RIO e a Kabbalah


A Animação RIO, de Carlos Saldanha, é um desenho muito bem feito que se tornou um sucesso de público e crítica em todo o mundo. Ele narra a jornada do herói, nos melhores moldes da Árvore da Vida, trazendo todos os seus principais elementos.

Kether – Retratado no Início do filme, é a Floresta paradisíaca e livre na qual os pássaros podem voar e exercerem suas Verdadeiras Vontades. Ele é retratado como sendo o próprio Rio, visto em um cenário colorido, exuberante e perfeito.
Hochma – Também no início do filme, retrata o Paraíso onde todas as possibilidades são infinitas e todas as cores se mesclam na Natureza.
Binah – Representa a restrição desta liberdade e o confinamento dos espíritos livres na Matéria (representada pelas jaulas nas quais os pássaros estão aprisionados).
A partir desta comparação com a expulsão de adão e Eva do paraíso, nossos protagonistas também são expulsos do Paraíso e aprisionados em jaulas das quais são privados da capacidade de voar. Seu carcereiro e guardião saturniano será representado por Nigel, como veremos mais abaixo.
Tentando dar o mínimo de Spoilers possíveis, a história gira em torno do herói Solar Blu, que representa Tiferet, o Iniciado que passará por diversas provações para manifestar sua Verdadeira Vontade. Como todos os Heróis, ele é único em sua característica (é o último pássaro de sua espécie).
Sua irmã-esposa é Jade, que representa a Lua, ou Yesod. Ela começa o filme aprisionada na caverna e o Herói é levado para realizar com ela o Casamento Alquímico, mas antes que ele seja consumado, o Dragão (ou Saturno/Daath antes do Abismo) os aprisiona.
A Imagem alquímica a seguir fará mais sentido para quem assistiu o filme, mas representa a águia do espírito acorrentada ao Camaleão do Corpo.
Isso é refletido pelas personalidades de Jade e Blu e de sua relação durante todo o desenrolar da história.

Em paralelo á Jornada de Blu estão seus protetores, Hod (a Razão, personificada na figura de Linda, a extremamente regulada e certinha livreira; livros e símbolos, aliás, são a principal característica desta Esfera, guardiã dos deuses escribas como Toth-Hermes).
Do outro lado, Túlio representa os aspectos entregues, caóticos e amorosos de Netzach, tal qual as cachoeiras de Oxum, seus movimentos são amplos e movidos pela emoçao sobre a razão.
Em reflexos menores, temos os dois pássaros Pedro como conselheiro racional e Nico como auxílio romântico e sentimental do casal, também ocupando estes papéis em um Microcosmos.
Nas Esferas mais altas, temos o grande mentor e conselheiro do Casal, o Tucano Rafael, que exerce a função de Chesed, tal quam Merlin aconselhando Arthur em sua jornada na busca pelo Graal; e o cachorro Luiz representando a energia da guerra de Geburah na figura de um bulldogue. Luiz, aliás, trabalha justamente em uma mecânica e é representado sempre próximo do trabalho com o Ferro (como os filhos de Ogun). É ele quem consegue romper as primeiras amarras entre o Espírito e a matéria.
Malkuth é representado pelas favelas, pelos micos (o chefe dele sendo retratado sempre coberto de badulaques de ouro) e pelo Rio de Janeiro visto sob a perspectiva dos pássaros que não podem voar. A ligação entre Nigel e os Micos (Saturno/Terra) bem como os outros vilões do desenho, como obstáculos principais a serem vencidos na jornada, até literalmente o Salto no Abismo no qual o Iniciado se confronta sozinho com seus medos. Nesse momento ocorre o retorno ao Paraíso Perdido e o Verdadeiro Casamento Alquímico. Fica também a lição que cada pessoa que se ilumina verdadeiramente, também auxilia outras a alcançarem suas Verdadeiras Vontades, na figura dos pássaros libertos pela coragem de Blu e Jade em enfrentarem seus captores.

