O símbolo do Labirinto exemplifica perfeitamente o processo do Conhecimento, ao menos em suas primeiras etapas, naquelas em que o ser tem de se enfrentar com a densidade de seu próprio psiquismo (reflexo do meio profano em que nasceu e vive), isto é, com seus estados inferiores, separando alquimicamente o espesso do sutil, que a alma experimenta como sucessivas mortes e nascimentos –solve et coagula–, destinando ao mesmo tempo numerosas provas e perigos que somente fazem traduzir o próprio conflito ou psico-drama interior.
Esse desassossego é próprio daquele que, tendo abandonado suas seguranças e identificações egóticas, descobre ante si um mundo completamente novo e, portanto, desconhecido, mas para o qual se sente atraído, porque na verdade intui que ao atravessá-lo é que poderá se reencontrar com sua verdadeira pátria e destino. Essa impressão indelével de estarmos totalmente perdidos tem que nos levar imperiosamente a encontrar a saída, ajudados sempre pela Tradição (e seus mensageiros: os símbolos), que neste caso nos chega por meio do Agartha que, tal como um guia ou eixo, tem de nos conduzir (desde que nossa atitude seja reta e sincera) a um estado de virgindade, a um espaço vazio imprescindível, apto para a fecundação do Espírito, o que se vive no mais interno e secreto do coração.
Devemos assinalar que muitos labirintos representados na arte de todos os povos são autênticos mandalas ou esquemas do Cosmo, ou seja, da própria vida, com suas luzes e sombras, o que nos permitirá compreender que esse processo labiríntico é na realidade uma viagem arquetípica, uma gesta, em suma, que todos os heróis mitológicos e homens de conhecimento têm realizado, e que nos servirá de modelo exemplar a imitar, tal e como estamos vendo na série “Biografias”. Na verdade, a viagem pelo labirinto é uma peregrinação ligada à busca do centro, e neste sentido é importante destacar que em muitas igrejas medievais figurava um labirinto (como em Chartres, em meio do qual aparecia antigamente o combate entre Teseu e o Minotauro) que percorriam de forma ritual todos aqueles que, por uma ou outra razão, não podiam cumprir sua peregrinação ao centro sagrado de sua tradição (por exemplo, Santiago de Compostela, ou Jerusalém), o que era considerado um substituto ou reflexo da verdadeira “Terra Santa”, onde os conflitos e lutas se finalizam, possibilitando assim a ascensão pelos estados superiores até conseguir a saída definitiva da Roda do Mundo.
Como dissemos anteriormente, falando da simbólica do Templo, esses labirintos se encontravam justo após a pia batismal (Yesod), e antes de chegar ao altar (Tifereth, o coração), ou seja, entre o batismo de água –relacionado com a regeneração psicológica e as viagens terrestres– e o batismo de fogo, vinculado por sua vez com o sacrifício pelo espírito e as viagens celestes, horizontais uns e verticais os outros. Na Árvore Sefirótica, o labirinto corresponde, pois, a Yetsirah, ou plano das formações, ou das “Águas inferiores”, que o aprendiz tem de atravessar em sua viagem pelos estados e mundos da Árvore da Vida.
Adicionaremos, para finalizar, que no Adam Kadmon microcósmico, ou seja, o homem, este labirinto tem de ser localizado na zona ventral, área que se destaca tanto por suas combustões e revoluções, como pela analogia que apresentam seus órgãos internos com a representação geral do labirinto.
Respostas de 14
hheeh
labirinto do fauno é uma otima indicação de filme
Salve! Ótimo texto. Nos meus sonhos com labirinto (há décadas) sempre há uma companhia que eu tento proteger do perigo, coisa que torna menos importante encontrar a saída e que geralmente nos conduz de volta à entrada. A ameaça (variável e que nunca chegou a causar danos) termina por ser mais importante que o enigma. Eu acabo sem sequer notar que havia um enigma a ser resolvido. Como interpretar isso?
Ótimo texto tio DD.
Obrigado novamente pela luz.
