“Diga a si mesma que esses sentimentos não importam. Não importa se você sente que ama a Deus ou não. Sentimentos de amor não têm valor. O que importa é a vontade – se agarrar à vontade de Deus, cruamente na fé”
Esse é um trecho do livro “Through the narrow gate” de Karen Armstrong. Essas palavras foram ditas a ela como um conselho espiritual. Mas o que elas realmente significam?
No mesmo livro, também há a seguinte passagem, numa cerimônia iniciática em que ocorre um enterro simbólico:
“Ela havia treinado cada um no caminho pessoal da morte que Deus apontou para ela. Cada um agora era responsável por completar o simbolismo da cerimônia de hoje e fazer de sua vida uma morte diária, que a morte final de seu corpo irá completar”
Acredito que estamos mais familiarizados com essa segunda ideia: em ritos iniciáticos de várias religiões e sociedades secretas é muito comum representar a morte como uma etapa necessária para que ocorra o renascimento espiritual.
Ajahn Brahmavamso conta que o monge budista Ajhan Chah costumava perguntar para aqueles que vinham treinar com ele: “Você veio aqui para morrer?”. Um pensamento comum seria: “Não, eu não vim aqui para morrer. Eu vim aqui para me Iluminar e ter umas meditações legais”. Mas quem deseja isso ainda está pensando com o seu eu, com seu ego.
Uma das principais razões de não se obter o que se quer numa meditação está exatamente na ideia de “obter” e de “querer”. Sucesso na meditação torna-se apenas mais uma das conquistas que queremos atingir com nosso ego, para nos orgulharmos. Mas esse ego precisa ser destruído. Ele deve morrer.
Ajahn Chah dizia: “Se você ficar aqui, você morre. Se for embora, você morre. Então por que não morrer agora?”
Mas estamos aterrorizados. Não queremos morrer agora, pois nos apegamos demais à noção de um “eu”, de uma identidade que representa tudo o que queremos atingir no mundo.
Algumas coisas que pertencem ao nosso eu-ego são as nossas visões de mundo e nossas emoções. Quando alguém nos diz que estamos errados, nos sentimos pessoalmente ofendidos. Nós nos apegamos demais às ideias que construímos sobre a vida, fruto de experiências e reflexões.
Além disso, quando alguém nos direciona palavras duras, nos sentimos tristes ou ficamos com raiva. Por que isso acontece?
Porque nós amamos aquele “eu” com o qual nos identificamos. Estamos completamente apaixonados por ele e não queremos desistir dele por nada desse mundo. Ao contrário, queremos que esse eu seja exaltado com elogios. Queremos ser amados, respeitados, e buscamos esse amor em toda parte. E parece que nunca basta. Queremos cada vez mais, pois o ego precisa se alimentar regularmente para continuar a existir.
Lembro de uma aula de antropologia em que a professora usou o termo “pornografia da morte” para se referir à forma que encaramos a morte na época em que vivemos. Na Idade Média e em outras épocas em que se morria mais por doenças infecciosas e parasitárias, a morte, além de ser um espetáculo para alguns, era algo comum, um tema debatido no dia a dia, nas igrejas e nos teatros. Fazia parte do cotidiano.
Hoje é como se a morte não fosse natural, mas uma espécie de aberração ou erro que queremos esconder. E esse pensamento se refletiu em como encaramos a religião hoje.
Não queremos falar de morte e sim de vida. Escondemos que existe o sofrimento e só exaltamos a necessidade (até mesmo o dever) de ser feliz, de preferência o tempo todo ou o maior tempo possível.
Em seu discurso “Entendendo o sofrimento”, Ajhan Chah diz:
“Os ensinamentos do Buda é que primeiro nós devemos desistir de fazer o mal e praticar o bem. Em segundo lugar, ele disse que nós devemos desistir do mal, mas desistir do bem também, não tendo apego a ele, porque também é um tipo de combustível. Quando há algo que é combustível irá eventualmente pegar fogo. Bem é combustível. Mal é combustível”.
“Falar nesse nível mata as pessoas. Elas não são capazes de seguir isso. Então nós temos que voltar para o começo e ensinar moralidade. Não machuquem um ao outro. Seja responsável no seu trabalho e não machuque ou explore os outros. O Buda ensinou isso, mas apenas isso não é o bastante para parar”
Todas as religiões falam de amar e fazer o bem. Isso é verdadeiro. É precioso. Mas é apenas o primeiro passo na jornada.
