– Uma homenagem às mulheres –
Por Katy Frisvold.
Há um tempo um comentário nesta mesma coluna me chamou a atenção, não só pela franca erudição do remetente, mas também pela graciosa comparação com Bruxaria Tradicional e a Magia Tradicional Salomônica. Nas palavras dele: “Me parece que a bruxaria tradicional se assenta sobre a mesma filosofia e cosmologia da magia grimórica, mas imagino que na sua tradição haja um trabalho maior com os chamados espíritos terrestres, o que a meu ver é interessantíssimo. De fato, há uma lacuna na tradição grimórica no que diz respeito a trabalhos com elementais e espíritos dos mortos (os ancestrais), e seria interessante ver como a bruxaria tradicional lida com isso.”
Na época em que este comentário foi feito, deixei disponível meu email de contato. Não achei que era momento de escrever um texto muito longo como resposta como fora a resposta anterior. As férias se passaram e estes são assuntos que ainda se apresentam muito pertinentes e que eu gostaria de desdobrar um pouco mais, de forma em que percebo este questionamento uma forma de clarear alguns assuntos àqueles que apreciam a abordagem teológica mais simples e pragmática. Isto porque a abordagem não recorre aos Doutos Mestres de outrora, mas na simples compreensão daquelas que foram caladas por séculos de repressão patriarcal.
A classificação bipartida da magia geralmente se apóia em “celestial x infernal” e “alta x baixa”, comumente compreendendo “celestial” como algo superior e sagrado e “infernal” como algo diabólico, ou do mal. Hoje alguns conseguem sair deste território ignorante, mas esta ainda é uma teoria muito vigente quando falamos de “baixa magia”, graças ao dualismo reinante nas culturas cristianizadas. Dentro da miríade de mundos e possibilidades, criou-se então uma dicotomia absurda ainda adotada por muitos magos, e “baixa magia” se tornou um rótulo negro às artes que lidam com o fator humano, a corporeidade e a noção de mortalidade.
O que alguns parecem desconhecer é que por “baixa magia” abarca-se toda a magia telúrica, todos os espelhos celestes (tais como os oráculos compostos de elementos naturais, ou seja, de pedra, areia, nas águas, etc.), bem como a comunhão entre vivos, mortos e seres intermediários entre mundos, como manifestações naturais e os chamados “anjos caídos”, ou seja, aqueles anjos que operam em nossa esfera e que conhecem a humanidade muito proximamente.
Da mesma forma em que Eruditos, Astrólogos e Magos necessariamente se apóiam em Tradição, o mesmo se dá àqueles que hoje são denominados Bruxos Tradicionais. Um Bruxo Tradicional se apóia à Tradição enquanto dá foco à magia mais imediata em seu reino, bem como em reinos próximos e paralelos ao humano, ou seja, ao aspecto mais “feiticeiro” ou “anímico” da Tradição.
Para quem opera nestas premissas, “Terra” ou “Inferno” são tão diferentes quanto “respirar” e “não respirar”. Ambos os reinos se localizariam no mesmo lugar: sob a abóboda celeste. Assim a tal “lacuna” na magia grimórica refere-se pura e simplesmente na compreensão entre o mundo que “respira” e o que “não respira”, ou seja, o mundo logo abaixo de nossos pés, os mortos em cujos ombros nos sustentamos. Segundo a Tradição, nossa “Memória” é composta especificamente pelos nossos antepassados e ancestrais. Antepassados e Ancestrais são História, são os chamados Mortos Poderosos, ideais míticos e exemplos de como a vida repete padrões cíclicos, são o “expirar”, e nós, vivos, somos Aspiração e Respiração. Devir e processo.
A compreensão sobre o mundo dos mortos e vivos como paralelos e não necessariamente locais de sofrimento sempre foi um assunto espinhoso para aqueles que unicamente “aspiram” a ida – ou retorno – ao Éden. Para estes, o Homem deverá mortificar a carne para se tornar digno de um extremo bem, enquanto a humanidade comum pavimenta seu caminho rumo ao extremo mal. Mas a própria visão do que seja o Inferno foi algo que mudou através dos tempos, fosse por influências literárias ou por interesses político-religiosos. “Inferno”, ou Mundo Subterrâneo, na acepção de boa parte dos povos primitivos, era simplesmente a “morada dos mortos”, o Castelo dos nossos Ancestrais, ou o lugar onde encontramos aqueles que nos são queridos e vinculados pela consangüinidade ou alma. Então, não, os Bruxos não “aspiram” o inferno de fogo e sofrimento tão propagado por alguns. Nem os Bruxos Tradicionais se apóiam em um mundo dualista – pelo contrário, como a Tradição sugere, monismo qualificado seria a forma mais acurada de explicar a idéia cosmológica de um Bruxo.
De acordo com certos grimórios, os anjos teriam caído de amor pelas mulheres. Eles teriam caído no reino de possibilidades, dos desdobramentos da Sabedoria Divina – com toda a sua ambivalência -, pois não há um reino, ser, palavra ou ação que não esteja no Plano Divino.
Tenho certeza que neste momento encontramos alguns Magos coçando a cabeça e pensando no quão similar isto tudo soa. Mas aparte os comuns preconceitos, todo Sábio – não interessa se chamado de Mago ou de Bruxo – opera nas duas vias em busca da União Mística, ao Criador(a) através da Natureza, ou como chamamos “Natureza Perfeita”.
Na Bruxaria encontramos não a Trindade, mas o Quaternário Sagrado, o da manifestação, que ocorre entre Pai, Mãe, Miguel e Satanael, tão replicado em temas como Caim e Abel ou Judas e Jesus. Tudo isto se reflete na figura do “pé da bruxa” e na forquilha, que fortifica a constante memória de nossa condição e a aceitação plena dos nossos daemons.
E é justamente aqui que encontramos as “heresias” como a dos Bogomilos, que relegam a carne ao reino de uma “amada sombra divina”, e daí, ao Homem. Fora dos confinamentos “heréticos”, a mulher sempre foi satanizada por ser o portal, o “templo” onde anjos ganham corpo, pois é no útero, em última instância, onde eles “caem”.
Como representante desta Mãe do quaternário, está a terra onde vivemos – o corpo que sangra pelos seus filhos. Sua conexão maior se encontra na mulher, a bruxa, consolatrix e progenitora última de homens e anjos, cuja linguagem não se desvela completamente ao homem puramente celestial, mas naqueles que são de carne, osso e sangue. Bruxas são as domadoras do fogo dos homens, preservadoras da Memória dos Mortos, Mães e Consoladoras, e como tal, são capazes de absoluta amoralidade: a única lei é ensinada pela única professora possível – a Natureza.
Os homens são movidos por impulsos celestes, são o fogo e o sopro que alimenta fogo. Enquanto a dor tem sido a condição mais celebrada quando falamos da saudade idílica reservada a Adão, do outro lado, para a Mulher, a Bruxa, o equilíbrio é a chave mestra de toda a magia da vida, e assim, o prazer é também reconhecido como inerente ao carnal. Negue sua mãe, negue sua corporeidade e você não deveria estar aqui para contar história, para sentir dor ou prazer, para amar ou sentir saudades. É tudo uma questão de “exercício”, e não de “exorcismo”.
Como aquela que traz do imanifesto ao manifesto, por séculos e séculos pisada, acusada e lançada nos recônditos sociais e morais, agora é o momento de seu ressurgimento e reconhecimento. A Mãe última não pede sua dor, mas por equilíbrio entre os mundos. Honre-a e o sagrado portal aos reinos celestes estará sempre aberto ao justo peregrino!
Respostas de 54
Só espero que o culto à mulher não volte para ocupar o lugar que ocupava antes de ser tirado de seu trono.
Muito feliz será o dia em que o domínio não seja prerrogativa de sexo algum, e realmente desejo que a “volta” da mulher não seja uma volta verdadeira ao que havia milhares de anos atrás. Que o patriarcado não dê lugar ao matriarcado, caindo o primeiro apenas na medida necessária, enquanto sobe, apenas na medida necessária, o segundo.
Olá D.,
Eu também espero que não, pois as lendas mais antigas que tenho conhecimento (as lendas africanas sobre o matriarcado e a tomada do culto dos mortos pelos homens), falam de como as mulheres abusaram deste poder antes. Sinceramente, espero que a mulher seja reestabelecida não a uma condição de “igualdade” – pois não se tratou disso quando falamos em espiritualidade, mas de integral importância. Mulheres já foram acusadas de serem satânicas, infernais, de “má natureza e índole”, e no final, elas se tornaram seres com o “eterno débito” a ser purgado por pais e filhos abusivos… afinal, se espiritualmente ela é inferior, por que haveria de ser diferente no dia a dia?
Equilíbrio é tudo!
Esplêndido!
Um Viva para nós! 🙂
Todos estes tópicos sobre anjos caídos, mundo inferior e Útero sagrado remeteu-me ao conceito de Sophia como abordado no Gnosticismo que também envolve quedas, mundos “sub-celestiais”, e à uma realidade feminina divinal. Onde estas visões (Bruxaria Tradicional e Gnosticismo) podem se encontrar – se é que isso é possível.
Parabéns pelo belíssimo texto, muito atual pois ainda há preconceitos muita desinformação, de uma maneira geral, com as correntes mágicas telúricas, ctônicas, feitiçeiras, necromanticas, luciferianas etc.
De importante destaque é a passagem que coloca a terra como espelho celeste, o que está implícito no hermetismo na máxima de que “O que é em cimo, como é embaixo”. A matéria é reflexo do espiritual e ambos se influenciam mutuamente – e não é este o fundamento da magia?
