Tudo faz parte de um ciclo. Esse ciclo pode ser grande ou pequeno: pode levar uma quantidade imensa de anos terrestres, ou até várias Eras, para se terminar um ciclo, dependendo de que ciclo estamos nos referindo. Há os ciclos terrestres, solares, zodiacais, galáticos… assim como há também os ciclos celulares, os ciclos atômicos… e os ciclos de vida e morte, o ciclo da água, e assim por diante.
Tudo tem um princípio, e esse princípio é o começo de um círculo. Uma volta, e o círculo se fecha, voltando a seu início (ou chegando ao “fim”). Dessa forma tudo se renova e, ironicamente, se mantém. Ironicamente? Sim… costumamos pensar no conceito de “manter-se” como algo estático, mas nesse caso, é dinâmico; como exemplo para ilustrar, a bailarina se mantém em movimento, girando em torno de seu eixo, porém, mantém-se equilibrada.
O Universo é perfeitamente otimizado, pois “nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. Pode-se completar esse célebre frase dizendo “…, tudo volta ao ponto onde se iniciou, tudo é cíclico”, tal qual o Ouroboros dos alquimistas.
Pensar ciclicamente é um dos primeiros passos para se ponderar o que é realmente importante e para se conectar à Natureza Essencial de todas as Coisas. Há diversas interpretações para o símbolo cíclico do Ouroboros, então, numa interpretação livre, pode ser considerado como sendo os seguintes passos sequenciais:
1) Individualizar-se do Todo
2) Transformar-se através da aprendizagem/absorção
3) Transformar-se através da meditação/liberação
4) Unir-se ao Todo
Acho que podemos aplicar esse conhecimento Hermético acerca do Universo para uma melhoria na forma como vivemos em sociedade. O grande problema está em despertar as pessoas para essa sabedoria antiga. Tirá-las de sua letargia, de sua paixão por coisas supérfluas, temporárias e degradantes. Talvez tenhamos de começar de um nível mais básico, para dai passar a aplicar todo esse conhecimento.
Mesmo assim, gostaria de compartilhar uma pequena inspiração que tive, acerca os Ciclos Naturais e os Processos Industriais.
Os Processos Industriais
As tentativas do homem em manipular e modificar as coisas para moldar o que o cerca em algo que torne sua vida mais confortável, mais tranquila e mais feliz o faz embarcar em empreendimentos pioneiros de criação de produtos cada vez mais elaborados…
Embora pareça louvável tornar nossas vidas mais confortáveis e menos estressantes ou cansativas, há um fato importante que deve ser trazido à luz.
Na Física, aprendemos que para se sair de um ponto, gasta-se energia. Sempre haverá esse gasto de energia, para se distanciar do ponto zero; para voltar a esse ponto, haverá um gasto de energia igual ao caminho de ida. Ou, se a energia inicial foi armazenada de forma potencial (uma mola, ou um elástico, ou um ímã, ou uma bateria elétrica), bastaria liberar essa energia, que o retorno aconteceria automaticamente.
Quando o homem faz um esforço para criar ou modificar algo, ele usa energia, seja do ambiente ou de si mesmo. Ele não percebe que, cedo ou tarde, essa energia deverá obrigatoriamente retornar à fonte da qual ela se originou. Isso é inevitável.
Ao modificar o ambiente, o ser humano cria um vácuo. Ele retira matéria prima de diversos lugares, transforma-a com energia, e usa esse produto de suas idéias para melhorar sua qualidade de vida (ou assim se acredita).
Os Ciclos Naturais
Ora, se a Natureza é tão “sábia” a ponto de se estruturar tão equilibrada e organizadamente, visando ao uso apropriado de energia (utilizando quantidades exatas a seus processos, sem desperdício nem escassez) e ao retorno a seus estados iniciais naturais, pode-se deduzir que até mesmo os processos artificiais criados pelo ser humano estão dentro dos ciclos naturais, obviamente, pois o ser humano e todos os elementos de que ele se utiliza para criação faz parte da Natureza.
Porém, como esses processos não foram criados visando a melhor utilização energética e cíclica, eles tendem a levar muito mais tempo para se completar (ou retornar a seu ponto inicial no ciclo). Será que poderíamos dar uma mãozinha aos ciclos naturais, ajudando-os a se decomporem em suas matérias primordiais? Sim.
Mas qual a real vantagem nisso? Colocando um pouco de lado os discursos do Greenpeace, de preservação das espécies e do meio ambiente, os quais possuem seu mérito e importância, há uma outra razão tão importante quanto: quando algo demora mais para se decompor em seus componentes primordiais, esse algo leva muito mais tempo para ser reutilizado, ou seja, o vácuo primordial mencionado acima permanece por mais tempo do que o necessário.
Quanto mais os produtos industrializados demoram para ser reutilizados, mais há escassez da matéria prima utilizada em sua criação, afinal de contas, eles estão simplesmente se decompondo natural e demoradamente por processos naturais, quando poderiam ser decompostos mais rapidamente e reutilizados por todos em suas atividades cotidianas.
Essa é apenas uma pequena idéia perante um grande quantidade de melhorias que pode ser feita em todas as áreas possíveis. Com melhores processos, teremos mais abundância em nossas vidas. Haverá menos razões para competição e mais para cooperação, pois haverá menos desperdício de trabalho, de energia e de matéria prima.
A Solução (?)
