por Draku-Qayin e Qelimath
“Você pode andar pelo caminho,
Você pode falar as palavras,
Mas você pode conjurar um espírito?”
Sentimos-nos honrados com o convite para contribuir com esta coluna sobre Bruxaria Tradicional aqui no blog “Teoria da Conspiração”, e é com humildade e os pés no chão que adentramos este espaço de compartilhamento de saberes, de generosidade e aceitação. É neste espírito que inflama a alma que iniciamos este pequeno ensaio de introdução no tema.
Cremos que “Bruxaria” tenha sido um assunto fascinante ou aterrorizante para todos os povos de todas as eras, e sua “função” constitui no único consenso eterno nela existente, pois dela nunca uma única forma prevalece perene dada à sua fluidez. A mídia replica a figura imutável e cada um interpreta de acordo com amplitude de sua visão. Para alguns, a bruxa é uma figura folclórica, mítica, uma fantasia – e para outros – ela é a portadora das chaves para inúmeras possibilidades ainda ocultas.
É possível coletar algumas percepções importantes dentro das muitas opiniões e disposições a respeito do tema, assim como é muito fácil ficarmos atordoados com o amontoado de teorias “esquizotéricas” sobre o tema. A confusão não é proveniente da simples gradação de refinamento cultural, mesmo porque esta é uma Arte que fala à mente do erudito com a mesma facilidade com a qual fala ao coração da benzedeira. É uma questão de afinidade energética, de marca em espírito e carne, e assim, a linguagem – por mais refinada que seja – ainda é pobre para expressar.
Ao contrário da teoria de Margaret Murray de que a Bruxaria seria um culto organizado em toda a Europa, com uma estrutura fixa de rituais e crenças religiosas, a Bruxaria tem suas raízes exatamente naquilo que Murray descartou ainda no prefácio de sua teoria, a qual ela chamou de “Bruxaria Operacional”, ou seja, a prática de magia, feitiços e bruxedos. Como cita Nicholaj Frisvold, em sua fascinante visão sobre a história da prática da Bruxaria, “Artes da Noite” (Ed. Rosa Vermelha – 2010): “Também temos uma idéia persistente de que a organização em cultos e ordens seja uma prática de longa data, mas na realidade há mais evidências que apontam para o fato de que a organização de diversas crenças tenha ocorrido no século XVII, quando a maçonaria se encontrava dentre os grupos mais famosos. Antes do século XVII as pessoas se reuniam, muito provavelmente em unidades menores, já que as organizações eram bem locais”. Mais a frente, o autor nos diz: “Como também a seção de história tem demonstrado, a bruxaria era, até o século XVI, algo que se praticava, e não uma identidade referindo a alguém que era parte de um culto organizado.”
Na seqüência dos estudos de Murray, Gardner lançou ao mundo sua “Religião Neo-Pagã de Fertilidade” sob o termo Wicca (ou “Bruxaria Moderna”). Dada subseqüente campanha de dissolução e branqueamento, alguns poucos que preservavam certas práticas antigas de bruxaria vieram a público, como vemos no caso de Robert Cochrane, que nos anos 60 fez possível a distinção entre os que predecediam os gardnerianos, cunhando o termo Bruxaria Tradicional. Antes disso não havia a necessidade da utilização deste termo, e pelo contrário, tanto a prática quanto o termo “bruxaria” eram considerados assuntos “sub-rosa”, ou seja, mantidos em absoluto sigilo. Como exposto no artigo “Bruxaria Tradicional para Iniciantes”[1]: A Bruxaria ‘Tradicional’ passou a existir como um rótulo de identificação, justamente quando houve a necessidade de se preservar o espaço das práticas que eram consideradas heréticas (de manipulação de forças ‘sagradas’ ou ‘profanas’ a fim de se alterar realidades).