Karen Armstrong, em “Through the narrow gate”, conta que no período em que foi freira na década de 60 usava um chicote para mortificação corporal, para diminuir a noção de um “eu”. Ela devia diminuir a si mesma ao máximo através de confissões e penitências, para desaparecer, quase como o nirvana budista. Como diz Fr. Jacques Philippe no livro “Searching for and Maintaining Peace”:
“Ah! Qual é o coração que não gostaria de possuir virtude! É o que todos desejam. Mas quão poucos são aqueles que aceitam cair, ser fracos, que ficam contentes ao ver a si mesmos no chão e deixar que outros o vejam nessa condição”
Esses métodos, como o cilício (usado pelo Papa João Paulo II), comuns na Idade Média, hoje não são tão incentivados, porque na época em que vivemos o corpo é muito mais valorizado que o espírito, embora práticas ascéticas ainda sejam comuns na Índia. Não parece saudável ou parece até mesmo um pecado ferir o corpo em nome de algo que alguns nem acreditam que exista. Muitos céticos exigem provas de que exista Deus ou um espírito, mas os filósofos nos lembram que até hoje ninguém ainda provou que o mundo material existe, que não é uma ilusão, algo que Kant considera um escândalo.
É verdade que até mesmo na Idade Média se recomendava não exagerar nas mortificações corporais e só realizar tais práticas sob estrita supervisão. São Francisco de Sales diz em seu livro “Filoteia”:
“Há virtudes que a almas simples parecem maiores que outras e portanto são mais estimadas; a única razão disto é que essas virtudes, estando mais próximas de seus olhos, lhes dão mais na vista e se adaptam mais a suas ideias, que são muito materiais. Por isso o mundo prefere comumente a esmola corporal à espiritual, os cilícios e disciplinas, os jejuns e andar descalço, as vigílias e toda sorte de mortificação do corpo, à brandura, à benignidade, à modéstia e a todas as mortificações do espírito e do coração, que são, contudo, muito mais excelentes e meritórias. Escolhe, Filoteia, as virtudes que são melhores e não as mais apreciadas, as mais excelentes, e não as mais aparatosas. As mais sólidas e não as que fazem muito alarde e têm muito brilho exterior”.
Afinal, as austeridades externas são feitas tendo em vista uma austeridade interna: uma mudança de coração, de espírito.
Mas o que é esse amor que não é amor (não é o amor que conhecemos) que deve ser buscado? É comum que o budismo Mahayana acuse o budismo Theravada de querer destruir o amor e a bondade. O que realmente se busca é destruir uma forma de amor com apego e uma bondade com interesses: aquela bondade que se realiza buscando algo em troca. A bondade que ainda se deve cultivar no budismo Theravada se chama “Metta”: amor bondade.
No meu post anterior “A jornada espiritual não é confortável“, um dos pontos levantados nos comentários foi se no fundo em todas as escolhas que fazemos não buscamos uma satisfação pessoal. Aquele que busca por vontade própria um caminho de sofrimento para destruir o ego não o faz também por paixão pelo próprio ego? Ele também não deseja algo em troca para si mesmo?
Minha resposta, que também vou reproduzir aqui, foi que essa é uma visão chamada na filosofia de “egoísmo ético”: a noção de que até mesmo quando ajudamos alguém o fazemos por egoísmo.
No entanto, a essa visão se contrapõe o altruísmo ético: de que é possível realizar um ato como ajudar alguém tendo em vista cumprir um dever, e não buscar recompensas. Nessa visão é possível realizar ações que não visem nosso conforto e prazer e que podem até mesmo destruir nossa felicidade e liberdade e a felicidade de outrem. O objetivo é o valor da ação e não seu efeito. Ou, como diria Kant: “que a justiça seja feita, mesmo que o mundo pereça”.
É claro que uma pessoa que não acredita no espírito, no transcendente, pode considerar essa visão niilista. Isso porque estamos agarrados à ideia de que só vale a pena fazer algo se esse ato nos trouxer algum resultado no mundo material ou mental, como felicidade, seja para mim ou para outros. Para alguns parece estranha a noção de fazer o bem apenas porque “é a coisa certa” e não porque isso vai me deixar feliz.
Kant defende que fazer o bem por amor ao dever e não por amor à sensação boa que sentimos com isso ou ao grau de felicidade alcançada é melhor, porque assim faremos o bem todas as vezes. Nos outros casos, só faremos o bem conforme nossas flutuações de humor ou nossos cálculos de utilidade.
Essa é a base das religiões: o amor pelo dever, ou amor por Deus, vir antes do amor humano, que não é tão estável. Lembrando que amor por Deus significa seguir os mandamentos (não matar) então esse argumento não tem o menor sentido para apoiar atos de terrorismo.
É claro que o amor humano também é belo e é um bom começo segui-lo. Mas há um próximo passo, que para alguns pode parecer doloroso, especialmente para aqueles que se sentem desconfortáveis com a noção desse segundo amor, que não é exatamente amor, já que ele transcende tudo aquilo que nossos sentimentos experimentam geralmente e que nossa lógica pode conceber, fundamentando-se numa forma de onisciência.
