Arcano 4 – Imperador – Heh

Sentado num trono com as pernas cruzadas, um homem coroado é visto de perfil. Em sua mão direita traz um cetro que termina por um globo e pela cruz, enquanto a outra mão segura o cinto. No primeiro plano, à direita, um escudo com a imagem de uma águia parece apoiar-se no chão.
Um colar amarelo prende uma pedra (ou um medalhão) de cor verde. A coroa se prolonga extraordinariamente por detrás da nuca.

O trono, uma cadeira em cujo braço esquerdo se apóia o Imperador, repousa – como a mesa do Arcano I – sobre um terreno aparentemente árido, do qual brota uma solitária planta amarela.
Ao contrário do emblema da Imperatriz, a águia do Arcano IIII olha para a esquerda. O desenho das águias, por outro lado, difere notavelmente num e noutro caso.
A notação IIII, no topo do desenho, que ocorre também nos arcanos VIIII, XIIII e XVIIII não é habitual na numeração romana (que registraria IV, IX, XIV e XIX).

@MDD – A notação IIII vem do Grego arcaico, não do romano.

Essa forma de grafar, porém, faz parte da tradição gráfica do Tarô, tal como aparece na versão de Marselha e na maioria das coleções de cartas antigas.

Significados simbólicos
O poder, o portal, o governo, a iniciação, o tetragrama, o quaternário, a pedra cúbica ou sua base. Proteção paternal.
Firmeza. Afirmação. Consistência. Poder executivo. Influência saturnina-marciana. Concretização, habilidades práticas, ordem, estabilidade, prestígio.

Interpretações usuais na cartomancia
Direito, rigor, certeza, firmeza, realização. Energia perseverante, vontade inquebrantável, execução do que está resolvido. Protetor poderoso.
Mental: Inteligência equilibrada, que não despreza o plano utilitário.
Emocional: Acordo, paz, conciliação dos sentimentos.
Físico: Os bens, o poder passageiro. Contrato firmado, fusão de sociedades, situação do acordo. Saúde equilibrada, mas com tendência à exuberância excessiva.
Sentido negativo: Resultados contrários ao pretendido, ruptura do equilíbrio. Queda. Perda dos bens, da saúde ou do domínio sobre coisas e seres. Oposição tenaz, hostilidade preconcebida. Teimosia, adversário obstinado; assunto contrário aos interesses. Autodestruição, grande risco de ser enganado. Autoritarismo, tirania, absolutismo.

História e iconografia
Alguns estudiosos chamam atenção para um aspecto significativo desta figura: o Imperador tem as pernas cruzadas. Este detalhe corroboraria a tese de inspiração germânica do arcano, visto que no antigo direito alemão esta posição era prescrita ritualmente para os altos magistrados (1220). No entanto, imagens semelhantes e igualmente antigas aparecem nas iconografias francesa e inglesa, representando altos dignitários.
O caráter cerimonial e prestigioso do cruzar as pernas pode ter uma origem mais remota, possivelmente oriental, já que isso não é habitual no panteão greco-romano. O antigo simbolismo, convertido em liturgia pela codificação alemã, admite também um profundo sentido psicológico: cruzar as pernas e os braços indica concentração volitiva, encerra o protagonista na sua esfera pessoal e, do ponto de vista gestual, afirma claramente o desejo de individuação.
Outros detalhes merecem ser assinalados a propósito do Imperador.

É comum, associar o simbolismo do Tetragrammaton à figura do Imperador. É sabido que o tetragrama traduz ao nome de Deus omitindo-o, ao decompô-lo no nome das letras que o formam: Yod – He – Vau– He.

A leitura do nome das letras (grafadas da direita para a esquerda, em hebraico), dá Jehová, que não é o nome de Deus, mas alusão a ele.
Os cabalistas, como demonstra este exemplo, trabalham também com o pensamento analógico, tal como se vê nos demais estudos tradicionais.

“A idéia é perfeitamente clara” – diz Ouspensky – “se o Nome de Deus está realmente em tudo (se Deus está presente em tudo), então tudo deve ser análogo a tudo mais: a parte menor deverá ser análoga ao Todo, a partícula de pó análoga ao Universo, e todos análogos a Deus”.
Do ponto de vista cabalístico, a relação Tetragrama-Imperador parece muito fecunda, já que, comparada com as três letras anteriores (ou os três arcanos), consideradas respectivamente como o princípio ativo (I), o princípio passivo (II) e o princípio do equilíbrio ou neutralizador (III), a quarta letra ou carta é considerada o resultado e, também, o princípio da energia latente.