Sim, um fundamento cuja verdade parece ser muito inconveniente para os tantos “puros” que lidam com magia, não é?
Acredito que o ressurgimento da Bruxaria trate deste resgate de verdades desconfortáveis, aquelas que questionam nosso propósito de vida.
Grata pelo carinho!
Tenho uma identificação (talvez “a” identificação) espiritual forte com aqueles caminhos ditos “naturais”, “da terra”, como as tradições afro, xamanismo, bruxaria…
Porém, de todas estas a que mais realmente sinto algo, um chamado,um carinho, um dever, é a bruxaria. Só que ao mesmo tempo é a que mais tenho antipatia (em termos racionais). Verdade que não conheço muito, mas do que já vi só vi teatralidade, parecem crianças brincando de faz-de-conta.
Percebo um problema com a bruxaria (posso estar errado) comparando com as tradições afro (candomblé, umbanda, etc) e xamanismo, é que a tradição destas últimas sobrevivem bem, apesar de todos os abalos e opressões. As pessoas ainda podem beber da fonte; o poder, a magia, os ancestrais, as energias e o conhecimento permanecem vivos e sendo passados continuamente. Na bruxaria – que tem essa forte característica das tradições europeias – parece que suas fontes estão predominantemente extintas, e hoje as pessoas apenas tentam recriar esse caminho; talvez seja por isso tanta teatralidade, e pouco “poder”.
Não conheço a “Bruxaria Tradicional”, mas tenho a intuição (talvez seja só esperança) que é diferente. Vou começar lendo seu blog pra entender melhor. O que mais me recomenda?
Oi Emmanuel,
Quando falamos de “Bruxaria”, estamos lidando com um termo guarda-chuva para várias manifestações diferentes: da arte da benzedeira, a herança deixada por Spare (que sempre se definiu como um feiticeiro e não um mago (e aqui algo para se pensar, desde que o resgate dele à “tribo” que ele pertencia tem sido abandonada), das manifestações da magia popular dentro do contexto folclórico, etc., etc., etc.
Como eu mesma sou iniciada e praticante do culto de Iyami (Afro pura), consigo enxergar precisamente onde este culto se une ao da Bruxaria Tradicional. Entendo seus sentimentos contraditórios em relação ao que você tem visto como “bruxaria”. E é justamente disto que tenho tratado ao longo destes últimos anos: há muito mais para “cavar” nesta vertente espiritual do que se propõem os NEO-pagãos. Bruxaria não é sinônimo de “paganismo” ou “neopaganismo”. Então, quando falamos de “resgate”, há muito mais do que surge na aparência, há muito mais fontes que retratam “Tradição Perene” e nem sempre estão sob o rótulo “bruxaria”.
Um abraço!
Segue a letra de Forest do System of a Down:
Forest
Walk with me my little child
To the forest of denial
Speak with me my only mind
Walk with me until the time
And make the forest turn to wine
You take the legend for a fall
You saw the product
Why can’t you see that you are, my, child
Why don’t you know that you are, my, mind
Tell everyone in the world, that I’m, you
Take this promise to the end, of, you
Walk with me my little friend
Take this promise to the end
Speak with me my only mind
Walk with me until the end
And make the forest turn to sand
You take the legend for a fall
You saw the product
Why can’t you see that you are, my, child
Why don’t you know that you are, my, mind
Tell everyone in the world, that I’m, you
Take this promise to the end, of, you
Take this promise for a ride
You saw the forest now come inside
You took the legend for its fall
You saw the product of it all
No televisions in the air
No circumcisions on the chair
You made the weapons for us all
Just look at us now
Why can’t you see that you are, my, child
Why don’t you know that you are, my, mind
Tell everyone in the world, that I’m, you
Take this promise to the end, of, you
Floresta
Ande comigo minha pequena criança,
Para a floresta da negação,
Fale comigo minha única obsessão,
Ande comigo até que o tempo,
Faça a floresta virar vinho,
Conduza a lenda por um outono,
Você viu a conseqüência
Por que você não vê que você é minha criança,
Por que você não entende que é minha obsessão,
Conte à todos no mundo que Eu Sou você,
Leve essa promessa até o seu fim.
Ande comigo meu pequeno amigo,
Leve essa promessa até o fim
Fale comigo minha única obsessão,
Ande comigo até o fim,
E faça a floresta virar areia,
Conduza a lenda por um outono,
Você viu a conseqüência
Por que você não vê que você é minha criança,
Por que você não entende que é minha obsessão,
Conte à todos no mundo que Eu Sou você,
Leve essa promessa até o seu fim.
Leve essa promessa para um passeio
Você viu que a floresta agora adentra,
Você conduziu a lenda para seu outono,
Você viu a conseqüência disto tudo,
Nenhuma televisão no ar,
Nenhuma purificação na cadeira,
Você fez as armas para todos nós,
Olhe só para nós!
Por que você não vê que você é minha criança,
Por que você não entende que é minha obsessão,
Conte à todos no mundo que Eu Sou você,
Leve essa promessa até o seu fim.
Viva a Grande Mãe!!!
Fascinante! Está mesmo na hora do despertar da humanidade para as mulheres! Quantas e quantas sofrem preconceitos, mals tratos e ficam caladas! Quando amigos homens falam que não queriam ser mulher, eu sempre respondo: mas pra fazer sexo são ótimas, não? Sei que me porto como agressiva, mas estou cansada desse tipo de preconceito… Ótimo texto para refletir sobre… 🙂
O chamado é direcionado mais às mulheres Daniela, do que aos homens. Se não reconhecemos nosso próprio valor, quem há de reconhecer?
É “atitude”, postura e sabedoria, que podem mudar a forma em que a humanidade em geral enxerga as mulheres.
Um abraço! 🙂
Olá, Katy/Qelimath.
É sempre bom ler essa coluna.
Gostei desse artigo, embora tenha algumas ressalvas, dúvidas e discordâncias em alguns pontos.
As noçoes de “baixa e alta magia” só surgiram a partir da Golden Dawn. O mago medieval, que operava a partir dos grimórios, sempre conduziu evocações tanto de espíritos celestiais quanto terrestres e infernais.
Todavia, há realmente uma lacuna na magia tradicional no que diz respeito ao trabalho evocatório de elementais e de espiritos dos mortos (podemos considerar ambos os tipos como espiritos terrestres), visto que, embora certos grimórios mencionem superficialmente essas entidades, não se tem conhecimento de nenhuma obra mais aprofundada tratando de necromancia ou evocaçao de elementais.
Ademais, me parece que há uma diferença clara entre a maneira de operar do mago tradicional e a do bruxo tradicional: ao lidar com espíritos infernais ou terrestres, o mago sempre os comanda em nome de Deus, ao passo que- pelo que me parece- o bruxo tradicional trabalha na maioria das vezes com pactos, ou seja, com contratos e negociações com essas entidades inferiores, o que a meu ver implica na aceitação da influência infernal sobre a vida do bruxo.
Isso acarreta em consequências completamente díspares, pois o mago age em nome de Deus, e portanto deve ter o seu comportamento moral purificado e moldado pela influencias celestiais. Isso se traduz, na prática, pela aplicação da moral judaico cristã na vida do mago tradicional. Minha afirmação pode ser verificada por qualquer pessoa que ler os “aforismos” do Arbatel ou a Introdução da “Chave de Salomão”.
O que quero dizer é que, na magia tradicional, o poder de controlar e comandar demônios é concedido ao mago por Deus. Portanto o mago deve se mostrar merecedor de alcançar essa Graça do Pai Celestial, que é o Supremo Poder, a Suprema Verdade, etc.
Isso significa que à medida que o mago realiza suas operações, ele se torna mais e mais purificado e santificado pela influência divina (que é também estendida aos espiritos infernais graças ao trabalho evocatório), o que acarreta numa influencia positiva na vida do mago: a compreensão correta, a fala correta e o agir correto.
Não é por acaso que o trabalho de evocação de anjos e espiritos celestiais é sempre mais fácil e seguro do que a evocação de infernais (tanto em questao de equipamentos quanto de procedimento). Portanto, operar a partir do Ars Almadel ou da “Art of Drawing Spirits into Crystals” de Trithemius é evidentemente bem mais simples do que evocar os “espiritos do ar” (que sao infernais) seguindo o Heptameron, a Chave de Salomao ou a Ars Goetia.
O bruxo, pelo que me parece- e posso estar enganado, visto que conheço muito pouco de bruxaria tradicional- não se beneficia da proteção de Deus ou dos santos anjos em suas operações, mas abre a guarda e negocia de igual para igual com entidades demoníacas, que, por serem naturalmente contrárias ao ser humano (e a Deus e às entidades celestiais como um todo) irão aproveitar essas oportunidades para exercer uma influência nefasta sobre a vida do bruxo e presumivelmente das pessoas dentro da sua esfera de influência.
Me parece que é justamente por isso que há, dentro da bruxaria tradicional, uma aceitação da amoralidade, da perversão sexual como algo “libertador” e de diversos vícios como coisas benéficas.
Eu sinceramente não entendo o porque de fazer pactos com entidades infernais, visto que não vejo vantagem alguma em tal proceder.
Essa é a minha crítica geral ao “modus operandi” do bruxo tradicional. Se possível, gostaria de ser refutado ou mesmo corrigido (pois mais uma vez admito que nao conheço a bruxaria tradicional senao muito superficialmente).