Tendo essa ideia em mente, já se torna mais fácil analisar o parágrafo inicial, que antes parecia tão estranho:
“Diga a si mesma que esses sentimentos não importam. Não importa se você sente que ama a Deus ou não. Sentimentos de amor não têm valor. O que importa é a vontade – se agarrar à vontade de Deus, cruamente na fé”
É bem parecido com a ideia apontada por Ajahn Chah: no começo você se livra do ódio e cultiva o amor. Depois, até mesmo o apego ao amor deve ser superado, porque ele também é um combustível que nos faz sofrer, que nos queima. Mas se não houver nem ódio e nem amor não há ego. Assim, ocorre o apagar e com ele o nirvana. Ou, traduzindo na linguagem cristã, somente quando não há um ego Deus poderá nos preencher.
A frase “não importa se você sente que ama a Deus ou não” significa que, como Kant disse, se fôssemos rezar somente quando estamos felizes e sentimos que amamos Deus e o mundo, deixaríamos de rezar quando experimentamos secura espiritual e não nos sentimos dispostos. Mas se rezamos pelo dever, por fé, o fazemos todas as vezes.
Vejamos o que São Francisco de Sales nos diz em “Filoteia”:
“Grande é, pois, o erro de muitas pessoas, que creem que o serviço prestado a Deus sem gosto, sem ternura de coração, seja menos agradável a sua divina majestade. A ternura torna as nossas ações mais agradáveis a nós mesmos, julgando-se pela deleitação que produzem; têm, entretanto, muito mais suave odor para o céu e são de muito maior merecimento diante de Deus, feitas num estado de secura espiritual”
“Não merece grande louvor servir a um príncipe nas delícias da paz e da corte; mas servi-lo em tempos tumultuosos e de guerra é um sinal de fidelidade e constância. A bem-aventurada Ângela de Foligno diz que a oração mais agradável a Deus é aquela que se reza contrafeito, isto é, aquela que fazemos não por gosto e por inclinação, mas reagindo para vencer a repugnância que aí achamos devido à nossa secura espiritual”
“O mesmo penso também de todas as boas obras; porque, quanto maiores empecilhos, sejam interiores, sejam exteriores, encontramos, tanto mais merecem diante de Deus. Quanto menor é o nosso interesse particular nas práticas das virtudes, tanto mais resplandece a pureza do amor divino”.
Com isso tudo não quero dizer que seja errado amar ou ter amor com apegos. É apenas uma explicação para os que acham estranho ou extremo se falar tanto de dor e sofrimento nas religiões: a cruz de Cristo, as asceses de Buda. É claro que nos sentimos mal com isso. Não precisamos nos entregar a essas ideias ou práticas que nos levem a entendê-las se não estamos preparados. Nós podemos, e é bastante natural, seguir cada um em seu próprio ritmo. Mas é bom saber que existem essas próximas etapas, para nos servir de inspiração.
De qualquer forma, não há um único caminho para chegar lá e o caminho mais rápido e mais sofrido não é necessariamente o melhor. Não precisamos nos retirar para viver nas montanhas. Podemos alcançar muito desse entendimento aqui mesmo. Muitos dos grandes santos viveram no mundo. E não é preciso ser um santo para entender muitas coisas importantes.
Um dos conselhos mais necessários, que pode ser um bom começo, é não temer tanto falar sobre o sofrimento. Não fugir da Noite Escura da Alma, da batalha com Mara, pois caímos no abismo para deixar algo para trás, e assim, mais leves, nos elevarmos com o divino. Também é bom lembrar que aquilo que nossos sentidos não conhecem ou nossa razão não alcança (como o espírito, ou o amor onibenevolente) podem ser buscados com esperança e confiança no testemunho daqueles que chegaram lá antes de nós.
(Na imagem de abertura do post, temos a cena célebre do sacrifício de Isaac por Abraão, largamente comentada na obra “Temor e Tremor” de Soren Kierkegaard, que representa esse equilíbrio delicado entre amor humano e divino)
Respostas de 14
Goku velho na imagem.
@Wanju – Nossa, é verdade! Nem tinha visto, haha!
No fundo o amor já se basta em si mesmo, amar por amar. Daí naturalmente começamos a perceber a ânsia da vida por si mesma, que já estava lá antes, mas éramos ignorantes dela.
E essa ânsia, esse amor, é a única coisa que passa desta vida. É, de fato, a essência da realidade.
Mas nada disso é para ser dito.
@Wanju – Sim, sim!! Disse tudo, Raph. Ironicamente, a frase “o amor já se basta em si mesmo” é muito difícil de entender! É tão simples e complexo ao mesmo tempo! Fico maravilhada com isso. Às vezes com a limitada razão humana acabamos complicando coisas simples e naturais. Mas a nossa mesma razão limitada também pode nos ajudar a ir além do labirinto da nossa mente.
Foi como tu mesmo disseste: muitas vezes somos ignorantes desse amor, dessa “vida por si mesma”, pois não nos abrimos para ela.
