Finalmente chegou na Amazon a nossa edição de um dos maiores tratados políticos da humanidade, O Príncipe.
Se você quer entender melhor Game of Thrones, ou a Guerra das Rosas, ou ainda a Política de ontem e de hoje, não existe tratado mais essencial do que essa pequena e polêmica pérola literária de Nicolau Maquiavel. Você já pode começar a ler em poucos minutos, pelo preço de um café:
» Comprar eBook (Kindle)
» Comprar eBook (Kobo)
***
À seguir, trazemos o prefácio da edição, por Frater Sinésio:
Há duas boas razões para se ler este livro:
Primeira. Assim você vai saber do que todos estão falando ao usarem o termo “maquiavélico”, particularmente nas análises políticas. Tal adjetivo se tornou tão comum que é muitas vezes usado fora de contexto. Isso se torna compreensível quando percebemos que muitos dos que o utilizam nunca leram esta carta escrita por um cortesão da renascença ao seu príncipe (o “magnífico Lorenzo de Medici”). Assim sendo, uma maior familiaridade com esta obra é sem dúvida necessária para a compreensão mais aprofundada do termo, que como devem saber, se refere ao sobrenome do autor – Maquiavel.
Segunda. Este livro descreve muito bem a maior parte das situações de poder. Da política as corporações, e onde quer que existam relações de controle e influência, as observações e regras maquiavélicas serão geralmente válidas.
Assim, se tudo correr bem, você também irá descobrir que Maquiavel não é tão mau quanto acabou sendo afamado na cultura popular. O que ele estava fazendo aqui foi simplesmente descrever “as regras do jogo do poder”, que já existiam muito antes dele ter nascido e ainda existirão por muito tempo, quem sabe durante toda a história humana – ao menos enquanto perdurar a competição e o egoísmo.
As regras maquiavélicas não são nem boas nem más em si mesmas, tudo o que elas fazem é descrever um processo. O que é bom ou mau é o uso que as pessoas que compreenderam tais regras fazem delas quando alcançam posições de poder, considerando que vivemos numa sociedade que julgará suas ações de acordo com a lei e os princípios ético-religiosos mais essenciais.
Quando esses princípios são suprimidos (como na Alemanha nazista, na “Idade das Trevas” medieval ou sob os regimes comunistas totalitários), as regras maquiavélicas vestem o seu manto demoníaco, mas isso ocorre simplesmente porque elas passam a servir os interesses demoníacos de seus “príncipes”.
Já em sociedades democráticas que são perfeitamente capazes de regular e restringir o poder de seus governantes, o pensamento contido nesta obra pode produzir excelentes resultados. Um belo exemplo foi o uso que Abraham Lincoln fez de tais regras, vencendo seus adversários políticos de forma legítima, e encerrando a escravidão em seu país.
Para apreciar devidamente as lições que podem ser tomadas desta obra, se faz necessário transportar a vivência e a linguagem medieval para nossa era moderna. Por exemplo, a forma casual com a qual Maquiavel discorre sobre a necessidade de assassinar oponentes políticos era algo que fazia todo o sentido para aqueles que desejavam alcançar o poder há 500 anos atrás. Nos dias atuais, esperamos, o termo “assassinato” poderia ser traduzido em “reduzir o poder de alguém nas decisões da empresa” e/ou “retirar aquele outro do seu cargo de ministro”.
E o que alguém ganha ao ler este livro? Ora, se trata de um mapa do caminho com reflexões e lições sobre: (1) se sobressair sobre os demais numa disputa por poder; e (2) manter e expandir seu poder sobre os demais, principalmente aqueles que desejam ocupar sua posição atual.
Esta obra fala sobre colocar a conquista de seus objetivos acima de quaisquer outras considerações, sem espaço para piedade com aqueles que se encontram na mesma competição. Muitas das máximas que encontramos na mídia e na análise política, até hoje, nasceram do livro de Maquiavel: “os fins justificam os meios”; “é melhor ser temido do que amado”; “se você vai lutar contra o príncipe, mate o príncipe” etc.
