Onde está o seu deus?

No início do século II d.C., no mercado principal de Enoanda, cidade de 10 mil habitantes no sudoeste da Ásia Menor, foi erigida uma enorme muralha de oitenta metros de largura e quase quatro metros de altura, com inscrições baseadas na filosofia de Epicuro, e cuja finalidade era atrair a atenção dos compradores. Era uma espécie de alerta:

“Comidas e bebidas requintadas… de modo algum libertam do mal ou proporcionam a saúde da carne. Deve-se atribuir à riqueza excessiva o mesmo grau de inutilidade que representa acrescentar água a um recipiente que já estava prestes a transbordar. Os verdadeiros valores não são gerados por teatros e termas, perfumes e essências… mas pela ciência natural.”

O muro foi pago por Diógenes, um dos homens mais ricos de Enoanda, que desejava, 4 séculos após Epicuro e seus amigos terem fundado o Jardim de Atenas, compartilhar os segredos da felicidade que ele havia descoberto na filosofia de Epicuro.

O antigo filósofo cuja maior parte das obras se perdeu foi bem mais incompreendido – ou analisado de forma superficial – do que compreendido. Dizem que tudo que ensinava era a busca pelo prazer (hedonismo) e o materialismo (atomismo), mas é preciso desconhecê-lo profundamente para tais tipos de hiper-simplificações de seu pensamento.

Sobre a busca do prazer, Epicuro em realidade afirmava que “o homem que alega não estar ainda preparado para a filosofia ou afirma que a hora de filosofar ainda não chegou ou já passou assemelha-se ao que diz que é jovem ou velho demais para ser feliz.” Longe de ensinar uma busca desenfreada por prazeres mundanos, ele defendia que uma vida equilibrada e na companhia de boas amizades era todo o necessário para a felicidade – neste caso, pão e água eram suficientes… “De todas as coisas que nos oferecem a sabedoria para a felicidade de toda a vida, a maior é a aquisição da amizade… alimentar-se sem a companhia de um amigo é o mesmo que viver como um leão ou um lobo.”

Poucos foram aqueles que, ao longo da história, enxergaram o quanto a filosofia de Epicuro sempre se fez necessária para nos afastar das tentações e desejos inúteis da vida em sociedade. Ele separava os desejos da seguinte forma:

O que é essencial para a felicidade

Natural e necessário Natural mas desnecessário Nem natural nem necessário
Amigos, Liberdade, Reflexão, Casa, Comida, Roupas Palacete, Terma privativa, Banquetes, Empregados, Peixe, Carne Fama, Poder, Status

Dizem também que Epicuro era ateu. Mas de fato tudo o que defendia era que os deuses viviam em uma realidade muito superior a mundana, de modo que provavelmente não estariam preocupados com nossos afazeres, e nem era necessário que nos afligíssemos com eles ou que preparássemos rituais e oferendas para aplacar sua ira ou barganhar por favores sobrenaturais.

Para Epicuro, isso tudo era fonte de angústias desnecessárias… Porque se preocupar com política, com os deuses, com o acúmulo de riquezas ou com a morte, se o prazer da vida está exatamente em compartilhá-la com os amigos, em não viver com mais do que o necessário, e na constante reflexão sobre a natureza infinita do Cosmos?

Em sua recusa em se preocupar com um panteão de deuses com seus próprios afazeres e em sua exaltação da felicidade que advém da vida harmoniosa, em contato constante com os amigos e a natureza, Epicuro era bem mais religioso que a maioria dos eclesiásticos – e bem mais monoteísta que a maioria dos religiosos que dizem seguir somente a um único Deus, mas que ao fim do dia seguem a vários…

Pensemos nos dias atuais, em que a maior religião e o maior deus passam desapercebidos da grande maioria, embora quase todos acabem rezando para ele: o deus do consumo. Seus evangelizadores estão em cada canal de TV paga ou aberta, sua bíblia é ensinada desde as “orientações vocacionais” das escolas aos “discursos sobre a dura realidade da vida e sobre como um bom salário é mais importante do que tudo”… Andando pelas ruas, vemos suas orações expostas em outdoors e páginas de jornal. Ele é tão poderoso que abocanhou até mesmo o tempo – “tempo é dinheiro, eu sou o tempo, eu sou o seu deus!”