Quanto às críticas ao patriarcado, a meu ver são infundadas, pois a mulher não era desvalorizada na sociedade ocidental tradicional, mas sim glorificada no seu papel como mãe e dona de casa.
O patriarcado sempre reconheceu as diferenças inatas entre os sexos, e por isso se organizava de acordo com a natureza do homem e da mulher.
O homem, sendo naturalmente racional, provedor e protetor dos mais fracos (“movido por impulsos celestes”) era portanto o líder natural da família.
A mulher, sendo naturalmente disposta à maternidade e materialista, era eleita como a mantenedora do lar. E porque amoral, era colocada sob a liderança do marido. Nada mais lógico!
O feminismo, que luta contra o patriarcado da nossa sociedade ocidental tradicional, é um movimento que joga as mulheres contra seus protetores naturais,: os homens.
O feminismo busca a supremacia feminina através da destruição e homossexualização dos homens e não da propagada “igualdade dos sexos” (que é em si absurda, visto que os sexos sao naturalmente desiguais no que diz respeito a função).
O resultado da aplicação social do feminismo é o que se vê atualmente: meninas sexualmente precoces que se tornam mães solteiras, pais alienados da vida dos seus filhos devido ao divórcio e uma politica que incentiva a exploração do homem pela mulher (ex: Lei Maria da Penha, que é inconstitucional, alem dos diversos benefícios sociais e legais que as mulheres possuem e os homens não).
Enfim, está tudo uma verdadeira bagunça.
Oi Henrique,
Você pode ter reparado que foi minha fonte de inspiração neste artigo… usei suas palavras. Muito obrigada por isto e pela atenção que tem dado à esta coluna.
Você pode ficar a vontade para fazer suas comparações, concordar ou discordar e até mesmo criticar o que achar passível de crítica, afinal, estamos em um espaço público com um assunto onde ninguém é detentor da verdade única, não é? 🙂
Como gosto de ler com muita atenção os vossos comentários, vou replicá-lo. Lógico que o objetivo de todas estas nossas conversas não visam qualquer conversão de crenças, mas como coloquei no artigo, unicamente como ferramentas para clarear alguns assuntos relativos ao assunto.
A distinção entre “alta” e “baixa” magia tem sido intacta em qualquer sociedade que tenha eleito um sacerdócio. Esta distinção pode ser traçada até mesmo à Mesopotâmia nos tabletes (ou tábuas) chamadas de Maqlu. O “infernal” sempre comportou uma conotação sublunar nas sociedades tradicionais, daí a ambiguidade da lua como mãe, assassina, útero fértil e delírio ao mesmo tempo – da mesma forma em que se revela na própria Natureza. Robert Graves, por exemplo, definiu a Natureza como “Vermelha em dentes e garras”.
Agradeço-lhe em apontar uma possível má interpretação no que concerne o objetivo dos praticantes de “Bruxaria Tradicional” em seus comentários sobre as aspirações do Mago. Não há diferença aqui. Também aspiramos o trabalho de Deus – ao invés de ter duas forças opostas, temos uma polaridade que dá suporte a outra – esta dupla observância nos encoraja a aderir tanto a Deus quanto “Sua Amada Sombra”, Rei e Senhor da Terra.
A orientação infernal é pragmática e ancestral. Somos seres divinos em uma jornada humana – e este mundo nos dá a oportunidade de descobrir um caminho direto para que possamos fazer nosso Destino. Para a “Bruxa”, não há gradação de valor como tal, e mesmo com a Tradição Salomônica precisamos ter em mente que até mesmo o Lemegeton tem um lugar, chamado “menor” – não pelo valor – mas porque discute o espírito de uma orientação telúrica e “para baixo”. Assim, no fim das contas, o trabalho da Bruxa suporta a Grande Obra pelo seu trabalho com a Natureza, com espíritos silvestres, os mortos e ancestrais. Então eu não estou bem certa da sua crítica com o MO, mesmo que haja uma heresia em jogo aqui, onde aceitamos o Deus acima e o Deus da Terra como mutuamente includentes e não excludentes.
Compreendo sua visão sobre o patriarcado. O modelo tradicional nos conta que o pilar é masculino e a mulher é a paisagem, entretanto ele é “by proxy” o suporte e razão para o desvelar dela. Daí e a permitir que este assunto termine em um discurso moderno sobre o feminismo vai ser necessário uma muitíssima melhor linha de pensamento do que a que você apresentou. Neste tema específico do artigo, o contexto é a razão da queda dos anjos. Que a sociedade e história tenham se movido desde esta ocorrência é completamente outro assunto, e a proposta do artigo não é certamente sobre a luta pela igualdade de sexos através da usurpação do papel masculino como uma preposição do feminismo. Penso que aqui você fundiu valores modernos e pré-modernos. Sobre as mulheres “homossexualizarem” os homens, bem, este foi o grande desapontamento que tive no seu comentário pela falta e/ou absurda fundamentação. Mas não vou discutir isto aqui. Como disse, o artigo não propõe igualdade às custas do tão combalido papel do homem (concordo que hoje está duro reconhecer o que é o papel do homem). Nesta era de ânimos exaltados entre héteros e gays, oprimidos e opressores se chocam até que um dia possa haver respeito… entre todos! Se houvesse ao menos honra e espaço para que cada um fosse supremo em um canto, ora rei outra servo, menos problemas teríamos neste mundo de egoístas, não acha?
Oi, Katy.
Obrigado pela resposta e também pela consideração em levar em conta um comentário meu!
O que vc escreveu me esclareceu um pouco, porém há alguns pontos que ficaram confusos, e eu acho que sei justamente porque: eu ainda nao sei exatamente o que vcs bruxos/as fazem!
Quando eu ouço o termo “bruxaria tradicional” me vêm à mente cenas de orgias grupais e sacrifícios em fogueiras num cenário medieval, pactos com demonios, assim como a feitura de poçoes com asas de morcego, pele de sapo, etc (o que existe até na magia tradicional).
Sim, admito que sou ignorante quanto às práticas concretas da bruxaria tradicional, mesmo porque até agora nao tive contato com as fontes de tais práticas, que parecem ser propositadamente ocultadas pelos praticantes. Assim sendo, fica difícil construir uma opinião clara.
Portanto, quando vc diz que há uma enfase no telúrico e no infernal, fica fácil de se interpretar- erroneamente ou nao- que pode haver uma adoração da criatura e não do Criador.
Há uma passagem no seu comentário sobre a qual gostaria de opinar:
“Para a “Bruxa”, não há gradação de valor como tal, e mesmo com a Tradição Salomônica precisamos ter em mente que até mesmo o Lemegeton tem um lugar, chamado “menor” – não pelo valor – mas porque discute o espírito de uma orientação telúrica e “para baixo”. ”
Vejamos: o Lemegeton é composto por 5 livros, cuja sequencia é:
1- Ars Goetia
2- Ars Thergia Goetia
3- Ars Paulina
4- Ars Almadel
5- Ars Notoria
A Ars Goetia lida com entidades claramente infernais que são obrigadas pelo mago a se materializar usando para isso um equipamento adequado.
A Ars Thergia Goetia evoca espiritos de natureza mista: uns bons, outros ruins. Já as Ars Paulina, Ars Almadel e Ars Notoria lidam com a evocação de espíritos claramente angélicos e, portanto, descritos como benéficos e amigáveis ao mago (ao contrario dos demonios).
É possivel observar também que as operações angélicas sao definitivamente mais simples e mais seguras que as infernais, tanto no proceder do mago, preparaçao e purificaçao quanto na construçao do equipamento necessário.
Também é digno de nota o fato que só demonios sao chamados a se materializarem, enquanto anjos sao percebidos pelo mago através de sua “visao espiritual”- o skrying- necessitando para isso de uma bola de cristal perfeitamente translúcido.
O porque disso é explicado pelo suposto Dr. Thomas Rudd na “Janua Magica Reserata” (publicado por Skinner & Rankine como “The Keys to the Gateway of Magic”): anjos possuem um “corpo” feito de “ar mais puro e rarefeito”, enquanto demonios sao feitos de “ar mais denso”, que se presta à materialização e por isso implica que possam ser constrangidos e feridos por instrumentos marciais como a espada da arte na Ars Goetia.
Mas porque eu fiz esse comentario? Porque me parece que o Lemegeton foi feito para ser trabalhado de trás para a frente, ou seja, o mago deve começar pelas operaçoes angelicas, que sao mais simples e seguras, da Ars Notoria, Ars Almadel, etc até finalmente estar pronto para operar a partir da Ars Goetia.
Isso tem uma razao e um propósito: é preciso estar firmemente alicerçado a Deus, às bases celestes da criação ANTES de se lidar com entidades demoníacas justamente para nao correr o risco de se perder, ser consumido, pervertido ou morto por tais demonios.
Minha crítica ao feminismo foi uma resposta à sua afirmação de que a mulher foi “por séculos e séculos pisada, acusada e lançada nos recônditos sociais e morais”, o que passou uma impressão de viés feminista.
Ora, ocorre que no mundo ocidental a mulher foi tradicionalmente valorizada como mãe e mantenedora do lar, justamente por causa da figura de Maria no Cristianismo (e por isso era poupada de guerras e diversas outras obrigaçoes sociais, embora deva ser levado em conta que o mundo antigamente era mais brutal com todos, homens e mulheres). O que havia- e infelizmente está desaparecendo- era uma cobrança quanto à necessidade de pureza sexual e exercício da modéstia, necessidades na formação e manutenção da família tradicional.
