Faz bastante tempo que não escrevo aqui, então resolvi dar um alô, mesmo que eu não tenha nenhuma notícia. O objetivo do post de hoje é dizer: “Magia do Caos é muito foda e aqui vão algumas das razões e faltas de razões disso; obrigada, de nada”. Tentemos fazer isso de uma maneira breve e pouco dolorosa para os miolos. Não quero meter no meio coisas como filosofia, teologia, cálculos ou qualquer coisa tirada da cartola do demônio da epistemologia.
Há aquele negócio chamado magia tradicional, que costuma ser qualquer coisa entre astrologia, cabala e tarot. Muitas outras coisas podem ser “magia clássica”, como diferentes sistemas de magia dos grimórios famosos, alguns dos quais muito me encantam. E vem a velha questão: “Por que dividir magia em ortodoxa e heterodoxa, esquerda e direita, branca e negra, cor-de-rosa e cor de capim?” Só para sistematizar, meu filho. Algumas sistematizações são mais úteis que outras. Certos agrupamentos já estão bem ultrapassados como “pessoas boas e pessoas ruins”, mas cada um com suas preferências de linguagem (contanto que se compreenda que termos adquirem diferentes conotações através dos tempos).
Eu não concordo completamente com a divisão de magia velha e magia nova, ou qualquer coisa parecida. Eu só uso esses termos quando não encontro outros melhores. A linguagem está cheia de termos inapropriados e se quisermos uma comunicação realmente eficiente vamos todos meditar e conversar nos outros planos sem usar palavras, já que, como dizia Wittgenstein “a filosofia é uma batalha contra o enfeitiçamento da nossa inteligência por meio da linguagem” (bosta, eu disse que não ia citar filósofos!!)
Então agora que estamos entendidos que eu só uso o termo “magia tradicional” e outros termos ainda piores por falta de termos melhores, vamos seguir em frente.
Vantagens da magia tradicional: confiança/fé na eficácia do sistema devido à sua antiguidade e tradição. Se já foi usado com sucesso no passado, e por tanta gente, por que falharia no presente? A egrégora provavelmente só se tornou mais forte. Esse argumento é bom e compreensível. Eu concordo com ele. Contudo, a proibição de não modificar algumas fórmulas clássicas, embora por um lado preserve as minúcias que as tornam fortes, pode torná-las não tão adequadas aos tempos atuais.
Desvantagens da magia tradicional: alguns sistemas são meio ultrapassados e monótonos (leia-se, velhos e chatos). O enfoque está em preservar a tradição e não em adaptá-los para torná-los divertidos e atraentes. Se parar para pensar, qual é a graça de assistir a uma missa católica tradicional, além de presenciar o poder da tradição? Por isso tantos jovens são atraídos para o espiritismo ou igrejas evangélicas. São adaptações que condizem mais com a onda new age de “eu tenho uma espiritualidade, mas quero segui-la do meu jeito”. Essa postura, é claro, tem seus lados positivos e negativos. Para seguir algo do seu jeito é bom estudar. Por isso os caoístas estudam tanto e fazem tantos experimentos: para realmente entender como a coisa toda funciona. Ou desvendar/inventar novos meios de fazê-la funcionar.
Um caoísta deve estudar magia tradicional? É bom ter algumas noções. Muitos caoístas apoiam seus trabalhos em sistemas tradicionais. Caso ele resolva apoiar em qualquer outra área (física, geologia, videogames ou o que valha) é esta área que deve ser explorada com cuidado e adaptada à magia.
Vantagens do caoísmo: uma magia pessoal e sob medida, como uma roupa sob encomenda. Uma magia divertida, que te dá prazer de fazer e de vivenciar. Em suma, é magia da nossa época. Por isso nós nos identificamos com as propostas. Claro, algumas pessoas se identificam com elementos de outras épocas. Isso também não impede de praticar magia do caos. O magista pode adaptar esses elementos com outras coisas que lhe agrade. Além disso, a minha parte preferida do caoísmo não é somente misturar sistemas, mas criar seus sistemas. Você não somente repete o que já foi dito (“como um papagaio”, diria Frater Xon), mas também contribui criando algo original.
