Religião é uma palavra que provém do latim religare, que significa religiar-se ao divino. Pode-se defini-la, portanto, como sendo um sistema que tenta religar o homem a Deus.
Uma religião se caracteriza por seis aspectos básicos. O primeiro é a autoridade, a qual não se refere a uma autoridade divina, mas a pessoas com talentos e dons acima da média em questões de espiritualidade; suas opiniões serão buscadas e seus conselhos serão geralmente seguidos pelos seus adeptos. O lado institucional e organizado da religião requer órgãos administrativos e pessoas que ocupem posições autoritárias, cujas decisões carregam o peso da influência, as quais (ao menos deveriam ser) são os talentosos inicialmente citados.
O segundo aspecto é o ritual, o berço da religião. A religião surge do júbilo e da consternação, os quais pedem expressão coletiva. Quando esmagados pela perda, ou quando nos sentimos exuberantes, queremos interagir com as pessoas, tornando esta interação mais do que a soma das partes para que alivie o nosso isolamento. Além disso, aprendemos dos egípcios que a encenação dramática de princípios que facilitam o aprendizado dos mesmos. Repleto de simbolismos, os psicodramas são ferramentas que informam e inspiram para que possamos despertar o nosso espiritual. Isto remonta ao terceiro aspecto da religião, a especulação, já que as dúvidas são necessárias no contexto religioso – Para onde vamos? Por que estamos aqui? De onde viemos? E, obviamente, conserva-se tudo o que as gerações passadas aprenderam e legaram ao presente, como parâmetros para ação, formando um quarto aspecto da religião, a tradição.
O quinto aspecto é a crença. Embora muitas vezes a palavra religião seja usada como sinônimo de fé e crença, ela não é. Tanto uma pessoa religiosa quanto um cético ou um ateu possuem suas crenças. Afirma-se na religião, muitas vezes tão difícil de sustentar tal afirmação perante os fatos, que a Realidade está ao nosso lado, que o Universo é amigável, as melhores coisas são as mais eternas, etc. Por fim, a religião lida com o mistério, já que a mente humana não consegue sondar o Infinito pelo qual é atraída.
O que atualmente chamamos de religião está mais para o conceito de seita, que é uma reunião de pessoas que são separadas de um tronco comum e que seguem um chefe carismático sectário. Sempre que temos desacordos em determinados pontos de princípios morais, por exemplo, pode-se haver uma ruptura de um grupo de indivíduos e este vir a criar uma seita. Existem também seitas criadas por membros com iniciativa própria, mas não nos alongaremos nelas aqui. Desta forma, ao menos nesta linha de conceituação, as igrejas evangélicas e protestantes são seitas, ao invés de religiões.
As seitas rompem os seus adeptos da sociedade e os faz romper com a mesma. Surge aquele aspecto que os membros são especiais e os restantes são do mundo, porém o mundo pode ser salvo… As crenças de uma seita são inatingíveis, verdades absolutas, imutáveis.
Então, definindo aspectos para as mesmas, assim como fizemos com a religião, temos: sujeição mental (os membros são sujeitos às verdades do guru, às imutáveis “leis divinas”), exigências financeiras (pagam quantias exorbitantes que são o ganha-pão da instituição) e ruptura (acham pertencer a uma elite especial e que os outros, de seu ambiente de origem, estão sujeitos a uma ilusão ou dominados por alguma espécie de entidade, por exemplo, fazendo com que fiquem fora da sociedade). Além disso, temos danos psicológicos e físicos aos seus adeptos, brigas por cargos, disputas de egos e tentativas de alterar o poder público para beneficiar os líderes do grupo sectário.
Por fim, temos as Ordens Iniciáticas, que visam conduzir seus membros à evolução moral, intelectual e espiritual, à Reintegração, através do aprendizado e da prática de princípios místicos universais. Por incrível que possa parecer, só se diferenciam das ordens verdadeiramente religiosas pelo caráter esotérico de seus ensinamentos (agora é hora de pensar – será que o que eu entendo por religião é de fato uma religião?).
Ordens Iniciáticas não são seitas, já que não são criadas de cismas, não seguem gurus, estimulam seus membros a serem livres-pensadores, respeitam a liberdade individual, estimulam a fraternidade, não possuem metas políticas e orientam ao progresso espiritual, intelectual e moral da humanidade como um todo.
