O Velho da Montanha


Publicado no S&H dia 9/10/09
Continuando a nossa saga pelas primeiras cruzadas e a Origem das Ordens de Cavalaria, precisaremos fazer um texto curto, porém importante sobre uma das ordens mais amedrontadoras do começo das cruzadas: os Assassinos.
Sim, o termo “assassinato” foi inventado por causa deles. Estamos falando da Seita dos Hashashins, ou os fumadores de Haxixe do monte Alamut (que significa “Ninho da Águia”). Guerreiros cujas habilidades foram comparadas às dos famosos ninja orientais, estes enigmáticos personagens tornaram-se um ponto de interrogação dentro das batalhas na região de Jerusalém, ora movimentando a balança na direção dos cristãos, ora pendendo para os muçulmanos.

Se você começou a ler este post primeiro, recomendo a leitura destas outras matérias para entender o fluxo dos acontecimentos por 3 pontos de vista:
Os Católicos, na história dos Papas, cujos textos podem ser lidos abaixo:
Que fim levaram os Apóstolos?
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32 Papas e uma garrafa de Rum
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Brahma, Vishnu, Shiva, os Muçulmanos e o Zero.
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Construtores de Templos
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Cavaleiros Templários – Parte I
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O Sol também se Levanta
A Ordem de Assassinos foi uma seita fundada no século XI por Hassan ibn Sabbah, conhecido como o velho da montanha. Seu fundador criou a seita com o objetivo de difundir uma nova corrente do ismaelismo (uma das correntes do Esoterismo Islâmico), que ele mesmo havia criado. Sua sede era uma fortaleza situada na região de Alamut, no Irã. (o nome Alamut é bastante conhecido entre os jogadores do RPG “Vampiro, a Máscara”, pois a Ordem dos Assassinos foi usada como base para a criação do clã de vampiros “Assamitas”).
A fama do grupo se alastrou até o mundo cristão, que ficou surpreso com a fidelidade de seus membros, mais até que com sua ferocidade. No ponto alto do poderio dos Hashashins, seu líder chegou a possuir cerca de 60 mil seguidores, segundo alguns relatos da época especulavam. Para Bernard Lewis, autor de “Os Assassinos”, haveria um evidente paralelo entre essa seita e o comportamento extremista islâmico, assim como o ataque suicida como demonstração de fé.
O Velho e o Mar
Hassan bin Sabbah Homairi era filho de uma poderosa família de pescadores de Qom – centro de propagação do ismaelismo. Se intitulava a sétima encarnação do Imã Ismael. O sétimo profeta (Adão, Noé, Abraão, Moisés, Jesus, Maomé e ele… modesto o cara!).
A partir de 1079 passou a viver no Egito (mais precisamente no Cairo) onde estudou e aperfeiçoou seu conhecimento do Corão, descobriu o Antigo e o Novo Testamentos, além dos textos vedas hindus e dos papiros rosacruzes – conhecidos desde as invasões de Alexandre, o Grande. Bin Sabbah promoveu a reunião dessas religiões, misturando ainda o zoroastrismo e acrescentando, nesta síntese, um pouco de neoplatonismo.
Durante a sua permanência no Cairo, Hassan relacionou-se com Nizar, filho do califa da dinastia fatímida, al-Mustansir, até que Nizar foi sacaneado e afastado da sucessão pelo vizir al-Afdal. Provavelmente esteja aí a origem do ódio de Hassan à dinastia fatímida. Foi em torno do nome de Nizar que ele reuniu os seus primeiros seguidores – daí o nome nizaritas.
Das várias e dramáticas facções ismaelitas, as mais famosas foram a dos fatímidas do Egito, a dos ismaelitas hindus e a dos ismaelitas reformados de Alamut – chefiada por Hassan.
Por quem os sinos dobram
De acordo com sua biografia, Hassan teria tido uma visão de Zaratustra que o encaminhou para o norte, ao encontro de seus iniciadores – membros de uma seita secreta, “numa caverna de uma alta montanha”, para receber a iniciação pelo senhor da montanha. A tradução do texto encontrado na Índia, por W. Ivanov, é de “Jean Claude Frère, L’Ordre des assassins, caps. I e II, pp. 15 a 78)”. O texto revela uma mistura de elementos zoroastrianos, cristãos e islâmicos. Hassan teria, então, recebido dos iniciadores a missão de “libertar a raça ariana e fundar um novo império, tendo por base a nova religião.” (sim, ainda vamos ouvir falar bastante da tal “raça ariana” até chegarmos na segunda guerra e você-sabe-quem).
No Cairo, Hassan completou sua iniciação na famosa “Casa das Ciências” do Islamismo.
Suas andanças, após ser expulso da Pérsia pelos turcos seljúcidas (desculpem pelos nomes complicados – adeptos da ortodoxia sunita), o levaram a muitos fiéis, dispostos a obedecê-lo cegamente até mesmo com o sacrifício da própria vida: a seita dos Assassinos.
Na hierarquia da seita existiam alguns patamares: os iassek estavam no patamar mais baixo – a massa dos fiéis, responsáveis pelo sustento monetário da ordem. Depois deles, os mujib – que dependendo de sua aptidões poderiam se tornar fedayin, os guerreiros treinados que se sacrificavam. Os denominados de rafik eram treinados para comandar fortalezas e dirigir a organização. Os daï eram os missionários. Por último, no topo da pirâmide, estava o grande senhor: Hassan.
Uma das maiores lendas a respeito de Hassan é a de que ele era imortal. Na verdade, ele viveu até os 90 anos, o que era um absurdo de longevo para o século XII. Além disso, quase ninguém estava autorizado a vê-lo e ele nunca saía do Castelo de Alamut. Como os Grãos Mestres que o sucederam também adotaram o nome de “Velho da Montanha”, a história de que o líder dos assassinos era imortal correu o mundo. Em Jerusalém, seu nome era usado para assustar crianças que não queriam se comportar (tudo bem que os muçulmanos usavam a figura de Melek-Ric, ou “Rei Ricardo” em alusão ao Ricardo Coração de Leão, para assustar seus pimpolhos também… guerra é guerra, em todos os patamares!)
Ter e não Ter
Assim como em outras ordens iniciáticas do período das Cruzadas, todos os membros abriam mão de seus pertences para o grupo. O treinamento era de qualidade inferior à dos templários ou teutônicos, mas eles eram muito mais temidos do que os guerreiros cristãos. Por quê?
Porque os Hassassins não tinham medo da morte. Enquanto um cruzado ou Templário gostaria de cumprir sua missão e voltar para casa para receber os louros da vitória, dinheiro, mulheres, mansões e iates, os hassassins apenas precisavam cumprir sua missão. Eles não procuravam por oportunidades onde poderiam se safar depois, ou pela maneira mais fácil de se proteger após cumprida a missão… muitas vezes, iam disfarçados de mendigos e ficavam durante semanas ou meses infiltrados na cidade, muitas vezes conseguindo a confiança dos mercadores e religiosos do local, realizando pequenos serviços para a comunidade… até suas ordens de assassinato chegarem. Uma vez com uma missão, os hashashins estudavam o cotidiano de sua vítima, aguardavam até um momento oportuno (que sua vítima estivesse rezando ou até mesmo no banheiro) e o atacava sempre em mais de um guerreiro. Depois de cumprida a missão, eles até tentavam fugir, mas isso não era nenhuma prioridade. O importante era que a vítima estava morta. Sua arma favorita era os Sicários (lembram do Judas Iscariotis?), que às vezes eram deixados sobre o travesseiro da vítima para intimidá-la, se fosse necessário (diz a lenda que até mesmo o grande Saladino foi ameaçado desta forma).
Note que esta técnica continua em uso até os dias de hoje… dos polêmicos “homens bomba” até os pilotos do 9/11. Não importa o homem, importa a missão. A recompensa virá após a morte.
O Jardim do Édem
A história dos Assassinos se mescla às das Cruzadas, normalmente como aliado involuntário dos cristãos, pois os principais alvos dos assassinos acabavam sendo os próprios califas muçulmanos, embora hajam referências de líderes cruzados assassinados pelos mesmos métodos dos Hashashins.
Em mais de uma ocasião os Teutônicos e os Templários utilizaram-se da ajuda dos Assassinos para atacar algum califa importante ou para manter inimigos políticos controlados.
A lealdade e a crença na vida após a morte dos assassinos era tanta que certa vez, durante a visita de um aliado, querendo demonstrar a lealdade e incorruptabilidade de seus homens, Hassan pediu que um de seus homens se suicidasse como prova de lealdade, ordem que foi cumprida imediatamente na frente de todos.
Adeus às Armas
Hassan e os Grão-Mestres que governaram após o mesmo seguraram um grande poderio e influência política em toda a região, até que o líder Mongol Hulagu Khan (neto do Gengis Khan, que terá ainda um post só para ele) destruiu a base de Alamut em 1256 – Ainda assim a facção Nizarim se manteve no Irã, sobrevivendo até os dias de hoje espalhados por diversos países da Ásia, África e Oriente Médio.

