Texto extraído do livro “Os Arquétipos da Umbanda – As hierarquias espirituais dos Orixás” de Rubens Saraceni
Orixá é um poder divino em si mesmo e realiza-se na vida dos seus cultuadores como uma energia viva e divina capaz de realizar ações abrangentes, modificadoras da vida do ser.
Orixá é o poder de Deus manifestado de forma “personificada” em que um ente de natureza divina irradia continuamente esse poder que concentra em si e doa graciosamente a todos que, movidos pela fé, a ele recorrer religiosamente por meio de cantos e orações.
Já quem recorrer magisticamente a eles, aí é preciso outros procedimentos para ativação do seu poder realizador.
Muitos são os poderes de Deus e muitos são os Orixás cultuados na Umbanda.
Diferente do Candomblé Nagô, onde o sobrenome é designador da qualidade do Orixá, na Umbanda cada sobrenome simbólico indica uma entidade em si com sua hierarquia espiritual a manifestá-lo e trabalhar incorporado durante as giras ou sessões de incorporação.
Respostas de 12
Peterson,
Muito obrigado por esta informação complementar e esclarecedora. A prévia leitura deste post proporciona um entendimento e assimilação do assunto enriquecedor publicado aqui: http://www.deldebbio.com.br/2010/08/13/os-orixas-e-a-kabbalah/. Aproveito a oportunidade para agradecer o Ramon pelo comentário no endereço: “http://autoconhecimento.org/2012/06/21/o-que-e-orixa/#comment-671”.
Continuado êxito.
@Peterson: Particularmente tem algumas correlações feitas neste texto sobre Orixás e Kabbalah que eu creio se enquadrarem melhor na visão de Orixás pelo Candomblé, mas isso é uma leitura pessoal.
Agô bosifuó a todos. Sou iniciada dentro do candomblé do ketu do engenho velho. No meu barracão é estritamente proibida, as encorporações de qualquer tipo de alma, (espírito) pois nossa raiz africana tradicional não permite isso.
O orixá é o transe do individuo, e só se é confirmado após sua iniciação. Só se sabe o orixá da pessoa, na hora da iniciação e por confirmação do ifá, que é o jogo dos búzios, por um inidividuo graduado dentro do culto.
Pra ser filho de um orixá é preciso fazer nascer o orixá, (fazer o santo) e o orixá só nasce, quando ele é feito através da iniciação do yaô.
Quando a pessoa se inicia dentro do Candomblé tradicional, ela passa por todos os sacrifícios pra saber o que é o orixá, é uma morte pra uma nova vida, a constituição anímica do corpo muda, personalidade, modos, o que é bom aflora e o que é mal se combate.
O arquétipo entranha na nossa alma. O orixá não fala, porque orixá não é espirito. Ele não entra no nosso corpo porque o corpo não aguenta, a energia vem chegando devagar, após anos e anos dentro do culto.
Os maiores transes, só se dão após as obrigações de um ano, tres anos e sete anos, como eu disse anteriormente, ele nasce. Por isso que se raspa, pra mostrar que o novo está nascendo.
Ele faz um ano, tres anos, sete anos, como uma criança mesmo, que nasce e quanto mais velho mais forte. Pro orí (cabeça) aguentar tamanha força irradiada. Ele não é ancestral, o nome do ancestral é baba egum, ele não é espirito o nome dos espíritos são eguns, ele não é assentamento, assentamento é outra coisa.
Ele é um nascimento, a pessoa nasce pra ele após ser iniciada.
Orixá é um arquétipo pessoal, ori significa cabeça, é o transe através da manifestação da força que há na cabeça da pessoa. Através da sua concentração, e é claro nas mãos de um excelente zelador de santo. Se cair em mãos erradas a pessoa pode ser prejudicada, por invenções loucas de mitomaniacos.
Todos nós temos um fio de algo supremo dentro de nós, o orixá é a luz adormecida dentro de nossa cabeça. Quanto mais a pessoa estuda, pesquisa, é boa e faz o bem e prega isso nas suas ações. Maior é seu orixá e sua luz divina dentro de si mesmo.
Peço agô a todos os meus mais velhos, por estar explanando este assunto. Asé.