Agora creio que devam entender o porquê do vídeo no início do texto e, ao menos espero, que na próxima vez que forem discutir religião, não discutam sobre seitas…
Respostas de 13
Concordo totalmente. E é justamente a perda de conceitos e significações básicas que geram muitas das dificuldades que temos hoje (e que teremos em dobro no futuro). As pessoas seguem ondas de pensamento e afirmações que se espalham como verdades imutáveis (e não só na religião !) e usam-nas como frases-prontas para a maior parte das ocasiões, chegando a lutar por elas, sem sequer saberem de que estão, efetivamente, falando !
As mais notáveis aplicações desse tipo de “opinião pré-fabricada” se dão justamente nas áreas onde há mais polêmica e mais “autoridades científicas” e “autoridades morais” expressando suas opiniões por meio da mídia. Homossexualismo, racismo, questões indígenas e ambientais…. basta vermos o movimento (agora já minimizado, mas apenas esperando um pouco de atenção para voltar) de repulsa a héteros e tudo que se prove não-homossexual, que, de fato, ocorreu.
Aliás, se eu tenho de deixar claro aqui que não sou homofóbico e que, de fato, pessoas muito próximas e queridas a mim são homossexuais, é porque a simples contestação do status quo sobre o tema é suficiente para que qualquer um seja crucificado imediatamente, em um movimento reflexo e impensado.
@jeffalves20 – C. G. Jung aponta diversas vezes a problemática de pegarmos opiniões e fatos e nunca questionarmos o porquê, chegando a citar que primeiro as coisas são criadas e depois que descobrimos os porquês. A dúvida é necessária! Grato pelas correções e obrigado pela contribuição que deixou em seu comentário.
Concordo plenamente!
Acredito que possamos pegar também os famosos “tricksters” dos antigos cultos/religiões, como Loki por exemplo…..tão “apedrejados” pelas “novas” religiões como causadores do mal e responsáveis por tudo o que é ruim.
Na verdade eram simplesmente seres que questionavam ou desestabilizavam o status quo, muitas vezes até para se atingir um propósito maior!
@jeffalves20 – Além de que “os deuses são internos”.
Loki, Hermes, Hod, ou o Coiote xamânico (nadaver com o do papaléguas lol), além de “trapaceiros”, são professores, que ensinam através dos seus truques…
Jeffalves20: Como assim os deuses são internos!? Que heresia! hahahahaha
Leonardo: Sim! Infelizmente a maioria das pessoas para na primeira leitura, enquanto os ensinamentos repousam na segunda e na terceira….
(ainda continuando com o exemplo de Loki)
Engraçado né que as “novas e VERDADEIRAS religiões” tratam Loki como a semente do mal, o coisa ruim,etc…..e Odin, que muitas vezes é alvo das “brincadeiras” de Loki, o considera como irmão…..
Vai entender….
@jeffalves20 – A abordagem do Marcelo Del Debbio (e, inclusive, de uma das maiores autoridades em mitologia, Joseph Campbell) a este respeito é justamente esta que eu te falei. Deuses são símbolos, representam arquétipos. Odin, Loki, Afrodite, Zeus, todos eles estão dentro de você, como arquétipos.
Jeffalves20: Desculpa se me fiz entender errado! Eu concordo cara! Na verdade foi uma “fala” irônica…..esqueci que a internet nao grava a minha expressão facial ao redigir o comentario hehehe
Mas sim cara, concordo tb com os deuses internos!
