O Senhor dos Anéis e a Kabbalah

Aproveito o começo da Campanha do RPGQuest, um Jogo Baseado na Jornada do herói, para publicar este texto que já estou devendo para vocês ha algum tempo e explicar a importância de se estudar Kabbalah hermética e sua aplicação direta na construção de histórias épicas.

Não vou entrar em detalhes sobre cada uma das Esferas porque nesta altura do campeonato vocês já estão mais carecas que o gollum de saber do que se trata o assunto (se não conhecem, recomendo este livro de Kabbalah Hermética para entender todas as nuances da Árvore da Vida), então vamos às Esferas:

Um dos erros que tenho visto o pessoal nas listas de thelema, kabbalah e mitologia cometer é achar que a “Jornada do herói” é apenas de UM herói por vez. Como mostramos no texto sobre o filme Animais Fantásticos, a Jornada do Herói pode ser construída em múltiplos níveis situacionais e ser dividida em diversos personagens.

Malkuth – O reino, o Início da Jornada do herói. O Shire. No começo da Jornada do herói, temos o famoso “Chamado à Aventura” onde Gandalf chega ao Shire para iniciar toda a Jornada que Frodo e seus companheiros terão de percorrer. Mas o Senhor dos Anéis não possui apenas UM Herói em sua narrativa. O Sol (Tiferet) está dividido na narrativa de três personagens: Frodo, o herói ordinário que é arrancado do seu cotidiano para entrar em um universo muito maior do que o que estava anteriormente, tal qual Harry Potter, Luke Skywalker e muitos outros que seguem a Kabbalah Hermética; Aragorn, o Rei que precisa da jornada para retomar seu local de direito no Reino, tal qual o Rei Arthur; e finalmente Gollum, a Sombra que acompanha o iniciado em sua Jornada e o Deus Solar do Sacrifício (veremos o Sacrifício em duas partes neste épico. O Sacrifício de Chesed para se tornar Hochma e o sacrifício da Sombra do herói para a destruição do lado qlifótico da alma, no qual Gollum encontra a redenção).

Yesod – A figura feminina representada por Galadriel, que faz as partes de Yesod (a figura materna), Netzach (como sedutora) e Hochma (como Senhora das tempestades). Cuida dos heróis na Jornada ao mesmo tempo em que é tentada pelo poder ilusório do anel.

Hod e Netzach – As partes do subconsciente do herói que representam a Razão e a Emoção, tal qual Ron e Hermione, R2-D2 e C3PO, acompanham o herói durante toda a jornada, lembrando-lhes sempre de sua mortalidade. Sam e Pippin acompanham tanto o Iniciado (Frodo) quanto sua Sombra (Gollum) até os limites do Abismo (Mordor, lar de Sauron, que não por acaso é representado na forma de um “olho que tudo vê”, a letra Ayin na Kabbalah e o Caminho do Diabo no Tarot). Arwen faz o papel de futura Rainha, como amante de Aragorn (Tiferet).

Tiferet – O Rei. Dividido em três níveis de consciência e três jornadas distintas: Frodo como o herói tradicional da jornada de Campbell, que é arrancado de sua paz e tranquilidade para viver uma jornada. Frodo representa os leitores que também são arrancados do conforto de suas poltronas para viverem uma aventura de seu ponto de vista; Aragorn como o SAG e a Essência, que já possui sua realeza mas precisa recuperá-la através da mesma jornada do iniciado e, finalmente, Gollum que vivia nas sombras pela tentação qlifótica e tem a oportunidade de redenção durante a jornada.

Geburah – Legolas e Gimli são os guerreiros que acompanham o Herói. Partes antagônicas (tal qual Bruce Banner e o Hulk, dr Jeckyll e mr. Hide e Han Solo e Chewbacca), a esfera marcial está sempre ancorada no rigor e na ira, com personagens extremamente precisos e/ou científicos e/ou heróicos e suas contrapartes brutais, bestializadas ou selvagens. Juntos também formam um par em um segundo nível entre a Beleza e o Rigor, duas das colunas do Templo Simbólico de Salomão.

Chesed – O mentor e o Guia, representado por Gandalf, o herói que já possui sua própria coroa de reconhecimento e que guia o protagonista através da Jornada (como Dumbleodore, Merlin ou o Mestre Yoda). O sacrifício maior em prol do grupo (letra NUN na Kabbalah e arcano da Morte no tarot) é necessário para que ele possa se tornar Gandalf, o Branco (Hochma, a figura que atravessa o Abismo em direção à Sabedoria e, ao final da Jornada, pode atravessar para o “outro lado”).

Daath – O Portal, representado no desafio primordial da Jornada, tal qual o Imperador, a bruxa malvada da Branca de Neve ou Valdemort, representa a causa principal do início da Jornada e a razão do herói existir (os 3 heróis e as três Jornadas, no caso). Tal qual um portal que nos impede de cruzar o abismo, o Conhecimento do bem e do mal fará a separação entre os heróis e o mundo ordinário.

Todas as bases dos roteiros acima são frutos do estudo da Jornada Arquetípica do herói dentro de cada um de nós, cujas fórmulas são derivadas da Kabbalah Hermética. George Lucas, J RR Tolkien, JK Rowlings e muitos outros autores beberam da mesma fonte, que também utilizamos na estrutura do RPGQuest, de modo que cada partida deste Jogo de Tabuleiro será uma Jornada Épica dos Heróis. Uma Campanha inteira de RPG em uma tarde!