Ao contrário do deus de Epicuro, que podia ser encontrado em qualquer grama de jardim, nalgum galho partido ou nos sorrisos dos amigos, este deus é feito sobretudo de coisas sem vida e de desejos desenfreados; muito embora possa parecer “onipresente” em nosso dia a dia – uma roupa de grife, um terno, um celular, um videogame, um carro, um iate… Ele nunca se cansa, e o tempo é a prova:

Porcentagem dos norte-americanos que declararam os seguintes itens como necessários

  1970 2000
Segundo carro 20% 59%
Segunda televisão 3% 45%
Mais de um telefone 2% 78%
Ar-condicionado no carro 11% 65%
Ar-condicionado em casa 22% 70%
Lava-louças 8% 44%

Hoje em dia vivemos correndo, “utilizando” todas as horas do dia. Comendo em fast-foods e tendo relacionamentos no estilo fast – simples, rápidos, indolores, muitas vezes “anestesiados”. Se nos angustiamos com a vida ou se caímos em depressão, oramos também ao grande profeta do deus do consumo – o guardião dos comprimidos em seu manto de tarja preta… Com tudo isso economizamos bastante tempo. Tempo para…?

Não era esse tipo de religião que Epicuro professava. Ele preferia simplesmente ser livre, talvez por reconhecer que perto da imensidão da natureza, suas angústias e desejos eram como poeira e folhas espalhadas pelo vento em seu jardim.

Quaisquer que sejam as diferenças entre as pessoas e seus desejos e angústias, elas não são nada perto das diferenças entre os seres humanos mais poderosos e os grandes desertos, as altas montanhas, geleiras e oceanos, a luz das estrelas. Existem fenômenos naturais tão grandes que tornam as variações entre duas pessoas quaisquer ridiculamente pequenas. Ao passar um tempo em amplos espaços, a consciência de nossa própria insignificância na hierarquia social pode se transformar na consciência reconfortante da insignificância de todos os seres humanos no Cosmos.

Podemos superar o sentimento de que somos insignificantes não nos tornando mais importantes ou desejando fama, poder ou status, mas reconhecendo a insignificância relativa de todos. Nossa preocupação com quem é alguns milímetros mais alto do que nós pode dar lugar a uma reverência a coisas infinitamente maiores que nós, uma força que podemos ser levados a chamar de natureza, vida, infinito, eternidade – ou simplesmente Deus.

Mas, sobretudo, quem mantém os pés no chão florido das amizades duradouras e a mente na imensidão estelar do Cosmos, este não poderá jamais ser seduzido pelas efêmeras promessas dos arautos do deus do consumo, tampouco necessitará recorrer a tratar da angústia com comprimidos (*). Este tem a seu lado o amor ao saber, as reflexões diárias, a liberdade de pensamento: este encara toda angústia e todo desejo por si mesmo, ou talvez com a ajuda de amigos. Seres reais, não imaginários nem inanimados – aí está o deus de Epicuro. Onde está o seu deus?

***

(*) Nota: certas doenças necessitam de medicação, e é excelente dispor da medicina atual para tratá-las. O que não podemos é usar comprimidos como muletas – nesse sentido nossos comprimidos serão nossos deuses, e nós os seus fantoches. Por outro lado, também é necessário “cortar o mal pela raiz”: a filosofia nos ajuda a evitar a necessidade de comprimidos, evitando antes a doença.

Leitura recomendada: “As consolações da filosofia” e “Desejo de status” – ambos de autoria de Alain de Botton e publicados no Brasil pela Editora Rocco. As citações de Epicuro e Diógenes foram retiradas do primeiro.

Bônus: vejam abaixo o documentário de Alain de Botton sobre a filosofia de Epicuro (links para o YouTube):

Parte 1 de 3 | Parte 2 de 3 | Parte 3 de 3

***

Crédito da imagem: Bettmann/Corbis (anúncio de cigarros de 1936).