Desvantagens do caoísmo: apenas leia as vantagens da magia tradicional e inverta. Muita gente não se adapta à magia do caos porque, lá no fundo de sua mente, ainda há um teimoso cujo cérebro foi moldado pelo “certo” e “errado” da sociedade, pelo que é real e imaginário, pelo que é permitido ou proibido. Em suma, algumas pessoas “não se adaptam à ideia de que adaptações são possíveis”. “Só posso realizar essa magia no horário de Saturno” ou “vermelho é melhor para uma magia de amor do que azul” ou qualquer outro dogma que a magia tradicional te fez acreditar. Isso significa que todas as regras da magia ortodoxa são mentiras? Não! Elas funcionam muito bem. Pode haver alguma verdade nelas quando utilizadas da forma correta, mas isso não significa que a magia é algo fixo, uma rocha inquebrantável, que nunca possa ser modificada sem autorização de Deuses (se acha mesmo, vá lá chamar o tal Deus, tome um chá com ele e altere as regras, diabos!). Então eu diria que provavelmente as desvantagens do caoísmo estão na nossa própria cabeça.
A Magia do Caos poderia ser um sistema totalmente divertido e eficiente se ao menos nós permitíssemos a nós mesmos toda essa liberdade e prazer. Alguns são muito rigorosos consigo mesmos. Há quem considere que existe magia verdadeira e falsa, a baixa e a alta magia. E, convenhamos: pode ser que exista. O ponto é que não faz diferença se essas coisas existem ou não. O nosso objetivo é trabalhar com esses conceitos e aplicá-los não para nos trazer angústia, mas momentos especiais. O foco não é alterar a realidade em si (que pode ser real ou uma Matrix, não sabemos e pouco importa), mas nossa percepção da realidade. O copo está pela metade (partindo do pressuposto de que o copo existe), mas você escolhe se ele está meio cheio ou meio vazio.
O objetivo da magia não é necessariamente absoluto. Cada um tem seus objetivos com magia. Quem tem paixão por história e mitologia, por exemplo, não resistirá a pesquisar a magia tradicional e experimentá-la. Isso também pode ser fantástico. Mas a magia ortodoxa e a heterodoxa não são totalmente contraditórias. Podem coexistir.
Muitos dizem que o objetivo da magia, espiritualidade ou religião é a evolução espiritual, que temos que ajudar os outros (ou, no caso do budismo Theravada, libertar-se tanto do bom karma quanto do ruim), amar, servir a sociedade e às pessoas próximas e que através disso iremos atingir um grau superior ao que nos encontramos agora.
Novamente, pode haver alguma verdade nessas palavras. Mas muito provavelmente essa não é toda a verdade, até porque, como dissemos antes, palavras são inapropriadas para expressar. Sempre haverá erros na comunicação que podem levar a desentendimentos. Sendo assim, podemos considerar que, sim, amar e ajudar é algo muito nobre, mas há outras coisas relacionadas que talvez o termo “evolução espiritual” não capte com precisão.
São João da Cruz, em seu livro “Noite Escura da Alma” descreve os “dez degraus da escada” e diz que aqueles que chegam ao último degrau serão “semelhantes a Deus”. Ele até mesmo diz que será “Deus por participação”, um termo também encontrado na Suma Teológica de Tomás de Aquino (e eu disse que não ia falar de teologia). Nesse momento quase temos um encontro entre RHP e LHP…
Mas a ideia de uma escada ainda me parece por demais metafórica. Isto é, sei lá, vai que tem mesmo uma escada! Mas não acho que para subir tal escada se deva colocar necessariamente um pé na frente do outro somente de um jeito correto, como robôs. Cada um tem características diferentes e sobe a escada do seu jeito, alguns mais rapidamente, outros tropeçando, mas cada um vai tricotando seu emaranhado de linhas até que forma seu cachecol personalizado! (eu falei tanto em tricotar no meu último livro, Sociedade do Sacrifício, que até fiquei com vontade de voltar a tricotar. Minha avó me ensinou a tricotar quando eu era criança e lembro que era uma das coisas mais relaxantes).