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Respostas de 31

  1. Impressionante. Simplesmente impressionante. Ví o filme e tenho de dizer que os papeis caem perfeitamente em cada personagem.
    Contudo, tenho uma dúvida, @MDD :
    Se Daath significa “compreensão”, porque sempre é considerada como algo a ser vencido ou ultrapassado ?
    Compreender o Todo não é algo necessário para vivenciar o Todo em plenitude, ou mesmo projetar a possibilidade de passar a outro estágio (como na sobreposição das árvores) ?
    Por exemplo : Para poder ultrapassar Kether no elemento material, não teria o Iniciado de compreender (ter domínio, nem somente do entendimento de Binah e Hochma, mas de Daath e do próprio Abismo) neste elemento, antes de iniciar sua jornada em direção ao espírito, e, só então, à mente ?
    Entendo (ou penso que entendo) que “compreender” no sentido de “acordar” de uma “infância espiritual” é algo traumático e, muitas vezes, traz loucura e desespero, por introduzir a noção de verdadeiro Caos, de Infinito, em uma vida humana, geralmente estruturada sob dogmas e verdades. Que, muitas vezes, desperta os demônios internos por introduzir facilmente na mente humana que “nada é verdade, tudo é permitido” (adoro essa frase do jogo Assassins Creed). Ainda assim, é algo importante e, eu diria, um verdadeiro tesouro inestimável, poder sair do fluxo e da realidade-padrão, não ?

    1. Desculpe me meter e me corrijam se eu estiver errado, mas Daath não é “compreensão” ou “entendimento”, mas seria melhor expressado como “conhecimento”. A compreensão, que seria Binah, só vem depois do Abismo de Daath, ou seja, só superando a dualidade que é inerente ao conhecimento, que se chega à compreensão ou entendimento real das coisas, Binah, que é o portal de todo o Terceiro Ternário, por ser a primeira de suas sefirah na ascenção… Depois de obter a compreensão, você se expande para a sabedoria e daí para a “fonte”. Daath não é algo ruim, pelo contrário, para entender você primeiro precisa conhecer, mas conhecimento por si só não gera entendimento, sabedoria e nem o “pulsar com o coração da fonte”. Só o conhecimento transmutado pelo entendimento, une os opostos e dissolve a dualidade que há abaixo do abismo, por isso se diz tanto em vencer Daath, cruzar o Abismo, etc. Ali o peregrino terá que alquimizar todo o conhecimento que acumulou na sua jornada, fazendo uma “coniunctio”. É como um “forno” para “fundir” todos os elementos ou todas as vivências e conhecimento das outras esferas na Pedra Filosofal e como todo “forno”, é uma passagem árdua, pois integrar opostos está acima de qualquer pensamento, e é a maior chance de piração total, pois não pode restar nem um traço de nenhum elemento isolado, tudo deve ser fundido em um. Do conhecimento em si, para o entendimento e a sabedoria, é praticamente um “salto quântico”… Acima, nada é dual, pois tudo é uma coisa só… vai entender… ainda não entendi, pois se entender de verdade, em todos seus nuances, terá chegado lá…rs
      OBS: não separei material, espiritual e mental, mas o desing da coisa é por aí, ao menos como aprendi.
      @MDD – Mas sem o Dragão, o que seria do heroi?

      1. “Sem opostos, não há progresso”. Sem Dragão, não há herói e no fim, o Dragão e o herói são um só… rs… o “Dragão” é a sombra do herói, diria Jung. Tecnicamente posso dizer que tenho um insight de como funciona, mas saber o que um médico faz, não lhe torna um, não é mesmo?rs… Só se você compreender tudo o que ele faz, poderá ser um. Obrigado pela pergunta. A resposta só pode ser uma integração, diria do não-ser com o ser, que é uma das “chaves” de Daath.