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Respostas de 13

  1. Belo texto agora me surgiu uma dúvida.
    Porque a raça ariana tinha importância para eles “libertarem” já que eles não eram europeus, ou é baseado numa das crenças que ele fez uma misturada ?

  2. Não captei totalmente a relação entre o Velho da Montanha e as demais obras do Hemingway… Alguma relação mais estreita do que a guerra ?

    1. Sim, Assassin’s Creed foi baseado na seita de Hassan bin Sabbah Homairi, embora os assassinos do jogo sejam bem diferentes da história real. Tanto que na história do jogo morrer pelas mãos de um templário ou por suicídio significava desonra, vergonha…e claro, Altair (jogo) atacava sozinho sem dificuldade e era super bem treinado. (Bem diferente da real)
      Inclusive a famosa frase do jogo: “Nada é verdade, tudo é permitido” pertence a Hassan bin Sabbah.
      Sou muito fã do jogo e admiro o trabalho da Ubisoft, pegar uma história real e bolar outra sendo que é uma teia bem complexa… um ótimo trabalho.

  3. Me corrija se eu estiver errado, a muito tempo eu ouvi uma historia, ou li em algum lugar, sobre a seita dos assassinos, em que esse velho Hassan, ou velho da montanha, dava uma uma especie de poção aos seu futuro seguidor levando ele a um lugar fantastico cheio de Dakinis ( mulheres de todo tipo) conquistando assim a lealdade do infeliz que achava que esteve no paraiso, matando assim tão ferozmente para lá voltar.

  4. Acho q no filme Prince of Pérsia, Areias do tempo… tem uma referência a esses assassinos… ou estou enganado?

  5. a tradição do Velho da Montanha permanece viva
    declaradamente pela ordem mevlevi, fundada pelo grande poeta Rumi
    que teve contato com a tradição dos hashishins por seu amado Shams de Tabriz que lhe legou a dança dos dervixes rodopiantes, o sama.

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