Os Quatro Níveis de Compreensão


Um texto que está circulando nas Redes Sociais causou a maior guerra entre religiosos, ateus fanáticos e místicos estes dias. Uma fábula extremamente interessante a respeito de Livros Sagrados, Contos de Fadas e a história da humanidade:

Hoje, em uma de nossas aulas eu apresentei às crianças duas maçãs (as crianças não sabem disso, mas antes da aula eu tinha repetidamente jogado uma das maçãs no chão, mas não dava pra notar, as duas maçãs pareciam perfeitas). Falamos sobre as maçãs e as crianças descreviam como ambas pareciam iguais. Eram vermelhas, eram de tamanhos semelhantes e pareciam suculentas o suficiente para comer.
Peguei a maçã que tinha caído no chão e comecei a dizer às crianças como eu não gostava dela, que eu a achei nojenta, era uma cor horrível. Disse-lhes que, porque eu não gosto dela, eu não queria que eles gostassem, e pedi pra todos fazerem alguma crítica àquela maça. Algumas crianças olharam para mim como se eu fosse louco, mas nós passamos a maçã ao redor do círculo e todos apontaram um defeito nela, ‘você é uma maçã fedida”,”Eu nem sei por que você existe’, ‘você provavelmente tem vermes dentro de você “, etc.
Em seguida, passei a outra maçã pelo círculo e começamos a dizer palavras gentis a ela: ‘Você é uma linda maçã’, ‘Sua pele é linda’, ‘Que bela cor você tem”, etc.
Eu, então, levantei as duas maçãs, e de novo, falamos sobre as semelhanças e diferenças, não houve mudança, as duas maçãs ainda pareciam as mesmas.
Eu, então, cortei as maçãs ao meio. A maçã que tinha sido elogiada estava fresca e suculenta por dentro. A maçã que tinha sido criticada estava ‘machucada’ e toda mole por dentro.
A ficha caiu para as crianças imediatamente. Elas perceberam que os pedaços quebrados é o que acontece dentro de cada um de nós quando alguém nos maltrata com suas palavras ou ações. Quando as pessoas são intimidadas, especialmente crianças, elas se sentem horríveis por dentro e às vezes não mostram ou dizem aos outros como eles estão se sentindo. Se não tivéssemos cortado aquela maçã, nunca saberíamos o quanto de dor tinhamos causado.
Eu compartilhei minha própria experiência com a classe, sobre sofrer com palavras duras de alguém na semana passada. Por fora eu parecia OK, eu ainda estava sorrindo. Mas, do lado de dentro eu estava sofrendo.
Ao contrário de uma maçã, que não tem a capacidade de impedir que isso aconteça. Nós podemos ensinar as crianças que não é ok dizer coisas desagradáveis uns aos outros. Podemos ensinar nossos filhos a lutar pelos outros e a evitar qualquer forma de assédio moral, assim como uma menina fez hoje, quando ela se recusou a dizer palavras duras para a maçã.
Mais e mais dor será sentida, se ninguém fizer nada para parar o bullying. A língua não tem ossos, mas é forte o suficiente para quebrar um coração. Portanto, tenha cuidado com suas palavras.

Rosie Dutton

O entendimento da Kabbalah sobre os contos, histórias, narrativas, textos mitológicos e escrituras sagradas chega a quatro níveis (não por coincidência associados aos quatro elementos: Terra, Ar, Água e Fogo); toda a interpretação da Torá depende muito da forma como os Judeus estudam a Torá e o Tanach, que nas Bíblias Cristãs equivale ao Antigo Testamento; toda a interpretação que os magos adquirem dos textos do Aleister Crowley ou Arthur Waite ou Israel Regardie dependem de seu próprio nível intelectual, espiritual e moral. Compreendendo os princípios da Alquimia, é possível chegar ao nível mais profundo de interpretação chamado: Pardês.

