Por Gilberto Antônio Silva
Literalmente, “Te” significa “virtude”. É parte importante do Taoismo, pois já se apresenta no título da principal obra desta filosofia: o Tao Te Ching (Clássico do Caminho e da Virtude).
Quando pensamos em “virtude” logo nos vem à mente obediência a regras morais. E nada mais longe do significado chinês. Para os taoistas, uma pessoa virtuosa é aquela que vivencia o Tao em tudo o que faz, tem no Tao seu companheiro constante. Essa pessoa imersa no Absoluto é chamada de Junzi, o “Ser Perfeito”. Junzi significa literalmente algo como “nascido da nobreza”, evidenciando uma elite que se destaca dos demais. Compreensível, pois não se veem muitos “seres perfeitos” por aí.
Lemos no Tao Te Ching, Capítulo 38:
A Virtude Superior é não-ação
Pois não utiliza ação
A Virtude Inferior é ação
Que faz uso da ação
Aqui Laozi faz uma diferenciação sobre a virtude do ponto de vista taoista e a virtude comum que conhecemos. A virtude comum, aprendida por regras e respeitada por medo de represálias, é a Virtude Inferior, que precisa de ações para ser efetivada. A virtude de ser que é um com o Tao é a Virtude Superior, que precisa da não-ação para ser atingida (ver texto sobre o wuwei neste site).
Por meio desta abordagem, o “Ser Superior” taoísta seria alguém que atingiu a comunhão com o Tao, que age sem agir (Wuwei) e que se mantêm uno com todo o Universo. Portanto o que faz de uma pessoa um Junzi é o Te, a virtude. Ele se torna perfeito apenas em razão de estar em ressonância com o Tao.
O taoismo não é para ser seguido apenas por aparência, pelo externo, mas por dentro de cada um. Os Três Tesouros do Tao (humildade, simplicidade e benevolência) são objetivos a serem incorporados ao praticante de modo sincero e consciente. Não são apenas regras morais de conduta, tipo fazer-ou-não-fazer. São objetivos a serem alcançados e incorporados ao próprio praticante. Deve fazer parte dele, ser a sua essência. Só aí esse a pessoa atingiu a virtude.
Laozi ainda afirma (Tao Te Ching, Capítulo 51):
O Caminho gera
A Virtude cria
Se o Tao é o instrumento que permite a existência de tudo, a virtude é o que faz as coisas andarem. É através da vivência do Tao que o trabalho é feito e nossa evolução caminha.
Mas qual a vantagem de se possuir o Te? Laozi explica:
Quem possui a Virtude em abundância
É como um recém-nascido
Os insetos não o picam
As aves de rapina e os animais bravios não o agarram
Tem ossos leves e cartilagens macias
Mas pegam com firmeza
Desconhece a união de macho e fêmea
Mas seu órgão se desperta, pela plenitude da essência
Grita até o fim do dia
Mas não fica rouco, pela plenitude da harmonia
Tao Te Ching, Capítulo 55
Se a água fosse o Tao, o Te seria a água nas plantas, nos animais, nas nuvens, em nós.
Por fim, o Prof. Yin Zhihua, pesquisador do Instituto de Cultura Chinesa Taoista de Beijing traduz isso de maneira brilhante: “o Tao em mim é Te”.
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Gilberto Antônio Silva é Parapsicólogo, Terapeuta e Jornalista. Como Taoista, é um dos mais importantes pesquisadores e divulgadores no Brasil dessa fantástica cultura chinesa através de cursos, palestras e artigos. É autor de 14 livros, a maioria sobre cultura oriental e Taoismo. Sites: www.taoismo.org e www.laoshan.com.br