Os homens também eram cobrados- e ainda o são- quanto à sua capacidade de provimento financeiro, proteção e liderança lúcida de toda a família.
Voce pode ver que sempre houve um equilibrio nos direitos e deveres de cada sexo, e isso por razões perfeitamente justificáveis.
O não cumprimento desses deveres atualmente, principalmente por parte das mulheres, vem destruindo a base da sociedade- a familia tradicional- com consequencias claramente desastrosas para todos, e que todos podem ver no seu dia a dia (aumento de criminalidade, uso de drogas generalizado, pobreza, falta de instrução, crise moral, niilismo, promiscuidade sexual com consequente epidemia de doenças sexualmente transmissiveis, etc).
Ademais, eu afirmei que o feminismo- e nao as mulheres- promovem a homossexualização dos homens. Isso realmente é um fato, pois esse movimento realiza isso através da “desconstrução dos papéis sociais” de ambos os sexos, o que na prática é uma relativização do que é ser homem e mulher.
Embora eu nao tenha nada contra homossexuais individualmente (visto que acredito ser uma decisao de foro intimo que deve ser respeitada) eu me oponho fortemente à promoção da homossexualidade que está sendo feita pelo estado e mídia em todos os setores da sociedade e que é sim um braço do feminismo, cujo objetivo último é a destruiçao da familia tradicional como base da sociedade livre.
Tenho consciencia de que meus comentários sao politicamente incorretos, mas mantenho minha posição firme e friso que meu objetivo nao é agradar a maioria, mas sim a busca e a defesa da verdade, por mais impopular que seja.
Um abraço.
OBS: seria interessante que voce descrevesse, em um artigo próximo, o que realmente rola na prática durante uma cerimonia de bruxaria tradicional, com todos os procedimentos e resultados do ritual. Seria ótimo para a gente ter uma idéia mais sólida dessa tradição.
Fica aí o pedido.
Tenho muito, muito MEDO de quem vem com esse papo de “família tradicional”, porque pelo que percebi na história, sempre que algum grupo ou indivíduo vem falar de defender a família tradicional vem perigo aí.
Exemplos: Hitler (você pode encontrar discursos dele na década de 30 dizendo que suas intenções eram principalmente defender a família tradicional); a Marcha da Família com Deus pela Liberdade realizada por setores conservadores da população e do clero católico, e que deu um belo de um apoio ao golpe militar; hoje em dia todo conservador fundamentalista cristão, seja no Brasil ou em outros países, quando querem justificar suas loucuras repressoras e retrógradas sempre dizem que o mais importante é lutar contra a destruição da família tradicional.
Isso tem anos que venho percebendo, há inúmeros casos, e fico realmente fascinado com esse negócio. Às vezes acho que é uma espécie de código dos conservadores androcráticos, sabe?!
Sim, a família tradicional é a base da sociedade – DESSA sociedade. Família é algo socialmente, culturalmente construído! Não existe uma espécie de modelo familiar universal, a única que presta, a única certa. É exatamente por isso que esse discurso é tão usado por fundamentalistas cristãos, porque combina com a visão de mundo deles que só o cristianismo presta, a única certa.
E é claro que as mulheres querem destruir esse modelo familiar, porque ele é machista, é patriarcal. Mas não é só as mulheres, qualquer pessoas que queira uma sociedade com menos dominadores e mais relações de igualdade e harmonia querem isso.
E colocar a culpa de todos aqueles problemas (aumento de criminalidade, uso de drogas generalizado, pobreza, falta de instrução, crise moral, niilismo, promiscuidade sexual) no feminismo é simplista demais. Nós estamos em uma época de transição – não desses papos de era de aquário e blábláblá – mais socialmente, políticamente, culturalmente… o pós-moderno é a era das “desconstrução dos papéis sociais”, não é só o papel do homem e da mulher que está sendo desconstruído, tudo está!
E ainda bem que está; não aguentaria mais viver nessa sociedade com esse tipo de família tradicional, machista, homofóbica, maniqueísta…
“espécie de código dos conservadores androcráticos”. Amei! Vou adotar o termo 🙂
Para mim, homem continua homem, mulher continua mulher, independente da preferência que têm na cama. Mas família vai muito além do que une um casal. Une almas, pessoas queridas, independendo de quantos, quem, e do tamanho do sapato.
🙂
Olá Henrique,
Como seu comentário é longo, estou preparando algo ao longo do dia para replicá-lo apropriadamente.
Por enquanto, fica o meu abraço fraterno.
Qelimath
Olá Henrique,
Perdoe-me pela demora em responder. Não estou em minha casa e nem na minha rotina normal, longe do meu marido, das minhas plantas, bichos e livros. Vou tentar puxar o que me lembro para te dar uma resposta minimamente digna de seu comentário (pois é sempre um prazer falar com pessoas gentis porque isto é sempre sinal de papos enriquecedores).
Sinto que falamos de diferentes formas de escolas e aprendizados aqui, o que é interessante para um campo de experiência mútua que só pode se alargar se compartilharmos as várias partes da tela para definir o panorama do qual falamos. Existem vários assuntos em jogo em termos da definição da Tradição Salomônica propriamente, onde podemos encontrar – a exemplo, um comentário no Spher ha-Razim que diz que o livro foi revelado a Salomão para que ele pudesse “ter domínio sobre todos os espíritos e todos os desejos” (e aqui espero que a memória tenha contribuído). Também precisamos nos lembrar do texto proto-salomônico do século III, o Testamento de Salomão, que é um relato de como controlar os demônios em geral e também sobre o zodíaco. Em geral a magia e as habilidades feiticeiras do Rei Salomão são bem comentadas desde Flavius Josephus à obra de Eliphas Levi, e acho que talvez seja com Levi que temos um sentido de controvérsia com o sacerdote executando a obra sagrada, onde surge e se fortifica a dicotomia entre bem/mal (aqui, um bom livro que discute sobre magia “legal” e “ilegal”: Spiritual and Demonic Magic, P.D. Walker). Sobre seu comentário sobre anjos como do mais “puro ar” enquanto demônios de um “ar mais denso” – penso que ainda assim eles compartilham o mesmo elemento – eles são espíritos aéreos. Não vejo problema algum ao ver a demanda de se forjar um elo com o mais alto antes de se trabalhar com demônios – mas também é aqui que a discrepância entra em jogo: falamos de cosmovisões. Eu não falo por todos os “bruxos”, mas por mim mesma e por alguns semelhantes em pensamento. Eu aderi ao que é chamado de “dupla observância”, o que significa uma adoração de ambas as mãos e a aceitação mútua de Deus/a no Céu e Deus da Terra. Não há antinomia nisso, pois o Deus da Terra é a possibilidade material de Deus, e portanto, todas as coisas materiais são alcançadas através dele. Foi somente quando se fez carne que o filho de Deus pôde obrar milagres no mundo material (em mais um exemplo de adoração do Criador através de Criatura) – como todos os filhos de Deus podem – se perceberem este parentesco. Assim, como você pode ver, o que nos divide não é tão grande – é só que seus demônios são qualidades espirituais com as quais conseguimos nos relacionar como auxiliadores ou obstruidores. Aqui também reside o arcano do “goes” – que era uma classe particular de especialistas em necromancia na Grécia (para isto eu recomendo o excelente “Restless Spirits” de Johnstone) – e então a tradição goética propriamente como algo que lida com a morte, fantasmas e os espíritos presos a terra faz parte do arcano da bruxa (a de Endor é um exemplo clássico), ao passo que na Tradição Salomônica contemporânea sejam – talvez – sujeitos ao exorcismo.
Todos os bruxos tradicionais (e não aqueles que resolveram fazer um tipo de “Wicca diferente” e chamá-la pelo mesmo nome) assim se chamam por causa do tradicionalismo herdado na prática da Arte, que é a busca individual da verdade – e não da verdade na forma mundana e profana de “evidência e fato” – mas na experiência da verdade como categoria eterna que se desdobra através de estrelas, planetas e sobre a terra. Buscamos nos manter em constante comunhão com a criação, tanto com o Alto (celestial) quanto com o Baixo (material/infernal), mas como seres materiais damos muita atenção ao Deus da Terra. Assim, simplesmente não designamos aos demônios uma categoria necessariamente maligna – embora possa ser, ao mesmo tempo em que pode se tratar do agathodaimon e o daimon socrático. Para o resto dos seus comentários relativos ao MO da Magia Salomônica, esta é a abordagem de dada escola, ou pelo menos dada perspectiva que penso não harmonizar-se com minha cosmovisão – e por extensão a cosmovisäo de uma bruxa.
Posso concordar com você que o feminismo foi muito impetuoso em sua reação e trouxe mais danos do que benefícios, confundindo os papéis, mas também vejo que reações extremas geralmente são causadas por situações extremas. O oprimido de hoje se transforma no opressor de amanhã e assim, não penso que o movimento feminista tenha surgido por uma “revolta histérica qualquer” (aliás é bem interessante a história do termo “histeria” se você pesquisar a fundo). É muito fácil falar olhando para “ontem” e sem estar calçando os mesmos “saltos”. De fato, é triste que o movimento feminista tenha se transformado em algo no qual as mulheres queiram se enxergar “como” homens, ao invés de mobilizar pela dignidade da mulher… e isto foi realmente um erro lastimável. Eu também entendo suas idéias sobre o balanço dos gêneros e a orientação natural do homem e da mulher. O homem é a mente, e a mulher a alma – mas a verdadeira alquimia é feita quando ambos estão em harmonia, onde ambos os papéis são honrados e reconhecidos. Você trouxe vários assuntos sociais que seriam até que bem interessantes discutirmos separadamente – e que se relacionam aos sintomas da doença moderna chamada “cada um pode ser o que quiser, e não o que deveria ser”. Algo para ser pensando em seus vários ângulos, tanto por homens quanto mulheres, por reis ou servos… e imaginar como isto se aplicaria se fosse do contrário (nos vários sentidos que isto pode seguir).