De fato, até os séculos XVI e XVII, os bruxos e bruxas eram comumente solitários, e seu conhecimento era transmitido via indução iniciática de um para o outro, na maioria das vezes em caráter hereditário. Pequenos grupos podiam existir, mas já mencionado, em unidades menores e locais. Foram os séculos XVIII e XIX que experimentaram o nascimento dos Cuveens[2] e Coventículos, onde a sabedoria dos bruxos, que até então era focada na terra, nos espíritos da natureza, no uso de ervas e venenos e na conjuração dos mortos, passou aliar com os conhecimentos místicos da Alta Magia, Hermetismo, Astrologia Medieval e Renascentista e a Filosofia, e cujos expoentes classificavam-na como “infernal” em oposto imediato e necessário ao “celestial”, fosse pela compreensão maniqueísta da época, fosse pela forçosa proteção contra punições eclesiásticas. Este é o período que mais contribuiu com o caráter mais Místico e Quintessencial da Bruxaria. Os bruxos sempre aproveitaram o conhecimento de onde quer que ele jorrasse, fosse ele o folclórico de sua terra (com os resquícios do paganismo de outrora), fosse o conhecimento obtido numa Missa Católica (basta lembrarmos das leituras de Salmos como encantamentos). Existiram os bruxos iletrados, e existiram os bruxos eruditos, e a Sabedoria de ambos é tida como um tesouro de mesmo valor para os Bruxos Tradicionais contemporâneos. Como tal, a Arte Tradicional não é totalmente pagã ou neo-pagã como a Bruxaria Moderna do século XX, mas contém em seu Ethos[3] elementos pagãos na mesma medida em que contém elementos cristãos ou místicos.
Os bruxos tradicionais definem sua Arte como um Ofício (Função), no qual a bruxa opera com os poderes da terra e das estrelas, dos mortos da terra e seus ancestrais. A Bruxaria é a Arte de provocar mudanças, o uso alegado de poderes sobrenaturais ou mágicos seja qual for a crença espiritual do bruxo, é a manipulação da Quintessência contida na Natureza através da Vontade, Desejo e Crença de seu praticante.
A adição do termo “Tradicional” compreende o sentido das verdades perenes, ou o “perenialismo” contido nas tradições da terra. A Palavra Tradição é proveniente do latim “tradere”, “traditio”, ou ainda “traditionis”, que significa trazer, entregar, transmitir. Assim, ela transmite certo conteúdo que pode ser uma memória cultural, espiritual e material, geralmente um conjunto de idéias, recordações e símbolos que passam através de gerações. A Tradição, via de regra, é uma doutrina, uma cosmovisão que se descortina ao iniciado e não um dogma a ser abraçado cegamente. A partir de uma Tradição, é possível encontrar correlações com todas as outras, por mais diferentes que sejam suas origens e formas, ou estéticas, e sem descartar o panorama geral do contexto cultural onde se desenvolveu. Infelizmente em nossos dias é comum ater-se somente ao aspecto de legado, sem haver um critério específico no conteúdo ou qualidade deste legado, e assim é que a “Tradição” tem conhecido fronteiras em tempos onde fronteiras tendem a cair.
O estudante e o praticante devem ter sempre em mente ambos os conceitos, Forma e Função, pois é através destes dois conceitos que é possível identificar a tradicionalidade de uma dada prática ou grupo. Em todas as vertentes da Arte Tradicional com as quais fomos afortunados em nos associar em algum nível, encontramos uma grande similaridade na Função dentro da grande diversidade de Formas. Todas elas apontam para o mesmo Mistério da Unicidade, o eterno Princípio Divino.
A Arte Tradicional é muito bem exemplificada nas palavras de Andrew D. Chumbley, em seu artigo homônimo a este, onde ele diz: “A Bruxaria Tradicional é o Caminho Sem Nome da Arte Mágica. É o Caminho da Bruxa, o chamado do coração que indica a vocação do Cunning Man e da Wise Woman[4]; é o Círculo Secreto de Iniciados constituindo o corpo vivo da Antiga Fé. Seu ritual é o Sabbat do Sonho-feito-Carne. Seu mistério jaz no Solo, abaixo dos pés Daqueles que trilham o caminho tortuoso de Elphame. Sua escritura é o caminho do Wort-Cunning[5] e encantadores das Bestas, o tesouro da tradição relembrada por Aqueles que honram os Espíritos; é a gramática do conhecimento sussurrado ao pé do ouvido, amados por Aqueles que mantém sagrados os segredos dos Mortos e confiados Àqueles que lançam seu olhar adiante… as respostas a quem pergunta sobre a Bruxaria Tradicional jazem na suas terra nativa: o Círculo da Arte das Artes!”. Sua origem é traçada nos Cunning-Men e nas Wise-Women, nos sábios Pellar[6], nas benzedeiras e curandeiros, nos exímios Wortcunners, como também nos Doutores dos Planetas, Magos Renascentistas e Pensadores Liberais.