Magia do Caos é sobre isso: não é um ataque à magia tradicional. Ela usa a magia ortodoxa como aliada. Pega o que serve, tira o que não serve, mas não somente com base numa preferência sem reflexões e numa análise superficial. Muitos testes são realizados até que se descubra a melhor forma de fazer as coisas (a melhor forma para si, pois pode variar para cada praticante).
Que cada aranha construa sua própria teia. Não é à toa que o número 8 é celebrado no caoísmo. E mesmo que seja à toa, não nos importamos tanto assim. Há tantos números (reais, imaginários…) e tantas possibilidades que vale mais a pena viver experimentando um pouco de tudo em vez de continuar fechado na caixinha de sempre.
Existem muitas formas de viver. Não somente a forma que nos foi ensinada. E se as outras formas das quais ouvimos falar tampouco funcionam para nós, talvez seja melhor inventar uma outra: uma magia somente sua, sem cabimento: porque não “cabe” nesse universo ou nos outros; somente no universo que você criou.
Respostas de 12
Wanju, quais bibliografias básicas para começar a estudar magia do caos??
Grato
@Wanju – http://ocultismomagnifico.blogspot.com.br/2014/12/top-10-magia-do-caos-para-iniciantes.html
“O ponto é que não faz diferença se essas coisas existem ou não. (…) O foco não é alterar a realidade em si (…), mas nossa percepção da realidade.”
Essa talvez seja a maior desvantagem da Magia do Caos. Considerar que magia é em suma psicológica e que o que deve ser mudado é a percepção da pessoa sobre o mundo, e não o mundo em si.
E é uma desvantagem bem brasileira, eu diria. Os autores gringos são CHEIOS de “causos” sobre como interferiram com sucesso na realidade ordinária e objetiva. É desses “causos”, aliás, que eles tiram a medida do que “funciona” e do que “não funciona” para os seus testes de magia…..
@Wanju – Curioso que quando ouço sobre desvantagens da Magia do Caos a crítica costuma ser exatamente na direção oposta: muitos dizem que os caoístas se preocupam demais em alterar a realidade externa buscando soluções imediatas com sigilos e servidores sem muita reflexão para a transformação interior, o que seria reflexo do mundo consumista, imediatista e apressado. Porém, Dave Lee, por exemplo, mostra que não é assim. Que antes de tentarmos fazer uma magia para obter dinheiro poderíamos refletir se não seria mais apropriado antes tentarmos uma magia para obter riqueza: uma condição que, independente do quanto se tenha, a pessoa sente-se próspero. Isso não significa que uma magia para obter dinheiro não possa ser feita, mas caoísmo não se reduz a isso.
Eu costumo ressaltar nos meus livros a importância de uma transformação interior (acompanhado de mudanças externas, se necessário) para não reforçar essa tendência de que a magia serve somente para atender aos caprichos do magista, como se ele fosse o centro do mundo e a realidade devesse se dobrar aos seus pés conforme sua vontade. Há outras pessoas e seres no mundo que podem conflitar com nossos desejos e se habilidade mágica pudesse ser medida somente pela quantidade de acertos e erros de feitiços desse tipo, haveria enormes limitações.
O que eu digo nos meus livros não é um reflexo da posição da tão diversa comunidade da Magia do Caos como um todo. Cada caoísta possui uma opinião diferente de até que ponto a magia deve ser usada para alterações internas ou externas. Não acho que ênfase no aspecto psicológico seja uma opinião majoritariamente brasileira.
