Yeshua no deserto…

Texto de Huberto Rohden

Antes de iniciar sua vida messiânica, retirou-se Jesus durante quarenta dias ao deserto da Judéia. Depois desse período de solidão e meditação enfrenta ele o “adversário”, que em grego se chama diabolus, e em hebraico shai’tan.

As teologias entendem por esse adversário uma entidade objetiva, externa, que teria tentado Jesus. Entretanto, é bem possível que esse adversário tenha sido a personalidade humana de Jesus, que se opôs ao seu Cristo divino, tentando dissuadi-lo dos seus planos de redenção e abrindo gloriosas perspectivas, em que o ego humano vê redenção.

Durante quarenta dias, havia a personalidade humana de Jesus sido suspensa das suas funções normais; nem a sua natureza física, nem as suas faculdades mentais haviam funcionado durante esse tempo, enquanto o Eu divino do seu Cristo se achava no “terceiro céu” do êxtase ou samadhi.

Era natural que, terminando esse período de ego-banimento, a personalidade humana reclamasse os seus direitos suspensos, tentando e testando a individualidade crística com três invectivas tipicamente humanas: satisfazer a sua fome material, exibir a sua magia mental e apoderar-se do domínio político do mundo inteiro.

O cristo divino derrota o seu adversário humano e dá-lhe ordem de se pôr na “retaguarda” (vade retro) como servidor, e não na vanguarda como senhor, porquanto “a deus adorarás e só a ele prestarás culto”.

A sabedoria milenar do Bhagavad Gita harmoniza-se com essa atitude, quando diz: “O ego é um péssimo senhor, mas é um ótimo servidor da nossa vida”.

O texto sacro não manda o adversário (ego humano) ir-se embora, mas, sim, pôr-se na retaguarda, como dócil servidor do Eu divino do Cristo.

E após esses dias de meditação no deserto, a primeira mensagem que, logo no princípio, dirigiu ao povo é o chamado “Sermão da Montanha”, um grande tratado de paz, que representa o programa da mística divina e da ética humana, visando a total auto-realização do homem…

(Huberto Rohden)

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Respostas de 7

  1. É…
    Acabei lembrando do Programa de TV lá com o PadreQuemedo sobre as conspirações dos “Iluminati-malignos-que-queriam-dominar-o-mundo”.

    Ae o MDD disse algo do tipo:”Bom,na verdade o raciocínio é o contrário,pois se o sujeito é iluminado,ele não vai querer dominar ninguém,e sim libertar”.
    Acho que poucos entenderam isso até hoje.
    No mais,o texto é muito bom mesmo.

    1. @Omar “eu possuo essa mesma compreensão, a questão é o que fazer com ela; não haverá verdade em meio a tanta dúvida e tampouco a certeza naquilo que não possamos comprovar.”

  2. Tão simples e tão complexo. Pena que muitos continuam (e talvez ainda continuarão) a enxergar a Sombra, o Outro, o Mal fora de si, eximindo-se da responsabilidade.

  3. Poderia dizer de qual livro de Rohden é retirado esse texto? Grato.

    @FDA – “A mensagem viva do Cristo” que na verdade é a tradução que Rohden fez dos quatro evangelhos diretamente do Grego. Esse texto está nas notas explicativas. Abs

  4. como principiante, entendia o ego como a expressão de meu egoísmo, o tiamat com suas 7 cabeças (luxúria, arrogância, preguiça, etc)
    tendo essa imagem monstruosa de mim mesmo, nada mais natural pensar que ele deveria ser aniquilado, nem pensava em subjugá-lo
    e como subjugar e fazer servir algo que é rebelde por natureza?
    por que tiamat aceitaria ser domado?
    como um tanque de guerra pode ser usado para trazer a paz?

    @FDA – Caro Cristiano, somos todos principiantes e essas questões estão entre as que os alquimistas tentam solucionar em sua jornada. Cada um acaba resolvendo isso de uma maneira, por isso a existência de tantos grimórios, manuais, escrituras sagradas, ordens iniciáticas. Yeshua, como mago, teve o seu método… talvez ele lhe diria: “continue buscando até que encontre” Abraço!

    1. Por que subjugar e não aniquilar o ego? Bem, para manter o equilíbrio.O Tao, O Gita e a própria bíblia exorta o homem ao equilíbrio de suas partes. Não a preponderância de uma sobre a outra (desequilíbrio). O Homem é a união do Divino com o animal, é essa a sua característica. Viver só como animal não lhe trás evolução, viver como uma divindade não se aplica na vida terrena. Se ele está aqui é porque precisa aprender com o “aqui”. Sem a sua parte animal, sem o domínio dela pela vontade qual seria a razão de continuar encarnado? Por outro lado sem as tentações dos prazeres sensoriais, animais, como poderíamos depurar nossas almas? A vida material é a lixa com a qual polimos a centelha. É o fogo e a pressão que no decorrer de uma vida transforma o carvão em diamante, o chumbo em ouro e o animal em um Deus… Paz e Luz, Vida e Glória!

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