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Respostas de 9

    1. Pra mim Sam é o sentimento (Netzach), aí Merry e Pipim podem ser a razão (Hod), apesar de não achar que se enquadram nisso.

      E na verdade ao colocar Aragorn, Frodo e golum na mesma posicao da arvore bagunçou tudo, pois entre eles as outras esferas não são dos mesmos personagens. Ainda que todos sejam Tiferet e tenham o mesmo Daath, só de início malkut dos 3 é completamente diferente, logo o mais correto era fazer 3 mapas.

    2. Acredito q o Sam entre mais como Pícaro, aquele personagem q dá uma descontraída na história, tipo o Jar Jar Binks.

  1. Tio, parece um pouco que, assim como Galadriel representa Hochma, Elrond representa Binah. Ele pode ver o futuro, reúne o conselho que forma a Sociedade do Anel, e não quer que a filha fique com Aragorn. São atitudes de rigor, não são? E isso formaria a célula Binah-Hochma (duas esferas primordiais) representada por dois elfos anciões, portadores dos Anéis Élficos.

  2. Voce quer dizer, Golum encontraria a redenção, não? pois ao termino da história ele foi corrompido e destruído pelo seu objeto de desejo.

    E binah, chokmah e keter? valinor é tudo isso?

  3. Hoje eu estive pensando que o chamado Eu Superior deve ser o eu que sabe que está jogando, o eu divino que se reconhece enquanto eterno e retomando a consciência de quem é num jogo de caminho de volta para sí/casa, potência cósmica que está se auto conhecendo.

    Estava engatilhado pra assistir senhor dos anéis, já haviam rodado os primeiros 5 do filme, aí parei um pouco, fui fazer uma coisa, dei uma volta pela casa, e lembrei da sua árvore da vida, estava pensando o que seria Daath, se era Sauron, e tentei revisitar o para mim sempre inquietante e nebuloso conceito de Daath. Foi quando a ideia de portal me veio a mente, e o uso de vilões que você sempre traz nessas comparações, para mim um pouco difícil de entender/visualizar perfeitamente, mas pude vê-lo enquanto o desafio maior que uma sociedade ou pessoa pode viver em sua vida, aquilo que ela terá que superar para continuar (seja o que for) e que de certa forma precisa fazer para alcançar a plena paz interior (não a recalcada, do ego, mas a de fora a fora, bem resolvida com todo o ser. E sua explicação aqui reforça essa tese. Confesso que gostaria de mais explanações sobre “Tal qual um portal que nos impede de cruzar o abismo, o Conhecimento do bem e do mal fará a separação entre os heróis e o mundo ordinário.”

    Vou continuar com o filme

  4. Uau. Foi Mindblowing pra mim ver a imagem do Gollum e o conceito da sombra sendo associado ao Deus Solar do Sacrifício, entender os nuances e a fertilidade que a associação gerou a minha mente. Quer dizer que o Cristo crucificado é a parte da sombra que de alguma forma se integra ao ego/se perde? (“o sacrifício da Sombra do herói para a destruição do lado qlifótico da alma, no qual Gollum encontra a redenção”). O que simbolizaria essa destruição na nossa vida cotidiana? seria o cruzamento do portal em Daath? Por isso no filme os dois acontecem ao mesmo tempo (Gollum caindo na lava com o anel destrói Sauron). Eu acho que poderia rolar uma exploração sobre isso, me parece muito rico e necessário. Também poderia dizer se há alguma simbologia interessante para o anel. Obrigado.

  5. Pensar sobre a questão da banalidade do conceito de bem e do mal, bem como entender como a percepção divina nos é transmitida como enxergando tudo como bom (mesmo coisa” trágicas”), eu sempre me intrigo com o conceito de qliphot, não aceitando muito bem a ideia de que elas são “do mal” mas procurando entende-las como mecanismo da natureza, como uma espécie de “tubos” da corrente elétrica natural, algo que deve existir para tudo existir. Junto isso a noção que devemos nos abster do julgamento e estar sempre em paz no agora, vivendo, reforçando a noção da banalidade do conceito de bem e mal (bem como a percepção de que é o ego que vê as opções de “bem e mal” – para sí -, ao contrário da percepção do eu Maior, aquele que sabe que está jogando um jogo divino de volta). Porém é muito difícil não se ” assombrar” com elas, tême-las, e, talvez por isso, acha-las malignas, ruins. Então essa minha lógica seguia um rumo onde não considerava a destruição das qliphot (ou pelo menos tentava não considerar, talvez no funo querendo extermina-las devido ao pavor que causam) . Então esse tipo de contradição SENTIDA me perseguia. Aí encontrei essa sua fala que mexeu com essas minhas questões, de certa forma jogando luz a elas: “a destruição do lado qlifótico da alma”, quando fala da destruição do Gollum. Parece mesmo que as qliphot devem ser destruídas? Me pergunto. Ele usou “destruidas” mas aí há também simbologia, nuances?

    Poderia falar algo sobre isso? Obrigado.

  6. O anel parece ser nossos desejos. Nossos desejos não são bons? Quem mais deseja, é nossa sombra (Gollum com todo seu apego, paranóia e “tesão” no anel/desejo)? Então temos que remover nossos desejos (negue-se a si mesmo). Não são bons… E como fazemos isso (remove-los/destrui-los)?! Temos que barganhar com a sombra, que, relutante, vai topando ir destruir seu desejo (Gollum acompanhando e topando ajudar)? Nossos desejos também não podem nos guiar pela vida?

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