Não consegui entender a razão por trás do seu comentário sobre a homossexualidade ser encorajada pelo feminismo. Isto é realmente questionável se você olhar para trás e para os lados, tempo e cultura. Você vê a homossexualidade como uma reação social moderna? E como a destruição da família entra aqui? Receio não entender direito aonde você quer chegar. Pode explicar um pouco mais? Eu realmente sinto uma alienação no seu ponto de vista aqui.
Você pede para que eu descreva o que realmente rola na prática durante uma cerimônia de Bruxaria Tradicional, com todos os procedimentos e resultados do ritual. Uma “versão” é algo para se pensar com carinho, embora não seja de interesse de nenhuma linhagem de bruxos tradicionais (pelo menos que eu conheça) este nível de exposição. Seria algo como se colocar ao escrutínio alheio, algo como olhar para “cima” para pedir aprovação pública. A dificuldade pode ser talvez comparada com a descrição de um ritual de Candomblé, uma parte previsível (litúrgica) e outra completamente imprevisível (êxtase/possessão). Não só isso há de se considerar que cada “família” possui sua própria MO para executar o mesmo. Há diferenças ritualísticas dentre o corpus do Clan of Tubal Cain (de minha Digníssima Dama Shani Oates, da Inglaterra) com os da Via Vera Cruz no Brasil (nosso centro espiritual agregador), tanto quanto destes dois para a Sorginkeria (Bruxaria Tradicional Basca de meu sapientíssimo irmão, Xabier) ou da pragmática magia da Bruxaria Tradicional Serva (de outro irmão amado meu, Radomir Ristic). Sem dúvida, escrever uma versão que abarque isto tudo em algo coerente é uma tarefa espinhosa, e por isso tenho procurado não apelar por uma lógica linear (bom senso acima da lógica é tudo!), mas um chamado ao coração de alguns. Infelizmente, informar do que se trata sem vivenciar um ritual pode dar um nó na cabeça de muitos magistas calejados. Sobre os resultados, você terá que descobrir as “pessoas”, ver o que elas estão fazendo e o que estão conquistando na vida. Um exemplo de obra porcamente realizada sempre se apresenta no ódio e no fracasso, não interessa se ela é voltada para cima, ou para baixo.
Um grande abraço,
Qelimath
Traduzindo: O Sagrado Feminino é uma delícia, principalmente se eu posso comê-la e usá-la para me satisfazer. Ah, peraí, ela tem opinião? Vadia. É por isso que o o mundo está essa bagunça, com essas mulheres mais sexualizadas do que deveriam. Como assim ela não aceita ser totalmente submissa e passiva ao seu protetor natural? Afinal, não é isso o Sagrado Feminino? Não é?
Pois é Mariana, erros que tentam justificar outros erros. O que é ruim mesmo é não enxergar quem começou o que.
Ouço aqui um discurso antigo: “Contentem-se com isso, a natureza lhes fez vis, propensas ao mal. Pagarás com sangue um pecado que nunca será purgado, e em retorno, ganharás maridos infiéis, miseráveis e agressivos. Apanhem, calem-se e se submetam ao papel de Mãe que padece nesta p… de paraíso…kkk”
Amor, não sacrifício, para que entremos no Céu de mãos dadas.
Belas palavras…aliás, adorei a inserção de uma Sheela Na Gig. Hoje essa imagem pode parecer grotesca para alguns, mas acredito q na antiguidade era um símbolo muito bem visto e bem-vindo tb 🙂 parabéns!
Não vo falar muito do tema da coluna em si, por não dominar em nada a matéria, embora, tenho me interessado um pouco sobre questão “ocultistas” ou “de magia”.
Mas indiretamente, quanto mais vo lendo, vo percebendo que muitos dos conceitos que eu tinha, eram pré e não pós. Vo concluindo o quão relativas as coisas são.
Sei lá. Doideira demais…
Abraços
Acho interessante que alguns anjos não se submetem à manifestação e por isso são chamados de “anjos adolescentes”, que não “amadureceram”. Em mitos orientais, o anjo rebelde é aquele que escolhe não se manifestar, participa da formação do universo, mas não se submete às vibrações mais baixas e por isso de certa forma é punido.
Olá Katy,
Vc deixou seu email da última vez sim ,mas não respondeu os meus não sei porque,
O assunto era sobre um artigo de um blog do crux sabbati,que acho,já saiu até do ar,
Mas tudo bem ,eu consegui me resolver ,só queria dizer isso para vc saber quem sou
Já li grande parte do seu site(senão todo)e tenho comigo as bibliografias que vc recomenda,
Inclusive,acompanho o trabalho de seu marido,que considero um bom antropólogo
Meu próximo comentário será em forma de debate formal,portanto peço que não o leve para a 1 pessoa
Olá Edan,
Não postarei sua longa crítica neste espaço, mesmo porque não se trata de um diálogo, mas de uma condenação e execução, da qual não vejo qualquer sentido que eu tome conhecimento além de observá-la como uma forma de agonia ressentida de quem, em primeiro lugar, não tem contato com Bruxaria Tradicional além do superficial literário.
No dia em que partirmos para uma conversa onde há abertura, onde não sentirei que preciso me defender de um juiz duro e inflexível, talvez eu lhe entretenha. Por enquanto, deixo-lhe somente meus melhores votos para que você encontre paz nesta jornada.
Paz!
Olá Katy,
Esperava este tipo de atitude da sua parte,e já tinha dito p o henrique que eu duvidava que vc teria capacidade de responder…mas vamos aqui analisar a sua suposta reposta:
“não se trata de um diálogo, mas de uma condenação e execução”
Se trata de um debate formal como mencionei no primeiro comentário,ou seja,uma busca pela verdade num determinado assunto,uma troca de idéia,onde defendi premissas baseada em estudo meus e de terceiros,vc confunde argumentos com condenações sem fundamento
“uma forma de agonia ressentida ”
essa frase prova a sua incapacidade de entender o que é um debate formal,não existe primeira pessoa num debate de verdade,portanto não existe agonia,aqui é claro que vc tenta me desqualificar,mas aos prudentes é evidente seu despreparo filosófico
“de quem, em primeiro lugar, não tem contato com Bruxaria Tradicional além do superficial literário.”
quem disse que eu não tenho contato com bruxaria tradicional?vc define o que é bruxaria tradicional?ela está restrita às suas práticas? e mesmo se eu não tivesse nenhuma prática de bruxaria tradicional(a qual mostrei que não merece o termo de tradicional)como assim eu não posso criticar a filosofia que ela emprega e as atitudes dos seus praticantes?isto é falso,eu posso criticar o pulo da janela de um prédio pq tenho conhecimento que não tem uma piscina de bolinhas lá embaixo,ou preciso pular para criticar?
“No dia em que partirmos para uma conversa onde há abertura, onde não sentirei que preciso me defender de um juiz duro e inflexível, talvez eu lhe entretenha. ”
Mais uma vez vc tenta fazer meu diálogo parecer uma acusação sem nenhum tipo de formalidade,sendo que eu dividi em premissas e declarei que seria em forma de debate,ou seja,é necessário um debatedor.O juiz é a lógica,argumentos formais,e provas históricas de origem primária,e foi isso que apresentei,sugiro que vc procure saber o que é um debate e evitar o uso de mais estratagemas comigo..
De qualquer forma sua presença será bem-vinda no Project Mayhem do Del Debbio e no grupo de magia tradicional que temos lá ! quem sabe abrimos um tópico específico para um debate com vc,convide se puder também o nicholaj,e toda crux sabbati,congrega lupino,quem seja !
paz para vc também e grande abraço do Edans Djeh
Olá Edan,
Você tem todo o direito de duvidar da minha capacidade, da mesma forma que duvido de suas boas intenções comigo. Você propôs um jogo que eu não tenho o menor interesse em participar, e assim, seu pesar me parece no mínimo reforçar meu primeiro parecer de que há aí uma “agonia ressentida”, algo que você precisa resolver, e não eu. Se respondi ao seu amigo, foi porque senti alguma utilidade nisso (uma ferramenta para clarear assuntos), no mais, ele foi muito mais polido em sua crítica. Disparado, eu diria, mesmo que não cheguemos a pontos de concordância em alguns assuntos. Para mim, é fácil enxergar maiores similaridades do que diferenças, maiores alegrias do que tristezas, maiores amores do que ódios.
Seu diálogo tenta alcançar o que há no meu intelecto, e não em minha essência, o meu eixo enrte mente e coração. Você em nenhum momento empreendeu algo a ser construído no diálogo fraterno, mas empreendeu um debate onde necessariamente surgirá um perdedor e uma pessoa com a ilusão de ter vencido. Você fala em estratagemas que “eu” estaria empreendendo, mesmo que a malícia tenha transbordado em sua abordagem, que visava testar a minha coerência e centro espiritual.
Você me ofendeu a ofender um ancestral – e aqui, eu realmente espero que você tenha o cuidado de reler sua mensagem, pois seria rude aos olhos de amáveis leitores suas palavras diminuidoras daqueles que seguiram rumo ao Grande Mistério, do qual nem eu e nem você pode clamar absoluta certeza.
