O Tantra

Quando se fala em Tantra, a maioria das pessoas pensa logo em sexo. Mas não é nada disso, e é um símbolo claro da deturpação com que recebemos as doutrinas orientais aqui no Ocidente. Um texto de Enki ajuda a esclarecer o que é o Tantra:

O Tantra pode ser considerado como uma continuação dos ensinamentos antigos e asseguram sua origem nos Vedas, sendo muitas vezes considerado como o quinto Veda. Muitos iniciados sustentam até uma idade bem mais antiga aos Tantras, afirmando que foram os Vedas que se originaram dos Tantras e não o oposto. O Tantra pode ter surgido a mais de sete mil anos. Há indícios de praticas tântricas nos Vedas, confirmando sua antiga origem e, apesar das similaridades, a corrente védica e tântrica são distintas, sendo o Tantra um complemento importante para a corrente védica de conhecimento. As relações entre Tantra e os Vedas continuam grandes e complexas até hoje.

Os objetivos do Tantra

A disciplina tântrica ou Tantra-Yoga tem como objetivo o resgate da percepção do fluxo continuo da consciência, da percepção unitiva da consciência. Para isso ela usa da compreensão do mundo em que vivemos baseados no Samsara, cuja origem é o Karma. Samsara é a existência cíclica de nascimento, morte, renascimento (morte, renascimento…) O que conhecemos como destino nada mais é do que as relações kármicas que existe entre os seres. Karma é ação, seja ela boa ou ruim, e suas respectivas reações. O ocidental costuma confundir dharma com o “karma positivo” e karma com o “karma negativo”. Dharma é palavra sânscrita que possui várias traduções de acordo com o contexto. No budismo ela vai representar a Lei Devidamente Apontada e no hinduísmo recebe a tradução mais comum de Dever, seja ele espiritual, social ou moral. O iniciado tântrico usa de dois meios importantes e complementares para compreender o mundo em que vive para assim transcendê-lo. São eles: O domínio dos reinos sutis através do desenvolvimento dos centros psico-espirituais e a investigação descriminativa dos objetos exteriores (mundo objetivo) e interiores (mundo subjetivo) através da meditação, a fim de se tornar mais sábio. Sabendo que o mundo é uma escola e que a vida é uma incessante busca pela sabedoria, o iniciado passa associar o samsara a Maya ou ilusão (ilusões) enraizada firmemente na nossa incapacidade de compreendermos basicamente a nós e ao mundo. Para ilustrar melhor o objetivo do Tantra finalizamos essa parte com as palavras de Shiva: “Samsara é a raiz do sofrimento. Aquele que vive no mundo é submetido ao sofrimento. Mas, ó Amado, aquele que pratica a renúncia, e nenhum outro, é feliz. Ó Amado, devia-se abandonar o samsara, que é o local de nascimento de todo sofrimento, solo de toda adversidade e a morada do mal. Ó Deusa, a mente ligada ao samsara está atada sem laços, cortada sem armas e exposta a um veneno terrivelmente poderoso.”

O Tantra foi desenvolvido e aprimorado por uma classe de seres conhecida como Siddhas, seres perfeitos e altamente iluminados. Dessa classe podemos citar nomes como Boghanathar, Agastyar, Babaji, Milarepa, Nagarjuna, Nandi e o próprio Shiva. Para entender o Tantra é preciso primeiro entender o ponto de vista consciencial de quem o desenvolveu.

Os Siddhas possuíam uma visão monista pura, mas, no entanto eles não eram radicais. Sábios que eram, tinham o conhecimento de que a consciência humana se desdobra em vários graus e aspectos. Assim, foram densificando seus ensinamentos para atingir todos os níveis conscienciais. Revestiram o conhecimento mais sutil com a roupagem do profano, no sentido que rompiam com a velha ortodoxia brâmane, pois não consideravam as castas ou o grau social e consciencial das pessoas para passar o ensinamento espiritual. Esse rompimento tornou o tantra uma prática marginal, constantemente perseguida pelos brâmanes e seus praticantes sempre foram vistos com o “manto do mistério”, sendo temidos por todos.

No processo de “densificação” do conhecimento, os Siddhas explicaram o tantra com base nos referenciais mais acessíveis a todas as classes de seres. Esse processo deu origem a três escolas: o Kaula, que compreende o tantra da esquerda e o da direita; o Mishra, que é o caminho intermediário entre as práticas mais grosseiras e as mais sutis; e o Samaya, que é o caminho mais sutil – talvez até mais que o Advaita Vedanta – que é o caminho original dos Siddhas, o mais puro.

Da época dessa densificação havia mestres competentes em todas as três escolas e o processo de aprendizagem não era deturpado. Com o passar do tempo esses mestres autênticos foram se tornando cada vez mais raros e os conhecimentos corretos foram se perdendo pelos caminhos dos egos dos seus praticantes de visão turva. Assim, a egrégora do Tantra foi se desfazendo, restando poucos mestres autênticos, entranhados nas montanhas dos Himalayas e que custam a passar o verdadeiro conhecimento, visto que é difícil achar um verdadeiro discípulo.

Foi nesse caminho de deturpação dos ensinamentos que surgiram as primeiras práticas que associavam o sexo com o Tantra. Em verdade essa associação não existe, mas é fruto da compreensão turva de textos altamente sutis, que tratam de aspectos avançados da percepção consciencial, mas que usavam de linguagem metafórica para facilitar o entendimento. Essa sobreposição é facilmente perceptível quando se entende o ponto de vista consciencial dos Siddhas.

As práticas do Tantra foram adequadas às suas escolas, existindo práticas avançadas de meditação, que estudam a manifestação consciencial até práticas físicas como o Hatha Yoga. Essas práticas se apóiam e se completam.

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Respostas de 3

  1. Muito bom, parabéns pela iniciativa. Esse texto nos faz refletir sobre as coisas que interpretamos de maneira errada, devido a densificada massa egóica que cobre nossos olhos.

  2. opa tio MDD,andei lendo uns textos na nossa famosa internet,sobre ejaculação pra dentro,,onde se pressiona o períneo e etc..alguns associando o mesmo ao tantra,e me deparei com diversas opiniões,de que faz mal,e de que faz bem,de que faz muito mal,e de que faz muito bem,sem acreditar em mais ninguém,e apenas no senhor,e sabendo que o senhor é professor de tantra e tem vasto conhecimento com suas pesquisas,poderia esclarecer esse assunto??? valews

    @MDD – Nessa historinha de “ejaculaçao pra dentro” que muitos gurus “tantricos” engravidaram suas aluninhas rsrsrsrs… Isso até existe, mas demora DECADAS de prática para funcionar efetivamente. E até lá, a chance de vc se meter em uma enrascada é grande, fora que isso nao protege em nada contra doenças venereas.

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