Por fim, podemos dizer que a Bruxaria é um patrimônio cultural da Humanidade, ou ainda, que é o Caminho Tortuoso que guia o Bruxo rumo a Forja de Fogo Estelar para seu aperfeiçoamento. Esta é a Arte da Troca de Pele da Serpente, da solidão e expiação Cainita, daqueles que carregam a Marca e Maldição na Fronte, na Alma e no Sangue.
Possam a Bênção, a Maldição e a Sabedoria estarem convosco!
Nota Biográfica: Draku-Qayin (a.k.a. Adriano Carvalho) e Qelimath (a.k.a. Katy de Mattos Frisvold) são Bruxos Tradicionais, fazem parte da Irmandade conhecida externamente como Via Vera Cruz, e são também membros do Clan of Tubal Cain por sua extensão brasileira conhecida como Lilium Umbrae Cuveen. Draku mantém o blog Crux Sabbati (www.cruxsabbati.com) e Qelimath o blog Diablerie (www.diablerie.com.br) onde discutem a Arte Tradicional em um amplo sentido.
Notas:
[1] – Para ler este ensaio acesse:
http://www.diablerie.com.br/2011/01/bruxaria-tradicional-para-iniciantes.html
[2] – Cuveen, ou Covine, são os termos mais comumente utilizados na Arte Tradicional para aquele mais conhecido como “Coven”.
[3] – Ethos, palavra de origem grega, na Sociologia, é uma espécie de síntese dos costumes de um povo. O termo indica, de maneira geral, os traços característicos de um grupo, do ponto de vista social e cultural, que o diferencia de outros. Seria assim, um valor de identidade social.
[4] – Cunning Man e Wise Woman, respectivamente “Homem Sábio” (ou “Homem Astuto”) e “Mulher Sábia”, são os termos aplicados na Inglaterra aos sábios habilidosos na arte das conjurações, dos feitiços, benzimentos e maldições.
[5] – Wort-Cunning é o termo inglês para o ofício dos herbanários, estes últimos sendo conhecidos como Wortcunners.
[6] – Pellar é um termo originário da Cornualha usado para designar curandeiros rurais, homens sábios e exorcistas populares.
Respostas de 24
Preciso de dicas de erveiros deste lado do equador! Alguém tem algum jardim, ou fornecedor de confiança ?
Se forem plantas medicinais frescas você consegue na maioria das universidades que tem curso de farmácia e que mantem um projeto de farmácia viva. Nesse caso, não haverá risco de erro na classificação botânica e geralmente o cultivo é feito com o auxílio do pessoal da agronomia. Conseguindo contato com o pessoal, poderá colher a erva fresca. No caso de ervas secas, se forem medicinais, encontrará em ervários e farmácias de fitoterápicos facilmente. Agora, se não forem ervas medicinais, já não sei dizer onde possa obter com garantia da correta classificação botânica…
Estou Grato pela participação desta vertente de conhecimento e prática dentro deste site. Sempre tive fascínio pela Arte da Bruxaria e será um prazer acompanhar esta coluna. Muita boa sorte à vocês.
Muito legal esse texto, principalmente porque a maioria das pessoas confunde bruxaria tradicional com Wicca.
Gostaria de esclarecer uma dúvida: quais são as fontes de prática da bruxaria tradicional? Existem livros de técnicas da arte em disponibilidade ou a bruxaria é um conhecimento secreto passado de mestre para discípulo?
Obrigado!
Olá Henrique,
Há sim algumas práticas que são mantidas sub-rosa por algumas Irmandades, práticas próprias daqueles grupos, mas há sim livros bons sobre a Arte Tradicional que contém práticas e rituais que podem ser utilizados e adaptados aos praticantes solitários.
Uma excelente introdução a isso é o livro ‘Craft of the Untamed: An inspired vision of traditional witchcraft’ de Nicholaj Frisvold, que será lançado aqui no Brasil nos próximos meses sob o título ‘A Arte das Indomadas’.
Meu blog, o Crux Sabbati, também contém alguns rituais que foram cedidos ao público, e esses rituais são um ótimo começo para iniciantes nestas Vias Tortuosas ( http://www.cruxsabbati.com/search/label/Rituais ).
O Brasil ainda carece de bom material sobre Bruxaria Tradicional (algo que aos poucos está mudando e em breve muitos títulos bons estarão chegando às prateleiras).
