Já pararam de fato para pensar nisso? Talvez com o romantismo da adolescência isso soe de algum modo prático e funcional, mas há uma questão conflituosa neste ponto. Se pensarmos bem, esse tipo de motivação está intimamente relacionada ao fato de que não existem tantos mestres por ai afora (incluindo ironicamente os diplomados) e que ao desejar isso é por que esperamos alcançar algo que está além da nossa realidade. Sendo assim e descartando o primeiro motivo, o fato de não sermos aptos a fazer algo ainda, significa inexperiência e portanto uma distinta e distante posição dos mestres. Assim sendo, como ser aquilo pelo qual almejamos se ainda somos iniciantes, ou nos termos do gueto… neófitos?
Nossa carne ainda tem muito em que se espetar e sofreremos devidamente cada arranhão. Serão estes, pois, demonstrados como troféus da labuta e quando por fim chegarmos ao ponto áureo de nossa jornada o ser mestre parecerá ainda longínquo como o próprio horizonte.
Esse conflito nada mais é do que um jogo de sedução, pois quanto menos se possui mais se deseja. Vale ressaltar que o motivador é bom somente enquanto formos capazes de não nos confundirmos com ele, nossa integridade deve permanecer, senão perderá o sentido/nome se tornando qualquer outra coisa…
Mesmo assim convenhamos que há de fato necessidade de se reconhecer o mérito, ainda que esse auto reconhecimento ocorra tão somente por intermédio deste Eu, nosso, que vive no outro. A soberba, o orgulho, o peito inflado, o status é tão somente pó inútil do qual deveríamos lidar com flanelas ou espanadores. Livrar os olhos destes brilhos ajuda a não perder o foco e como bem sabemos, o foco é o quinhão do momento. Brindemos ‘pois’ a cada boa conquista, sem gritar como os embriagados (sentiram o Eliphas?), sem enfraquecer no que é de fato importante que é aquilo que continua a desenvolver-se… pois, logo quando o sorriso passa, o que ficará no lugar se nossos olhos ainda estiverem inebriados?
Ser seu próprio mestre é em si um desafio aterrorizador, ou deveria, mas as tantas literaturas new age, filmes hollywoodianos e etc., tornam o “SER – mestre” um produto acessível em qualquer conveniência. E o pior é que isso é verdade!
O mestre não é e nunca foi, como nunca será, o clichê que pensamos ser ou que chegamos a imaginar. Talvez já tenha sido, na época em que ser mestre era ofício; mestre no sentido de ter pala de mestre: barbas longas (perdão às mulheres, mas bem sabemos todos dos machismos de outrora), vestes sacerdotais, olhar penetrante, palavras certas e todo tipo de fetiches do personagem. O mestre é tão somente aquele que por força da situação está preparado mesmo que de forma inusitada. Há de se considerar levemente que os bêbados, os loucos e as crianças tem um certo quê deste tipo-mestre…
Se bem nos permitirmos olharmos com mais cautela para as coisas ao redor podemos nos deparar com nosso mestre sem nunca nos darmos conta disso na vida. Esse mestre, que não somos, mas que está em nossos olhos choraria amargamente se não fosse mestre e já não soubesse do descaso destes novatos que somos. O desprezo ao olhar no justo momento o plástico que envolve o chiclete que contém em si dizeres tais que mudam nossa vida, faz com que a vida não mude um mísero centímetro sequer, mas somos jovens e isso tudo é permitido. E o plástico cai de nossas mãos sem ter significado nada além do que o açúcar nos permite, voando silente e insignificante tanto quanto o significado que nos permitimos doá-lo. Isso tudo poderia até comover, mas só comove o gari que tem mais uma partícula de sua tonelada diária para recolher.
Esses insights, intuições, eurecas nada mais são do que as intervenções deste mestre em potencial que somos para o calouro que de fato contamos a todo instante. É a velha balança que nos enxerta um ritmo do qual poderemos ser espectador, músico acompanhante, solista ou regente. Essa escolha há de parecer não ser nossa, mas o mestre sabe que sempre fora nossa e ri prazerosamente, por que rir é para os mestres como o chorar é para os fracos! E o silêncio envergonha a todos.
Este é um bom momento para o ato de se retirar, pois, tão claro como a regra ‘geek-iluminati’ nos adverte: não tem como um jogo funcionar se um bug já deu o ar da graça, mesmo que o primeiro estágio já tenha sido iniciado, no mínimo o save vai dar o trava final e levar as boas risadas há um choro emputecido. Raro aquele que não tem uma mísera partícula de esperança e permanece no lugar acreditando que na verdade o mestre está em algum outro canto escrevendo textos em folhas de ouro para o seu mais puro e fiel aluno, num futuro distante qualquer. É assim que morrem os filhos e ficam os pais emburrecidos pelos seus próprios mimos acreditando realmente que a vida existe para ser pano de fundo para as nossas vãs crenças. E quando o corpo definha por falta do fôlego vívido seria o momento em que o mestre choraria se este não esvaísse junto com o olhar que esfria. Mas ainda assim há sempre um novo dia, como a esperança que se implica como agonia.
Ser seu próprio mestre é, portanto, não esperar encontrar esta resposta aqui, desde já em canto algum, mas abrir-se à resposta como se esta já estivesse sempre ao lado esperando na verdade do olhar um mísero perceber… já que é certo que Ele ri… e que Ele chora… rindo… chorando… cooptando sincronicamente.
Djaysel Pessôa
Respostas de 2
Na minha interpretação entendi que ser seu próprio mestre está muito ligado a nossa intuição, partindo desse ponto deveríamos ouvir nosso intimo pois ele nos dá as respostas dentro da nossa própria rotina diária.
É possível sim falar que o que eu disse trata-se apenas da nossa consciência moral ou ética, porém acredito que é possível distinguir consciência de intuição. Como disse acima, é algo que devemos buscar no nosso íntimo e esse é o caminho que podemos seguir individualmente.
ROFLMAO