Do que eu me lembro dos meus tempos na KaosBR o foco era totalmente psicológico e psíquico, com as pessoas indo a níveis absurdos para alcançarem seus estados de gnose….. mesmo que claramente ficassem em contato explícito justo com algumas das piores correntes de força umbralinas.
Conheço alguns poucos que, de fato, usam os sigilos e outros para alterarem a realidade ordinária, contudo a discussão sempre costuma cair em dois argumentos – o primeiro, de que esse poder é pequeno e pouco útil (*) e o segundo, de que a magia não deve ser medida segundo seus acertos e falhas (**), bem parecido com o que você falou.
Contudo, essa visão traz alguns problemas.
* – Esse poder, independente de ser grande ou pequeno, é justamente aquele que a maioria não tem, e do qual foge para não ter de enfrentar a própria falha. Até porquê aprender a mudar as próprias emoções é mais um tema de prestar atenção em si mesmo e passar pelo já muito conhecido processo de dissociação ideia-emoção-pensamento, do que de fazer qualquer tipo de arte mística que não esteja disponível com um bom psicólogo. Há outros níveis de trabalho que de fato requerem magia, mas para esses primeiros passos ela não só é desnecessária, como normalmente MENOS eficiente do que o psicólogo já citado.
Diga-se de passagem, ter domínio sobre as próprias emoções é básico para realizar bem realizado qualquer magia a nível astral – e não o final da jornada magística de ninguém. Afinal, a matéria básica do astral é justamente a emoção. Se você quer construir um “muro” no astral, ele tem que ser construído com matéria emocional bruta – não apenas com visualização vazia de emoção, como alguns levam a acreditar. Se a pessoa quer construir um sigilo ou servidor que exista no astral, tem de adicionar a ele as emoções corretas, e não somente uma tempestade mental. O excessivo foco do Kaos em “quebrar barreiras” e “fazer tudo ser possível” sempre é exagerado pelos brasileiros que transformam “teste seus limites” em “não existe limite” – novamente caindo em magia psicológica, normalmente focada em compensar sensações de impotência por meio da megalomania, ao invés de magia objetiva.
** – Se mediremos as capacidades mágicas de alguém, temos de ter um padrão para isso. Claro, podemos chamar qualquer coisa de magia, inclusive a habilidade de se divertir às custas de estados de excitação emocional auto-induzidos (gosto de chamá-los de “cocaína astral”). Contudo, esse tipo de magia não pode ser facilmente medido. Por outro lado, um tipo de magia que PODE ser facilmente medido é justamente a magia com objetivos materiais. Sim, há diversos seres no mundo que podem se opor aos nossos desejos – mas saber contornar as vontades que se opõe à sua, seja quebrando-as, conquistando-as ou evitando-as, é justamente parte do conhecimento básico para ser bem sucedido, não só em magia, como no mundo social como um todo. Não acredito que isso deva ser retirado do padrão de medida. Uma maga com poderes fenomenais, mas que não consiga colocá-los em prática por causa da interferência alheia, é tão somente uma maga em potencial ou em cárcere – não uma maga com poder verdadeiro. Para quaisquer efeitos, ela será tão inútil quanto o mais profano dos profanos, ou até pior – pois, estando limitada em seus potenciais, ainda assim pode ser que acredite ter poder e deveres, o que pode levá-la a aceitar compromissos que não tem capacidade de cumprir ou a se envolver em outras situações semelhantes.
Isso sem contar com o problema das “revelações místicas” que sempre parecem assolar magos, uma hora ou outra.
Um pequeno desenvolvimento magístico leva a um estado de êxtase do qual a pessoa não mais sai, e a uma estagnação e congelamento de tudo ao seu redor, justamente porquê ela acredita que aquele pequeno desenvolvimento é parte do “caminho” e que o próximo desenvolvimento depende de se manter naquele estado de êxtase, isolada de tais ou quais forças e práticas.
Já ví muito mago de potencial cair nisso, e muita gente que parecia não valer nada ter desenvolvimentos absurdos justamente por evitar esse tipo de armadilha emocional-mental.
