O Caminho é vazio e inesgotável,
profundo como um abismo.
É como se fosse o ancestral das dez mil criaturas.
Suavizai o corte
Desfazei os nós
Diminuí o brilho.
Deixai que as rodas percorram os velhos sulcos.
Devemos considerar nosso brilho
a fim de que nos harmonizemos com a escuridão dos outros.
Como é puro e tranqüilo o Caminho!
Não sei de quem possa ser filho
pois parece ser anterior ao Soberano do Céu.
Verso 4 do Tao Te Ching, O Livro do Caminho Perfeito
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Comentário (*)
O Tao é como um vaso inesgotável, mas vazio. No vazio está o segredo de toda a plenitude. Os homens cheios de conceitos, de hábitos, de pontos de vista, dogmáticos, jamais poderão captar o Tao, que se expressa justamente pelo seu vazio. Os nós e o “corte” referem-se às dificuldades que criamos, às situações insolúveis, porque estão cheias de nós. O “corte” é a supressão constante do intelecto, do raciocínio lógico, que decepa o que é uno.
O “brilho” decorre do polimento produzido pelo conhecimento livresco, adquirido quando o homem passa a brilhar com o fulgor das citações, da repetição mecânica do que foi dito por outros, mas por trás disso não possui profundidade.
“Deixai que a roda percorra os velhos sulcos”: A ideia dos sulcos decorre da observação da facilidade que tem uma carroça quando a circulação é feita seguindo as marcas das anteriores. Em certo aspecto, possuímos, em nossa natureza profunda, os “velhos sulcos” que representam a linha de menor resistência do Tao.
Uma vez redescoberto, esse caminho antigo nos dá uma tranquilidade que antes não conhecíamos.
(*) Por Murillo Nunes de Azevedo, que traduziu e comentou o Tao Te Ching, conforme publicado no Brasil pela Ed. Pensamento.
Respostas de 2
Muito legal o texto. Impressionante como mesmo um texto pequeno pode conter tantos ensinamentos.
Boas festas a todos.
Muito legal o texto, ótimo passa tempo!