um instante

Arbustos cheios de pequenos seres aperreados, batendo asas, pulando entre galhos. Vários deles girando no ar entre as folhas. Do que adianta pensar sobre isso?

That’s makes me feel sad

-Se não fosse o censor que nos arranca o direito de escolha.

Ou seria o direito de escolha uma mera ilusão diante de escolhas já em andamento?

Meus passos são sons ou somente meu movimento diante de uma estrada já esculpida?

Onde fica o direito de escolher antes dela ocorrer nas sombras da mente? Tenho me vacinado contra o tédio me empanturrando de conflitos ensaiados na tela. Ainda assim tais conflitos continuam em nossas mentes. O pensamento só é, não precisa de explicação prévia; uma aglutinação imbuída em seu próprio significado, sabe o que é por ser somente.

Isso me faz pensar no Tao… E passo a ser só pensamento.

Muitos temem a morte alucinógena de certas experiências acusando o que veem de serem monstros distorcidos em busca de nosso fim. E sentimos ela chegar.

O censor morre e antes de seu último suspiro faz crer que quem morre é quem está sempre diante da tela. E não só nos choca com o assalto da nossa razão no delírio do fim, liberta os monstros por debaixo dos monstros. Todos eles fazendo fila para arrancar mais um pedaço de confiança. Isso é doentio, tortura psicológica; você não somente morrerá, mas enfrentará tudo antes disso. Deseja realmente aceitar isso pacificamente? E nos contorcemos em pânico, tremendo normalmente num frio mórbido. Faz-nos recitar ‘mantricamente’ que não se está bem. E no primeiro movimento dos lábios o sensor sabe que fez um bom trabalho. Ainda que não possa vencer o avanço daquilo que lhe entorpece. O sensor cai morto sempre que dorme. Ele nunca dorme, só morre. Quando volta acha e faz parecer que nunca partiu. Mas as cadeias químicas percorrem o corpo envolvendo a mente, domando os pensamentos. E quando doma você é domado. O terror passa, ninguém morreu de fato. Você continua e isso parece renovador. Tudo livre, ao balanço do vento psicotrópico. Uns bailam até o renascimento da ordem. O que o sensor não saberá é o quanto você mudou.

Sentimos prazer com nossa nova condição e um misto de liberdade e sincronia. Isso por si só já alimenta alegrias ou fechamentos. Tudo sendo o que precisa ser. Mas o ponto é que no fundo você sempre saberá: não foi feito nada de fato.

Você simplesmente viu e sentiu, nada demais. Perdeu a chance de travar um novo processo ainda maior. Talvez certas coisas possam ter sido implantadas lá sem perceber. Coisas que possam vir a surgir no caminho, mas perceber é sempre um desafio durante ou depois disso. E esse momento único acaba sendo um processo muito cansativo e pouco válido, por que no fim acaba, dias após, junto com o esquecimento que o censor inevitavelmente ocasionará. Até o prazer pode ser perigoso para permanência do censor. Estamos acorrentados a este processo. Acreditamos ser melhor assim. Quem melhor do que um cuidador dedicado a uma causa nobre: segurar os demônios nos seus cantos.

Mas isso não é o mais estranho. Voltamos a temer a morte, achando ainda que é nossa. E mesmo que enfrentemos o rito novamente o medo estará lá, reforçado por declarações de medo, reverberando de cabeça em cabeça. Você não vê, mas todos os censores trabalham em uníssono. Um grupo de pessoas com medo aceitarão mais fácil o terror. E assim sendo alguém sempre usa uma desculpa para justificar. E mãos vão as cabeças. E de fato morremos. Por que o censor toma posse de toda nossa emoção e nos mata lentamente. E quando morre estamos vivos. E voltamos a nos felicitar além da conta. E as imagens simplesmente passam. Quantos de vocês dignos de uma espiritualidade trabalhada em lógicas e formas lindas, protegidos pelos seus pares aqui e lá acabam não vendo o privilégio de estar nu diante do espelho da mente? O escrutínio do censor não existe mais. É uma dádiva que parece passar desapercebida até por quem se dedica à linha de pensamento. O censor é tão esperto que não perderia a chance de deixar uma precaução. Ele sabe, sempre soube, que aquele que aprende precisa experimentar durante um tempo pra que o dado vire informação e posteriormente em sentido ou significado. Isso cria um vago espaço de tempo onde estamos diante de um poder imensurável e nada fazemos. Andamos em prados verdes e férteis e no fim acaba estéril e insignificante.