@jeffalves20 – Serviu para reforçar a ideia então… rsrsrs
Um aspecto interessante a ser abordado quando se fala em deuses, anjos, demônios, djins, etc, creio, é o aspecto da projeção. Todos esses arquétipos, que na verdade mostram facetas da personalidade humana e suas interrelações sociais e com o meio, costumam atuar inconsciente, na maioria das vezes, o que pode resultar numa projeção do mesmo: seja em outras pessoas, ou seja em imagens arquetípicas vistas em sonhos ou sensação de possessão, visões, desdobramento de personalidade, pois são muitas vezes repudiados pela consciência de uma pessoa, ou ao contrário, tão glorificado que não podem fazer parte dele, sob sua análise íntima interna, etc. A projeção é um processo inclusive presente nos atos de evocação, quando se projeta o arquétipo para fora do magista, como é também o principal meio dos fenômenos de comunicação com anjos, santos, demônios, etc, a exemplo da aparição em Fátima, que sob esta óptica foi uma projeção arquetípica típica da combinação de enegias de Yesod e Netzach. Pela corrente onda de mensagens de extraterrenos pelos amigos new age, creio que a projeção de imagens arquetípicas, principalmente de imagens com as quais o indivíduo possa manifestar sua sombra e anima/animus, pois são os mais comumente associados a uma imagem arquetípica, personificados e projetados, é um tema válido de um post. Não que eu desmereça qualquer mensagem, seja ela dita ser de N.S. de Fátima, um extraterreno de Sírius ou de um anjo/demônio/santo, mas desatrelar a mensagem de um ser externo para percebê la como uma mensagem de um arquétipo interno, tentando se comunicar com o consciente e fazê lo trabalhar com coisas que ele tem recalcado, creio, ajudaria muito a diminuir muitas confusões feitas precipitadamente nesses assuntos. Experimentar estados alterados de consciência é super interessante, mas isso deve ser atrelado a uma boa análise dos resultados. Não é a toa que chamam Yesod de Casa das Imagens, pois tem de tudo e tudo é muito distorcido e refratado. Há luz, mas há difração. Não sei se fui claro, tenho o péssimo hábito de ser obscuro, mas fica a ideia para uma futura discussão. Os arquétipos são internos, mas também estão amplamente cristalizados no inconsciente coletivo de tal forma que são praticamente personalidades autônomas dentro de nós mesmos, que podem tomar o controle, se houver descuidos. Isso tanto dignifica as mensagens, sonhos, etc, como os torna duvidosos. Uma coisa é certa: desprezar todo esse potencial é muito disperdício… Abraços.
Vocês poderiam criar um tópico com o “trízimo” do Valdomiro e do Malafaia também para ficar eclético kkkkk
@jeffalves20 – Ou do novíssimo Cristão Card.
O que eu acho engraçado é o pastor acreditar que houve no início qualquer desejo de criar uma religião nova e livre deste tipo de coisa …
@jeffalves20 – Acontece, acontece…
E o Edir Macedo dança mal pacas …
´´Não acredito em deuses que não dançam.´´
Fazendo um paralelo entre ordens e seitas, obviamente não podemos generalizar as instituições, mas há, de acordo com o conceito de ruptura citado no texto, muitos casos dentro das ordens iniciáticas, indivíduos contrários aos princípios que “acham pertencer a uma elite especial”, além também de brigas por cargos, disputas de egos e tentativas de alterar o poder público. Infelizmente não podemos nos desligar desta realidade.
@jeffalves20 – Os objetivos da seita são estes, mas numa ordem não temos isto como objetivo, o que não impede que alguns membros tenham esta ideia. Por exemplo, os indivíduos acham que pertencem a uma elite especial, mas a Ordem não diz que ele pertence, apontando justamente o contrário, mas, no caso de uma seita, o próprio guru aponta que os membros são de uma elite especial.
Acredito que sempre haverão aqueles que tencionam apenas usar as instituições e ordens para seus próprios objetivos, escusando-se do mote e dos objetivos com quais as mesmas foram erigidas.
Não sei se a comparação está certa, mas imagino que estes são os verdadeiros homens-demônios, vivendo em um mundo de cascas vazias, de Qliphoths, onde o princípio criador, regenerador e gerador de sentido se esvaiu, e tudo que resta são moldes e sistemas (no caso, de poder) que são usados em sentidos opostos ao original, corruptos e sem futuro palpável.
Mais ou menos uma comparação entre a igreja (no sentido de todas as congregações) cristã primitiva e a besta, a prostituta e o dragão, se imaginarmos estas entidades como a corrupção e a perda de conexão da mesma com seus princípios criadores.
Será que o profano e o execrável não é criar a dor, o sofrimento e o “mal”, mas fazê-lo a partir do trabalho de outros, pervertendo e destruíndo a obra já criada, talvez mais valiosa que a própria vida do criador ?
Os pivetes demogays acham que pertencem a uma elite especial.
eu já falei muitas vezes a amigos que acredito mesmo é em Odin, Loki, Tyr, enfim, todo o Panteão nórdico.
Acho que tem muito mais fundamento e muito mais fácil pedir ajuda às entidades, ou deuses internos, certos na hora certa do que pedir tudo para Deus… me parece simplificar demais as coisas, fazer isso.
Enfim, parabéns pelo texto! Esclarecedor (: