Texto do meu irmão e amigo Dario Djouki, sobre meditação:
A meditação, como conhecemos no ocidente, tem um significado completamente diferente de sua real origem, no oriente, mais especificamente na Índia. Várias práticas espirituais, ao chegaram até o ocidente, foram deturpadas ou mesmo adequadas ao estilo de vida das pessoas, mais voltado ao plano material do que o espiritual, ao dinheiro do que a elevação do ser e a busca de Deus dentro de cada um de nós.
As religiões ocidentais fizeram isto com as pessoas. Através de seus dogmas, sistemas verticalizados de comando, imposições sociais, introduziram na sociedade os conceitos de bem e mal, certo e errado, mantendo-as dentro de seus domínios, pois obviamente é muito mais fácil de se controlar alguém!
Com o próprio advento da espiritualidade “fast-food” com suas soluções práticas de vida e consumismo desenfreado, todos os conceitos orientais foram banalizados, e o resgate dos mesmos como caminhos de evolução do ser humano é muito importante para as pessoas que realmente querem ter uma vida melhor, tanto física como espiritual. Isto tudo pode e deve ser agregado às práticas espirituais ocidentais, sem o menor problema, pois todas as fontes levam à Deus.
Meditação
Por Swami Ritajananda
A palavra meditação não tem na Índia o mesmo significado que no Ocidente. Os hindus usam uma palavra equivalente, pois não existe outra que se aproxime mais dessa idéia. A palavra mais usada por eles é Dhyana, ou Nidihyasana, ou ainda Upasana.
Normalmente, durante a meditação, objetivamos pensar apenas em um Ideal espiritual ou uma idéia próxima deste ideal. Na Dhyana, o pensamento não se ocupa de modo algum com um tema, mas dirige-se intensamente para o Ideal espiritual.
Na Índia, o objetivo buscado é o de se obter uma experiência espiritual que transcenda a mente. Se não se admitisse a possibilidade de atingir um estado mais elevado que o nível da mente, a meditação hindu não teria nenhum significado. Para os hindus, a meditação é suscetível de levar um contato direto com o Supremo.
Por que é necessário meditar? Para buscar o Supremo. Aqueles que meditam desejam encontrar o Supremo. Sabem que a melhor coisa que existe em suas vidas é alcança-lo. É a meta suprema da existência. Na Índia é a salvação. Precisamos dizer também que a meditação deve tornar-se uma concentração intensa, tão fina e aguda quanto possível. Trata-se, portanto de uma intuição penetrante.
Há, por um lado, a intensidade da concentração e , por outro, uma compreensão bem aguçada, bem afinada, dentro da meditação profunda. Ficamos então completamente separados da vida comum.
Normalmente esta prática é difícil, pelo menos no início, porque nossa mente está habituada a afundar-se numa imensa variedade de pensamentos e sentimentos. A isto se acrescenta a lembrança de nossas impressões passadas, ou então aquilo que está próximo, o imediato, tornando a concentração muito difícil. Poucas pessoas consentem em desprender-se de todas as suas atividades mentais para se tornarem capazes de absorver-se em seu Ideal Espiritual.
Existe um meio eficaz para se conseguir purificar a mente de todos os diferentes tipos de pensamentos. Este meio é a introspecção e a análise de si mesmo. Praticando bastante a introspecção, analisando-se a si próprio em seu interior, consegue eliminar todas as más tendências da atividade mental. Mas isto é difícil no começo, porque não somos capazes de julgar-nos imparcialmente e dificilmente aceitamos reconhecer nossos defeitos.
Muitas vezes as pessoas não se dão conta da dificuldade que há em descobrir seus defeitos, porque sua própria mente, em geral, mascara as más tendências. Então, sem compreender que elas próprias estão velando a visão das coisas, não sabem que estão vendo incorretamente e agindo mal. Não sabem que sua apreciação de sua própria atitude mental não é nem clara, nem exata. Por esta mesma razão, tais pessoas não compreendem a crítica de seus defeitos, se lhes acontece ouvi-la, pois julgam-se feridas em seu amor-próprio. Portanto, é muito difícil.
(…) O objetivo supremo da meditação é atingir a Consciência Pura,absolutamente pura, a Luz sem nenhuma nuvem. Mas, antes disto, há diferentes níveis.
(…) A consciência pura é o estado de Samadhi. Se pudermos chegar a este estado, seremos realmente mestres. A mente ficará completamente controlada, descobriremos muitas coisas muito mais nitidamente do que antes. A compreensão habitual é a do mundo, daquilo que vemos. Não é o real. Não é a verdade. O que tomamos por verdadeiro é o produto de nosso pensamento, a criação da mente. Com a mudança da mente, o mundo muda, tudo muda. Nesse momento, pode-se dizer que vocês captaram a meta suprema de suas vidas. Compreendem quem são, compreendem onde estão. Vocês se transformam.
Como verificamos nas palavras do Swami Ritajananda, meditação não é apenas fechar os olhos, ficar em silêncio, praticando respiração. Meditação é algo muito mais profundo, é a busca da consciência suprema, da conexão com Deus, através de práticas, seja entoando mantras, observando imagens, ou outra forma que seja melhor adequada ao praticante. Quando você medita, você se conecta, descobre seu verdadeiro ser.
Meditar não é manter a mente vazia, mas sim preenchida de silêncio. É o equilíbrio absoluto, é a paz interior definitiva, criando uma mente centrada, em paz consigo mesma.
Respostas de 26
As vezes quando medito eu tenho uma sensação de como se não tivesse um corpo.
Venho tentando praticar meditação segundo o exercício de grau do método do Bardon. Gostaria de ler mais a respeito sobre o assunto, principalmente a meditação concebida pelos budistas e hindus. Conhece e indicaria algum livro a respeito? Obrigado
ROdrigo
Ótimo texto!
Esclarece algumas duvidas para pessoas que, como eu, têm dificuldade de limpar a mente na hora de meditar.
Valeu, tio MDD!
“Mas isto é difícil no começo, porque não somos capazes de julgar-nos imparcialmente e dificilmente aceitamos reconhecer nossos defeitos.”
Os apegos sempre machucam quando tentamos nos livrar deles. Sinto profundamente os meus apegos e desejos servirem como âncoras quando tento refinar minha consciência.
Texto conciso e direto.
Meditar não é manter a mente vazia, mas sim preenchida de silêncio. É o equilíbrio absoluto, é a paz interior definitiva, criando uma mente centrada, em paz consigo mesma.
Bacana o texto … gostei!
P.P.
Legal esse post, e realmente é sempre bom procurar o melhor método de conexão , porque assim as experiências acabam tendo mais qualidade. E tudo faz mais sentido, interessante como todos nós temos que passar pelo fogo para conseguir ter um contato divino. Um processo que quando for dominado nos leva a final iluminação, moto perpétuo , a transformação em ouro, e outros estados ideais.Isso me fez lembrar a passagem abaixo.
“…E, se alguém sobre este fundamento edifica ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; na verdade o dia de Cristo a declarará porque pelo fogo será descoberta e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele prejuízo; mas o tal será salvo, todavia como que pelo fogo.” (1Cor. 3:10-15).
Uma dúvida q vem me atazanando a algum tempo… Mas q agora me lembrei de perguntar: É comum se sentir observado, sentir q não está sozinho ou sentir mesmo que tem alguém bem próximo a você durante a meditação e/ou exercícios de respiração?
@MDD – Como estes exercicios aumentam a percepção e a intuição, sim, é comum sim…
Minha mente é racional dema.s!!! Penso que preciso de que tudo seja clara e detalhadamente escrito , incluso os exercícios orientais que são muito “vagos” apra minha mente…
Minha mente está cheia de poluição, demora muito pra “cair a ficha”.
“Normalmente esta prática é difícil, pelo menos no início, porque nossa mente está habituada a afundar-se numa imensa variedade de pensamentos e sentimentos.”
Fato, é uma das dificuldades que eu tenho qdo vou meditar, mas eu to chegando la.
Acredito que buscar uma maneira de dialogar com a própria mente é a chave para que se consiga meditar. A programação neurolinguística ensina a criar esse diálogo de maneira fantástica.