Em inglês encontramos diversos títulos muito interessantes sobre, tais como o The Azoëtia e o Viridarium Umbris (ambos publicados sob o aegis da Cultus Sabbati). Temos também os livros de Evan John Jones, Shani Oates, Gemma Gary, entre outros autores, cada qual contendo práticas de caminhos específicos da Bruxaria Tradicional.
Um grande abraço,
Draku-Qayin
FFF
Olá, como faço para conhecer e praticar a arte da bruxaria?
Olá Armstrong,
Como todas as outras Artes, primeiramente pesquisando muito.
Há alguns blogs/sites que disponibilizam informações sobre o tema, como o meu Espelho de Circe e o Bruxaria Tradicional, bem como os livros que estão neste segundo blog (Bruxaria Tradicional) no link “Livros”.
Depois, se achar que vale a pena, é hora de encontrar uma pessoa ou grupo que estejam dispostos a receber e treinar novatos.
Preste particular atenção no caráter e na vida das pessoas – elas devem espelhar exemplos a serem seguidos – antes de embarcar nesta jornada.
Um abraço!
Katy
alguem aqui desconfia ou sabe se os membros da IURD trabalham com magia em seus cultos? Pode não ter muito a ver com o post, essa minha pergunta, mas já faz um tempo que queria debater isso.
abs
Depende da sua definição de magia. Se vc vê a magia como o ato de promover mudanças de acordo com a vontade, a oração, as “pílulas de Frei Galvão”, a água benta, a água ungida, o óleo de unção, a lista de pedidos, uma promessa, um “voto com deus”, etc, etc, etc, serão considerados magia, pois são veículos aos quais a pessoa “imprime” sua vontade, seja veiculado a algum “deus” ou “entidade”, ou as forças do universo e dela mesma…
Estava sentindo falta de uma coluna assim por aqui… Já sigo os blogs citados há algum tempo e achei uma ótima surpresa ver essa coluna aqui. Parabéns pelo post!
Essa coluna fazia falta por aqui! Muito bom o artigo ! Saúde, sucesso e paz! [ ]’s
Olá pessoal, obrigada pela acolhida!
Olá Henrique,
Você perguntou:
“Gostaria de esclarecer uma dúvida: quais são as fontes de prática da bruxaria tradicional? Existem livros de técnicas da arte em disponibilidade ou a bruxaria é um conhecimento secreto passado de mestre para discípulo?”
Realmente, são poucos os livros que falam das práticas e geralmente eles se resumem em explicações históricas e teóricas sobre o tema, e geralmente o conhecimento é passado dentre a “família” (ou clan/cuveen, se preferir). Contudo, existem alguns textos e livros que abrem espaço para a experimentação de ciclos mais externos – e mais leves – da jornada, tais como os livros de Evan John Jones (especificamente Sacred Masks, Sacred Dance e Witchcraft a Tradition Renewed, escritos em parceria com D. Valiente, e o livro A Arte das Indomadas, de Nicholaj Frisvold, que deverá ser lançado até o final do ano). Nos nossos blogs (Diablerie e Crux Sabbati) você poderá também encontrar alguns rituais abertos da Via Vera Cruz, que é um cuveen da Arte Tradicional aqui no Brasil e que é um ponto de confluência entre diversas linhagens do mundo inteiro – estes, bem menos tocados pelas tonalidades da bruxaria moderna. (seguem alguns links: http://www.diablerie.com.br/2008/04/chamado-aos-poderes-da-encruzilhada.html, http://www.diablerie.com.br/2008/04/o-sangue-dos-mortos.html, http://www.diablerie.com.br/2008/04/sol-niger-et-luna-nigrans.html)
Abraços!
Draku-Qayin e Katy, obrigado pelas respostas.
Li os links que vcs passaram, mas nao entendi o “modus operandi” dos rituais.
Também não compreendi qual o objetivo maior da bruxaria tradicional como caminho espiritual, embora tenha notado que há sim um grande contato com entidades tradicionalmente consideradas como infernais.
Para ter uma idéia do que quero dizer, vamos fazer a comparação com a magia salomônica tradicional (cuja principal fontes são os grimórios medievais).
Os grimórios são fontes de prática dessa ciência e arte, cujo objetivo maior é o descrito no Corpus Hermeticum: a ascensão através das esferas planetárias até o Demiurgo, A Primeira Inteligência e, finalmente o Pai. Enfim, o objetivo maior é a união com Deus.
Como a fonte dessa prática é medieval e Européia, trata-se de um hermetismo cristão (basicamente católico).