 

O Textos para Reflexão é um blog que fala sobre espiritualidade, filosofia, ciência e religião. Da autoria de Rafael Arrais (raph). Também faz parte do Projeto Mayhem.

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Respostas de 36

  1. Muito bom o post… já tá mais que na hora de algumas pessoas mostrarem ao “dinheiro” quem é o dono de quem afinal. Precisamos dele? Sim. Mas ele é um instrumento nosso e não o contrário. Pena que a maioria da sociedade inverteu esses valores. Por dinheiro se mata, se passa por cima de outros, como um trator desenfreiado. Dinheiro e status para se obter mais dinheiro e status. No fim, tudo de bom que o dinheiro teria a oferecer, vira um amontoado de números numa conta bancária, de alguém que não fez nada além de perseguir o tal “dinheiro” e deixou para outros gastarem. Nessa vida, a única coisa que não podem nos tomar é o que somos. O que temos, isso pode ser tirado de nós a qualquer minuto…

    1. Ao ler este texto percebo que Epicuro encontrava felicidade “no outro”. E discordo quanto ao fato de Epicuro ser uma pessoa feliz… talvez mais uma pessoa iludida com Maya, a felicidade adquirida na brevidade da vida é uma ilusão. E se a busca pessoal é a “felicidade” mais tolo ainda é o homem.
      Todos tem para si aquilo que entendem por felicidade, mas a mesma tem um arquétipo cabalístico. a verdadeira felicidade, humildemente falando, pois não tenho o conhecimento de Epicuro, talvez esteja na conexão com a fonte do contentamento, os amigos, são instrumentos, não a fonte propriamente dita. Vehuel é o anjo cabalístico que nos ensina a aceitar a tristeza e depois “transmutá-la em alegria”. Zeir Anpin é o Rosto Luminoso para o qual olhamos com os olhos do espírito. Zeir Anpin inebria e nos conecta com a fonte contentamento.
      Não existe solidão, não existe tristeza. existe a expectativa humana que se frustra por não compreender que as coisas são como são por que a vida é adaptação… uma roda que gira sem cessar e nem sempre estaremos no lado de cima com um sol radiante a nos banhar, mas às vezes em baixo, chafurdado na lama, em um ciclo de superação.
      Desculpem-me todos se eu tiver escrito algo errado… isso é o que acredito.

  2. …Há um tempo atrás, estudei um pouco sobre a pirâmide de Maslow… Lendo este post, eu observei que, talvez possa ter algumas pegadinhas da Matrix implícitas nela, hehehehe… Vou continuar estudando. O mundo de hoje realmente anda bem hostil mesmo…
    Obrigado pelo texto!!! Excelente Leitura!!! Paz & Luz!!!

  3. Gostei do texto. Sinceramente não conheço a filosofia de Epicuro, mas vou procurar conhecer.
    Off: DD, vai convidar o Acid do ‘saindo da matrix’ também ?
    @raph – Obrigado. Uma forma bem simples de saber mais sobre Epicuro é assistir esse vídeo do Alain de Botton acima (links do YouTube), levará menos de 30min., mas a essência da filosofia de Epicuro está toda nele.

  4. Eu não gosto de me envolver com pessoas. A proximidade velada, mesmo com meus amigos, é algo que aprecio e valorizo.
    Amigos também não são deuses, e nem necessários. Eles são algo bom, em medidas homeopáticas.
    @raph – Segundo a filosofia de Epicuro, os amigos não são para serem encontrados eventualmente, mas para se ter por perto a todos os momentos. Tanto que em dado momento ele e seus “discípulos” saíram de Atenas e foram morar em uma comunidade rural, auto-suficiente. Até o fim de seus dias, Epicuro viveu rodeado de amigos, e segundo ele afirmava, verdadeiramente feliz… Para Epicuro, ao menos, parece ter funcionado.
    Entretanto, eu não sou adepto a posturas filosóficas radicais. Certamente amigos não precisam ser deuses nem necessários, mas que ajudam, certamente que ajudam…

  5. Nado nos pedaços de um ego corrompido e vou tomando comprimidos pra poder me aliviar…
    Mas foi dito que não possuirmos algo que desejamos muito é condição fundamental para nossa felicidade… Entretanto, amparado por quais preceitos posso arbitrar corretamente sobre essencial ou superficial? Posso? Quero? Devo?
    Discordo de que filosofar alivia as angústias, pois entendo que é aprofudando-as que desenvolvemos o sofrimento necessário à evolução. Ou não.
    @raph – A melhor forma de se aprofundar nas angústias é refletindo sobre elas, e não as “anestesiando” com comprimidos, ou simplesmente as evitando (embora certas patologias certamente exijam medicamentos, conforme a nota no artigo)… Ora, e o que seria a reflexão sobre as próprias angústias senão o “conhece-te a ti mesmo”? Isso também é filosofia.

    1. Entendendo a pergunta, formulei uma hipótese um tanto quanto abstrata, porém bastante fenomenológica sobre tais reflexões…
      Seria uma honra ser agraciado com a leitura da mesma…
      http://racionalismoespiritual.blogspot.com/2011/06/erax-nohn-aquarium.html
      Abraço afetuoso.
      @raph – A diferença entre nós e os seres de Acima é que eles não criam peixes em aquários apenas para se divertir ou decorar seus quartos. Eles sabem que os peixes um dia serão como eles, e depois ainda muito mais… Quanto antes, quanto menos dolorido e mais amoroso o caminho, tanto melhor.

  6. Muito bom o texto, Rafael. Eu já conhecia a natureza da filosofia de Epicuro, mas acho que você conseguiu fazer uma boa apresentação, desmitificar a visão normal que se tem dele e ainda apresentar uma reflexão baseada nas ideias de um dentro muitos importantes filósofos gregos cuja obra, em grande parte perdida, costuma ser reduzida e simplificada grosseiramente.
    @raph – Valeu Hugo. Manda um abraço pro Marcelo Telles… 🙂

  7. Legal o texto, parabéns.
    Eu sinceramente espero um dia encontrar a Paz de não desejar nada, percebendo a Ilusão do controle e deixando a Vida fluir sem obstáculos, criados por mim mesmo em sua maioria e por minhas ganâncias.

  8. Só quando me percebi só, em meio a uma multidão que não me conhece, é que percebi a falta que os amigos fazem – aqueles que te conhecem, reconhecem sua risada e te amam de qualquer jeito.
    Gostei do Epicuro, vou me aprofundar nessa…
    @raph – Oi Laryssa. Sim, é desse tipo de amizade que o Epicuro estava falando…

  9. Texto muito bom!
    Só corrige no começo que está escrito assim:
    ” foi erigida uma enorme muralha de oitenta metros de largura e quase quatro metros de altura…”
    Acho que você quis dizer que foi Erguida!
    @raph – Obrigado Gabriel… Bem, “erigir” é um sinônimo de “erguer”, mas soa mais antigo hehe…

  10. muito bom o texto. tb acredito q os amigos sao fatores fundamentais para nossa felicidade. vou estudar um pouco e ver no q mais concordamos.

  11. Acabei de ver os videos, ja compartilhei no facebook, que alias é uma otima ferramenta para compartilhar ideias, boa noite
    @raph – Esses vídeos são muito bons, toda essa série do Alain de Botton baseada em seu livro “As consolações da filosofia” é excelente, são 6 documentários ao todo, cada um com 30min aproximadamente – mas este do Epicuro é para mim o melhor deles.

  12. Não sei se é dele ou não, mas hoje irei ver ‘Sêneca e a Ira’
    @raph – Sêneca é um dos estóicos. O estoicismo chegou a conviver juntamente com o epicurismo em Atenas. Os estóicos de encontravam no Pórtico para filosofar, os espicuristas se encontravam no Jardim… Eu ainda acho que as duas doutrinas tem muito mais em comum do que divergências, porém são as divergências que são ressaltadas, em geral, pela história.

  13. Sincronicidade é uma coisa engraçada mesmo…
    Tinha acabo de ler este texto aqui e fui encontrar um amigo que não vejo já há algum tempo. Começamos a conversar e sem eu nem ter tocado no assunto desta leitura ele começou a descascar o Epicuro, falando que a visão epicurista da vida que é o mal da sociedade revolucionária, que suas teses eram fracas e pseudo-filosóficas. Nunca tinha ouvido falar de Epicuro (ou pelo menos não prestava atenção) e no dia que tenho contato com ele, já me vem um amigo mostrando ideias de um livro que liga Epicuro a Marx e os analisa como dois pseudos-filósofos e outras aberrações.
    O livro que trouxe essas ideias a discussão foi “O Jardim das Aflições” do filósofo brasileiro Olavo de Carvalho. Nesse site – http://www.olavodecarvalho.org/livros/epicuro.htm – tem uma parte do livro que com certeza não chega a esgotar todas alegações que ele faz nesse livro que tem bem umas 300 páginas de críticas a Epicuro, a Marx, a esquerda, ao pensamento revolucionário e etc.
    Não chego a nenhuma conclusão a favor ou contra ao pensamento “Epicurista” ou “Olavista” mas fica aí registrada essa sincronicidade que aconteceu e, quem sabe, a leitura de um outro ponto de vista possa expandir nossas visões sobre os assuntos abordados em ambos os textos que mesmo que tenham enfoques diferentes pode ser que tenham coisas em comum.
    @raph – Em um trecho do vídeo que postei acima (documentário do Alain de Botton), ele está analisando um anúncio “epicurista” que encomendou a uma agência de publicidade inglesa… Nele, vemos uma mansão com um carro luxuoso estacionado na porta, acima da casa tem um enorme asterisco e no canto inferior direito do cartaz, em letras pequenas, lê-se assim: “(*) felicidade não incluída”… Alain então afirma que gostou, pois “isso é a essência da filosofia de Epicuro: ele não afirma que morar numa mansão nos trará infelicidade – isso seria marxismo -, mas ele alerta para que a felicidade não necessariamente provém de uma vida luxuosa”… Estaria Alain sendo superficial demais? Não sei, não conheço tanto de Marx assim para julgar.
    Já no que tange o texto que você trouxe acima, me parece muito mais uma crítica a visão “utópica” de Epicuro, e de seu “Jardim dos eleitos”… Em realidade até hoje existem comunidades epicuristas rurais auto-suficientes nas regiões próximas de onde ele viveu, mas obviamente estão se extinguindo devido a pressão da vida moderna e do avanço das cidades… Mas, seria isso uma utopia? Seria a comunidade de Epicuro uma elite?
    Eu acho que ele toca na ferida daqueles que julgam que a discussão política resolverá todos os males das sociedades (sejam elas quais forem), e que abominam a ideia de “reclusão em algum Jardim obscuro fora do centro dos debates”…
    No fim, cada um terá sua opinião (espera-se que seja a sua própria, e não alguma “opinião da moda”), mas o que eu gostaria de dizer é somente que, se nalguma dia fossemos ao Jardim de Epicuro buscar amigos para uma vida em comum, provavelmente seríamos bem recebidos. Não seriam necessários batismos nem promessas de fidelidade a algum Deus ou ideologia política – penso eu: isto é liberdade, será que os políticos em seus debates intermináveis serão nalgum dia livres dessa forma?