A meditação é um estado fisiológico do cérebro. Mente e corpo são partes de um mesmo sistema. Uma mente agita, faz o corpo ficar agitado ( já viram alguém ansioso?). Assim como um corpo curvado, cabeça baixada, movimentos lentos logo te levam a um estado mental de introspecção, diálogo interno. Se nesse diálogo sentimentos de culpa e medo começarem a emergir, está se formando um estado depressivo.
Uma mente agitada pode ser acalmada alterando-se a fisiologia do corpo para um rítimo mais lento. Isso se consegue através da hiperventilação, ou respiração profunda.
As palavras tem poder.
Pedir a alguém para pensar em nada, força muito os racionais, agitados.
Dizer a alguém para se preencher de silêncio, inspira, faz todo sentido – desde que a pessoa não seja extremamente prática.
Eu recomendo o estudo da autohipnose para quem quer aprender a meditar.
Lá você entenderá a fisiologia do cérebro, de modo a saber como sair das ondas beta (estado de vigília) para as ondas alpha e téta (transe) sem entrar nas ondas delta (sono). E quem tiver curiosidade, procure saber sobre as ondas GAMMA.
É muito simples o processo. Mas, tem de fazer, praticar. Só na teoria não vai.
Dizer que é difícil é autoflagelo. Sofrimento. Não precisamos disso, a coisa é fácil. Aprenda como se faz e pratique, pratique, pratique.
Quando você altera a velocidade das ondas eletromagnéticas do seu cérebro, você coloca a mente consciente em “stand by” e põe-se em contato direto com a mente insconsciente, sábia e protetora, para te guiar, por onde você precisa ir. Você abre um canal direto com o seu interior, com a sua luz, com seu Deus, com o que de maior você acreditar.
O sofrimento dos iniciantes em meditação, vem do “preencher-se de silêncio”.
Isso significa: aprenda a ouvir a mente inconsciente, se comunique com ela.
Não adianta estar com dois milhões de carmas te atormentando, problemas físicos, de grana, de relacionamento, profissionais e achar que vai fechar o olho e “booommm”, a paz estará contigo pelo resto da vida.
Qualquer indução leve de hipnose te coloca em relaxamento profundo, sensação de leveza e paz. Isso é revigorante!! Experimentem. O Criador não te nega isso. Bastar SABER O QUÊ PEDIR, e conhecer o seu próprio meio de se comunicar consigo mesmo.
Já pararam para pensar que Deus pode estar pedindo para que você ponha direção nos seus problemas “mundanos” “profanos” antes de poder se ater a algo mais?
Bacana o texto!
Interessante o lance dos significados das palavras em diferentes idiomas e culturas… isso é muito mais comum do que normalmente se tem noção!
Penso eu que a meditação não é responsável pela conexão com a divindade ou ser supremo… e sim que… através da meditação é possível se reconhecer essa conexão!
E não é conexão no sentido de se extender um cabo… uma linha… entre os dois ‘objetos’…
A conexão é no sentido de estar junto e fazer parte.
“Aqueles que meditam desejam encontrar o Supremo. Sabem que a melhor coisa que existe em suas vidas é alcança-lo. É a meta suprema da existência.”
Eu desejo o Supremo. Eu desejo uma vida melhor. Eu desejo amor… Os humanos e seus desejos de sempre.
“Autoconhecimento com Hatha Yoga” – livro escrito pela mestre iogue Hermógenes. Ótima leitura e prática.
Para quem nunca teve contato com a meditação, recomendo o “A arte da meditação” de Daniel Golleman, autor do conhecidíssimo “Inteligência Emocional”, que trata de outro assunto.
“A arte da Meditação” é um Bê-a-bá, mas dá algumas explicações que tranquilizam um pouco os mais racionais com algumas referências científicas. As práticas, a parte mais interessante, parece com o Grau I de Bardon, sendo que é mais simples (é claro). Mas não se esqueçam. É sempre bom um parâmetro técnico para as práticas, mas só como direcionamento inicial, pois “não se faz magia lendo livros”.
Tio DD , achei na internet uma coisa interessante que é a Falung Gong.Eu queria saber a sua opinião a respeito dela.Tá aí o link: http://www.falungongbrasil.net
@MDD – A falungong é um tipo de chi-kung (exercicios de respiração) bem bacana.
Nossa muito obrigado pelo link, veio no momento certo :).
Ajudando pela duvida :).