E, no fim, “nada disso é para ser dito” pois como nossa razão pode alcançar algo tão fundamental e sublime? É fantástico demais para colocar em palavras.
Valeu Wanju!, foi inspirado diretamente na leitura do seu texto, quero dizer, “surgiu” durante a leitura, se é que me entende 🙂
@Wanju – Claro! Ficou lindo 😀
Olá Wanju.
Primeiramente, na minha opinião seus textos estão muito bem construídos e aproveitáveis para mim.
Hoje, ao mesmo tempo que lia, vagava pela minha mente e encontrava pontos e questionamentos interessantes sobre eu mesmo. Eu gosto de ver o quanto sou egoísta quando leio algo assim, até mesmo em coisas simples do dia-a-dia e gosto porque na maioria do tempo não percebo isso. Na minha ultima experiência com Ayahuasca fui bem fundo dentro de mim e vi quantas atitudes egoístas eu tenho para mudar, e não é fácil. Eu sei que minha consciência começou um processo de expansão faz pouco tempo e muitas vezes penso que esse é o ritmo que tenho que caminhar, é estranho saber que tem que mudar e não mudar, talvez até ignorante da minha parte, talvez pensar que esse é o ritmo certo é uma maneira que meu ego fala à mim para continuar vivo e forte, mas o fato disso tudo me incomodar e causar desconforto mostra que eu não deixei de mudar. Enfim, eu me enrolo um pouco nesses assuntos complexos…
A parte sobre a oração eu acho interessante e por isso gostaria de um conselho, sugestão ou opinião sua em relação a isso. Eu fiquei muito tempo sem rezar e não sonhava mais durante a noite, a tempos atrás voltei a ter o hábito de rezar à noite antes de dormir e comecei a sonhar todas as noites que fazia isso, e quanto mais intensa a oração mais intensos eram meus sonhos. Talvez eu mesmo já saiba o que deveria fazer, mas acho que preciso de uma opinião. A questão é que antes eu rezava o básico “pai-nosso, ave-maria e santo-anjo” depois passei a apenas agradecer pelo dia, pela vida, família e tal, e não que eu seja mal agradecido, mas comecei a sentir esses agradecimentos meio vazios sabe, afinal claro que é digno de agradecimento ter saúde e tudo mais, mas pareceu se tornar mecânico, depois tentei voltar no básico e também pareceu se tornar mecânico, e agora eu nem rezo mais, mas sinto falta e sei que é importante, pois o fato da relação com os sonhos mesmo já me provou isso, mas parece que eu não consigo me focar na oração nem de um jeito nem de outro. Sei que não existe uma fórmula da “oração correta”, talvez mais a intenção e vontade, mas gostaria de um conselho ou sugestão de como orar.
Desde já agradeço sua atenção
@Wanju – Oi Felipe! Muito obrigada! É normal ter esse conflito de saber que devemos mudar algo em nós mesmos e não mudar. Quando as coisas estão confortáveis para o ego ele quer continuar como está. É claro que partir numa empreitada violenta para destruir o ego a qualquer custo também não é o melhor caminho. Pode ser quase insuportável, então devemos tentar encontrar um equilíbrio: nem matá-lo de uma vez e nem permitir que ele assuma o controle de nossas vidas. É como resoluções de Ano Novo: é melhor começar com planejamentos modestos e criar um calendário com metas realistas, como colocar pequenas mudanças no nosso dia a dia, como meia hora diária dedicada para a contemplação do sagrado.
Sobre as rezas prontas, especialmente o Pai Nosso, elas são extremamente efetivas, pois possuem um poder espiritual imenso. Recomendo que leia o livro “Rezar com confiança” de Paul Murray OP, um livro brilhante explicando o significado original de cada frase do Pai Nosso segundo os escritos de São Tomás de Aquino. Quando entendemos a força dessa reza passamos a praticá-la com muito mais fé.