Pardês na tradução literal significa Jardim, porém, em hebraico, também significa um acróstico de um método de estudo das Sagradas Escrituras, cada uma delas atendendo a capacidade da pessoa naquele momento. Em outras palavras Pardês representa quatro diferentes abordagens de um Texto dentro da Kabbalah. Vamos a eles:

1 – Pshat – o “simples significado”, ou significado LITERAL. Elemento TERRA. Assim é ensinado para as crianças e adultos que ainda não estão familiarizados com a Literatura da Torá. O ensinamento Literal é o mais apropriado neste caso. Conta-se uma historia mística e fantasiosa, cheia de milagres ou de efeito surpreendente, que pode trazer dentro de si a Jornada do Herói. Neste nível encontramos dragões, fadas, gente que caminha sobre a água, multiplica pães ou até mesmo leva um par de animais para dentro de um barquinho durante 40 dias e 40 noites em um dilúvio!

2 – Remez – “dicas” de um significado Alegórico, um ensinamento mais profundo, e não apenas a expressão literal. Atingidos por pessoas com melhor nível cultural e científico, a pessoa consegue compreender a ciência (Elemento AR) e a explicação por trás daquela história (no caso, entender que a maçã ficava realmente machucada, mas não por causa do bullying, e sim pelo fato do professor ter jogado ela no chão repetidas vezes). Este nível de compreensão engloba entender os signos do zodíaco como representações das estações do ano e sua integração com o comércio das civilizações naquele período, por exemplo. No judaísmo, a troca de palavras com o mesmo valor numérico é largamente utilizada para este fim. Quando compreendemos que “Arca” e “Escola” possuem o mesmo valor gemátrico; “Dilúvio” e “Ignorância”; “Animais” e “Estudantes”; temos uma compreensão maior do que significa a lenda de Noé: “Escolas que reúnem ensinamentos de todos os lugares do mundo são úteis para combater a ignorância dos outros ao redor”. Antigamente chamávamos isso de Universidade.

3 – Drash – “interpretação”; descobrir o significado através da Emoção (Elemento ÁGUA), analisando as palavras, a colocação, os formatos das Letras, por comparação palavras e formas e também por ocorrências semelhantes noutros locais. Aqui aprendemos a conectar estas metáforas a nossa vida prática. Neste nível compreendemos as Óperas e as grandes peças de teatro, que nos tocam mais profundamente que apenas palavras. No exemplo da professora, as crianças, ao abrirem a maçã e verem o estado interno dela, ficaram com uma experiência que vai caminhar com elas para a vida com muito mais intensidade do que se a professora tivesse feito apenas uma leitura de um texto explicando o que é bullying. Drash é o nível de trabalho que utilizamos nos rituais e dramas iniciáticos e é a origem do teatro.

Infelizmente, assim como na Árvore da Vida, há um Abismo que separa os Alquimistas do restante da população. Até agora, podemos enxergar (e no quebra pau das Redes Sociais) alguns tipos de pessoas: os ateus fanáticos que acham que a professora é uma mentirosa enganadora, os místicos de bom coração que escolhem ficar na ignorância científica, os fãs do Masaru Emoto e Ashtar Sheron e finalmente os que acham que Arca de Noé e criacionismo são coisas literais.

4 – Sod – o “segredo” ou o significado místico e metafísico de uma passagem, é a compreensão pelo FOGO dos três significados anteriores. Trata-se aqui de um entendimento mais profundo e completo de que as lendas, fábulas e histórias possuem um significado mais completo que pode ser aproveitado em nossas vidas. Daí a TRANSMUTAÇÃO descrita nos textos alquímicos, que só pode ser atingida depois da compreensão dos três níveis anteriores.

O importante é que todas as quatro formas de estudo do Pardês nunca contradiz o significado base. Cada nível de conhecimento é revelado para quem está preparado para recebê-lo.

Não se pode subir uma escada saltando degraus. É preciso subir degrau por degrau, respeitando o tempo e as limitações momentâneas, para que, no momento certo, toda a verdade possa ser revelada sem causar danos psicológicos! Uma pena que a imensa maioria da humanidade ainda esteja abraçada nos níveis literais dos contos de fadas bíblicos…

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Respostas de 7

  1. Estou engatinhando ainda no nível Drash, mas viso alcançar um dia o Sod… durante a faculdade fiquei bastante tempo como Ateu Fanático no literalismo… ainda bem que consegui sair daquela “Santa ignorância…rs”

    Seu blog vem me ajudado muito nessa evolução!

