Desde a antiguidade, a música era parte integrante das ciências e da medicina terapêutica. Pitágoras tocava sua lira de sete cordas já com o intuito de acalmar as mentes inquietas e curar os doentes de seus males físicos. Assim como outros filósofos pré-socráticos ele também descreveu o poder do som e seus efeitos sobre a psique humana.
Em nossa era, a música, como agente terapêutico, voltou a ganhar força no momento em que buscou fundamentos na psicologia, biologia e filosofia. E a este tratamento, deram o nome de Musicoterapia.
“Musicoterapia é a utilização estruturada da música como processo criativo para desenvolver e manter o máximo potencial humano“[1]
Transdisciplinaridade é a palavra chave da musicoterapia. Psicologia, Neurologia, Sociologia, Antropologia, Anatomia, Física e Química são algumas das ciências que gravitam ao redor de seus dois elementos constituintes, a Música e a Terapia. [2]
Em terapia a música é utilizada para provocar mudanças positivas na saúde emocional e física do paciente. Além de acalmar, animar, consolar e emocionar a música tem o poder de tratar e curar doenças.
Em meados do século XVI, o cirurgião francês Ambroise Paré, além de inventar novos instrumentos cirúrgicos e introduzir várias inovações na prática médica, prescrevia a seus pacientes que se acercassem de violinos e violoncelos para se recuperarem com maior rapidez .
No século XVIII, Richard Browne escreveu um livro chamado Médécine Música, onde admite que o canto influi no movimento do coração e da circulação do sangue no pulmão.
Mas não é só sair por aí ouvindo a música que bem entender para qualquer situação, Pargeter, no final do século XVIII, “descobriu” que era necessário um conhecimento específico da música para dosificar seu emprego terapêutico.
Antes de utilizar qualquer música para o tratamento de enfermidades, o médico Benito Mojan, sugeriu algumas recomendações:
- Conhecer a natureza da enfermidade.
- Tomar consciência dos gostos do paciente.
- Observar o efeito que produz sobre ele o emprego de algumas melodias com preferência a outras.
- O emprego da música deve ser evitado no caso de enxaquecas ou dor de ouvidos.
- Deve-se tomar precaução em moderar os sons, pois a intensidade destes poderá ser um estímulo excessivo.
- Os sons devem aumentar gradualmente de intensidade e serem variados.
- A música não deve prolongar-se demasiado.
Em 2007 o neurologista britânico Oliver Sacks viria a dizer que: “o excesso de música pode nos levar a alucinações musicais.” O neurologista se convenceu dos efeitos terapêuticos da música quando percebeu os resultados de sua aplicação em pacientes com Parkinson avançado.
Segundo ele, a música tem um grande potencial terapêutico quando se trata de doenças neurológicas, pois em determinados casos, há pacientes que não respondem a nenhum outro estímulo, a não ser à música.
Em seu livro Alucinações Musicais (Musicophilia) Oliver Sacks nos descreve diversos fenômenos interligando neurologia, fisiologia e música. Há casos de pacientes que, em condições neurológicas raras, reagem à música de forma incomum: alguns não conseguem ouvi-la, enquanto outros simplesmente ouvem música todo o tempo, mesmo sem nenhuma melodia tocando. Pacientes que, após um acidente, desenvolvem talentos musicais que antes não possuíam, demonstrando-nos que a música pode “sobreviver” ou “nascer” após danos cerebrais devastadores.
Dizia Nietzsche: “Ouvimos música com nossos músculos”
Ele não estava errado, Tarchanoff, um fisiologista russo utilizou um ergógrafo de Mosso para medir a quantidade do trabalho muscular do homem. Segundo o caráter da melodia que atuava no indivíduo, havia um aumento ou uma diminuição da força muscular.
“Ouvir música não é apenas algo auditivo e emocional, é também motor. Acompanhamos o ritmo da música, involuntariamente, mesmo se não estivermos prestando atenção a ela conscientemente, e nosso rosto e postura espelham a “narrativa” da melodia e os pensamentos e sentimentos que ela provoca.”[3]
A Musicoterapia tem sido empregada nas mais diversas áreas. Com o intuito de colaborar com a metodologia de sua aplicação, Kenneth Brucia, professor de Musicoterapia da Temple University (Pensylvania, USA) identificou seis áreas principais de aplicação da música:[4]
- Didática
- Médica
- De cura
- Psicoterapêutica
- Recreativa
- Ecológica
Para estas seis áreas ele definiu quatro níveis de prática: primário, auxiliar, aumentativo e intensivo. Desta forma, o autor define uma espécie de “bússola” para os musicoterapeutas.
Percebo, que apesar das resistências, a Música vem re-conquistando o seu lugar como parte integrante das ciências e da medicina.
“O objetivo da Musicoterapia, no campo da medicina, é universal, com contribuição ao desenvolvimento do ser humano como totalidade indivisível e única“[5]
Referências:
Respostas de 12
um curiosidade. existe alguma ordem ou grupo que se foque na música?
@FDA – Que foque apenas a música ainda não conheço :/
Vinícius, existe um livro chamado ‘Relatos de Belzebu a seu neto’ de um maluco chamado Georges Ivanovitch Gurdjieff, leia o capítulo ‘O Dervixe Hadji-Assvatz-Truv’.
vou procurar para compra, embora eu esteja com muitos livros na fila para eu ler.
@FDA – Há também um livro intitulado “Magic & Music” da autora Juanita Wescott que aborda o sistema da magia musical inspirado nos ensinamentos do Hermetismo e da Cabala, do ponto de vista de Franz Bardon. Em breve pretendo fazer um post sobre esse assunto.