Por outro lado, as rezas improvisadas também são maravilhosas. Vale a pena a cada noite rezar um Pai Nosso e orar agradecendo pelo dia com nossas palavras. O ideal é que se faça isso ajoelhado e com as mãos em prece, pois no referido livro é mencionada a importância da posição em que oramos. Colocarei aqui um trecho:
“A certa altura da Suma, Santo Tomás também comenta a questão da oração vocal. Embora a oração possa ser descrita como ‘a linguagem do coração’ – frase do próprio Santo Tomás -, é necessário, quando o indivíduo reza em solidão, que a oração seja vocal? Santo Tomás responde que não é, de modo algum, necessário. Embora no Evangelho Jesus nos convide claramente a dizê-lo em voz alta. Mas há ocasiões em que faz sentido rezar vocalmente: ‘não a fim de dizer a Deus alguma coisa que ele não saiba, mas para que a alma daquele que reza e as almas dos outros possam ser elevadas até ele. O espírito é estimulado, Tomás explica, ouvindo-se as palavras da oração pronunciadas em voz alta. E isso significa que, no fim, a oração inclui não só o espírito, mas também o corpo, não só o coração interior, mas também a voz exterior. Dessa maneira, Tomás conclui, ‘podemos servir a Deus com tudo que temos de Deus, isto é, não só com nosso espírito, mas também com nosso corpo”
Agora me empolguei, vou colocar mais um trecho do livro, hehe. É que eu adoro esse livro:
“O terceiro vício é a excessiva preocupação. Há algumas pessoas que nunca se contentam com o que têm, mas sempre querem mais: e isso é falta de moderação, pois o desejo deve sempre ser medido conforme as próprias necessidades. Nem me dês nem pobreza nem riqueza: concede-me o pão que me é necessário (Pr 30,8). Somos advertidos para evitar esse vício em especial com as palavras: O pão nosso de cada dia, isto é, o pão para um dia, ou para um tempo. Nas preleções mateanas, Santo Tomás apresenta uma reflexão profunda em ‘nos dai hoje’, frase que pode parecer indicar ‘devemos desejar coisas um dia por vez’ e assim esquecer o futuro. Ao contrário, Tomás declara: ‘O Senhor não pretendia proibir as pessoas de pensar no futuro, o que ele proíbe é que antecipemos as coisas, ousando nos preocuparmos antes da hora. Se alguma preocupação te for imposta agora é com ela que deves te preocupar, não com alguma coisa que possa ser tua responsabilidade no futuro”
Esses são alguns exemplos da profundidade do Pai Nosso. Agora sobre sua outra pergunta: o que dizer na oração espontânea? Pode continuar agradecendo pelo dia, pela família, pedindo a saúde deles, naturalmente. Isso é excelente. Outra dica é que a cada oração noturna nos recordemos se cometemos alguma falta durante o dia e pedir perdão por isso. Também podemos pedir para que Deus proteja outras pessoas da nossa vida que porventura nos recordemos naquela noite. E no final acrescentar: “Que seja feita a Tua vontade e não a minha” pois por mais que nossos desejos sejam importantes, nós não conseguimos enxergar tão longe.
Outra fórmula maravilhosa, contida no cristianismo ortodoxo e na missa tridentina, e ensinada no famoso livro “Relatos de um peregrino russo” é repetir o “Kyrie Eleison” muitas vezes, como um mantra.
Mesmo que as orações noturnas pareçam automáticas e não sejamos capazes de sentir absolutamente nada com elas, ainda assim elas funcionam. Afinal, a oração deve ser feita não tendo em vista o ser humano, mas Deus. Um bom jeito é encarar a oração como um serviço ao divino e não como uma fórmula para se sentir bem. Fazer porque deve ser feito, independente dos resultados. Com isso, aos poucos, nossa oração centrada no “eu” vai sumindo para dar espaço a Deus. Como já foi dito, uma forma de tirar a mente consciente do caminho é apenas repetir “Kyrie Eleison”. Quanto mais se repete, aos poucos o divino preenche o ser inteiro, até que não reste mais nada de nós mesmos.
se conseguir simplesmente falar muito obrigado sentindo gratidão pelo dia, ou principalmente pelo momento presente… Rezas prontas e mantras têm sua forte vibração, e são ótimas chaves para consciência…
Porém a melhor técnica para mim é simplesmente meditar, até a hora de cair no “sono”…
@Wanju – Sim, às vezes uma oração simples e sincera é o melhor caminho. Acho que cada um acaba achando um jeito de rezar com o qual se identifica.
Como precisava ler isso hoje… Obrigado.
@Wanju – O prazer é meu, Denis!
E se for uma ilusão?
E se for uma armadilha?
E se o demiurgo malvadão (se ele existir?) criou isso para amaciar a a carne para ele devorar?
E se os testemunhos dos que trilharam o caminho são relatos falsificados? …
E se…?
Esse seu texto é um convite a entrega a um terror extremo, cósmico, que habita o amago daquilo que acredito que sou eu…
Você é boa nisso…rs
@Wanju – Bem, se for o demiurgo do livro “Timeu” de Platão não tem perigo, porque ele é muito próximo do Deus abraâmico. Já os gnósticos tinham uma visão um pouco mais “pessimista” da realidade, identificando o “bem” com o espírito e com Deus e o “mal” com a matéria e com o demiurgo. Essa é uma visão dicotômica que coloca corpo e espírito em guerra. Nessa abordagem, como inclusive era praticado nos primeiros séculos depois de Cristo pelos maniqueus, não haveria limites para mortificações corporais. No caso do cristianismo, eles consideram que o corpo é bom, porque vem de Deus. Não é errado termos prazeres corporais, nós apenas não precisamos nos afogar neles.