      2. Nos mitos e contos mais “completos”, o Vilão/Dragão é exatamente quem cria o Herói.
        O Vilão mata os pais do futuro Herói, ou destrói a aldeia deixando “sem querer” somente o Herói ainda criança vivo. Com a perda dos pais, a imagem do Vilão/Dragão se torna a identidade paterna (ou masculina) com quem o Herói se identifica e em torno da qual o Herói constrói sua própria identidade.
        Quando, décadas depois, o Herói confronta o Vilão, confronta a si mesmo, ou outra versão de si mesmo, com a qual ele não concorda. Ao mesmo tempo, é uma versão que já conseguiu se tornar o “melhor de si mesmo”.
        Quando o Herói vence o Dragão, diz-se que ele estaria vencendo suas próprias limitações, aquilo que o impede de ser tudo que pode ser. Mas isso, na prática, é apenas a alteração do conjunto de valores morais aceitos pelo Herói – ou pelo grupo que ele representa.

  2. Tão interessante quanto o post é o lugar que está escrito o site hahahaha auspicioso eu diria

  3. Hércules, minha animação favorita da Disney, também se enquadra nesse modelo.
    Mas o mais interessante em Hércules é que os personagens que representam os arquétipos são caracterizados com a mesma cor da Sephiroth correspondente (coisa que só reparei ao ver o filme esse ano rs)

  4. Também no início, na floresta paradisíaca, o Blu cai da árvore em qual nasceu e se vê confuso e perdido no chão até ser enjaulado. Kether -> queda através da árvore da vida -> malkuth. Tá certo?
    Fodão o filme *.*

  5. Hmmm e haverá alguma razão para muitas das histórias terem esta estrutura?
    Os seus autores estão cientes do que fazem ou é mais por ‘coincidência’?

  6. Show de bola, Tio!!
    Um dos posts mais legais e criativos dos últimos tempos.
    Agora ,para ficar melhor ainda, poderia atender minha sugestão, né, e fazer um post “Lost e a Kabbalah”…!
    Ah, sim, já ia esquecendo (antes q vc diga.)…fritas acompanhando, por favor…rs 😉
    Abraço;
    Lu 😉

    1. ou melhor ainda. O MDD poderia fazer um post sobre battlestar galactica e a kabbalah, essa sim é a melhor série ever! ela fala sobre politica, religião, moral, etc.
      MDD já assistiu essa série?
      @MDD – Nao… mal tenho tempo pra acompanhar o Dr Who… mas se alguem quiser fazer e me mandar eu reviso pra ver se a parte teorica faz sentido.

      1. Battlestar Galatica? Faz Babylon 5!!!
        “We are Rangers.
        We walk in the dark places no others will enter.
        We stand on the bridge, and no one may pass.
        We live for the One, we die for the One.”
        Ah muleque!

      2. meu conhecimento sobre a kabbalah é quase insignificante, mas vou rever a série e vou tentar encaixar na árvore da vida, depois levarei para o mayhem para ter outras opiniões.

  7. Marcelo, você acha que nesse caso elementos “ocultos” (não necessariamente a cabala, mas a jornada do herói, por exemplo) foram pensados na construção do filme? Ou seria coincidência, ou ainda estarmos vendo chifres em cabeça de burro?
    @MDD – Foram pensados.A escolha das profissões dos protagonistas e suas correspondências corretas, além de outros detalhes são precisos demais para serem “sorte” ou “coincidência”.

  8. Cara, sensacional!
    Animação muito bem feita e divertida!
    E, na minha opinião, o ponto alto do post tá no lance da corrente. Ali não restou qq dúvida pra mim.
    Ah!
    E como leitor carioca,
    Muito Obrigado!

  9. MDD,aproveitando o clima de Fabula do post,vou aproveitar pra tirar uma duvida:
    Tou fazendo uma pesquisa sobre Contos de Fadas.Ja consegui os 8 volumes da tradução brasileira dos contos originais da compilação dos Grimm(apesar da nossa versão contar apenas com 99 dos 210 contos).
    Agora tou buscando fontes mais antigas,com versões mais proximas dos originais,com o tm mais sóbrio e de alerta em vez do entretenimento infantil,porem ta bem dificl de achar.
    Vc conhece alguma obra sobre o tema MDD?ficaria extremamente grato se puder me dar uma dica.
    @MDD – Só em inglês… eu me lembro de quando era pequeno ter em casa um livro sobre “Contos de Carouche” que eram bem macabros, bem próximos dos originais, mas nunca mais consegui encontrar este livro; estava em portugues mesmo e deve ser da década de 50-60.

