Como no caso de Pitágoras, Platão é herdeiro da Antiga Tradição Órfica e dos mistérios iniciáticos de Eleusis. Platão sintetiza, dá a luz, revela este pensamento, recebido da boca de Sócrates e adquirido através de viagens e estudos de toda índole ao longo de anos. A influência de Platão é decisiva para a Filosofia, que a partir dele e de um de seus discípulos, Aristóteles, gera-se. Sublinhe-se que a Filosofia promove a história do pensamento, e que de sua aplicação prática em diversos níveis (que vão desde os acontecimentos cívicos, econômicos e sociais, aos usos e costumes, a moral e a religião, para acabar determinando as modas, as ciências, as técnicas e as artes), surge o mundo em que os ocidentais vivemos, queiramo-lo ou não. Apropriadamente, chamou-se “divino” a Platão. Na Antigüidade não se tomava este apelativo como alegórico, senão que se acreditava na divindade de Platão, ao qual também se considerou uma entidade, porque em seus diálogos (que ocorrem entre vários personagens da Grécia clássica, que expõem suas idéias, enquanto Sócrates as ordena e as rebate) não aparece jamais. Os erros denunciados diretamente por Sócrates, e os mostrados por Platão através dos distintos interlocutores, e da fina trama do diálogo, são, curiosamente, os que, desenvolvendo-se desde então de maneira equivocada e em progressão geométrica, desembocaram na crise do mundo moderno. Nas obras de Platão está perfeitamente explicada a Cosmogonia Tradicional e seu pensamento Filosófico e esotérico está tão vivo hoje em dia como no momento em que o Mestre escreveu. Basta nos aproximarmos de suas idéias, para se penetrar, quando é lido com suma concentração e sem preconceitos culturais e formais, num mundo de imagens e signos que vamos percorrendo levados por sua mão.
Símbolo dos atenienses e da cultura grega, Platão nasceu em 429 a.C. Igualmente a Pitágoras, descreveu um mundo de Idéias, ou Arquétipos (os “números” pitagóricos, as “letras” da Cabala) que geravam todas as coisas, e nas quais as coisas se sintetizavam. Como seu Mestre Sócrates, sofreu, se não a morte por veneno, a amargura do exílio, a desgraça e o cativeiro.
Respostas de 5
Faltou você diferenciar o Sócrates histórico daquele que é simplesmente personagem de Platão (ou você acredita que todos os diálogos descritos por Platão realmente aconteceram, ou que Sócrates foi psicografado por Platão?). Há uma divisão acadêmica da produção de Platão em três períodos, sendo apenas o primeiro, de juventude, considerado uma exposição das idéias de Sócrates. Também não se fala em Sócrates e a matemática, atribui-se o uso da geometria nos diálogos a Platão. Não gosto muito dessa divisão, mas prefiro, por rigor acadêmico, falar menos de Sócrates histórico e trabalhar com Platão, de quem temos texto. Sobre Sócrates, ele mesmo, as pistas que se tem (ao menos publicamente) estão nas apologias de Sócrates de Platão e Xenofonte, nos Ditos e feitos memoráveis de Sócrates do mesmo Xenofonte e, de modo mais divertido e mais esclarecedor, na medida em que os dois anteriores são discípulos, em Aristófanes, na excelente comédia As Nuvens. Quanto ao platonismo, há tantos diferentes na história da filosofia que só posso imaginar que você prefere o platonismo hermético do Renascimento (ao modo de Giordano Bruno). Agora, se você ensina os mistérios órficos e/ou pode apresentar uma interpretação com sentido do Timeu, isso torna a sua coluna irresistível para qualquer um que se interesse por filosofia (falo da oficial, acadêmica). Seus textos também oferecem uma pista para uma questão que me incomoda há uns quinze anos: uma das definições que Sócrates (personagem) dá do amor no Banquete é “o amor é a geração no Belo”. Trata-se de Tifeteth? Nesse caso, ainda é apenas uma pista e a frase fica só um pouco mais compreensível. Se você puder esclarecer essa definição, agradeço imensamente. Paz.
@MDD – na minha opinião sim, o Amor (Netzach) é a geração no Belo (Tiferet)… faz alguns anos que eu li o Banquete, talvez seja hora de relê-lo com outros olhos.
Eu mesmo já li Platão e sou fã dele. Não li O Banquete, li Fédon, Críton e Eutífron, outros diálogos. Fédon narra o dia de seu julgamento. Quero muito ler O Banquete.
Recomendo a tradução de José Cavalcante de Souza, o maior especialista brasileiro em Platâo e um puta conhecedor de grego (além de ser a cara do Papai Smurf). Está nos Pensadores (só tenho certeza a respeito das edições mais antigas da coleção) e também em outra edição, não me lembro bem em que editora. Nesta última há também uma introdução do mesmo Cavalcante que é bastante esclarecedora.
@MDD – na minha opinião sim, o Amor (Netzach) é a geração no Belo (Tiferet)… faz alguns anos que eu li o Banquete, talvez seja hora de relê-lo com outros olhos.
Mas… Mas… Amor não é Chesed?
Saudações, Em uma de suas entrevistas eu lembro vagamente (infelizmente) que você citou o livro A República de Platão como sendo um ‘sátira’ (acho que foi essa a palavra) à Democracia… Não consegui achar o site com o conteúdo mas acho que era um hangout ou coisa parecida.
Se eu estiver certo do que lembro, existe algum texto (livro, pesquisa, artigos, etc) sobre esse assunto para podermos abrir uma discussão e estudos?