Isto se harmoniza perfeitamente com a versão de Wirth sobre o Arcano IIII, segundo a qual ele não é apenas o Príncipe deste mundo, que “reina sobre o concreto, sobre o que está corporificado”, mas é também o paradigma do homem estritamente normal, em posse de suas potencialidades, mas ainda não realizado pela iniciação.
Nesse sentido, representa o quaternário de ordem terrena, de organização da vida sensível, e pode ser relacionado também ao demiurgo dos platônicos, às divindades inferiores em geral (os heróis, antes dos deuses), e a toda tentativa de criação de vida no nível terreno e perecível.
Também se vê nele, enquanto rei que propicia a prosperidade e o crescimento de seu povo, uma correspondência ao mito de Hércules, “portador da maçã, que leva as maçãs de ouro ao jardim das Hespérides”.

Hércules, enquanto herói solar, que resume como nenhum outro as fases do processo iniciático no sentido da liberação individual que, esotericamente, só se pode alcançar através do trabalho e do esforço.
Como Hércules, também o Imperador não transcende a condição humana, embora o princípio indique que poderá levá-la à sua mais alta manifestação.
É considerado, em sua face não trabalhada, como representante do aspecto violento e agressivo do masculino, mas também como dispensador da energia vital e, neste aspecto, como a Natureza abundante, divisível, nutritiva.

Por Constantino K. Riemma
http://www.clubedotaro.com.br/

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Respostas de 11

  1. Que texto… 🙁

    Queria que este excelente blog, a “Teoria da Conspiração” não se tornasse uma “salada” de informações.
    Tio MDD, tenta manter uma linha de raciocínio do conteúdo! Se não a leitura começa a ficar mais complicada… (só meu ponto de vista, claro..)
    Aqui não é o Sedentário, onde a mistura “games + bunda + peitos + cinema” resultará em uma visita bacana.
    Buscamos informação concreta e racional. Sempre orientada a um “professor”, mesmo que este esteja por de tras das cortinas..

    @MDD – sinto muito… não sou professou ou guru de ninguém. Os visitantes é que devem saber selecionar os textos que lhes interessam. Grande abraço.

  2. O animal do comentário acima devia saber que o que o MDD faz é um FAVOR.
    Isso mesmo, favor. Por pior que soe aos nossos ouvidos ele não tem obrigação de escrever para ninguém. E digo mais, o correto seria aproveitar o blog enquanto ele existe, porque no dia que ele resolver parar de escrever nós não teremos mais fontes confiáveis. (ou pelo menos eu não terei)
    Críticas podem ser construtivas ou vazias, e a sua meu amigo, beirou a futilidade.

  3. Muito bom, mas você bem que poderia por a imagem da carta, hein?
    E você disse uma fez que a própria pessoa faria as cartas que usaria, você poderia falar um pouco mais sobre isso?

  4. Ah, sim… outra coisa, o termo mais correto seria carta ou lâmina?

    @MDD – Lâmina ou Arcano… mas estes textos não são meus, então eu não mexo

    PS. Muito obrigado, muito obrigado mesmo! As informações que eu comecei a ter contato com você no Sedentário e aqui realmente mudaram a minha maneira de ver o mundo e aguçaram a minha sede de conhecimento.

  5. Caramba brother henrique, desculpe fazer você perder seu tempo escrevendo diversas linhas para criticar um comentário!

    Com certeza o meu foi bem futil, e o seu… super impactante e pertinente… Parabéns!

    Brother, o comentário foi o que senti somente irmão. Me senti vazio lendo as informações postadas e por isso dei um feedback ao MDD.

    Mas por favor.. quando ler algum comentario que identifique que veio de um “animal futil” , além de desculpar o ser pela provável incapacidade ou inferioridade, ainda não perca seu importante tempo criticando-o.

    Abraços!

  6. Marcelo, comprei um livro sobre arcanos menores( autor G.O. Mebes) e no prefácio fala q eu não preciso conhece afundo sobre arcanos maiores e cabala, mas no livro mesmo, o autor fala q é preciso conhece muito estes dois para entender os arcanos menores. Eu devo da uma estuda nos arcanos maiores e na cabala antes de continuar a ler o livro ou será não tem muito problema? Obrigado.

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