Ocorre que na magia salomônica tradicional, os “diabos” ou demonios são tratados como entidades infernais que devem, quando evocadas, ser dominadas e controladas pelo mago (normalmente com ajuda de nomes de Deus e/ou anjos da Shemhaphorash). Porém, vejo que na bruxaria tradicional esse não é o modus operandi. Também percebo que ela se embasa em outra filosofia.
Gostaria, se possível, que vocês esclarecessem qual o caminho percorrido na bruxaria tradicional, assim como o tipo de entidades contactadas e como isso é feito, além da filosofia sobre a qual se assenta.
À primeira vista me parece que se trata de um caminho na direção inversa do percorrido pela magia tradicional salomônica, mas eu posso estar enganado, e por isso peço que me esclareçam.
Obrigado!
O que é fundamental para a percepção “bruxa”, por assim dizer, é a percepção da unidade. Como tal, há muitos traços comuns com os pensadores platônicos e ainda mais com os neo-platônicos. Para a bruxa da cadeia de emanações e a revelação do Divino na Natureza é uma premissa para o Caminho. Aqui, não há a Deus e Satã ligados através do antagonismo num nível moral, mas como polaridades do mesmo círculo, o que constitui o mundo das transformações e mudanças. Não é incomum ouvir provérbios de vários cantos do mundo que indicam a crença no Grande Deus e os deuses menores – ou espíritos da natureza. Para a bruxa, a natureza é um campo de emersão e mistério, e é aqui na Natureza – no mundo da transformação – é que vemos a perfeição celestial se desdobrar. O foco não está completamente nos espíritos “infernais” no sentido dado pela herança Salomônica, mas no sentido da morada dos ancestrais (ou mundo dos mortos) e/ou nos espíritos terrestres encontrados na Natureza. É aqui que podemos nos conectar com o Divino, através das impressões do Uno deixadas sobre Terra. Ao mesmo tempo segue as inclinações práticas e pragmáticas entre as bruxas genuínas – geralmente pouco interessadas nos julgamentos sobre o “moralmente certo ou errado”. Creio que isto pode ter contribuído muito para a idéia de que bruxas fossem “voltadas ao mal”. Isto significa que vemos a vida e a matéria como dons divinos, mas enquanto espíritos encarnados na matéria, precisamos até mesmo pela nossa própria constituição compreender o terrestre (ou infernal) a fim de entendermos a nós mesmos. Ao formar vínculos com a Natureza, compreendemos o composto da presença da Divindade sobre o mundo (nous e manifestação, pois só percebemos o que somos capazes de imaginar) e através disto, podemos também compreender o natural e o celestial – não há divisão de categoria moral nisto. Os céus usam o mundo como um espelho, e assim, o mundo reflete as iluminações das esferas celestiais. Para nós, é desta forma: o legado e sangue da terra e da ancestralidade, os espíritos da natureza e as potências angélicas que trazem a luz das estrelas e planetas para a Terra são de igual importância. A Bruxaria pode variar na reflexão de simples ofertas aos espíritos da natureza e feitiços às sofisticadas gnoses e contemplações místicas.
Para usar seu exemplo de Shem-ha-Mephorash. Naturalmente, podemos usar os 72 nomes para ganhar o conhecimento sobre as faces de D-us, mas para mim, é igualmente importante perceber que cada um dos nomes, quando invocados, fornece uma corrente que podemos usar no mundo da transformação. Tomemos como exemplo o 8º anjo, Kahetel, que pode ser um guia rumo aos segredos de Metatron e Raziel, bem como um degrau da escada que traz o arrebatamento divino. Ao mesmo tempo anjo pode influenciar a caça e agricultura, fornecer proteção contra espíritos perigosos, e assim, a recitação de seu Salmo/Tehelin (95:6) acessa esta potência divina para que possa se manifestar de acordo com sua natureza (ou ainda, virtude). Então, se eu usar esse salmo em particular para a esta qualidade angelical particular porque quero que meus campos sejam férteis ou para que haja uma garantia de caçada bem-sucedida, seria o meu trabalho infernal ou celestial?
Espero ter respondido de forma a me fazer compreendida. Se faltou algo, por favor me informe, e se preferir você pode me escrever diretamente: qelimath@gmail.com
Um abraço,
Katy
Oi, Katy.
Obrigado pela explicação.