Pax
O Herói de Mil Faces do Campbell é uma ótima pedida para quem se interessa.
Muito conveniente pro momento esse texto.
excelente texto
muito elucidativo
Eu tinha uma visão diferente dos labirintos, achava que era uma representação do caminho a pecorrer da mente ao espírito.
Confesso que demorei um pouco pra entender o que você tava dizendo. Principalmente nos dois últimos parágrafos.
@MDD Como dissemos anteriormente, falando da simbólica do Templo, esses labirintos se encontravam justo após a pia batismal (Yesod), e antes de chegar ao altar (Tifereth, o coração), ou seja, entre o batismo de água –relacionado com a regeneração psicológica e as viagens terrestres– e o batismo de fogo, vinculado por sua vez com o sacrifício pelo espírito e as viagens celestes, horizontais uns e verticais os outros. Na Árvore Sefirótica, o labirinto corresponde, pois, a Yetsirah, ou plano das formações, ou das “Águas inferiores”, que o aprendiz tem de atravessar em sua viagem pelos estados e mundos da Árvore da Vida
Então o significado do labirinto é o caminho à pecorrer…
@MDD Adicionaremos, para finalizar, que no Adam Kadmon microcósmico, ou seja, o homem, este labirinto tem de ser localizado na zona ventral, área que se destaca tanto por suas combustões e revoluções, como pela analogia que apresentam seus órgãos internos com a representação geral do labirinto.
e a divisão que nos separa de um Golem para um Adam?
ps¹: Na verdade, acho que aqui você fala da visão que eu tinha do significado do labirinto.
@MDD Como dissemos anteriormente, falando da simbólica do Templo, esses labirintos se encontravam justo após a pia batismal (Yesod), e antes de chegar ao altar (Tifereth, o coração), ou seja, entre o batismo de água –relacionado com a regeneração psicológica e as viagens terrestres– e o batismo de fogo, vinculado por sua vez com o sacrifício pelo espírito e as viagens celestes, horizontais uns e verticais os outros.
ps²: De qualquer forma, achei ótima essa nova visão que você colocou, isso se eu tiver entidido certo, é claro.
ps³: Na “fig. 6”, era pra ter alguma coisa?
“Além disso, não precisamos correr sozinhos o risco da aventura, pois os heróis de todos os tempos a enfrentaram antes de nós. O labirinto é conhecido em toda a sua extensão. Temos apenas de seguir a trilha do herói, e lá, onde temíamos encontrar algo abominável, encontraremos um deus. E lá, onde esperávamos matar alguém, mataremos a nós mesmos. Onde imaginávamos viajar para longe, iremos ter ao centro da nossa própria existência. E lá, onde pensávamos estar sós, estaremos na companhia do mundo todo.”
Joseph Campbell
Tou lendo ‘O Poder do Mito’ e cheguei nessa parte ontem. Pra quem ainda não leu, vale a pena!
Símbolo ligado a várias culturas de povos antepassados, para os índios Hopis o labirinto unidirecional de 7 voltas representa a Mãe-Terra, um símbolo ligado ao nascimento e a criação. Os labirintos sagrados tem origem numa espiral, forma na qual a energia se propaga no universo.
Conheçam o blog: http://labirintosagrado.blogspot.com
Salve os labirintos sagrados!
Salvem os labirintos sagrados!
Meu Labirinto da Mente, do Espírito, do Coração.
Correspondencia total com meus atuais estados de ser.
Adicionarei à minha coleção de posts do TdC indispensáveis para meu blog pessoal.
Paz e Luz!
Este texto veio de encontro com meu momento atual. Como é incrível quando identificamos e sentimos uma sincronicidade. Grato mestre DD!
“Como dissemos anteriormente, falando da simbólica do Templo, esses labirintos se encontravam justo após a pia batismal (Yesod), e antes de chegar ao altar (Tifereth, o coração)”
Boa noite, alguma bibliografia para indicar sobre as formas simbólicas das construções? Sou arquiteta 🙂 Obrigada!