T+
Marcelo, como o exercício da vela que você passou se relaciona com meditação?
Ah, a meditação vem da Índia, né?
Lá não é uma sociedade verticalizada, divididas em castas subordinadas…
O Budismo, eu considero mais igualitário. Só que não serve para manter uma classe dominante.
Vem da Índia tb?
jeremias, meu irmão,
o budismo desenvolveu-se na região onde conhecida hoej como a índia. sidarta gautama, o buda, nasceu onde hoje é o nepal, no subcontinente indiano.
o sistema de castas aparentemente deriva de uma compreensão literal do rigveda, um dos textos sagrados do que chamamos no ocidente de hinduísmo. o texto diz assim:
Quando desmembraram Puru?a, em quantas partes o dividiram? Em que a sua boca se transformou? E os seus braços, o que se tornaram? Como são chamadas agora as suas coxas? e os seus pés? A sua boca tornou-se o br?hma?a, os seus braços se transformaram no k?atrya, as suas coxas em vai?ya e dos pés nasceu o ??dra.
Eu tenho uma suposição: que quanto mais correta é a verdade espiritual de um povo, maior é a prosperidade deste. Ou seja, Deus ajuda quem pratica a espiritualidade correta, ou menos errada…
Vamos aos fatos:
Dois terços da população da Índia vive abaixo da linha da pobreza, mulheres e gays quase não tem direitos garantidos e os pobres são massacrados pela sociedade (tão mais espiritualizada!) num sistema de castas funesto embasados… em religião. Que inclusive alastra o Mal da fome por todo o subcontinente indiano, exigindo vegetarianismo de uma população com o maior rebanho bovino do mundo, pois é bom para a alma; ora, como um Esquimó (Inuit) pode praticar essa teoria se não há colheita no Ártico? Algumas pessoas estariam então condenadas a não evoluírem? Como vão colocar comida na boca dos filhos?
Me irrita muito esse tipo de texto. Eu fui budista 5 anos, e aprendi muita coisa boa. Mas o único país desenvolvido que professou essa ideologia hindu “espiritualizadíssima”, o Japão, tem 1/3 de ateus (detalhe: eu não sou ateu!). Na segunda guerra, o Zen corroborava com o racismo e o militarismo japonês (e Nazifascista) o que resultou, dentre outras coisas o “Estupro de Nanquim”. De outra forma, as facções budistas que colaboraram com os Aliados resultou em duas bombas nucleares contra os próprios fieis…
O que essas pessoas não percebem, é que o perfeito é inimigo do bom. O Ocidente, na minha opinião não é la flor que se cheire, mas TODOS os países desenvolvidos estão aqui, exceto o Japão que copiou uma coisa que é tipicamente ocidental: Democracia Liberal.
A vasta maioria dos países asiáticos são ditaduras sem liberdade de religião, gênero, sexualidade, política e imprensa. Com todos os defeitos que temos, ainda assim podemos no mínimo cultuar quem quisermos. Só isso dá ao Ocidente o benefício da dúvida, sem nem contar a qualidade de vida.
Rafael Moretti. O que você colocou acima é a expressão exata da realidade no âmbito da lógica, da ética ou do factual. Acontece que há dois caminhos que encaminham a humanidade: O Caminho de Deus, e os “Outros” caminhos. Àquele, obviamente mui bem mostrado, mapeado ou apresentado… Porquanto é EXOTÉRICO! Os outros, representado por uma multidão de trilhas, caminhos e atalhos, levam, por assim dizer, para algures cuja determinação é profundamente esotérica para se conceber. Enfim, a escolha é de cada um, porquanto em última análise, TODOS sabem que, entre o Céu e o Inferno, encontra-se Adonai ou Lúcifer.
Caro Marcelo, será que podemos dizer, simplificando bastante, que no final o objetivo da meditação é levar a mente o mais perto possível do que seria a morte? Ou seja, o silêncio absoluto? Seria essa então nossa verdadeira natureza, um estado de eterno equilíbrio onde nada realmente acontece? Cada vez mais eu me convenço que a vida espiritual é apenas a ausência de vida, e essa ideia me paralisa de tanto medo e tristeza. Eu adoraria saber sua opinião sobre tudo isso.