Você fez uma descrição muito bonita e ilustrativa da “cadeia dourada do ser” (the golden chain of being) e da cosmologia do criação segundo Platão e os neoplatônicos. Acontece que essa cosmologia da astrologia tradicional é precisamente a que é usada em magia tradicional salomônica.
Me parece que a bruxaria tradicional se assenta sobre a mesma filosofia e cosmologia da magia grimórica, mas imagino que na sua tradição haja um trabalho maior com os chamados espíritos terrestres, o que a meu ver é interessantíssimo.
De fato, há uma lacuna na tradição grimórica no que diz respeito a trabalhos com elementais e espíritos dos mortos (os ancestrais), e seria interessante ver como a bruxaria tradicional lida com isso.
Eu conheço o trabalho do Nicholaj (tenho os livros da Scarlet Imprint) e me pergunto qual seriam as diferenças entre o trabalho elemental da kimbanda/candomblé e da bruxaria tradicional. O problema com as religiões afro-brasileiras, a meu ver, é o enorme número de “marmoteiros” picaretas (o que torna quase impossível aprender a tradição real) e a ausência de manifestação física das entidades (como ocorre na magia tradicional salomônica), fazendo com que seja difícil sair dos achismos e conseguir resultados realmente objetivos.
Seria muito legal descobrir o passo a passo de um ritual de evocação da bruxaria tradicional, seguido do resultado esperado.
Li seu exemplo de trabalho angélico. Se você fosse operar seguindo a tradição salomônica, a recitação do salmo apenas não seria suficiente para um trabalho prático de sucesso. Seria necessário evocar usando uma montagem salomônica consistindo de círculo mágico e demais equipamentos devidamente consagrados (bola de cristal ou vidro, incenso, mesa de operação, etc), sendo que a eletiva astrológica para o ritual teria de ter sido feita anteriormente. Além disso, o operador teria que passar por uma purificação (oração, jejum, prática da caridade, etc).
Acho difícil conseguir resultados práticos (especialmente manifestação física) só recitando o salmo, a menos que o operador fosse um santo ou algo do tipo.
Evocar um anjo com objetivos puramente materiais seria ainda assim considerado trabalho angélico (afinal, não estamos falando da divisão de “magia branca e negra” segundo as ordens iniciáticas que surgiram desde a Golden Dawn, mas sim da tradição real que está nos grimórios).
Obrigado por me disponibilizar o seu email de contato. Vou acompanhar a coluna e postar perguntas regularmente.
Confesso que sou completamente ignorante quando o assunto é bruxaria tradicional, mesmo porque é uma arte bastante fechada ao público. Lendo os rituais dos links que você e o Draku-Qayin postaram dá pra ter alguns vislumbres de como deve funcionar o sistema, e pelos vistos é realmente interessante.
Aguardo a sua próxima coluna!
Sobre o tema Bruxaria Tradicional e suas diversas manifestações escrevi um ensaio recentemente que complementa muito bem este ensaio inicial aqui do Teoria da Conspiração.
Para quem desejar ler, segue o link: http://www.cruxsabbati.com/2011/10/bruxaria-tradicional-diversidade.html
Bênçãos!
FFF
Draku-Qayin
Trecho de um texto interessante sobre o assunto:
Indaguei ? A prática religiosa pode ser considerada uma forma de magia?
Malediel afirmou ? De forma alguma a religião é pratica de magia, sendo verdadeiramente a adoração ao Criador e o seguimento de suas leis.
Veralgor explicou ? Claro que é uma forma de magia, com seus ritos propiciatórios, o que varia é o tom mágico, tendendo ora para o lado da luz, ora para as trevas.
Embora filosoficamente o cristianismo seja uma religião de luz, com o seu desenvolvimento foram adotados rituais tipicamente do lado negro, com os ritos de sangue, embora simbólicos, e com o culto das imagens sanguinolentas. Hoje, ao entrar numa igreja sofremos um choque, com suas imagens pregadas na cruz, com santos carregando a cabeça sob o braço, em outra o santo crivado de flechas, em outra a santa carregando os próprios olhos numa bandeja. Pode ser adorado pelos fiéis que desconhecem o que ocorre, mas, continua sendo magia negra.
Perguntei novamente ? Mas, os fiéis não veneram essas imagens com intenções maléficas, como se explica isso?
Malediel irritado contestou ? Isso que Veralgor afirma é uma verdadeira heresia.