Sobre ser uma ilusão ou armadilha, é para isso que devemos aliar razão e emoção. Se tanto a nossa razão quanto os nossos sentimentos nos indicam um caminho a seguir, há altas chances de ele ser correto. Isso se chama seguir a consciência. Mas é dito que apenas a consciência não basta, já que o ser humano está sujeito a erro. Por isso ele também aliará sua consciência às regras de um livro sagrado. E seguir os mandamentos, além do peso emocional, possui o peso racional, pois tem por trás de si o argumento moral de Kant: o imperativo categórico, conforme explicado no texto.
Se não bastasse, além da confirmação da nossa razão, de nossos sentimentos, dos livros sagrados e da Tradição, há a confirmação pelo espírito. Quando nos colocamos em estado de êxtase místico, seja por meditação, oração, etc, a ponto de tirar a mente racional e as emoções da jogada, é possível sentir o sagrado através do espírito, mesmo que momentaneamente.
Mesmo se o espírito e o transcendente fossem uma ilusão, ainda assim todos os mandamentos e toda a jornada espiritual ainda valeria a pena pelo desenvolvimento moral. Então, a aposta de Pascal no fundo é uma aposta com muito mais ganhos do que imaginávamos a princípio. Mas a ideia é não seguir esse caminho pelos ganhos, mas porque ele é a verdade.
Agora você perguntou se todos os testemunhos daqueles que trilharam esse caminho foram falsificados. Pensando primeiro nos argumentos racionais, a maior parte dos filósofos de todas as épocas foram teístas. Isso ocorreu na Grécia Antiga, com Sócrates, Platão, Aristóteles e tantos outros. Ocorreu ao longo dos 1500 anos que compreendeu a Idade Média, com figuras notáveis como Santo Agostinho (que se baseou em Platão) e São Tomás (que se baseou em Aristóteles). Isso também aconteceu mesmo na Idade Moderna. Filósofos como Descartes, Francis Bacon, Leibniz, Berkeley, Kant, Erasmo, Kierkegaard, etc eram teístas, a maior parte cristãos. Enquanto isso, a maior parte dos filósofos árabes (Avicena, Averróis, Al-Ghazali, etc) foram muçulmanos. Coincidência?
Esse fenômeno de ateísmo e agnosticismo na Idade Contemporânea entre filósofos é algo muito recente, embora tenham existido uns poucos materialistas na Índia antiga, na Grécia e na China com uma visão mais religiosa.
Mas nisso estamos considerando apenas a filosofia. Praticamente todas as religiões do passado e do presente acreditam no transcendente. Todas elas possuem basicamente o mesmo código moral. Ainda hoje, mais de 90% da população mundial acredita no divino, nos gerando mais esse testemunho.
Mas, é claro, sempre existe a possibilidade de todo esse pessoal ter cometido um grave erro. Só o Nietzsche está certo! Mas mesmo quem troca o caminho espiritual pela busca exclusiva dos prazeres dos sentidos ainda poderá sentir tristeza e raiva que a perda dessas coisas gera após o apego. Então além do motivo transcendental para seguir o caminho do espírito, há a razão ética e a razão prática. Não consigo ver motivos racionais, emocionais, espirituais, etc, para duvidar.
Ironicamente, estava assistindo um videozinho em que o camarada menciona a busca pela imortalidade biológica (https://www.ted.com/talks/eric_haseltine_what_will_be_the_next_big_scientific_breakthrough?language=pt-br). Eu, como pesquisador, também me interesso pelas possibilidades da freada do envelhecimento e da morte, mas, para minha angústia, não consigo parar de pensar nas implicações éticas disso e etc. Mas, enfim, só uma divagação, que veio à tona em virtude dessa polarização prazer X dor (e seus desdobramentos, culto a Adônis moderno…)
Li em algum lugar alguma vez que o Budismo é uma filosofia negadora da vida…Discordo desse comentário, mas o autor se referia aos aspectos da formação do indivíduo saudável, na questão de assertividade/expressão/afeto/sexualidade/prazer-no-geral. O que você diz a respeito disso? Seria justamente essa a função religiosa? (Se opor diametralmente à “matéria”)? Ou há um ponto de equilíbrio? Onde o budismo se encaixaria nesse panorama?
Ademais, excelente texto como sempre; provocador. Grato.
@Wanju – Oi Thiago! É realmente interessante pensar nas possibilidades de frear o envelhecimento e a morte, embora existam de fato diversas questões éticas envolvidas: será que somente uma pequena parcela da população poderia pagar por isso, enquanto muita gente continuaria a não ter acesso nem ao menos ao básico para uma vida humana de duração convencional? Enfim, são várias coisas a se pensar. Até mesmo o desenvolvimento da medicina para melhorar a saúde da população e estender a vida é ótimo, pois é evidente que até de uma perspectiva espiritual precisamos do corpo para atingirmos o espírito. Mas penso que mesmo se nós seres humanos fôssemos imortais ainda assim precisaríamos da religião. Encaro a religião como não somente necessária para lidar com a morte, mas com a vida. No dia a dia morremos e renascemos a cada instante em diferentes estados corporais e mentais, continua a existir essa alternância de prazer e dor. A vivência espiritual nos ensina a amadurecer para lidarmos com todas essas flutuações desse ser complexo que somos.