@Wanju – Obrigada por todas essas ideias interessantes que você nos trouxe. Dessa forma, muitos poderão refletir sobre elas e decidir se condizem com os pensamentos e estilo de magia de cada um. Isso varia de pessoa para pessoa. Não há somente uma forma de interpretar a magia, de estudá-la e de colocá-la em prática. Isso não significa que, literalmente, tudo é possível ou que qualquer coisa pode ser magia. Significa que há espaço para investigar e interpretar em vez de apenas se ater a definições fechadas e absolutas do que a magia possa ser e até onde ela pode ir.
Eu fiz parte de um fórum da KaosBR por alguns meses em meados de 2006, se não me engano. Eu realmente admiro o trabalho que eles fazem e acho que há muitos debates enriquecedores. No entanto, eu não sei dizer o que está sendo debatido e feito lá agora ou se há realmente esse enfoque psicológico e psíquico do qual você fala. Se há esse enfoque, não acho que seja algo negativo. É apenas um estilo de fazer as coisas. Eu, por exemplo, às vezes gosto de experimentar uma magia feita sem estados alterados de consciência, o que iria contra esse modelo psíquico. Porém, eu não defendo que o método psíquico seja ruim e de vez em quando o utilizo. É questão de preferência. Uma magia que altere a realidade objetiva ao seu redor pode condizer com suas visões de mundo e vontade. E isso está ótimo. Mas nem todos pensam e desejam as mesmas coisas. Há inclusive pessoas que sequer leem sobre ocultismo, nem sabem que existe e o substituem por outras coisas (religião, trabalho, amigos, etc) e são pessoas felizes.
Eu não acho que uma alteração material seja inferior a uma alteração mental. As duas se completam. A meu ver, não é um magista melhor ou pior quem foca numa ou noutra abordagem da magia. São apenas magistas diferentes.
Pode ser que alguém opte por aprender tupi-guarani apenas porque a maioria das pessoas que conhecemos não sabem esse idioma. Eu posso optar por aprendê-lo por prazer e curiosidade e isso está bem. Ou posso optar por não aprendê-lo porque não é útil para mim naquele momento ou porque estou mais interessada em aprender crioulo, seja qual for o motivo. Se alguém argumentar que não comecei a estudar tupi-guarani por ter medo de ter uma pronúncia incorreta, eu posso simplesmente dizer: “eu estava mais interessada em aprender crioulo, porque hoje, terça-feira, me identifico com a cultura africana” e a pessoa contra-argumentar: “mentira, você está optando pelo caminho mais fácil”. Bem, eu diria que há inúmeros motivos pelos quais fazemos as coisas e não somente um. Alguns motivos pesam mais para algumas pessoas fazerem escolhas do que para outras.
Você menciona que os “brasileiros” fazem muitas coisas com magia que você interpreta como negativas. Eu acho que o Peter Carroll não propôs a Magia do Caos para que pudéssemos praticá-la somente ao estilo dos ingleses. Não é somente o que os ingleses escrevem e fazem com o caoísmo que está certo. Eu acho que há muitos caoístas brasileiros fazendo coisas legais com magia e que funcionam.
Eu entendo e respeito a sua visão da magia de que ela deve ser sobretudo prática e que é interessante ser possível observar o grau de evolução do magista por métodos mensuráveis, pelas suas alterações do mundo material. Porém, e esta é uma visão minha, eu acredito que outros tipos de magia também são válidos. Se você desejar, pode enviar um e-mail para o Peter Carroll perguntando se ele acha que um magista que não realiza alterações objetivas e mensuráveis no mundo material ainda pode ser chamado de mago. E pode ser que ele concorde com você. Porém, o interessante é que os caoístas não necessariamente concordam uns com os outros em vários pontos. Cada autor tem suas posições e vejo essa diversidade como positiva.
