“Vislumbrei na minha imaginação o espetáculo de um grande rito pagão: os antigos sábios, sentados em círculo, observavam a dança da morte de uma virgem que estavam a sacrificar para propiciar o favor do deus da Primavera” (Igor Stravinsky)
Considerada na época um insulto as regras da composição musical, sua estréia foi um escândalo quase sem precedentes na história da música. Stravinsky conseguiu despertar a fúria dos críticos, parte da platéia foi embora, mas os que ficaram foram iniciados nesta nova e nada fácil linguagem musical do século XX.
O ritual é dividido em duas partes com as seguintes cenas:
Adoração da Terra
Introdução
Os áugures da Primavera: Dança das adolescentes
Ritual do Rapto
Dança de Roda
Disputa entre clãs rivais
Cortejo do Sábio
Adoração da Terra
Dança da Terra
O Sacrifício
Círculo místico das adolescentes
Glorificação da Escolhida
Evocação dos Espíritos Ancestrais
Ação Ritual dos Ancestrais
Dança Sacrificial da Escolhida
A obra é inspirada na Mitologia Eslava. O sacrifício da jovem é dedicado à Yarilo, divindade que representa a vegetação, a fertilidade e a primavera. Filho de Perun, deus do Trovão, Yarilo era representado por um jovem montado em seu cavalo que vem do além-mar, trazer consigo a primavera.
Esperançosos de que suas sementes gerassem frutos, no início de cada Primavera, as aldeias coroavam uma virgem como rainha de Yarilo. Esses rituais eram acompanhados por canções que chamavam Yarilo para trazer a primavera e abençoar as plantações.
Mais tarde a igreja transformou Yarilo em São Jorge, o cavaleiro montado no cavalo branco que enfrenta o dragão.
Na vanguarda da música
O compositor russo Igor Fedorovich Stravinsky (1882-1971) foi aluno de Nikolai Rimsky-Korsakov, que lhe ensinou Análise Musical e Instrumentação. De fato, suas primeiras obras foram marcadas pela influência de Korsakov.
A produção musical de Stravinsky divide-se em três fases principais: ” russa”, “neoclássica” e “dodecafônica”.
Na Europa, trabalhou com diversas personalidades dentre eles Picasso, Gide e Cocteau. Em 1939 fugiu da Guerra para os Estados Unidos, onde passou seus últimos anos em companhia de outros emigrantes em Hollywood.
Conheceu o dodecafonismo de Shöenberg e passou a aplicá-lo em suas obras. Suas composições mais notáveis nesta época foram Agon, e, principalmente Threni: id est Lamentationes Jeremiae Prophetae.
As obras de Villa-Lobos, Hindemith, Messiaen, Britten, Poulenc, dentre outros, não seriam as mesmas sem as inovações de Stravinsky. Sua arte ficará marcada como o retrato musical do século XX.
Links para a obra:
Música não é feita apenas de palavras, por isso para que vocês, amigos leitores, realmente compreendam esta obra, se faz necessário a sua audição.
Sagração da Primavera, dividida em quatro partes.
Este trecho do filme “Coco Chanel & Igor Stravinsky“ (France, Jan Kounen, 2009), reconstitui o escândalo na estréia da “Sagração da Primavera” em 1913 no Théâtre des Champs-Elysées, Paris.
Referências
Deutsche Grammophon Collection.
História da Música, Otto M. Carpeaux.
Fabio Almeida
Respostas de 7
Ótimo post… parabéns! ^^
Interessante o texto, ainda não ingressei em estudos sobre Mitologia, mais cada texto me interessa mais sobre o assunto, quem sabe num futuro proximo, agora estou dedicado a estudar hermetismo por alguns anos.
Tive o prazer de assistir essa obra ao vivo na OSESP, creio que em 2008. Eu não entendo nada sobre música, então fui esperando que uma composição com “primavera” no título fosse ter melodias doces e alternantes, contando talvez histórias de flores e vida.
Qual foi o meu assombro quando ouvi aquela performance poderosa. Eu não sabia qual era a história por detrás da composição, mas naquele momento eu senti que Stravinsky estava contando a história de uma primavera sangrenta, cheia de ritos de passagem da adolescência para a vida adulta, do jovem caçador que precisa vencer o Gamo-Rei para se deitar com Virgem e fertilizar a terra.
Fico feliz de rever essa música por aqui. Um abraço!
Muito bom o seu texto! Percebo bem a inspiração de Villa Lobos.
sinceramente a primeira vez que ouvi falar de Stravinsky foi quando procurei as influências do grupo satanique samba trio, inclusive recomendo que ouçam aqueles que gostam de um som mais experimental.
Neste blog não poderia faltar tal obra…Gostei muito do texto. Sanou minhas curiosidades uma vez de não dispor de tempo para ir mais a fundo na questão mitológica sobre essa obra! Como graduando em música lhe parabenizo este tópico. e 99% do que foi dito acima é FATO!
agora eu venho a discordar sobre as influências que alguns dos compositores citados acima tenha recebido. O Hindemith é fato que recebeu com aquele neoclassicismo dele (que acho ”um stravinsky de camelô” – opinião minha rsrsrs).
Agora Messiaen está longe de Stravinsky. Stravinsky como foi dito acima e está correto compôs frente as 3 linhas da época dele. Messiaen partiu para a radicalização de apenas uma linha: o dodecafonismo. E a obra de Messiaen é um caso bem a parte se levarmos em consideração o estudo minucioso que ele fez sobre pássaros e o fato dele ser sinestésico (aproveito para perguntar porque não tive tempo de ler o blog todo: vc fala bastante de sinestesia? se sim por favor me indica a matéria que gostaria de ler pois me interessa muito se não fico no aguardo pois tenho certeza que tens como abordar tal assunto). E fora outros tópicos composicionais que ele mesmo desenvolveu em sua obra e que influenciou uma série de grandes nomes posteriores a ele!
Sobre os demais compositores vou realizar uma pesquisa para ver se houve a influencia stravinskiana, e se houve, como esta se deu…..
Eu nunca li esse livro do Carpeaux, mas princialmente essa parte sobre o Messiaen eu vou procurar nesse livro e dependendo do caso levarei tala ssunto aos meus professores na faculdade!
gostaria de pedir um post sobre o compositor Scriabin, que tenho certeza que deva conhecer e é um dos Reis do Ocultismo!!!
Muito bom esse texto sobre a espetacular A Sagração da Primavera.Sou apaixonada por esta obra desde a primeira audição.