalini”, diz Samael falando de seu próprio processo na Segunda Montanha (Caminho de Iniciação).

Terminado o Primeiro Trabalho de Hércules, o Iniciado ganha direito de ingressar no Céu da Lua, a morada dos Anjos, o Astral Superior. Ao término dos trabalhos nos infernos da Lua, o iniciado une-se com sua Buddhi. Esclarecemos: na Sexta Iniciação Maior, Buddhi nasce dentro do Iniciado. Mas ainda não ocorrem as núpcias, a união entre Manas e Buddhi, o que só ocorre ao fim do Primeiro Trabalho de Hércules interno, viva alegoria de Manas.

“Descer ao Inferno é fácil: difícil é retornar depois”, adverte a Sabedoria Oculta. A última etapa do trabalho nessas regiões inferiores é acabar com as bestas secundárias, expulsar as malignas inteligências de suas moradas nucleares. Quando esses átomos ficam livres dessas inteligências diabólicas, convertem-se em veículo de inteligências luminosas. Por isso dizemos que:

“O Cristo não desce aos infernos para destruir, se não para redimir.”

Resumindo, para subir ao Céu Lunar, Morada dos Anjos, e celebrar as núpcias com nossa Noiva Imortal (Buddhi), antes é preciso descer ao correspondente inferno lunar com o intuito de dominar e eliminar todas as paixões animais, instintos bestiais, desejos, medos, processos passionais, a má vontade, a Besta de Sete Cabeças, enfim, transformar as águas pestilentas e negras em águas claras, limpas e transparentes. Trata-se de uma tarefa multifacetada porque incontáveis são os defeitos de natureza emocional, sentimental e instintiva que vivem nessa esfera inferior, especialmente nossos defeitos mais antigos; por isso, são de difícil eliminação; sempre surgem como monstros gigantescos e milenares diante da visão interna. Na Segunda Montanha (Caminho de Iniciação), a paciência e a serenidade precisam ser elevadas a infinitos graus porque o trabalho se torna extremamente delicado e sutil.

Biblioteca de Antroposofia.

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Respostas de 7

  1. Olá Del Debbio,

    quando se diz “antes é preciso descer ao correspondente inferno lunar com o intuito de dominar e eliminar todas as paixões animais, instintos bestiais, desejos, medos, processos passionais, a má vontade, a Besta de Sete Cabeças”

    me remeteu ao texto sobre LVX e NOX. No caso essa etapa de dominar os demônios interiores seria como um auto exorcismo? Ocorre a evocação e posteriormente e uma especie de banimento ou os invoca denxando-os tentá-lo ao máximo para voce dominá-los e manifestar seu controle sobre eles?

    Então para se tornar um Buda(cristo) teria que ocorrer esse processo? É a isso que se remete aquela passagem bíblica em que Jesus é tentado pelo demônio no deserto?

    Outra dúvida. O ser Cristico se refere a Tiphareth correto? Mas você e muitos outros iniciados, creio eu, já alcançaram Tiphareth(Que significa poder conversar com seu SAG,corrija-me se estiver errado), mas ainda não são Budas, não alcançaram a iluminação. O que difere então de fato um iniciado que alcançou Tiphareth para um buda seria que além de alcançar a conversação com o SAG o Buda já se exorcisou de todos os seus demônios e defeitos?

    Se for isso mesmo creio que realmente é muuuito dificil… Não temos muitos Cristos por aí…(ou temos?)

  2. Engraçado… Ontem, enquanto meditava, me lembrei da carta do tarot A Força e achei que a sua simbologia combina de alguma forma com esta lenda. Esse texto me ajudou a refletir sobre algumas coisas! Será coincidência? rsrs…

  3. Fugindo um pouco do foco da postagem, mas permanecendo no assunto. Sempre achei o Sansão biblíco como sendo a versão cristã do Hércules grego. Os dois são “super-fortes”. Os dois ficaram famosos após matarem um leão.

    @MDD – Ambos representam o Sol.

    1. Del Debbio, espero que o Sr me responda:

      Eu tenho altos e baixos tentando seguir “o caminho”, parece que quanto mais eu entendo de algo parece que quando eu caio, eu caio de uma altura ainda maior eu me esborracho e me machuco ainda mais, se é que voce me entende, e isso me leva a um pensamento nefasto da vida. De que a vida é uma bosta, de que as coisas não fazem sentido, de que deus deve estar rindo muito da minha cara. Confesso que as vezes eu chego no limite e sinto vontade de desistir de tudo de verdade, dai eu me acalmo e volto a trilhar. Eu sei que isso é uma caracteristica negativa minha a superar, porem as circunstancias nunca ajudam, parece que eu to a muito tempo remando contra a mare e há anos que eu não sinto a vida fluir de verdade. Eu sou o pseudo-calmo, vo levando as coisas até eu estourar.
      Tu pode simplesmente colocar umas palavrinhas de conselho, só o que peço.
      “Pelo seus frutos os conhecereis” (Mat 7:16) E eu sei que isso cabe a mim …

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