@Peterson: Bela explicação! Apenas devo salientar que o texto estrutura-se na concepção de Orixá na Umbanda Sagrada. No Candomblé realmente as compreensões e manifestações são totalmente diferentes, e não me atrevo a comentar nenhuma linha pois meu conhecimento é pífio nesta bela religiosidade.
Dói saber que ainda existe tanto preconceito e distorções nesta antiga pratica de relação com o Divino que é o Candomblé.
Axé irmã!
Concordo com você Nuit, muito tem se falado de Orixás, mas poucos realmente tem autoridade para tal. Orixás não vem na Umbanda, somente seus falangeiros. Não
gosto nem um pouco da visão da Umbanda do Rubens. Claro, prefiro 1.000.000 a visão dele do que qualquer pastor, padre ou rabino.
@Peterson: É preciso ter em mente que Umbanda e Candomblé são duas religiões COMPLETAMENTE DIFERENTES, e que cada uma é dona da sua própria verdade. A visão de Orixás de cada uma delas pode ser totalmente diferente uma da outra, mas isso não desclassifica nem elimina nenhuma delas.
Orixás são as forças da Natureza, na visão da Umbanda Natural.
@Peterson: Eu compartilho desta opinião em termos. Na minha concepção eles além de serem regentes das forças da natureza também regem os 7 aspectos do ser humano.
Na visão da Umbanda Natural os orixás não são seres que regem as forças da Natureza, eles são as próprias forças da Natureza. Yemanjá é o mar…
E na questão microcósmica, cada um tem um mar dentro de si, não é? 😉
@Peterson: Luiza, não falei em “seres”… seria mais como “energias”. Na verdade, as palavras nos atrapalham, pois creio que temos a mesma percepção…
Na minha Opnião os Orixas são arquétipos , pode ser chamado de deuses também .
Se você acha que um Orixá é um arquétipo, é pq nunca viu e nem sentiu a energia de um. Arquétipos são como nós descrevemos um Orixá, na nossa limitação humana. Assim como mapa da cidade, não é a cidade em si, Ogum não é um guerreiro com uma espada na mão ou um ferreiro. Isso é um arquétipo. Orixá é energia pura. NINGUÉM incorpora Orixá, nosso corpo jamais conseguiria aguentar essa carga de energia. Você entra em transe com a energia do seu Orixá e dança. Orixá não fala, não come, não bebe, não fuma, não ajeita a roupa.
@Peterson: Perfeito!
e discordo da visão do rubens que orixas sendo manifestações de deus não incorporam, porque a gente já está em deus no proprio corpo e em espirito e alma só não estamos despertos, ´´Porque o reino de Deus está dentro de vós” (Lucas 17:20-21).
Vós sois deuses = João, 10:34. Vós podeis fazer o que eu faço e muito mais = João, 14:12.
o reino está dentro de vós, e também fora de vós. Se vos conhecerdes, sereis conhecidos e sabereis que sois filhos do Pai Vivo. Mas, se não vos conhecerdes, vivereis em pobreza, e vós mesmos sereis essa pobreza.
evangelho de tomé .
@Peterson: Acho que você precisa ler melhor as obras do Rubens, pois o que você falou é exatamente o que ele diz…
E quanto a Orixás incorporarem, você consegue incorporar Deus?
hum.. ok eu vou ler , sobre as incorporações é porque eu vi seu comentário e falei que era rubens , ´´escrevi errado´´ , bom.. meu professor pessoal ele fala que já incorporou Odin um deus da mitologia nordica , talvez é possivel incorporar sim mas não totalmente ,, , mas só uma parte da energia existente ,parte daquela energia do Arquétipo em fragmentos ,agora sobre a incorporação total ai acho que é algo bem raro ou talvez impossivel,, ai acho que talvez resulta em perda da individualidade.
@MDD – Acho extremamente improvavel que alguem tenha incorporado Odin, mas nunca se sabe… o mais provavel é que ele tenha buscado um pouco do arquetipo de Chesed (Oxossi) e seja uma parte de consciencia superior do próprio médium.
@Peterson: Ele provavelmente incorporou um Caboclo de Ogum ou um Orixá Natural de Sexto Grau Vibratório de Ogum, que representa um pequeníssimo fragmento desta energia (o mesmo que Odin representa).