De que forma poderiamos contribuir com os ciclos naturais, dessa forma gerando economia de energia e materia-prima, e ocorrendo mais rotatividade de produtos?
É difícil vislumbrar possíveis soluções para algo tão grandioso como esse aspecto cultural da atual sociedade. Eu não sou especialista em processos industriais, mas posso deduzir que processos que:
– gastem menos energia
– utilizem matéria prima não-processada ou de fácil decomposição natural (biodegradável)
– reutilizem restos de processamento industrial para criar outros produtos
– diversifiquem a cultura da materia-prima, seja ela qual for (rotatividade de culturas agropecuárias, por exemplo)
…sejam bons pontos iniciais para se ter uma real mudança no cenário dos ciclos industriais e no impacto gerado por eles.
Embora muitas dessas “boas práticas” já sejam velhas conhecidas, não se vê uma real mudança na cultura industrial em direção a elas. O problema, ao meu ver, parece estar em outra áreas, tão polêmicas e conturbadas quanto a que foi discutida aqui.
Um exemplo bastante simples, porém, de grande ajuda é o da utilização de sacolas de supermercado biodegradáveis ao invés de sacolas plásticas. Essa é uma medida que já está sendo difundida, embora não se saiba da porcentagem de adesão da população.
Rever a forma que criamos, consumimos e devolvemos à Terra os resultados processados desse consumo é uma das prioridades para que tenhamos uma vida mais abundante, mais completa, mais saudável e mais despreocupada com o que possa acontecer aos nossos descendentes e ao nosso lar terrestre.
Respostas de 9
Pois é, muito melhor do que “proibir sacolas plásticas”, como tem ocorrido em São Paulo, é investir em sacolas biodegradáveis… Acho que todos estão dispostos a economizar sacolas e gastar um pouco mais pelas mesmas, contanto que sejam biodegradáveis. Já imaginar que todos se disporão a não mais usar sacolas plásticas da noite para o dia, acho muito mais complicado, para não dizer utópico.
Pequenos passos, pequenos passos…
Certamente que investir nas sacolas biodegradáveis é melhor que proibí-las. A maioria das pessoas utiliza a sacolinha plástica do super mercado para colocar lixo. Caso não utilize-as, a pessoa tem que comprar saco plástico para lixo, que na maioria das vezes não é biodegradável.
A questão dos recursos naturais precisa também de bom senso. É como dizia uma professora minha “será que se gasta mais água e energia produzindo um produto novo ou reciclando?” logicamente o reciclável é a melhor saída, mas é esse tipo de pergunta que muitas vezes esquecemos de fazer. “Será que isso é mesmo vantajoso ao invés daquele outro?”
Tiago, bom texto.
Obs. A titulo de informaçao : hj por ‘coincidencia’ li uma reportagem que somente 5% da populaçao usa as sacolas biodegradaveis (nao sou um deles) .
@TM: sim… conscientizar é uma coisa… tornar aquilo um HÁBITO é outra. Infelizmente as pessoas separam os dois, quando deveriam andar juntos, sempre. Se você tem consciencia de algo, vc É aquele algo. Vc FAZ. Enquanto isso, vamos insistindo na “panfletagem”.
Parbéns pelo texto, e principalmente pelo tema Tiago.
Sustentabilidade é um tema bem pertinente na minha cabeça e esses dias esbarrei com esse texto:
http://www.designsimples.com.br/filosofia-do-design-parte-xxiii-%E2%80%93-insustentavel-sustentabilidade/
Me ajudou bastante a refletir sobre o tema, que ainda está latente, mesmo a conclusão do texto ter me parecido bem plausível…
Esse também:
http://filosofiadodesign.wordpress.com/2011/03/27/o-cigarro-sustentavel/
Não entendo essa parte de unir-se ao todo… Significar perder sua individualidade,a sua alma e se fundir com as outras almas???
@TM: como eu disse no texto, o Ouroboros é um símbolo muito rico, e como tal, permite muitas interpretações. Uma delas, segundo o Zen Budismo se não me engano, é o de que somos entes individualizados do Todo Universal, e que um dia regressaremos a esse Todo Universal. Mas você pode traduzir o símbolo como bem entender, ou da forma que você se sentir mais confortável, pois o símbolo continuará tendo a mesma força. Por exemplo: 1) você sai do plano astral e encarna no físico, 2) aprende/absorve, 3) medita/libera, 4) sai do plano físico e volta pro astral.
Interessante a pergunta do Julio, e ele entendeu bem o conceito e chegou a essa questão MUITO pertinente…
De certa forma, sim, perderemos a individualidade, apesar de toda a memória que ira ”permanecer”, o hermetismo e outras doutrinas ensinam que é uma sentimento de verdadeiro terror e medo que a centelha sente quando esta chegando nesse estágio, nessa ”camâra” em que se encontra o espírito em desenvolvimento espiritual, muitas vezes ele prefere descer aos planos inferiores do que subir por causa do medo e o apego com o próprio envolvimento ”individualização”.
Eu acho que tudo depende do que você chama de “individualização”… no fim todos somos únicos e temos a nossa real vontade… a “individualização” está na escolha do que queremos fazer… ou seja total liberdade para ser o que você quiser!
Mas eu concordo que ser feliz dá muito medo mesmo! É muito mais fácil ficar no status quo. Claro que isso é só o que eu penso sobre o assunto. 😀