Dessa forma, se trata de uma leitura essencial para qualquer um que se encontra atualmente num meio ambiente extremamente competitivo (quiçá boa parte da humanidade), e espera prosperar de alguma forma. As regras maquiavélicas simplesmente consideram que, em todo caso, o instinto humano de todos os demais já será algo egoísta.
Certamente há muitas outras formas de prosperar e sobreviver numa competição sem recorrer a tais lições. Sobretudo na modernidade, nos países de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) mais elevado, temos inúmeros exemplos de empreitadas altruístas e colaborativas que têm dado muito certo, mas seria ingenuidade considerar que tais exemplos já são a regra e não a exceção. Assim sendo, esta obra continua sendo muito atual, para o bem ou para o mal.
Muitos dos políticos e diretores executivos de nosso tempo são ao menos em parte maquiavélicos. O truque é usar o poder para objetivos nobres. Assim, todos os políticos e executivos que se sobressaíram sobre os demais, vencendo eleições ou competições internas em suas empresas, se acaso contaram com a ajuda de Maquiavel, não necessariamente serão maus: tudo dependerá, no final das contas, de como eles utilizarão o poder adquirido.
Assim sendo, numa sociedade onde o poder absoluto é constantemente combatido e há certas regras e limites para o que um “príncipe” pode fazer com o seu poder, toda essa competição não será de todo mal – como numa disputa darwiniana, é esperado que aqueles que alcancem o topo sejam os que detém as melhores condições para liderar.
Se é verdade que essa obra é, portanto, uma poderosa ferramenta para galgar o poder, considere fazer uso dela com toda responsabilidade, sobretudo considerando que a maldade está muito mais no uso que os príncipes fazem do poder do que no poder em si.
O revisor.
Respostas de 2
Olá Raph, beleza?
Olha que sincronicidade. Ontem, depois de olhar alguns livros na minha estante (no meio de uns 20) escolhi “O príncipe”, de Maquiavel, para ler mais uma vez. E hoje cedo, o primeiro post que eu vejo de cara no blog é logo esse. Que coisa não? rs.. Acho que é um sinal, talvez eu tenha que aprender ou entender algo mais profundo nessa obra. Ótimo prefácio do Frater, gostei do que foi colocado. Abraço Raph!
@raph: Legal Abinel, realmente é uma obra que vale a pena ser relida algumas vezes na vida, principalmente por aqueles que se interessam por Política, ou até por Game of Thrones, hehe.. Boa releitura!
Mandou bem Raph. Maquiavel é uma leitura obrigatória. Sei que você já deve ter uma lista própria dos livros que pretende traduzir. Mas vou sugerir alguns mesmo assim, vai que você gosta de algum….Sugestões:
Gêneros do Conhecimento – Espinosa
O mundo como vontade e representação – Schopenhauer
Ética – Espinosa ( A igreja prendeu Espinosa até o fim de sua vida por conta desse livro.)
Discurso sobre o método – Descartes
Regras para a direção do espírito – Descartes (É um livro bem pequeno.)
Totem e Tabu – Freud
Mal estar na Civilização – Freud
Self-Reliance and Other Essays – Ralph Waldo Emerson
Esses livros abaixo não estão em domínio público:
Análise do Comportamento – Burrhus Frederic Skinner
Terapia Cognitiva Teoria e Prática – Judith Beck (esse livro não é de domínio público ainda visto que a autora está viva, mas é um guia prático para a mudança do comportamento bem acessível a qualquer leigo)
@raph: Valeu Renato. A princípio tenho focado tb nos autores mais conhecidos com livros mais curtos. Adoraria poder traduzir Espinosa ou Freud tb, mesmo sendo livros mais longos, mas não saberia traduzir diretamente do alemão ou latim. Penso em traduzir Rilke, “Cartas a um jovem poeta”, mas no caso de uma versão em inglês.. Tb por ser um livro mais curtinho. Abs!