Alias, segundo o Livro “Deus, Deuses, Divindades e Anjos”, do irmão Alexandre Cumino, Odin, assim como Ares, Indra, Vishnu e outros são correlacionados com o Trono Masculino da Lei, que na Umbanda é representado pelo arquétipo de Ogum.
Essas correlações podem ser lidas aqui.
Lembrando uma coisa ,dervixes do sufismo é bem semelhante o que ocorre na umbanda ou candomblé, e lá no sufismo eles entram e extâse ou incorporam uma consciência maior no ultimo estágio Nafs saffiya (O Eu perfeito)
O momento em que o ego se dissolve na consciência divina, no qual, simbolicamente, amado e amante se confundem.
ou seja nesse caso ocorre uma incorporação de deus , eu considero deus como uma consciência pura , sem forma sem espaço e matéria “.Ain Sof Aur“ na cabala .
Al-Hallaj, um santo sufi do século 10. Ele foi executado por proclamar “Ana’l Haq” (Eu sou Deus), mas ele proclamou-o o tempo todo e não apenas quando em um transe extático. Sua doutrina foi, naturalmente, baseado na idéia da perfeição do Adão e da humanidade como um espelho no qual Deus vê seu próprio reflexo (Ie homem como o microcosmo). Infelizmente, as três religiões do Livro “todos parecem ter uma história de matar seus próprios santos
Husayn ibn Mansur al-Hallaj foi morto por declarar ´´Eu sou a verdade ´´
Pax et Lux.
@Peterson: Somos Deus o tempo todo, pois somos parte do Criador, uma fagulha divina. Essa questão de “incorporar Deus” vai depender da sua visão d`Ele, pois, se seguirmos a ideia de que todos somos parte do Um, estamos, nesse momento, preenchidos pelo Criador e “Incorporados d`Ele”.
Já se analisarmos pelo sentido de incorporação da Umbanda e ocupação do Candomblé, você acredita mesmo que nós, pequenos macaquinhos cheios de defeitos conseguiriamos suportar, fisicamente, forças tão sublimes e puras? Preste atenção na incorporação dos Pretos-Velhos nos terreiros, que são entidades de Alto Grau de Iluminação, e veja como ficam os corpos dos médiuns durante elas. Eles não andam curvados por causa da “velhice”, mas sim pela energia deles… e olha que eles se densificam bastante até chegar na vibração do médium…
“Ishq Allah Mabud Allah” (Deus é amor, amante e amado).
~ Axiom Sufi
“A Igreja, um Templo ou uma pedra Caaba,
Alcorão ou na Bíblia ou um osso Mártires,
Tudo isso e mais o meu coração pode tolerar,
Desde a minha religião agora é Amor sozinho. ”
~ Abul Ala
Aqui no Rio Grande do Sul temos o culto de nação, na nação nagô, religião que possui semelhanças com o candomblé ketu praticado na Bahia os Orixás manifestados, de Exu a Oxalá, falam, conversam, dão conselhos, recebem presentes, dão seu axé, isso depois do xirê, de já terem feito suas danças rituais, obviamente os Orixás dos filhos de santo mais novos por várias questões, acredito que pela questão hierárquica e o próprio desenvolvimento com a divindade ali manifestada não falam nas primieras manifestações. Lembrando que em terras yotubás é comum os Orixás falarem, ficarem horas manifestados dando concelhos e abençoando seus filhos. Deixo aqui minha opinião com todo respeito com quem pensa diferente. Nunca vou me esquecer dos abraços e concelhos de Ogum, Xangô e o que dizer da calma e clareza dos concelhos de Oxalá… O Axé de fala é algo lindo, com fundamentos próprios permitindo assim o Orixá se manifestar com todo seu encantamento na Terra. Me refiro aqui as manifestações de Orixás no canodmblé e na nação lembrando que na umbanda não tem a manifestação direta de Orixá e sim de seus falangeiros, a forma como os Orixás falam, ao menos aqui no sul do Brasil me lembra um pouco a forma dos pretos velhos ou caboclos falarem na umbanda, o sotaque e alguns trejeitos são parecidos, não estou criticando apenas contando o que percebi. Gratidão e axé a todos, muito importante e necessária essa publicação. Que meu Pai Oxála e minha Mãe Yemanjá lhes cubram com axé! Abraço