Sobre Autoconhecimento – Parte I

“Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo.” — Inscrição no oráculo de Delfos, atribuída aos Sete Sábios (c. 650a.C.- 550 a.C.)

Olá,

No texto de apresentação desta coluna, introduzimos os temas que nortearão nossos encontros: Autoconhecimento e Liberdade. Considero a reflexão e o aprofundamento destes dois temas como crucial para o bom desenvolvimento do ser pensante, bem como, para o melhor aproveitamento de qualquer vertente filosófica ou espiritualista a qual queira conhecer, servindo, inclusive, de blindagem contra fanatismos e distorções.

A citação acima é atribuída a Sócrates, e serviu de base para seus estudos filosóficos. Ela data de mais de 2000 anos atrás, porém, permanece atual,  desconhecida e impraticada por muitos ainda em nosso século.

OK, mas essa balela toda de filósofo não tem nada demais. O que tem de tão difícil em “conhece-te a ti mesmo”, fora a escrita arcaica, cafona e redundante?

Muito mais do que você imagina! Você lembra de quando era pequeno e tinha medo do monstro do armário? ou daquele que morava debaixo de sua cama? Poisé, conhecer a si mesmo pode ser pior do que encarar estes monstros frente-a-frente.

Para avançarmos neste tema precisamos ter em mente que o bem e o mal* são partes de um todo, e necessários para o equilíbrio de tudo. É preciso ter em mente que a luz depende da escuridão para existir.

Se tudo é Yin/Yang, por que nós seriamos diferentes? Não somos. Temos dentro de nós o bem e o mal*, em proporções nem sempre equilibradas. Lembram daqueles desenhos animados onde, em momentos de decisão, apareciam nos ombros do personagem de um lado um diabo e de outro um anjo? Cada um influenciando este personagem a tomar um tipo de ação? Voilá! Esta é a essência do que estamos falando!

Xii, lá vem você novamente com estes papos estranhos. Quer dizer que eu tenho um diabinho e um anjinho que me influenciam nas tomadas de decisões?

Não exatamente. VOCÊ é esse anjo e esse diabinho! Sua psique é composta por esta dualidade. Conhecer a si mesmo começa em admitir essa dualidade dentro de nós. Que somos parte anjo e parte demônio, somos yin e yang ao mesmo tempo. É assumir suas condutas e não atribui-la à arquétipos exteriores. É literalmente tomar o comando deste comboio sem freio.

Quando assimilamos ser positivo e negativo, podemos medir o equilíbrio destas forças em nossas ações e tomar consciência sobre qual delas estamos utilizando em cada atitude tomada e dosa-las conforme vamos assumindo seu controle, e de acordo com nosso interesse..

Hmmm… Quer dizer que, seu eu aprender a dosa-las, posso ser 100% do tempo “bonzinho”?

Lembra que falamos em Yin/Yang? Em equilíbrio? Você acha que consegue ser 100% do tempo verdadeiramente positivo, inclusive consigo mesmo? sem nenhum momento de negatividade? Acho que não nesta encarnação, mas devemos tentar.

O que acontece na maioria das vezes é que ignoramos nosso lado negativo, acreditando sermos “pessoas boas”. Só que ignorar o problema não o resolve e, quando ignoramos nossa natureza, ela acaba por agir por conta própria e, sem nossa supervisão (ou controle), isso pode ser um tanto quanto destruidor.

Lembram que na coluna anterior eu deixei uma provocação? Conseguiu definir se você é aquele que briga ou o que pede desculpas? Não? Claro! pois você é ambos. Quando briga, seu lado negativo assume o (des)controle e você, por não conhece-lo ou não controlá-lo o extravasa. Quando, depois de passado o momento de ira, e raciocinando (seu lado positivo agindo) sobre o assunto, acaba pedindo desculpas.

Hmmm. Faz sentido. E como eu faço para perceber se sou mais positivo ou negativo?

Há várias maneiras e diversas técnicas, das mais simples as mais complexas. Vamos nos ater, por enquanto, ao que é mais palpável e passível de ser praticado por qualquer pessoa, independente de sua (des)crença.

Comece a prestar mais atenção em suas atitudes durante o dia. Como você reage as situações que acontecem com você? Você reage imeditamente de forma brusca, não medindo as consequências dos seus atos? Quantas vezes por dia você se vê possuído por um sentimento que, em sã consciência, não gostaria de ter? Ou você aceita tudo que lhe dizem, sem questionar nem se opor, mesmo que isso lhe cause um desconforto?