Então, gostaria de finalizar informando que o benefício da moderação cabe não só a esta mulher que lhe escreve, como a qualquer um que trilhe qualquer caminho espiritual por qualquer nome que atenda – pois moderação é a chave para experimentar-se a vida em profunda sintonia divina. Não inconvenientemente, o direito de aceitar grosserias também recebe o nome de “moderação”. De fato, não entreterei desafios se não meu aprouver, mas tão somente daqueles que me chamarem a atenção, àqueles que merecem meu pouco tempo. Afinal, de minha jornada e experiência, eu passo o que quero e quando quero. Sendo assim, sugiro que continue sua obra de “advogado do diabo ateu” com outros que resolvam perder seus tempos respondendo a desafios de quem não parece ter nada o que fazer senão semear mais preconceito, desconforto e tristeza, e diante de tudo isso, só posso concluir que não me importa o que o senhor pensa de mim, mas de si próprio. Eu sei quem SOU, e não é o senhor quem irá me dizer algo que eu mesma já não tenha dito a mim mesma.
Aos proprietários do Teoria da Conspiração, mantenho-me como convidada pelo tempo em que acharem que meus textos representam um ideário válido a participar desta coletividade de peregrinos.
Paz e Respeito a todos.
Qelimath
Oi Katy,
Trabalho a alguns anos com o resgate do Sagrado Feminino, claro que tenho ainda muito a aprender.
Gostei bastante de seu texto e estou assustada com alguns comentarios acima.
Nunca pensei que alguns que estão neste caminho de busca do qual trata este Blog e o Projeto se coloquem tão preconceituosos e agressivos.
O que conheço da Bruxaria e que acredito é que tudo que está na Natureza, que é a assinatura de DEUS na Terra é Sagrado.
Portanto, temos em algumas especies na natureza que quem defende e protege são as femeas e não os machos.
Como também temos em muitas especies alguns de seus individuos serem homosexuais, tenho uma amiga veterinaria que conta que de alguns touros ela só consegue colher o semem se colocar outro macho.
Será que eles foram afetados também pelo “feminismos”????
Gratidão
Olá Llechner,
Não creio que sejam muitos llchner. Tive contato com alguns que me pareceram pessoas muito amáveis.
Daqueles que estão assim, penso que é somente fase. Ninguém “nasce” agressivo ou preconceituoso. Tudo isto é condicionamento social. Passa com um pouco de disciplina espiritual realizada com interesse.
Está mais que na hora de demonstrar o que uma Doutrina pode fazer para a paz interior de cada um dos seres humanos. Conversar sobre rótulos já deu, agora é “real deal”. Se dentre pessoas ditas “espiritualizadas” só existir a inquisição como forma de iluminação, salve a todos nós, não temos mais esperança!
Não só é momento de resgatar o feminino, mas o Amor em todas as suas manifestações, pois este ainda é o único vínculo com o que há de mais Divino. Não importa a sabedoria de todas as línguas do mundo se elas não conseguem expressar isso, não acha?
Respeito,
Acho q é sensato para quem for criticar não cair na armadilha de simplesmente se incomodar com algo q mexe em estruturas pré-estabelecidas…estamos todos aqui em prol do auto conhecimento, e ficar agarrado num ponto, rondando aquilo ali como um inseto ao redor da lâmpada, é um sinal q algo não está muito bem. Logo, aponta para algo em si mesmo q merece atenção.
Curiosa esta postagem do Edan Djehan, que queria um debate e parece ter demandado isto de forma acalorada. Pelo conteúdo de sua resposta, ele parece sugerir um debate em termos filosóficos, mas a agitação envolvida parece orientada ao popular, já que ele pareceu preocupado em formar uma opinião popular. Acho que isto é descabido, especialmente quando os assuntos são de natureza perenialista (como no artigo). Ele dá um critério para um debate assim: “O juíz é a lógica, argumentos formais, e provas históricas de origem primária…” mas isto já é algo amputado. O debate precisa primeiramente estabelecer um campo comum e também estabelecer o tipo de conhecimento, e de onde este conhecimento veio a ocorrer – somente desta forma um debate poderia fornecer frutos úteis.
Eu também discordo que a lógica deva ser vista como juiz – um debate não é uma causa judicial fundamentada em evidência e contra-evidência. A lógica é um guia no debate. Argumentos formais devem estar ali, mas a lógica deve também assegurar que a paixão não contamine a mente, para que se evite misturar os planos.
Usar a história como um argumento, tendo-se como meta o estabelecimento da verdade é algo questionável, e até mesmo Schleiermacher considerou a história como “uma adivinhação qualificada”, onde um pesquisador qualificado arranja os fatos e – ecoando Derrida aqui – “dá a eles uma voz”.
Acho que a Katy recusou-se a entreter o debate proposto simplesmente porque suas premissas estavam erradas, e isto nunca iria constituir mais do que uma opinião popular – o que realmente não tem nada a ver com a natureza ou origem do texto em questão.
Olha João, eu aprendi que respeito não é uma coisa que a gente “pede” olhando para cima, mas algo que a gente “obtém” olhando primeiro para dentro.
Não sou de fugir de um bom desafio. De fato, recursos não me faltam para que eu abrace um debate interessante e honrado. Meu problema com o tal debate foi aceitar grosserias e pré-julgamentos. O texto retrata uma realidade mito-poética de cunho tradicionalista, mas quando o juiz é lógica, o mais ilógico é a própria fé. Acredito que pessoas ditas “espiritualizadas” sejam no mínimo gentis e educadas. Assim, não me interessei e de fato achei a proposta chatérrima. Já foi o tempo onde eu ficava medindo meu tamanho com outros – mas sei bem que faz parte do nosso crescimento estas brincadeiras de criança. Purpurina, pink, new age, fluffy bunny… estes não foram os piores xingamentos que recebi na minha vida 🙂
Aguardemos pelos adultos.
Abraços e obrigada pela atenção
Creio ser uma tarefa difícil tentar entender a bruxaria pelo viés cerimonialista. Tanto o cerimonialismo quanto a bruxaria possuem ideologias e cosmovisões diferentes (de uma maneira geral pois existem inúmeras formas de magia). O que posso destacar é que o cerimonialismo parte da premissa de que o homem é a criação derradeira de Deus e por ser superior ele tem a prerrogativa de impor-se diante das outras criaturas, por isso na magia cerimonial há a evocação e o controle de espíritos e entidades. Na bruxaria, independente de ser cristã, pagã ou o que seja, há claros traços de animismos, fetichismos e teologias diversas que variam do monismo ao politeísmo extremo (passsando inclusive pelo agnoticismo) onde espíritos e entidades são vistos e tratados como igual – então não há relações de domínio e sim de parcerias – o que de uma certa forma é um pacto ou contrato. Não se busca o domínio e sim a colaboração destas entidates, espíritos e deuses dentro de uma visão de imancencia e interligação. Por isso se diz que nos caminhos da bruxaria é importante identificar e trabalhar com sua linhagem e sua descendencia pois há espíritos ligados a ela que serão mais suscetívieis ao bruxo.
Um erro comum associado á bruxaria é que lidamos apenas com espiritos terrestres e infernais quando na verdade o trabalho com entidades estrelares é um dos fundamentos da maioria das tradições da bruxaria haja visto que a maioria trabalha com Guardiões dos pontos cardeiais que em sua grande maioria são de origem celeste (fora da terra).
Ambos, ambas as mãos. 🙂
Asterion, era exatamente esse tipo de resposta objetiva que eu estava procurando.
A magia tradicional opera sempre de acordo com a “cadeia dourada do ser” (the golden chain of being), o que quer dizer que Deus e os anjos estarão sempre em posição de comando em uma operação infernal, controlando o demonio e impedindo que ele cause qualquer dano ao operador. Esse esquema inviabiliza qualquer tipo de pacto, que é, segundo a sua afirmação, o modus operandi normal na bruxaria tradicional.
Era isso mesmo o que eu queria saber.
Obrigado.
Só uma lembrança aqui Henrique, antes de você fazer qualquer conclusão.
Nem eu e nem o Asterion (nem qualquer um que venha aqui dizer suas verdades) poderíamos falar por TODOS, mas tão somente pelo trabalho de cada um. A resposta “objetiva” para explicar “magia” e seus “resultados” parte de um raciocínio lógico linear que nem sempre reflete completamente o que acontece em outros planos. A
Você diz “inviabiliza”, eu eu diria “inviabilizaria caso eu não operasse de acordo com outro contexto”. Mais uma vez, é uma questão de Cosmovisão. E no caso, do Asterion. 🙂
Assim fica difícil discutir, Katy.
Eu queria informações objetivas e o Asterion me deu essas informações objetivas.
É claro que o que acontece entre o operador e a entidade é sempre pessoal, mas a estrutura do ritual já revela o modo como se lida com a entidade.
Por exemplo, baseado no que voces disseram, eu já sei que voces nao evocam espiritos para a manifestação física (infernais), assim como também sei que voces não os comandam nem controlam, mas lidam com eles de igual para igual e trabalham com possessão/transe causada por espiritos dos mortos, teluricos ou infernais.
Isso está me lembrando bastante a quimbanda.
Outra coisa: quando vc está no plano físico vc TEM que usar a logica linear para explicar as coisas. Aqui não estamos em êxtase para nos comunicarmos de modo completamente intuitivo, então em um texto, a coisa tem que seguir o padrao de “a+b=c”.
