Em nosso último diagrama, vimos a divisão em tríades das sefiroth da Árvore da Vida. Ali se pode perceber que aquelas se correspondem com os três mundos cabalísticos mais elevados, ficando a última numeração (Malkhuth) como receptáculo das emanações sefiróticas, que por esta divisão em tríades incluem em sua forma os três princípios: ativo, passivo e neutro que caracterizam as colunas ou pilares de nosso modelo cabalístico.
Lembraremos que a primeira tríade, conformada pelas “numerações” mais elevadas (1, 2, 3), ou Princípios Universais, está composta por Kether (Coroa), Hokhmah (Sabedoria) e Binah (Inteligência), conformando o mundo de Atsiluth, ou das Emanações, simbolizado também pelos três primeiros números da escala decimal. Kether é a Unidade e, como tal, a primeira determinação; costuma-se chamar a Hokhmah de “Pai” e a Binah de “Mãe”, como geradores do desenvolvimento cósmico.
Ainda que três em aparência desde o ponto de vista do manifestado, estes Princípios conformam em si mesmos a Unidade do Ser, a ontologia suprema, à qual precisamente eles simbolizam. Como dissemos, Kether é o Conhecimento, ou o Bem, enquanto Hokhmah é o sujeito ativo e Binah o objeto passivo (receptivo) desse Bem ou Conhecimento essencial.
A segunda tríade (4, 5, 6) está composta pelas sefiroth Hesed (Graça, Amor, Misericórdia), Gueburah (Rigor), também chamada Din (Juízo), e Tifereth (Beleza ou Esplendor). Elas conformam o Mundo prototípico de Beriyah, ou da Criação, reflexo direto do mundo arquetípico de Atsiluth, como bem o expressa o triângulo invertido, que simboliza o descenso das energias divinas no seio da manifestação. Hesed é o princípio construtor, enquanto Gueburah representa o princípio destruidor, ainda que ambos surjam simultaneamente da tríade superior como duas energias necessárias, que se neutralizam e se equilibram em Tifereth. Se do seio de Hesed surgem todas as criaturas e seres que têm de se manifestar (os que ele assinala com seu Amor e Misericórdia inesgotáveis), de Gueburah emana o Rigor imprescindível que põe limites à energia expansiva de Hesed, discriminando assim tudo o que é supérfluo e desnecessário no processo criativo. Tifereth, a Beleza divina, aparece então como o Centro onde esses opostos aparentes se conciliam, manifestando a Unidade e o Ser em todas as coisas.
A terceira tríade (7, 8, 9) da Árvore da Vida está composta pelas sefiroth Netsah (Vitória), Hod (Glória) e Yesod (Fundamento). Elas constituem o Mundo de Yetsirah, ou plano das Formações, assim chamado porque é nele onde as idéias informais do plano de Beriyah tomam forma sutil, constituindo propriamente o domínio psíquico da manifestação. Corresponde-se então com as “Águas Inferiores”, reflexo invertido (e em certo modo ilusório) das “Águas Superiores” de Beriyah. Netsah e Hod emanam diretamente de Tifereth, ainda que, como podemos comprovar, por sua localização nos pilares laterais da Árvore, estão relacionadas com Hesed e Gueburah, respectivamente. Por isso Netsah é uma energia ativa e expansiva, onde esses mesmos princípios informais (que são todos os seres antes de manifestar-se) se refratam numa multiplicidade indefinida, que adquirem sua forma sutil graças à intervenção da energia passiva e contrativa de Hod (a que, no entanto, também lhes dá a morte, ou a transformação, necessária em seu caminho de retorno à Origem). Desde o ponto de vista do homem, Netsah é a Arte verdadeira, que nos conduz aos arquétipos e ao Espírito, e Hod é o Rito com o que sacralizamos o tempo e o espaço e vivificamos os seres míticos, identificando-nos com eles. A permanente e mútua inter-relação entre Netsah e Hod gera a sefirah Yesod, que aparece assim, justamente, como o fundamento necessário, graças ao qual essas formas descem ao plano físico e material, que é propriamente Asiyah.