Lembre-se que, além de conhecer suas ações, é preciso conhecer seus pensamentos. O que você pensa sobre você, sobre os outros e sobre o que acontece ao seu redor. Não basta ser um monge com os outros e um carrasco com você mesmo.

Como exercício para este mês, procure ser reativo o mínimo possível em suas ações diárias. Antes de tomar qualquer atitude, pare por um segundo e pense sobre o que vai fazer. Não aja por impulso, aja com consciência, seja próativo.

E lembre-se, o equilíbrio é a chave.

Até a próxima!

“Tudo é Duplo; tudo tem pólos; tudo tem o seu oposto; o igual e o desigual são a mesma coisa; os opostos são idênticos em natureza mas diferentes em grau; os extremos se tocam; todas as verdades são meias-verdades; todos os paradoxos podem ser reconciliados” – O Caibalion

* Lembre-se que bem e mal são conceitos apenas humanos, assim como Moral e Ética, que variam conforme a Cultura, Geografia e Época.

_____________________________________________________________________

O blog Autoconhecimento e Liberdade busca auxiliar seus visitantes a encontrarem o caminho da espiritualidade dentro de seu próprio cotidiano, através de transformações em nosso comportamento e na maneira como encaramos nossos desafios.

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Já é tempo de refletirmos diante de alguns conceitos

 

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Respostas de 10

  1. Os exercícios do espelho de Franz Bardon são muito bons pra isso…

    E principalmente escrever eu acho um ótimo exercício pra perceber certos detalhes de nossa personalidade.

  2. Muito interessante a sua abordagem.
    A frase “conhece-te a ti mesmo” teve uma mudança de interpretação ao longo da história da grega.
    Durante o tempo das epopéias e tragédias ela era conhecida como uma alusão para o descobrimento pelo homem de sua própria medida. O homem não era deus, mas também não era um animal. Era nesse conflito que o homem ia marcar sua individualidade, ao diferenciar-se como melhor entre os seus. Aqueles que se diferenciaram, entraram para história: Aquiles, Homero, etc.

    Já mais para frente, durante o período do domínio macedônico, com o desenvolvimento da filosofia e educação grega, essa frase passou a ter um conceito mais parecido com o que temos hoje de autoconhecimento e medir a nossa interioridade.

    Abraço.

  3. Parabéns…pela abordagem simples e coesa….

    @petersondanda: Obrigado Hélio. A ideia desta coluna é ter mesmo uma abordagem bem simples e direta, usando conceitos herméticos e kabalísticos, porém, de uma forma de fácil compreensão mesmo para quem não os conheça.

  4. Estava usando até ontem a seguinte mensagem no MSN: “equilíbrio é a chave”. Quando li essa frase no fim do seu texto, até me assustei. Sincronicidade.

  5. petersondanda,
    Se como ensina o caibalion, tudo é polarizado (e eu concordo), assim como o bem e o mal, como se expressa essa polaridade num ser de elevada evolução, não seria ele o “completo” bem?o “puro” amor . Onde estaria expressa a figura do mal e do ódio nestes seres?

    @Peterson: Hiro, como falei no texto, bem e mal são concepções humanas. Se tudo é polarizado, e tudo são graus da mesma coisa, como definir onde começa o bem e termina o mal? Acredito que os outros princípios herméticos também podem te ajudar a esclarecer tal dúvida…

  6. Eu não gosto de usar as palavras “bem” e “mal” porque sempre gera confusão, acabamos sempre pensando em um bem e mal absolutos e maniqueistas.

    Gosto de uma abordagem budista que classifica as coisas como Adequadas ou Não adequadas. Assim fica fácil entender, inclusive em conjunto com outras leis herméticas.

    “Tudo lhe é permitido, mas nem tudo lhe convém”

    @Peterson: Excelente César. Essa conotação de bem e mal realmente gera muita confusão, além do que, eu a considero muito atrelada a “Certo e Errado”, que é uma abordagem muito cultural e moralista e, consequentemente, mutável. Algo que é considerado “certo” no oriente, pode ser visto como “extremamente errado” nos olhos do ocidente, e vice-versa. Tenho receio de que o adequado e não adequado também possa cair nessa vala, pois, como em muitas coisas, as palavras de nossa consciência limitada não conseguem ser precisas para certas definições.

    Eu fico com a frase que você citou!

    Forte abraço!

  7. Como entrar em contato Peterson?
    Me intrigou seu modo…
    Se puder vir a me adicionar, mesmo que demore, estarei disposta a contribuir com nebulosas [límpidas] vontades do sabor, do conhecimento…e vejo que tens a acrescentar, espero por isso.
    Grata desde já, Akiw.
    Passe bem, sempre.

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