    1. Raphael,
      Onde posso encontrar mais informações sobre essas comunidades epicuristas rurais auto-suficientes?
      Ótimo texto

  14. Vivendo e aprendendo… “Erigir” NUNCA tinha ouvido essa palavra kkkkkk’.
    Mas, assim que é bom se não agente não cresce!
    Texto ótimo, segunda vez que eu leio e não me cansa. Muito bom mesmo!
    @raph – Eu uso essas palavras assim vocês ficam achando que sou acadêmico haha…

  15. É uma filosofia muito bonita, e uma adaptação ao mundo moderno tem até nome: minimalismo.
    Infelizmente na prática não é tão simples assim. Está faltando na lista de Epicuro um item essencial para alcançar a felicidade: saúde. E hoje, saúde custa caro.
    Então para ter saúde é necessário dinheiro, para ter dinheiro em geral é necessário trabalhar, e para trabalhar e ser bem recompensado é necessário estudar, investir, gastar grande parte do tempo livre.
    Para quem tem cabeça dá para seguir uma filosofia de vida equilibrada. Eu por exemplo pretendo acumular um capital de reserva e reduzir a minha carga de trabalho gradualmente até o mínimo possível antes dos quarenta anos, para aproveitar a felicidade (liberdade, amigos, reflexão, casa, comida e viagens) pelo resto dos meus dias. Quem cai na armadilha de comprar carro do ano, ostentar e entrar em dívidas intermináveis dificilmente vai alcançar a felicidade.
    @raph – Interessante você tocar no assunto. Saúde provavelmente deveria constar em “Natural e Necessário” para a felicidade, a princípio eu achei que era engano e fui pesquisar… Mas realmente Epicuro não incluí Saúde nessa lista. Não sei se tem a ver com o fato de que passou boa parte da vida doente, e mesmo assim se considerava feliz… Talvez fosse cruel demais inserir esse item na lista, e excluir (da possibilidade da felicidade) as pessoas que já nascem com a saúde debilitada. Isso daria um longo debate…

  16. Excelente texto!
    Elogio também para a iniciativa dos colunistas. Deu uma revigorada no blog.
    Abs

  17. é só pensar em maslow…
    1. fisiologicas
    2. segurança
    3. sociais
    4. auto- estima
    5. auto realização….
    quanto mais sublime, mais adversidades vc admite para conseguir….

  18. “Porque se preocupar com política, com os deuses, com o acúmulo de riquezas ou com a morte, se o prazer da vida está exatamente em compartilhá-la com os amigos, em não viver com mais do que o necessário, e na constante reflexão sobre a natureza infinita do Cosmos?”
    em relação a viver com mais do que o necessário eu diria que é opcional! =P
    Perfeito!
    Parabéns!

  19. Será que em um futuro bem próximo as pessoas irão morar, viver longe desses centros urbanos que são o verdadeiro caos? Produzindo seu alimento(organico, biodinamico), sem cair nas garras desse consumismo?
    Sei que há muitas famílias rurais que simplesmente vivem “isoladas” lá, bem no interior, longe da cidade grande. E olha que isso é somente uma parte da coisa toda. Felicidade e tranquilidade encontra-se até numa pedra no meio da rua. Basta ve-la diferente.
    Ótima reflexão.
    @raph – Sem dúvida, numa sociedade do conhecimento a disciplina será responsabilidade de cada um, muitos poderão trabalhar de casa através da web, e contanto que cumpram seus prazos e tenham qualidade no trabalho, se manterão tranquilamente em seus empregos. Também existirão experiências de grandes empresas, particularmente de TI, construindo verdadeiras “cidades de trabalho”, onde centenas ou milhares de funcionários viverão e trabalharão, muito embora essa solução será mais complexa no que tange a vida dos familiares envolvidos (não serão cidades muito “movimentadas” para os jovens e os filhos em geral). A indústria de alimentos pode passar a ser cada vez mais “orgânica e local”, provilegiando as cidades próximas ao invés de exportações para outros cantos do mundo. Mas, claro, tudo isso ainda vai demorar um pouco, ainda estamos no início – mas os primeiros passos estão sendo dados!

  20. Rafa,
    Eu escrevi “O que é o Dinheiro?” faz apenas alguns dias, e não tinha conhecimento desse seu texto. E ambos se “encontram” em diversos pontos 🙂
    Engraçado como parece haver uma sincronia entre os colunistas.
    Ótimo texto, meu caro, como sempre!
    @raph – Nós já tivemos vários exemplos disso, heh, as vezes até com um post complementando o outro sem que cada um soubesse do que o outro iria falar naquele mês ou semana. Este não é o único post que se “conecta” com este seu último post, tem um que acho que é até bem mais parecido: http://www.deldebbio.com.br/2011/09/01/padrao-fe/ Abs!