Veralgor afirmou ? Você sabe que não se trata de heresia ou de falar do que não entendo Malediel. Na verdade os fiéis estão ali com as melhores intenções, orando e venerando. Estas imagens, no entanto com a veneração e a fé que inspiram se transformam em “voults”, isto é, condensadores de energia, que permitem a manutenção dos verdadeiros magos negros.
Os padres comuns são tão inocentes e ignorantes como a massa de fiéis. Somente os grandes iniciados da Igreja sabem o poder que manipulam.
Insisti ? Estou realmente intrigado.O que é realmente a magia?
Veralgor procurou esclarecer ? Toda religião em sua base é uma doutrina mágica, com seus rituais propiciatórios, procurando abrir um caminho de contato entre o homem e a divindade, buscando permitir que todos se beneficiem das forças cósmicas emanadas sobre toda a Terra. Muitos se afirmam magos, procurando obter poder dessa condição, controlando uma massa de fiéis.
No entanto, afirmo que mago não é o que faz sair um raio dos dedos ou que consegue parar uma tempestade e sim aquele que sabe ler tranqüilamente o grande livro, isto é, ver e entender tudo de maravilhoso que existe entre o céu e a terra.
Mago é aquele que consegue sentir e entender os segredos da natureza em todos os seus campos, como se estivesse olhando um livro aberto. Pode olhar os pássaros e os pequenos animais e prever os fenômenos da natureza, olhar o rosto de outras pessoas e saber do seu caráter ou dos seus males.
Insisti ? Mas, Veralgor, a Igreja matou tanta gente acusando de heresia ou prática de magia e bruxaria, numa forma de manter a pureza da fé, será que havia tanta má fé assim por parte dela? Não estariam agindo realmente por fanatismo religioso?
Veralgor desculpou-se ? Não vou me fazer de rogado, vou falar muito, mas, não precisa se torcer zangado Malediel.
?
Perguntei ? Veralgor, mas, não existiriam realmente bruxos e bruxas que agiam de forma maligna e que justificaria uma ação mais drástica por parte da Igreja?
Malediel interveio ? Evidentemente que não houve má-fé da Igreja em si, na repressão da bruxaria. Alguns dos padres menores podem ter aproveitado o clima imperante para obterem vantagens pessoais, porém, na realidade, no geral se acreditava estarem trabalhando para garantir o poder de Deus.
Veralgor falou cinicamente ? Malediel me diverte com suas afirmações. Sobre bruxaria, feitiçaria e magia, posso dizer que as acusações feitas ao longo da história sobre a possibilidade dessa prática, demonstra um erro de entendimento e uma má-fé de ultima grandeza.
Quando não se tem o conhecimento, todo saber mais profundo é encarado como uma forma de bruxaria, isto desde a Antigüidade até os dias de hoje. Em sua maioria os bruxos e bruxas eram pessoas que haviam recebido um saber mais antigo e profundo que muitas vezes não era entendido por elas mesmo em sua plenitude, e para os outros, na grande ignorância da fé, julgavam que aqueles tinham pactos demoníacos, isto no nível mais baixo da hierarquia da Igreja, porém, os grandes e mandantes sabiam o que realmente ocorria e se aproveitavam da ignorância de seus próprios homens para a obtenção de imensas riquezas e um temível poder.
Os bruxos e bruxas usavam de dois tipos de conhecimento, um sobre o meio em geral e outro sobre as pessoas. No primeiro lançavam mão de conhecimentos sobre produtos minerais e vegetais, e no segundo efetuavam gestos e rituais para influenciar a mente de quem queriam ajudar ou prejudicar, predispondo-os a aceitar o que era desejado. Para a maioria das outras pessoas, que simplesmente ignoravam todo o conhecimento, tais praticantes da arte eram indivíduos muito perigosos e tinham que ser eliminados. As seitas cristãs se aproveitavam dessa ignorância para fazer aumentar o seu poder, apoiando-se no medo gerado pela ignorância e do pavor criado pela crueldade da própria igreja.
A magia negra sempre foi praticada nos mais diversos pontos da terra, isto é fato real, porém, na maioria dos casos é completamente inócua.
O grande interesse nessa prática é que somente os que crêem são afetados pelos trabalhos dos magos negros. A grande dificuldade destes praticantes é que necessitam de objetos chamados “voults”, que funcionam como uma espécie de condensadores de energia psíquica, e para que sejam obtidos necessitam de um grande número de fiéis que creiam realmente e carreguem tais objetos.