Por trás de toda interface existe um código-fonte muito bem moldado para cada tipo de experiência, por que assim esperamos ser melhor. Entender de imediato aquilo que experimentamos é advinda da confiança no processo de aprendizagem. E por isso as pessoas levam anos e mesmo assim patinam no limbo. O medo é essencial, mas aqui ele mata a possibilidade de olhar dentro do véu. E ficamos birutas curtindo cores e formas aleatórias. Feito criança que passa anos para lidar com o fato que entende e produz entendimento.

Esta é uma grande falha dos praticantes domesticados. Eles não voam, eles caem pasmos. E acordam com um censor novo em folha pra domesticá-los infinitamente.

Enjoy”

Tudo o que fazemos que modela nossa realidade é em partes uma força bruta que a todos pertence. Ciência e Magia são um. Com formas diferentes de obter meios de reproduzir seus resultados. Mas no fim é sempre uma alteração de realidade. Esse conflito é desnecessário. O caminho está aberto? Abra você mesmo! Mate o Cérbero e invada o inferno chutando o portão sem piedade. Está preparado para lutar sem parar ao longo do infinito? Não há jornada maior e mais terrível. Não há recompensa maior e mais bela.

Conhece-te a ti mesmo… e mata o Cérbero sem pena. Ele voltará. Uma coisa com três cabeças, com certeza, volta. Mas após a primeira morte por suas próprias mãos não haverá mais uma porta depois do Cérbero. Invada seu lugar de direito. Tome o que é seu em suas mãos. Mas saiba que nada será esquecido.

Certo momento, invariavelmente, todos nós somos tomados pelo terror do discurso de morte do censor: cuidado! Há demônios do outro lado! Já que o trabalho dele é impedir que você passe a porta. Qualquer um com essa responsabilidade pintaria a porta de vermelho sangue e diria qualquer tolice que amedronte. Em grande parte isso é o terror de se reconhecer nas deformidades que encontrará. Com o tempo a visão acaba por se ajustar, percebemos que nós é que somos deformados e isso assusta. Nós somos limitados e não percebemos as reais formas. E cedo ou tarde o castelo ruirá. O passeio por sua casa é tudo o que tem. Construa o que desejar sem duvidar, perceba o que já tem por lá. Perceba.

E não há retorno; quando olhamos para o precipício ele olha de volta. Este momento requer paciência e pequenos passos. Domine os elementos internos abraçando a porta por onde tudo flui. Sabendo que seus instrumentos são uma extensão de seu corpo perceba a unidade. E se de fato for usar o caldeirão, terá de apreciar da sopa. Moradores e convidados sentem à mesa. O barco parte logo mais. A direção é para todos os lugares.

-Qual o objetivo disso além de experimentar?

É preciso coletar dados. Enfrentar o novo terreno e contemplar sua ciência. Domar a fera de todo modo.

Entretanto chegará um momento que reconhecer-se não será o problema. Tudo o que formos, será claro como água. O resto passará a ser uma vastidão infinita para desbravar. Achou que o monstro de três cabeças seria o único?

Ainda que reconheças que tais formas não são demônios, nada supera a experiência de olhar de frente para si. Ame cada pedaço, seja uma unidade. Assim poderá passear por aí, além da sua casa. Tal casa surge logo após a porta. Um lugar cheio de você por todos os lados, onde é preciso percorrer todos os vãos, iluminar todos os pedaços, reconhecer todas as fibras, anotar pra nunca mais esquecer, abrir janelas, trocar panos, mudar o que se precisa de lugar, reler livros guardados e reciclar as formas. Você é a chave para a próxima porta. A que não vemos antes desse momento. Afunde-se nela sem medo.

Há muita coisa por ai que precisa ser trazida e o momento é agora.

Não percamos nem mais um segundo.

S.O.Q.C.

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Uma resposta

  1. Fazia bastante tempo que eu não via as colunas aqui. Mesmo assim esse texto veio na hora certa, obrigado!

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