Oi Henrique,
Não pensei que estávamos “discutindo”, só trocando idéias.
Considero a Quimbanda um sistema realmente muito similar e bastante feiticeiro, e sim, lembra muito nossas práticas.
Não concordo que você TENHA que usar a lógica linear para explicar as coisas, afinal, não estamos falando em “matemática”. Existem muitas coisas em que é de maior utilidade sentir e vivenciar, e é por isso que não é incomum encontrar textos sobre Bruxaria com uma linguagem mito-poética. Novamente, é uma questão de Cosmovisão, e ainda mais, de como seu centro espiritual funciona. Como uma Arte prioritariamente feminina, a linguagem da Bruxaria sempre é mais um apelo a este centro espiritual do que qualquer outro.
Por favor, não fique aborrecido. Não é minha intenção “discutir” com ninguém. Esta coluna existe para aqueles que compartilham desta visão, e embora os curiosos e estudiosos sejam bem vindos, a coluna não se volta a explicar “banana” para quem nunca sentiu o gosto de “banana”.
Abraços fraternais,
Henrique, não foi minha intenção dizer algo objetivo, e sim eu generalizei nas afirmações pois existem muitos sistemas de bruxaria que lidam com metodologias e cosmovisões tão diversas quanto seus grupos. As afirmações que fizeram foram com base tão e únicamente como uma “linha geral” comportando sim muitas excessões. Também não acho que devemos apela sempre para o racional e a lógica, ainda mais dentro do caminho da bruxaria que utiliza sim em suas estruturas linguagens mito-poéticas como chaves para Mistérios que não poderiam ser acessado de forma racional. Aí taçvez resida um outra diferença entre “alta magia” e “bruxaria” pelo se convém chamar de caminho solar/apolíneo/racional/antropocentrista e caminho lunar/dionisícaco/não-racional/não-antropocentrista, respectivamente.
Aquilo tudo era uma pergunta? Agora faz sentido. Vou ter de reler todos os comentários do Henrique Monteiro de novo…
Não sou especialista em dialética, mas entendo que a disputa agonística pela Verdade tem três condições para funcionar:
– vocabulário comum, porque, se nenhum dos dois conceder em usar o vocabulário do outro, vão ficar falando sozinho;
– a Verdade existente tão forte que vai sobressair por si mesma (uma vez que nenhum dos dois concede que sua verdade é relativa);
– aceitação por parte de ambos da relatividade de seus conhecimentos e oferta de um pacto para entrar no octógono mágico da disputa agonística, pois, do contrário, a dialética é um esporte mortal.
Pois é Shlomo, é isso que estou tentando dizer para o Henrique. Não partimos da mesma cosmovisão (o “vocabulário” – ou cosmovisão – aqui é outro), que como a Verdade sobressai por si mesma, ela se desenrola e atinge a tudo (cedo ou tarde), em qualquer sistema, e mais, que em nenhum momento estou dizendo que sou conhecedora de toda a Verdade. Pelo contrário, minha recusa pela resposta direta ou “objetiva” se faz necessária para que eu não mal represente a outros que preferem se manter no anonimato, tanto em meu círculo como em outros, mantendo-me fiel ao voto de “sagrado e secreto” o que deve ser mantido assim.
Também concordo que nos termos até agora apresentados, a dialética é um esporte mortal…e eu não quero perder meu tempo com isso. Por enquanto ando com algum tempo, mas vai chegar a hora onde terei que escolher escrever outro artigo ou ficar respondendo aqueles que duvidam das minhas intenções.
Um abraço,
é muito estranho pra mim, dividir masculino de feminino, a nível espiritual, pois são um par funcional; dois polos de uma mesma “bateria”. Minha mente se prendeu no masculino como provedor e protetor e no feminino como sentimentos e relações sociais, mas minha mente se fragmentou antes mesmo de se formar e quebrou o paradigma, antes mesmo que se completasse… Talvez seja uma recordação da primeira infancia, quando o pai via na família um fardo e na mãe o seu desejo. Para o filho, na primeira infancia, a Mãe é a proteção; é a fonte de alimento (pois é amamentado); é o desejo, é seu mundo (vejamos a Mãe aqui como Malkuth, a Mãe Terra, a Mãe Matéria). O Pai, como ser filosófico moral e moderador, surge é depois, para moldar a personalidade, para “educar” o filho e “domar o cavalo doido”(saturno na carta natal), mas depois ressurgi a Mãe do Céu, a figura protetora, agora salvadora, guia, a amante, filha, pois surgiu do trabalho moral, mas também Mãe, uma mãe celestial, diferente da primeira. O Pai é protetor e educador, mas no “Triangulo ético”. No mundo anímico (malkuth, yesod) é a Mãe a Iniciatrix e ela retoma esse posto em Binah, agora como Mãe dos Sóis e não mãe dos “terráqueos” ou “aquáticos” que iam em busca do “Pai”, mas como Mãe de Pã, Sophia, a sabedoria que a tudo gerou… Aquela velha estória de yin e yang, um está no outro.. .Masculino e feminino, como base de comportamento, é cultural e plenamente intercambiável, tanto que temos corpos masculinos com comportamentos femininos, vice e versa e os “dois em um”… sempre haverá um no outro…Estamos vivendo uma época antes do reconhecimento e perfeito ajustamento dos opostos como pólos de uma só “substancia”, para parafrasear Espinosa, por isso creio termos os animos exaltados, dos dois lados, pois cada um quer supremacia, mas supremacia nunca leva a nada além de desequlíbrio. O Pai ou a Mãe podem ser cruéis ou protetores, sensíveis ou dominadores, vai depender do contexto… Claro, pode ser só uma opinião de quem tem marte e venus em conjução em libra por isso não soube diferenciar os opostos….abraços confusos!
“Estamos vivendo uma época antes do reconhecimento e perfeito ajustamento dos opostos como pólos de uma só “substancia”, para parafrasear Espinosa, por isso creio termos os animos exaltados, dos dois lados, pois cada um quer supremacia, mas supremacia nunca leva a nada além de desequlíbrio.”
Você falou tudo aqui! Nem tanto ao céu, nem tanto à terra. Basta de machismo ou feminismo. Você não está confuso, percebeu que só o equilíbrio é a chave. 🙂
Acredito, por experiência própria, que no fundo, no fundo, a única hierarquia válida é a do amor. Comanda quem ama naturalmente; é naturalmente comandado quem busca esse estado pleno de amor. Seria isso objetivo, ou subjetivo? Não importa, o amor vai muito além, reconcilia todos os paradoxos, e une mundos que acreditávamos estar separados…
Certa vez fiz uma oração que dizia mais ou menos assim: Deus, eu lhe reconheci foi em meu amor, na tentativa de recriar o mundo e acho que tem muito a ver com sua frase.Não vejo necessidade de comandar ou ser comandado, pois quem realmente comanda é o amor/vontade dentro de cada um de nós, cabe a nós permitirmos que ele se manifeste sem a interferencia de nosso ego inferior. Engraçado que quando ia visitar “entidades” da falange de “exús e pomba-giras” em terreiros, há muitos anos atrás, enquanto elas pediam mundos e fundos a outros, só me pediam uma bebida, que sempre dividiam comigo, enquanto conversávamos. Piegas, como sempre é a minha opinião, mas creio que faziam isso porque sempre as amei como amigas, não como “vendedores de favores” e sabiam que eu não tinha muito a dar, por condições financeiras desfavoráveis. Sempre busquei ama-las e respeita-las como parentes e nem seguia tudo o que era dito, pois não faço assim nem com minha mãe, mas mesmo assim, sempre foram muito gentis comigo, mesmo nos “puxões de orelha” e nos “te avisei…”. Poxa, deu até saudade de minha “amiga Rosa”… Enfim, botando lenha na fogueira de evocações e invocações, creio que qualquer ser, atral ou não, só é confiável quando ligado a voce por laços afetivos. Claro, é uma opinião infantil de quem não entende nada do assunto, mas acho que primeiro se procura algo que vibre de acordo com o que vc quer manifestar e assim, transformam o desejo em um só, vibrando juntos, pois no fim, o ser astral tem a mesma vontade que a sua de que seu desejo seja feito…óbvio, sou só uma criança me metendo em conversa de adultos, mas deixei minha opinião sincera…como sempre, sua colocação foi muito boa, raph…
duplo, eu acho que vc tá no caminho certo 🙂
eu inclusive até hoje tenho uma grande amiga que mora “do lado de lá”, coisas da Umbanda…
Abs
raph
Perfeita sua colocação Raph, obrigada por compartilhar, obrigada por compreender.
abraços!
Nao consegui responder no link, entao lá vai:
Sim, é evidente que se trata de uma discussão.
Algum problema?
Na verdade estou percebendo que há um certo medo ou receio em responder às minhas perguntas.
Não precisa se preocupar em tentar me explicar o que é “banana”. Acho que tenho um conhecimento prático razoável de estados expandidos de consciência (incluindo êxtase) e contato com espíritos. Se isso for a “banana” a que você se refere, não há problemas.
O que eu perguntei, e tanto você, Katy, quanto o Asterion estão livres para responder ou se negar a isso é: “o que acontece na prática durante um ritual de bruxaria tradicional”?