Sim, o budismo já foi acusado de muitas coisas. Nietzsche chamava as religiões indianas de “filosofias que pregam a morte” e as considerava niilistas. Afinal, buscar um estado de vazio, que é o nirvana, não seria negar a própria vida? Mas isso de uma perspectiva materialista da existência, que considera que existe somente a matéria. O budismo considera até a matéria uma ilusão, são somente agregados mentais. Embora no budismo não se aborde profundamente a questão metafísica, Buda confirma a existência de mundos espirituais como o inferno, o céu com seus devas, o mundo dos espíritos famintos, etc. Ele inclusive conversava com os Deuses brâmanes em seus altos estados de meditação. Mas ele deveria transcender até mesmo essas realidades.
Qualquer religião, num nível mais fundamental, ensina moralidade. Nisso o budismo não é diferente do cristianismo, que ensina que não devemos matar, mentir, roubar, etc. Não é exigido, por parte de praticamente nenhuma religião, que seus praticantes no dia a dia sigam algum tipo de renúncia extrema. Cada religião possui sua versão branda, o mínimo que cada um deve fazer para ser um seguidor. Normalmente é apenas ser gentil, frequentar templos, etc. As práticas mais rigorosas e complexas normalmente são reservadas aos sacerdotes ou aos praticantes leigos que optam por estudar mais a fundo e se dedicar a práticas adicionais por sua vontade e inclinação própria.
Não acho que nenhuma das grandes religiões se oponha à matéria e reprima seus praticantes. No cristianismo a matéria é vista como algo bom, pois foi criada por Deus. No budismo é exigido que seus praticantes leigos acumulem bom karma fazendo ações boas, não se exige que eles destruam o karma como os monges tentam fazer. Sendo assim, são práticas simples, sem julgamentos severos. O próprio cristianismo apresenta incontáveis possibilidades para se confessar e se arrepender de praticamente qualquer pecado cometido.
Na minha visão, nem o cristianismo e nem o budismo reprimem o sexo. O cristianismo foi constantemente acusado de condenar os prazeres do corpo, mas na carta encíclica “Deus caritas est” o Papa Bento XVI esclarece esse mal entendido, valorizando o amor do corpo (Eros) e falando sobre a relação de Eros e Ágape. Ele diz o seguinte:
“Nem o espírito ama sozinho, nem o corpo: é o homem, a pessoa, que ama como criatura unitária, de que fazem parte o corpo e a alma. Somente quando ambos se fundem verdadeiramente numa unidade, é que o homem se torna plenamente ele próprio. Só deste modo é que o amor — o eros — pode amadurecer até à sua verdadeira grandeza”.
Da perspectiva do budismo fala-se do perigo do apego, mas sempre relembrando que o apego está na mente e não nas coisas materiais. Podemos buscar um estado de desapego mental sem precisar abandonar as coisas aqui fora. E isso me fez lembrar de mais um trecho do livro “Filoteia” de São Francisco de Sales:
“Grande diferença há entre ter o veneno e ser envenenado. Quase todos os farmacêuticos possuem muitos venenos para diversos usos de seu ofício, mas não se pode dizer que estejam envenenados porque têm o veneno em suas farmácias. Assim também podes possuir riquezas sem que o seu veneno natural penetre até tua alma, contanto que as tenhas só em tua casa ou em tua bolsa e não no coração”.
É claro que na perspectiva da sociedade contemporânea secularista, é comum se achar opressor qualquer tentativa de moderar os prazeres dos sentidos. Caso uma criança tenha algum problema psicológico devido à sua educação, muitos podem considerar que a religião pode a estar reprimindo. É claro que uma religião quando não entendida ou praticada corretamente pode levar a tristezas. Não se espera que uma criança tenha maturidade para lidar com isso, mas o adulto que se propõe a entender sua religião faz bem em encarar a moderação de prazeres dos sentidos como oportunidade para crescimento espiritual. Eu considero ainda mais problemática a educação que as crianças e jovens recebem para que sejam bem sucedidos, pressão para ganhar, competir, ter dinheiro, etc. Isso sim creio que possa gerar problemas psicológicos mais graves do que a busca espiritual sincera. E a religião vem exatamente dar respostas à questão do secularismo, lembrando que também há o transcendente e que ter dinheiro e prazer não é tudo o que há.
Muito interessante, ajudou bastante com algumas dúvidas. Gostei do excerto de “Filoteia”, vou adicionar na lista de obras a ler. Agradecido!
@Wanju – De nada! Filoteia é realmente um livro maravilhoso e inspirador.
A propósito, acabei de escrever uma história sobre imortais que buscam a mortalidade.