Neste último plano, ou Mundo da Concreção Material, só se encontra a sefirah Malkhuth (10), chamada o “Reino”. Ela é a Terra ou Mãe inferior, que se considera como o recipiente substancial de todas as energias invisíveis que descem da Árvore, e onde estas adquirem realidade sensorial. Na Cabala, é considerada como a Mãe Terra (em oposição a Kether, que é o “Pai Céu”), manifestando desta maneira a presença da Unidade na corrente sempre passageira das formas perecíveis.
Respostas de 10
Marcelo, devemos enxergar Tifereth como uma espécie de “filtro”?
Pois eu estava pensando agora comigo: as coisas começam e serem imaginadas em Atsiluth e começam a serem criadas em Beryah, que é onde Tipheret se encontra, certo?
Daí Hesed cria, Gueburah destroi e depois Tifereth “equilibra”, ou “filtra” essa “criação” e manda pra Yetsirah que será o lugar onde essa criação vai começar a se formar de verdade antes de ir a Asyah e se “materializar” no nosso mundo, correto?
Eu estava desenhando a árvore da vida aqui enquanto estava lendo esse artigo e aproveitando pra colocar os significados e relações das Sefiiroths e acabei “viajando” aqui, vendo a árvore da vida no formato de uma espécie de filtro.
😀
Abração tio!
Muito bom, agora é só pegar um tempo pra poder estudar os posts dessa categoria
Abraços”
Mãe Terra e Pai Céu???
hhhhmmm,isso tá me cheirando a lenda grega sobre a criação do mundo…
DD, esse texto diz que netsah é uma energia ativa e expansiva; e que hod é uma energia passiva e contrativamas; e que binah é a “mãe” e hokhmah o “pai”
mas no texto As 3 Colunas ou Pilares, netsah e hokhmah estão na coluna passiva (feminina) e hod e binah na coluna ativa (masculina)…
qual está certo? ou os dois estão certos?
@MDD – Os dois estão certos… as COLUNAS são do rigor/misericórdia, mas Binah RECEBE Hochma. O autor dos textos considera que o AMOR é expansivo sempre (prosperidade de Chesed, o Caos de Hochma) enquanto Geburah (rigor) e Hod (Razão) são constritivos ou restritivos (ai ele chama de “passivo”). Questão de vocabulário, só.
chesed,gueburah e tiferet me lembram a tríade brama,shiva e vishnu. um cria, outro destroi e o último conserva. é a triforce hehehe
93,93/93
e a minha pergunta de 4 dias atrás, nao vai aparecer?
@MDD – Calma… Solstícios e Equinócios são complicados… to com 50 comments atrasados. Ou eu respondo e demora, ou eu aprovo tudo sem responder…
DD; é possível atingir a iluminação ‘partindo’ de Hod?
Existem relatos de alguém já o tenha conseguido ‘através’ de Ayin?
Grande Abraço.
DD,
Essa questão de vocabulário confunde bastante, pois a desse autor é um pouco diferente da que você ensina na contagem do ômer.
Por exemplo ele atribui misericórdia para Hesed, e misericórdia é sinônimo de compaixão que você atribuiu para Tifereth (e que ele chama de beleza ou esplendor)
Na hora de atribuir os significados (que é uma parte de um dos exercícios passado por esses textos), dá uma boa confusão..
Abraços
Será que a gente poderia fazer uma relação das energias das esferas com os orixas do candomblé?
Além da propria representação da Cor, as suas representações são bem parecidas.
Faz sentindo ou eu to viajando?
@MDD – Em breve um post sobre isso… na verdade, se o site não tivesse ficado fora do ar o findi inteiro eu já teria postado tudo o que precisava e estaria neste momento escrevendo este texto sobre umbanda x magia celta.
Quando vem esse de Umbanda x Magia Celta?