Mas vamos supor que há realmente magos “falsos” que possuem apenas a ilusão de serem magos e que possuem pouco desenvolvimento mágico real. Eu acredito que cada um possui seu tempo e seu ritmo de aprender as coisas. Se a pessoa A superou essa limitação específica bem rápido e avançou muito mais do que a pessoa B, que está presa nessa ilusão, ainda assim pode ser que a pessoa B esteja mais avançada em áreas (sejam elas mágicas ou não) que a pessoa A não esteja. Mas não sei se faz muito sentido haver uma competição desse tipo, a não ser que o objetivo do magista seja adquirir poderes psíquicos cada vez mais poderosos. Se este é o objetivo desse magista, também não há nenhum problema nisso. O problema pode ser ele defender que todos os magistas sigam o mesmo caminho e da mesma maneira. Até mesmo em religiões como o catolicismo, em que há um livro sagrado e dogmas, os padres discordam uns dos outros em diferentes pontos e o papa pode propor novas alterações. Desde Lutero existe uma ênfase em novas possibilidades de interpretar a Bíblia. Isso significa que todas as interpretações são possíveis? Não. E nem no caoísmo. Porém, uma das metas do caoísmo é ampliar a possibilidade de ideias e experimentos. E o caoísmo pode perder muito de sua força em momentos em que se estabelecem definições absolutas para o que seja um mago e a magia.
Olá pessoal,
Discordo da opinião do D,
Vejo a Kaos Brasil como uma lista de discussão sobre magia do caos na qual existem muitas pessoas que pensam igual e muitas que pensam diferente, Não me recordo de ver nenhum posicionamentos do “grupo kaos-brasil” quanto a se focar mais nos aspectos internos ou externos. Pode um ou outro integrante do grupo interno ter se posicionado, porém até onde sei, ele falou em seu nome e não em nome do grupo.
A lista funciona como um “Adro” e o “processo seletivo” é um Jogo Magico chamado Caos o Jogo, no qual o iniciante (que ganha o nome de incauto) é colocado dentro de um paradigma e recebe instruções de práticas e acompanhamento. O foco, até onde sei, é instrumentalizar os indivíduos e possibilitar o autoconhecimento. De posse de alguns Arcanos e dominando praticas básicas, cada um pode brincar como quiser…
Ah, recordei agora dos seminários sobre servidores, sigilos, etc e dos servidores que foram disponibilizados para o público. Dentre eles, existe um específico para criar sincronicidades para os indivíduos se reunirem… ou seja, o trabalho não é apenas interno.
Forte Abraço
Bem vinda de volta. Sentimos sua falta.
@Wanju – Obrigada!
Acho bem real esse não conflito imediato, tanto que o Liber KKK, faz um mistery magic tour pela história, ou estória, vai saber da magia, e ao fim você tem maneirismos de varios sistemas e a medida do deu metasistema de trabalho. O universo é um d20 de dungeons e dragons, escolha sua face, vai que é um critico, e se não for, sempre tem a próxima rolagem.
@Wanju – No Liber Kaos Carroll nos presenteia com dezenas de páginas de cálculos e gráficos somente para demonstrar o quão difícil é tirar esse crítico. Mas nesse ponto o cara se divertiu tanto fazendo cálculos que provavelmente nem precisa mais do resultado da magia, hehe.
Mas, de certa forma, quando a percepção do mundo é modificada, o mundo inteiro também é. Eu creio que a “iluminação” não é bem “chegar finalmente nalgum céu estranho”, mas sim continuar neste mesmo espaço-tempo, nesta mesma substância, mas “contemplando as coisas como realmente são”… É claro que, mesmo neste caso, há vários graus de “como realmente são”, o que dá vários graus de “iluminação da visão”, mas no fundo tudo ocorre aqui dentro… E não vejo como poderia ser de outra forma: lá fora está o aro, aqui dentro, o eixo.
@Wanju – Exato! Ou, como diria Carroll, “a dualidade entre espírito e matéria desaparece no novo paradigma”
Quer dizer que vamos ter mais post seus? Obaaa hahaha
E qual a sua opnião sobre o Jason Louv?