Em razão disso os grandes praticantes da magia negra sempre foram os próprios padres da Igreja Católica, já que na base desta religião está essa prática.
A própria perseguição religiosa contra toda a forma de bruxaria, feitiçaria e magia eram utilizadas para a prática da magia negra.
Insisti ? Mas, não existiam pessoas que sabiam o que estava ocorrendo, e porque não procuraram forçar a Igreja a entrar em limites, diminuindo o seu poder?
O demônio verde afirmou ? O poder da Igreja era imenso, apoiando-se na ignorância e na ganância de alguns monarcas, criaram uma imensa máquina de corrupção e terror, não tiveram nenhuma dúvida em aniquilar quem pudesse se opor a judaização da cultura européia. Para que as pessoas não pudessem vir a ter uma noção clara do que ocorria, até a Bíblia era proibida, não podendo ser lida a não ser pelos mestres da Igreja.
Perguntei ? Mas, naquela época não existiam intelectuais e pessoas dotadas do verdadeiro conhecimento que pudessem influir junto aos líderes da própria Igreja Católica para fazer cessar o absurdo que ocorria?
Roberto,
Esta é uma ficção engraçadinha, que se levada a sério acaba mostrando o grau de estupidez destes figurinhas.
Maniqueísmo absurdo que visa somente perpetuar mais ignorância, mais preconceito e mais informações mal fundamentadas.
Sendo assim, prefiro entender que você a postou somente para nos entreter. 🙂
abraços,
Acho que finalmente entendi um opuco melhor a diferença entre a Bruxaria Tradicional e a Wica Tradicional (não essa wicca brasileira de adolescentes, a Wica de Gardner).
Pelo que posso entender a Bruxaria Tradicional são se apega a ser uma Religião, como o é a Wica Gardneriana, e nem mesmo se importa muito cmo a religião do praticante, podendo ele ser pagão, cristão, budista, etc.
Sobre o Clã de Tubal Caim, onde posso encontrar mais informações sobre ele, aqui no Brasil?
Grato
o melhor livro sobre o tema que tive o prazer de ler é o Te Azoetia de Andrew D Chumbley. em Portugues temos Os pilares de tubalcaim, O livro dos anjos caidos do Michael Howard, e O chamado dos velhos deuses de Nigel Jackson. é interessante citar o livro Rituais e Misterios do Wicca de Gilberto de Lascariz, que é pura Wicca tradicional com varias informações sobre a bruxaria tradicional também.
OLÁ !
GOSTARIA DE CONTAR MINHA PRIMEIRA EXPERIÊNCIA E VITÓRIA COM A GOETIA.
PRECISAVA URGENTEMENTE QUE O SR. DANTALION ME AJUDASSE.
FIZ O CÍRCULO DE PROTEÇÃO E O TRIÂNGULO PARA O ESPÍRITO SE MANIFESTAR (ENCONTREI OS DOIS MUITO BEM EXPLICADOS E COM NOMES LEGÍVEIS NO SITE ORDEM DE SILES).
FIZ A EVOCAÇÃO NO HORÁRIO CERTO.
FIZ DE MANEIRA BEM SIMPLES TANTO A EVOCAÇÃO COMO A DESPEDIDA, PEDINDO PARA ELE SE RETIRAR E NÃO DEMOREI MAIS QUE 15 OU 20 MINUTOS.
NÃO VI NADA, MAS O VENTO TORNOU-SE FORTE QUANDO PEDI PARA ELE SE MANIFESTAR, AÍ TIVE A CERTEZA QUE ELE ESTAVA PRESENTE.
NO OUTRO DIA SENTI DORES INTENSAS EM TODAS A JUNTAS DE MEU CORPO. SEI QUE FUI IMPRUDENTE REALIZANDO UM RITUAL QUE EU NÃO TENHO CONHECIMENTO PARA TANTO.
AGORA VOU ESTUDAR GOETIA A FUNDO.
@MDD – Ok… e fora o vento e a dor, o que você pediu?
Saudações! Se for possível vocês poderiam passar alguma boa bibliografia sobre o tema?
Obrigado.
Eu disse que
Saudações, Onde posso encontrar o livro A Arte das Indomadas?
Olá, os blogs de ambos os autores e o site Via Vera Cruz estão desativados, e estranhamente, o site bruxariatradicional.com está todo em japones. Poderiam me informar para onde estes links mudaram? Ou mesmo links semelhantes…
Agradeço.