    Muito obrigado Del Debbio!

  2. Bom dia Marcelo.
    No caso dessa história.

    Pshat seria simplesmente conhecer a história da professora, mas de maneira rasa, sem nenhum significado.

    Remez seria entender o que está por tráz, que a professora machucou a maçã jogando-a no chão, e a intenção dela ao pedir para os alunos criticarem uma e elogiarem a outra maçã.

    Drash é quando se assimila a metáfora, quando os alunos entenderam que a maçã machucada representava alguém que eles machucaram, ou viram se machucar.

    Sod é quando um aluno decide compreende e decide trazer essa lição pra vida dele, tentando não mais machucar os outros com palavras.

    Entendi direito?

    1. Olá Ed Carlos e del Debbio,

      entendi de forma diferente.
      Quanto a Pshat, ok, entedi igual.

      Remez entendi como ir além entendendo que ao invés de caminhar sobre as águas ter um barco menor e mais rápido é mais adequado para preparar a recepção. Ele já serve para assimilar a metáfora, mas de maneira intelectual.

      Drash entendo como uma maneira emocional de assimilar a metáfora, uma forma diferente da intelectual. Pelo que entendi, a maneira intelectual está inacessível para várias pessoas, porém um ritual religiosos, por exemplo, não nprecisa da compreenssão racional para ter seu efeito. A Psicologia do Sagrado e psicologos Junguianos utilizam muitas vezes apenas rituais nos processos de cura, sem uma explicação racionalizada do que está sendo feito, por mais que eles precisem dominar esse conhecimento para a correta execução do trabalho.

      Sod é quando independente da forma de compreenssão, seja ela literal, racional ou emocional, conseguimos aplicar esse conhecimento de maneira prática nos nossos pensamentos, ações, palavras, decisões, etc. Para mim, isso está muito longe de uma decisão, a decisão é a evolução do Remez para o Sod, ou do Pshat para o Sod, e na minha opinião, perde muito em efetividade para uma evolução do Drash para Sod.

      Obrigado pelo espaço.

      1. Olá Raphael.
        Entendi a maneira que você explicou.
        Eu havia entendido os quatro níveis como sendo sequenciais.

        Pshat acredito que seja sempre a primeira forma. de compreensão.
        Depois você precisaria obrigatoriamente passar pelo Remez, o entendimento intelectual, para depois passar pelo Drash, o entendimento emocional.

        Porém da maneira que você explicou vejo que faz sentido, pode-se ter uma compreensão emocional de algo mesmo sem compreendê-lo intelectualmente. E que independente da forma de compreensão, literal, intelectual ou emocional, pode-se atingir o Sod.

        Obrigado.

  3. Muito interessante a abordagem e os conhecimentos! Conheço pouco sobre essa visão e estou buscando entender melhor. Se possível, gostaria que me tirasse uma dúvida: se as passagens do Velho Testamento são figuradas, como entender as evidências arqueológicas que são apresentadas, como as relacionadas à fuga do povo hebreu do Egito?

    @MDD – Muitas partes da biblia são relatos “historicos” (digo entre aspas porque foram relatados na época, com o conhecimento que os povos tinham na época, portanto cheio de erros e imprecisões), então é natural que uma ou outra evidencia de arqueologia se encontre, mas geralmente sao apenas de batalhas ou reis ou registro de governantes… todas as “evidencias historicas” de contos de fadas como barco de noé são falsas ou fabricadas.

  4. Carl Jung também fala sobre os campos de atuação do pensamento, e explica como se fosse um diagrama com quatro esfereas: nos extremos fixam o intelecto e o emocional, e no meio de campo, encontra-se a sensação e a intuição.

    Sendo que uma pessoa que seja bastante racional pode usar dos recursos da sensação (partes de entendimento com uma faísca emocional) ou da intuição (uma visão inspiradora e ampla do contexto) para chegar no emocional.
    E, acredito, o alquimista permeia esses quatro campos com menos dificuldade.

    Um exemplo contrário (do emocional para o racional) pode ser visto no filme indiano “Como estrelas na terra, toda criança é especial”.

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