  10. Legal o post, mais legal ainda seria “A Árvore da Vida e o Rei Leão”. Lembrei da história agora e tem muita simbologia na história do Rei Leão, o Simbá foge, vaga pelo deserto, é aconselhado por um macaco mago, volta para retomar sua coroa do rei impostor que está acabando com a vida no antigo reino e restaura a ordem com uma batalha épica.

  11. Marcelo, achei legal a intenção bem humorada e divertida. Na verdade as vezes sinto falta de alguns momentos divertidos assim por aqui.
    O que me incomoda e eu já peço desculpa por ser repetitivo (e talvez chato) é que vira e mexe existe uma ligação com “pobreza de espírito” e pobreza material. Acaba mais uma vez reiterando a crença na teoria do mundo justo (que pra mim é uma maneira de culpabilizar as vítimas para não perder a crença no “mundo justo”).
    Acredito que é um bom mecanismo psicólogico para quem quer viver uma vida mais tranquila.

  12. Olá
    Divertida a analise. Ainda não vi o filme, mas é uma perspectiva interessante.
    Daat e malkuth tem uma relação peculiar certo? Ja esbarrei de leve em um material que falava que “a queda” é relacionada à esfera que era daat caindo à terra(Lúcifer).
    Essa informação procede Tio?
    Teria algo a recomendar, para que eu possa me embrenhar mais no assunto?
    Obrigado

  13. DD, não é o assunto do post, mas achei bastante interessante e gostaria de saber sua opinião.
    Depois de ler sobre uma exposição em Bogotá explicando detalhes do calendário maia e suas ligações com 2012, soube que, apesar de toda exploração comercial e da questão de ser um calendário, há uma profecia associada a determinado achado histórico. Segundo os especialistas, os maias não costumavam fazer profecias por considerar o tempo de maneira não linear, mas fizeram uma exceção. Na profecia citada, falam sobre a vinda de Bolon Yokte, uma divindade que, além simbolizar guerra, conflito e submundo, também é representada como parte da Criação.
    Com certeza, são fatos simbólicos, não literais. Além disso, não me parece esquisoterismo, já que é raro ver arqueólogos esquisotéricos. Mas qual sua opinião?

  14. Marcelo, quem fez o filme sabia o que estava fazendo ou a correlação com a Árvore da Vida foi “sem querer”, já que o arquetipo do heroi que enfrenta as dificuldades com o auxilio de seus amigos e no final vence o inimigo mortal, terminando num felizes para sempre, já esta no inconsciente coletivo e é bem visivel na nossa cultura?
    @MDD – Estava pesquisando isso; no Rio descobri que o Carlos Saldanha é Umbandista, o que resolve o Mistério: quem fez sabia o que estava fazendo.

  15. Marcelo,
    Prepara essa relação para o filme “Tron, Legacy”. Ele é da Disney e embora não tenha sido um imenso sucesso, é um bom filme e que dá pra tirar as relações de cara.

    1. Quem tem filho pequeno, acompanha bem de perto a maioria dos lançamentos.
      Outra animação onde mitologia espirra para fora da história é “Enrolados”, detalhe por detalhe, até mesmo no número de raios da insígnia real. A única novidade, é que o personagem solar é a heroína.

      1. Putz! Eu acompanho tudo quanto é animação e Enrolados entrou pra minha lista de “melhores que eu já vi”.
        Vou ver de novo e reparar mais para tentar fazer um “Enrolados e a Kabbalah”, valeu pela lembrança.

  16. Marcelo,
    Mais duas sugestoes para uma analise de acordo com a arvore:
    1- Usar os deuses nordicos;
    2- Usar os “mundos” da Yggdrasil (se for possivel caso não seja muita loucura).
    @MDD – Eu já fiz isso, inclusive com as runas nos Caminhos… está em algum lugar dentre os 1200 posts kkkkkk

    1. Vou caçar aqui então.. Vlw…
      Sempre um passo a nossa frente, quando a gente pensa ja foi feito…

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