Não consigo achar esse livro em nenhum site… Você sabe onde posso encontrar?!
O interessante dos livros de Sacks, particularmente em “Um antropólogo em marte” e “O homem que confundiu sua mulher com um chapéu”, é como a música é capaz de proporcionar pequenas “curas inexplicáveis” de condições de graves deficiências mentais. Existe um caso de Mal de Parkinson em que o paciente só consegue realizar ações rotineiras (como calçar os sapatos) se ouvir ou cantarolar mentalmente uma música específica (po exemplo: uma “música para se calçar sapatos”). Enfim, os livros de Sacks são maravilhosos e, ao mesmo tempo, profundamente perturbadores 🙂
Mas em relação a “Musicoterapia”, eu concordo com Patch Adams quando dele fala que “a arte não precisa vir acompanhada da palavra terapia, a arte é a arte, é cultura, e isso já basta”. Ou seja: é apenas música mesmo!
Abs
raph
Quanto à vibração, segundo Edward Witten, na sua teoria das supercordas, toda matéria é feita de uma energia vibratória que é como uma nota musical.
Segundo Saint-Yves d’Alveydre, em seu “Arqueômetro”, as notas musicais tem a ver com muitas coisas interessantes. O Marcelo fez um também que ficou espetacular, no post “física quântica e a arca da aliança”.
Frequentemente vejo alguém dizer que “todo oráculo é o mesmo oráculo”. Então toda terapia seria a mesma terapia?
@FDA – Terapia, do grego: ???????? – “servir a deus”, lhe esclarece alguma coisa?
Além da melodia, as ordens ritmadas são mais fáceis de decorar. Seria por isso que algumas ordens espirituais são rimadas, como: “Abrahadabra, pé de cabra”? (Bazinga)
@FDA – Sim, ritmos são mais fáceis de decorar.
Parabéns pela postagem de alto nível.
Muito bom!
Eu tento compor músicas de altas vibrações (infelizmente só em softwares, por enquanto), fiquem à vontade para ouvir
{:
http://www.myspace.com/ranieribenvenuto
Olá sou estudante de Arquitetura e Urbanismo, gostaria de entrar em contato com vc para tirar algumas dúvidas.
@FDA – ok, meu e-mail é fabiotartini@hotmail.com
ROCK’N ROOOOLL !!!
Olá ! Certa vez encontrei uma página que propunha ouvir “Black Metal como Exercício Espiritual”, por ser um gênero difícil de ouvir, o autor compara o com uma dor que precisa ser encarada de frente e superada…
enfim, o que você acha disso ? Acredito que esse estilo abaixe muito nossas vibrações…
o link:
Black Metal como Exercício Espiritual
http://brasil.anus.com/?p=85
Até mais.
@FDA – Olá César, muito interessante a proposta. Eu ainda acredito que depende muito do receptor, cada pessoa pode ter uma reação diferente ao ouvir determinados sons, acho complicado padronizar um tipo de música para cada “enfermidade”, quando na verdade deve-se padronizar um tipo de música para cada pessoa. Já vi casos de pessoas superarem traumas psicológicos ouvindo música erudita, new age, enquanto outras obtiveram o mesmo efeito ouvindo rock, heavy metal. De uma modo geral, além das condições individuais e patológicas, deve-se avaliar a intensidade sonora, frequências, timbres e ritmos a serem utilizados.
Não é a toa que a música é chamada “linguagem das emoções”, devido à capacidade de evocar respostas emocionais, as quais podem ser de alegria, tristeza, energia, calma etc., respostas essas que são mantidas de maneira acentuada, devido à facilidade com que ela pode adentrar na área de conflitos, sendo considerada como um elemento catalisador dos processos mentais, uma vez que ativa material “inconsciente”, provindos de diversos níveis profundos da personalidade.
Parafraseando Aristóteles, diríamos que se ouvirmos repetidamente músicas melancólicas, iremos nos tornar melancólicos, ou se ouvirmos repetidas vezes músicas alegres, teremos tendência a nos alegrar. Assim, a emoção que uma determinada música reflete, reproduzirá o sentimento correspondente.
Talvez, uma dose diária de Black Metal (não confundir com marca de whisky rsrs), realmente ajude algumas pessoas a ter uma certa habilidade para assimilar e enfrentar circunstâncias difíceis. Mas lembre-se alguns compositores de música erudita são tão “difíceis” de ouvir para algumas pessoas como o Black Metal é para outras. (Fique atento ao próximo post, tratarei sobre isso nas “entrelinhas”)
Eu já percebi que em épocas em que eu tava revoltado, magoado por algo ou alguém, eu tinha muita vontade de ouvir rock pesado, e aquilo de alguma forma me fazia liberar um pouco a energia, a raiva que tava no meu interior…
tirando esses momentos meu gosto normalmente vai pra músicas mais melódicas…
Acho que hoje em dia, um lugar onda as propriedades dos som tem sido usados de forma errada, e somente as vezes certa, são nas raves e festivais de música eletronica, em poucos lugares eu vi pessoas se conectarem tanto com a musica que estão ouvindo, ainda mais pq, nesses lugares a maior parte delas toma alguma droga ou substancia, como MDMA ou LSD, aumentando assim a capacidade de percepção da música e tambem de atingir estados alterados de consiencia e de extase enquanto dançam..
enquanto eu to lá, vendo tanta gente de frente pra cabine do DJ, sintnizados naquele som que muitas vezes realmente levam a pessoa a outro estado mental(principalmente o genero psytrance), eu fico pensando que aquilo já era feito há milhares de anos atrás, quando indios usavam plantas de poder e dançavam em volta da fogueira ao som da batida dos tambores.