@Wanju – Com certeza, hehe. Eu acompanho o Ultraculture. Já faz muito tempo que tenho vontade de ler um livro do Jason Louv, o que espero fazer no futuro.
Wanju melhor colunista! RS Rules! \o/
@Wanju – Haha, quem dera. Valeu!
Wanju, sou iniciante nos estudos e práticas ocultistas e um livro seu, o Grimório da Insolência, quando caiu nas minhas mãos (ou mais precisamente no meu HD) causou uma reviravolta no que eu entendia por magia e realidade e fritou meu cérebro. Houve um pouco de resistência da minha parte, afinal fora o meu primeiro contato com Magia do Caos, mas eram idéias tão insanas e revolucionárias que não teve jeito: a semente da discórdia havia sido plantada e vingou. Devorei outros livros sobre o assunto e hoje considero a ideia de fundamentar minha senda nos conceitos caoístas, mesmo utilizando práticas “tradicionais” num primeiro momento. No entanto uma dúvida me tem feito hesitar ao prosseguir com essa vertente: como é possível trabalhar no Caos a iluminação? O que me trouxe ao Ocultismo foi justamente essas idéias de descoberta da Verdadeira Vontade, despertar de uma consciência cósmica e o conhecimento desse Eu Superior. Como esse religar pode se manifestar na Magia do Caos independentemente de crenças?
@Wanju – Obrigada por ler meu livro, Alexandre! Fico contente em saber que aquilo que escrevi te ajudou a repensar suas ideias sobre magia e realidade, pois acredito que devemos nos desafiar constantemente nisso. Eu adorei a sua pergunta! É muito pertinente. E tenho boas notícias: você não precisa abandonar nada que você acredita, se não desejar fazê-lo. No caoísmo geralmente adota-se o menor número de princípios fixos e se usa a crença como ferramenta. Porém, caso você decida que a iluminação, a Verdadeira Vontade, o despertar de uma consciência cósmica e o conhecimento do Eu Superior são muito importantes no seu caminho, mantenha esses objetivos. Muitos caoístas optam por manter um grande número de princípios fixos, além de variadas crenças (muitos acreditam em Deus, por exemplo). Isso não os torna menos caoístas. Afinal, a Magia do Caos explora muito a ideia de magia individual e novas possibilidades: o seu jeito único de interpretar a magia e de realizá-la. Sendo assim, você não precisa abandonar crenças suas com as quais você se identifica para tentar se encaixar num modelo do que o caoísmo seja, pois a proposta é exatamente que não precisamos nos encaixar num modelo já pronto que explica o mundo. Podemos desenvolver o nosso. Isso é frequentemente mais importante do que tentar se libertar de muitas crenças para testar diferentes sistemas. Afinal, não é possível viver fora de um paradigma e até mesmo o meta-paradigma caótico não deixa de ser um tipo de paradigma, por mais paradoxal que pareça, então você não precisa se aprisionar nele também. Utilize o jeito de pensar caoísta (que na verdade é algo múltiplo) enquanto ele te serve. Pode trabalhar com magia tradicional à vontade e usar os conceitos dela. Todos os caoístas possuem crenças absolutas a respeito de algum aspecto da vida, então não seria diferente na magia. Eles apenas tentam se soltar de algumas coisas de vez em quando para ver qual é a sensação de voar, mas vez ou outra lá estão eles caminhando sobre os dois pés outra vez, o que nunca deixa de ser uma experiência repleta de possibilidades. Também dá para tentar caminhar no ar e voar no chão; por que não?
Só passando para parabenizar sua paciência e vontade em escrever tanto para explicar os paranauês e seus pontos de vista.
@Wanju – Valeu!
huhuhu sempre q penso nesses dois contra pontos, tradicional ou moderno, me vem as palavras do velho da montanha: nada é verdade, tudo é possível…. ou algo assim XD