  21. eu sou contra o asceticismo. Pela olhada superficial que vi na wikipedia sobre o epicurismo, ele parecia uma alternativa mais racional e razoável, mas após ler esse texto me pergunto se o epicurismo é a alternativa que procuro
    abster-se dos prazeres materiais parece uma interpretação demasiadamente radical do fato de que vivemos num mundo de ilusões. Mas essas ilusões foram feitas para nos agradar e nos ensinar! E, relativamente, esse mundo é o real para nós, como diria o Caibalion. Negar os prazeres materiais é negar as bênçãos que Deus colocou nesse mundo para contrabalancear as suficientementes sofridas dificuldades da vida no plano físico… Negar a realidade a nível relativo da criação é ofender a obra prima de Deus!
    o prazer não nos espera no céu após a morte, os prazeres estão aqui na Terra! Aprender a desfrutá-lo com moderação, sem se viciar, sem exagerar, sem ser dominado por ele, e sustentando ele com um trabalho honesto, parece ser aprendizado necessário para saber desfrutar os prazeres que nos esperam depois do túmulo
    o proselitismo do asceticismo é parecido com o da moral: quem segue essas doutrinas tem inveja de quem é livre dessas “prisões voluntárias”
    rigor demais é desequilíbrio! tenha misericórdia!

    1. tem uma parábola, que resumidamente dizia algo assim:
      “as pessoas viam Jesus comer carne de porco e tomar vinho e metade delas diziam: santo é João Batista, que se alimenta de peixes e mel!”

    2. as pessoas costumam caminhar nos extremos, até grandes mestres demonstram essa tendência, poucos são os que realmente trilham o caminho do meio, da moderação

  22. Tudo nos é lícito, porém, nem tudo nos convém.
    Essa frase define exatamente a minha vinda nessa encarnação. Sempre fui impulsivo, usei quase todos os tipos de drogas, no fim da minha vida ativa com elas usei bastante LSD e Ayahuasca, que pessoalmente não considero droga, e o que entendi foi o seguinte: (aliás já vi alguns posts e até o caibalion citar isso e experimentei diretamente essa experiência)
    Quando minha mente se expandia, eu via realmente muitos dos “segredos” do Universo, como funcionam micro e macrocosmos, via energia nas coisas, entidades espirituais conversaram comigo, tive momentos de conversas telepáticas com outras pessoas, etc e etc ao quadrado. Porém:
    Minha mente não está preparada para isso no sentido de que, quando eu voltava ao meu normal, muito pouco eu lembrava daquele Universo de informação, sensações etc, pois sendo a gente limitados dentro de nossa consciência conforme o que ela pode processar e conforme nossos filtros mentais que impedem o excesso de informação para não enlouquecermos, tentar ficar expandindo a mente através de artifícios externos é o mesmo que tentar encher um copo com a água de uma piscina, de toda a água você vai aproveitar só 1%.
    Então depois de diversas expansões eu tive acesso a conversa com uma entidade externa que resumindo me explicou: Você gostou de tudo que viu? não é extraordinário? Então a partir de hoje você não deve usar mais NADA e buscar expandir sua consciência naturalmente, para tomar um gole dessa água de cada vez sem se afogar.
    É o que venho fazendo desde então, um dia eu chego lá.
    @raph: Perfeito, uma entidade que sem dúvida sabe das coisas 🙂

    1. Cara, você ao menos teve essas experiências e aprendeu com elas também. Se não foi pura ilusão pelo menos conseguiu ter um vislumbre mínimo do que nos espera num estágio futuro. Você não perdeu nada.

    2. belo relato. Usar drogas com objetivos de expandir a consciência talvez seja um uso mais nobre, mas eu defendo o uso por prazer mesmo. Acredito que temos o direito ao prazer e que negá-lo é tolice.

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