A resposta que eu espero é mais ou menos na seguinte linha: “bom, um ritual bastante comum no meu grupo é o seguinte. Todo mundo se veste de preto (ou branco, ou rosa choque, ou cor de abóbora,etc), durante uma lua crescente em um signo de terra (ou agua, ou ar, ou fogo), desenhamos um circulo assim e assado com o giz consagrado, queimamos incenso X, fazemos a invocação Y e chamamos o espirito Z, que se manifesta assim e assado (na fumaça do incenso, ou atraves de possessão, etc).”
É basicamente isso. Nada a temer, certo?
Vocês poderiam usar essa ideia, aliás, para um próximo artigo.
Os textos poéticos são legais e acho que o pessoal em geral gosta bastante, mas também pode haver muita gente interessada em começar a praticar bruxaria e que deseja ter uma ideia mais concreta sobre essa tradição.
Henrique,
Se eu soubesse desde o começo de que nosso papo na realidade se trata de uma discussão, talvez escolhesse não participar.
Há um problema com isso sim, desde que vejo a troca de idéias como algo saudável, e não vejo graça alguma em discussões.
Quando você pergunta sobre um ritual de Bruxaria Tradicional, você pergunta de algo que há de mais íntimo e extremamente pessoal… algo como seu eu te perguntasse “como você faz amor”. Como tentei esclarecer anteriormente, o máximo que podemos fazer é “pensar com carinho em uma versão”. A sua forma de pensar a Bruxaria é, mais uma vez, extremamente linear em relação a isso…
Quando falei sobre a “banana”, eu me referi exatamente sobre a impossibilidade de contar algo que você só vai conhecer experimentando… se for convidado e ousar! Estas práticas sempre se mantiveram nos confinamentos familiares de alguns poucos, e foi exatamente este fator de “manter sagrado e secreto” que tem mantido a Arte viva. Mas você chegou bem perto quando a comparou com Quimbanda, e esta é uma comparação bastante feliz, pois como se sabe, cada casa “toca a gira” de acordo com a deidade maior que rege a casa, e isto sempre a fará “única”. Mas como bem sabemos, nenhum livro vai dar o real sentido do que a Quimbanda é sem que a pessoa presencie uma gira em dada casa, com dado espírito e com dado médium. Cada entidade tutelar dirá para “tocar a gira” assim ou assado, com enormes variações.
Em um ritual nosso, todo mundo se veste de acordo com o que a linhagem ou situação requer, seja nu, com robe mágico, com roupa comum, de todas as cores possíveis e imagináveis. Cada ritual é designado de acordo com dignidades planetárias (as tais janelas astrológicas), ou necessidades, ou como a celebração de um santo ou ainda, de algum espírito ou deidade, importado ou nativo… e assim, cada ritual terá elementos compatíveis com o ritual. Se usamos técnicas de scrying? Sim, o que pode variar de fumaça, espelho, cristal, água, fogo, fogueira, nuvens ou o céu estrelado. Se usamos possessão, uns sim, outros não, mas dos grupos mais antigos, sim. Até mesmo o uso de “círculo” bem como o que se usa para desenhá-lo varia: às vezes sim, às vezes não, às vezes usam-se pedras, outras passos, outras giz, carvão ou o que está mais à mão. Se usamos beberagens, ervas, unguentos, enteógenos de um modo geral, absolutamente! Então não se trata de brincadeira de criança onde posso postar rituais completos por aí como se fosse receita de bolo.
Basicamente isto, então não há nada a temer, certo? Ninguém chegou aqui para sequestrar aqueles que são os seus para uma trilha “desviada”.
Não cheguei aqui para fazer apologia, e não estou pedindo seguidores. Mesmo porque não dá. A coisa não rola assim. Então a coisa ressoa ou não, a pessoa vai atrás e quando estiver preparada o pessoal certo aparece… e aqui eu digo: o pessoal certo para aquele determinado momento, aqueles que ressoam com sua “vibe”. Pelo menos em termos de Bruxaria, podemos dizer que a regra de que aquele que tem a semente vai encontrar os seus… e assim, boa sorte a todos para encontrarem seu destino.
Os textos, como eu disse, não são prioritariamente voltados para curiosos ou estudantes, embora possa servi-los em algum nível, se se permitirem a isso, se não, tudo bem também. Da mesma maneira em que se abre uma página, fecha-se também. Não cheguei aqui para participar de uma competição onde quem discursa mais bonito ganha mais adoradores, bem como sou ciente que todo mundo é o canalha de alguém e que eu não sou a pessoa mais adorável do mundo. Francamente, você não tem a obrigação de gostar de mim nem da minha Arte. No mais, eu não recomendo a ninguém que se pratiquem qualquer ritual seja de que magia for, sem a supervisão de gente bem experiente. Isto não é “magia self-service” que você pode recriar lendo meia dúzia de livros.
Se venho aqui, é porque sinto que é hora de partilharmos, todos nós, de reflexões espirituais que podem ajudar o mundo de alguma maneira. Se você achar isto válido, bom, se não, vou tomá-lo como mais um que chegou aqui para “desbancar-me” com a velha desculpa de “ajudar” o mundo, ao mesmo tempo em que semeia mais preconceitos.
Mais uma vez, se meu caminho não é válido ao seus olhos, ignore-me simplesmente. Eu não peço pelo teu carinho ou respeito. Isso eu tenho por mim mesma.
Um abraço fraternal, torcendo para que você desta vez leia esta mensagem com vosso centro espiritual e não mais com o raio do “raciocínio lógico linear”. Eu não estou aqui para debater ou discutir, mas para compartilhar… nos meus próprios termos!
Ok, entendido, Katy.
Gostei da parte em que vc entrou em detalhes mais técnicos, que era justamente o que eu procurava.
Não concordo com o desejo em manter as tecnicas secretas (uma vez que a maioria delas já é acessível ao público em livros chamados grimórios), mas a arte é sua e vc faz o que quiser com ela.
Compreendo que certas coisas podem não ser bem aceitas publicamente, tais como o sacrifício de animais para fazer poções e unguentos ou sexo ritual (que eu intuo que deva ocorrer nessa tradição), mas a meu ver o importante é falar a verdade e não ficar se preocupando eternamente com a imagem que se passa aos outros.
Enfim, minha intenção inicial era descobrir e discutir as técnicas da bruxaria tradicional, e comparar com as que eu uso, mas percebo que isso não será possível.
Sendo assim, creio que assumirei uma posição mais de espectador do que comentarista nessa coluna.
Isso sim é algo que não entendo :
Comandar por direito, ou ter papel por dever.
Não sei que tipo de ignóbil sou, mas não vejo direito em qualquer comando, apenas poder sendo criado e manipulado, em todas as múltiplas formas que isso pode ocorrer. “Direito” é a forma pela qual se aplaca um sentimento de revolta, baseado em algumas pitadas de desejo de mudança, quando não de vingança, que chamamos “justiça”, mas que é um termo tão vago e relativo quanto outras centenas.
Também não vejo papel por sexo ou natureza do corpo. Vejo corpos de carne, que com carne e sangue podem ser manipulados. Homens, que são espíritos plásticos e de qualquer sexo desejado, um, dois ou nenhum, sendo influenciados por seus hormônios. Mulheres, que são espíritos plásticos e de qualquer sexo desejado, um, dois ou nenhum, sendo influenciadas por seus hormônios. E isso gera papeis quando limitamos o sexo por conta do corpo ?
É verdade que a razão pede divisões, ordens e criação de mundos, mas a razão não é a única lei natural, e a organização criada jamais será a única possível.
E o pior de tudo, é que o papel torna-se obrigatório pelo comando !
Há mulheres mais fortes que homens, há mulheres que não desejam ter filhos, ou que podem por livre e espontânea vontade se livrar do desejo.
Há homens que são mais amorosos e mais cheios de paixão e conhecimento emocional que mulheres, e que tem desejo ardente por filhos, ou que podem por livre e espontânea vontade vir a ter esse desejo.
Nem tudo ainda é possível – ainda não chegamos a esse nível da técnica de manipular a carne e os ossos vivos – mas a possibilidade se avizinha, e não cabe a alguém impedir isso pelo bem da “ordem” ou da “sociedade”.
O mínimo tem de ser impedido. Àqueles que desejam ajuda, ajuda deve ser oferecida. Àqueles que desejam ciência, ciência deve ser oferecida. Aos que desejam segurança, segurança deve ser oferecida. Mas a chave não é o caminho de algo único, de um mundo de seres iguais. Isso sim é um grande inferno. A chave é um mundo de seres diferentes.
Sim, nem todas essas sociedades atingirão o seu máximo – o máximo muscular de um homem é maior que o de uma mulher, o máximo de amor fraternal de uma mulher, talvez seja maior que o de um homem, pois a carne limita o espírito.
Mas o ápice não é a única coisa a se buscar. Todos os caminhos devem ser explorados, todas as verdades conhecidas, todos os conceitos descobertos, assimilados, entendidos.
Quem pode ser feliz em conhecer apenas uma parte de algo, quando há infinitas outras partes a se conhecer ? Somos imortais ! Busquemo-las !
Quando queremos muito saber de algo nós vamos atrás.
Se queremos entender melhor a sociedade ou nossos direitos, temos as faculdades e para que você possa falar sobre você precisa da graduação. Trabalho duro, correr atrás… se realmente está tudo nos grimórios vá ler um por um, não têm por que insistir em saber como uma pessoa faz sua bruxaria! Vá conhecer essas pessoas, aproxime-se delas… permita-se, abra a cabeça…. o mundo é cheio de Semelhanças mas as pessoas só veem as diferenças.
Parabéns pelo texto! Espero relê-lo com mais calma para poder entendê-lo melhor e com algum detalhe 🙂