PDF: http://www.4shared.com/office/XpoHGNYoba/A_Busca_da_Mortalidade.html
Impresso: https://www.clubedeautores.com.br/book/214468–A_Busca_da_Mortalidade#.V5wmnzVSJLN
Obrigado mais uma vez pelo auxílio, será de grande ajuda!
@Wanju – De nada!
Sempre retorno nos seus textos para ler suas respostas aos comentários, você dá um show maior ainda que os textos.
Obrigado por ser estar sendo um ponto de mutação e reorganização na minha jornada espiritual!
@Wanju – Eu que agradeço pelas gentis palavras, Marcos!
Adoro esses textos. É muito fora da caixa pro que temos por aí hoje em dia.
@Wanju – Obrigada, Lucas!
Parabéns pelo texto, conseguiu elucidar dois pontos que ao meu ver eram paradoxais na maioria das religiões e crenças: a busca utópica pela felicidade plena e o culto velado ao sofrimento.
Sempre me chamou atenção que a maioria das práticas espirituais tem por fim a “salvação”, ou seja, a realização dos desejos e das obras pessoais de forma a nutrir um senso de auto-realização, ou a sensação de ter sido escolhido ou agraciado por Deus com bençãos, confortos e prazeres, ao mesmo tempo que os maiores profetas ensinavam que a grande obra estava no outro, não em si.
Apenas através da alteridade – a observação do outro – é que podemos desenvolver nosso senso de “si mesmo”, nossa identidade pessoal. A maioria dos sonhos e aspirações, portanto, é algo muito distante de um desejo pessoal, e está mais ligado ao desejo de agradar os outros do que a si mesmo. Aliás… o que sou eu mesmo?
Está justamente aí a razão do simbolismo do sofrimento: o justo, o belo, o ato de amor nem sempre é o que vai trazer vantagens, benefícios ou prazer. Muito pelo contrário. Geralmente o amor tem um sabor amargo, de privação do meu prazer em prol de não causar dor ao próximo. Ou mesmo de suportar dor em mim para que o próximo não suporte.
Da mesma maneira, a minha felicidade e o meu prazer podem ser a maldição de outras pessoas no final do bater de asas da borboleta. Por isso mesmo que o apego ao amor e ao fazer o bem devem ser enterrados também. Nunca o ditado “de boas intenções o inferno está cheio” teve tanto sentido quanto após a leitura deste texto: quantos atos vis não foram realizados sob o manto de proteção de se estar fazendo “o bem”?
Afinal, de que adianta deixar de fazer o mal, se ainda procurarmos pregar o nosso bem à outras pessoas, privando-as da possibilidade de encontrarem o seu próprio bem?
Essa reflexão traz luz, ainda, ao paradoxo de um Deus bom que permite a existência do mal. Ora; não há mal. Nem bem. Há interações, e cada um tem seu ponto de vista; por isso não conseguimos compreender o “amor que não é amor”. Porque não conseguimos compreender que o bem que fazemos, provavelmente, não é bem. É apenas bom – ou seja, nos dá prazer, realização ou satisfação.
Para exercer a alteridade, precisamos quebrar nossa relação narcisística com o bem. Afinal, é fácil de entender porque devemos parar de fazer o mal; difícil é compreender as nossas próprias limitações e entender que, por mais que a intenção seja boa, nunca conseguiremos calcular todas as consequências de nossos atos.
@Wanju – Oi Caio! Adorei seus comentários. Creio que com suas explicações o texto ficou muito mais claro. Gostei muito dessa passagem: “Geralmente o amor tem um sabor amargo, de privação do meu prazer em prol de não causar dor ao próximo. Ou mesmo de suportar dor em mim para que o próximo não suporte”, pois é exatamente isso que acontece. Muitas vezes achamos que “fazer o bem” é um caminho alegre, mas não é bem assim. Frequentemente vamos nos sentir mal fazendo a coisa certa, pois há muitas dores. E se fazemos o bem buscando que nossa vida ou a vida dos outros seja uma sauna não iremos continuar por muito tempo, pois precisamos aceitar ou até mesmo abraçar a dor que faz parte da travessia.
Como diria Leibniz: “No Universo não apenas o bem é superior ao mal, mas também o mal serve para aumentar o bem”. E como diria C.S. Lewis: “Deus sussurra para nós em nossos prazeres, fala em nossa consciência, mas grita em nossas dores: elas são seu megafone para despertar um mundo surdo”. Segundo George McDonald: “O Filho de Deus sofreu a morte não para que os homens não sofressem, mas para que seus sofrimentos pudessem ser como os Dele” E, finalmente, o pensamento da ascética Rabiah, do sufismo, resume essa postagem:
“Oh, Deus! Se eu te louvar por medo do inferno, me queime no inferno; e se eu te louvar em esperança de um paraíso, exclua-me do paraíso; mas se eu te louvar por ti mesmo, não retenha sua eterna beleza!”