O Mutus Liber

Afirma a ancestral sabedoria chinesa que uma imagem vale mais que mil palavras, e essa observação é particularmente correta quando nos referimos as imagens herméticas ou alquímicas que os Sábios deixaram para o deleite e edificação dos amantes de sua Ciência. São chamados “livros mudos”, mas sua mudez é muito distinta da habitual, pois é particularmente eloqüente quando logramos penetrar em seu aparente silêncio.

A Obra Decades Qvator Emblematvm Sacrorvm Ex, ou a Iesv et Rosae Crucis Vera – Os Emblemas Rosacruzes de Daniel Cramer são um dos primeiros tratados rosacrucianos. Este surpreendente “livro mudo” veio à luz em 1617, um ano depois da publicação das “Bodas Alquímicas de Christian Rosenkreutz”. Centrado no simbolismo do coração, os 40 emblemas parecem descrever um processo de purificação e aperfeiçoamento que atravessa a alma ou o homem interior através de 40 passos. Daniel Cramer, pastor protestante, foi um grande conhecedor do conteúdo esotérico das escrituras. A Obra foi dedicada a Felipe II. Ediciones Obelisco (Edição em Espanhol).

Outra obra de importante relevo, e bem dentro da tradição rosacruciana é o conhecido MUTUS LIBER, ou O Livro Mudo da Alquimia.
Reconhecidamente uma das obras mais importantes da tradição alquímica. Composto de 15 pranchas, gravadas por Altus (La Rochelle, 1677), descreve os passos para realização da Grande Obra apenas por imagens. É possivelmente o único livro conhecido, desde o apogeu da civilização egípcia, que se propõe condensar a sabedoria hermética, como prática empírica e caminho espiritual, praticamente sem o uso da palavra.
A publicação em 1614, 1615 e 1616 dos primeiros manifestos rosacruzes (Fama, Confessio e Bodas Alquímicas) deu-se início a uma nova vertente esotérica que procurou definir-se mais auto-conscientemente como tributária de uma visão esotérica do Cristianismo. Dedicaram-se a normatizar e a regular a própria forma das alegorias e dos símbolos alquímicos, retirando a espontaneidade e sua marca intransferivelmente pessoal e solitária, colocando em seu lugar as regras e valores hierárquicos próprio das sociedades secretas que se propõem administrar politicamente a vivência do mundo espiritual. A produção típica desse movimento é o que se costuma chamar de Alquimia Espiritual.
“A alquimia simboliza tudo o que o homem pode aspirar a atingir espiritualmente em seu presente estado. As promessas do ouro, da longevidade e da saúde são todas símbolos da regeneração interior. Remetem à Idade do Ouro da tradição indo-européia, presente tanto nos escritos platônicos quanto na tradição da Índia Antiga. A alquimia é o grande símbolo do caminho iniciático, caminho solitário e penoso, cheio de impasses, mas que é o único caminho a seguir para que possamos voltar à Casa.” Adam McLean
“Não são fábulas. Você o tocará com suas mãos, o verá com seus olhos, o Azôto, o Mercúrio dos filósofos, que sozinho é suficiente para obter a nossa Pedra… A Escuridão aparecerá na face do Abismo; a Noite, Saturno e o Antimônio dos sábios aparecerão; o negrume e a cabeça de corvo dos alquimistas, e todas as cores do mundo, aparecerão na hora da conjunção; e também o arco-íris, e a cauda do pavão. Finalmente, após a matéria passar de cor de cinzas para branca e amarela, você verá a Pedra Filosofal, nosso Rei e Supremo Dominador, sair de seu vítreo sepulcro para montar em sua cama ou trono com seu corpo glorificado… diáfana como cristal; compacta e muito pesada, derrete ao fogo qual resina, e com a fluidez da cera, mais ainda que a do mercúrio vulgar… com a cor do açafrão quando pulverizada, mas vermelha como rubi quando em uma massa integral…” – H. Khunrath, Amphitheatrum
Texto do blog dos Rosacruzes.

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Respostas de 6

  1. “É possivelmente o único livro conhecido, desde o apogeu da civilização egípcia, que se propõe condensar a sabedoria hermética, como prática empírica e caminho espiritual, praticamente sem o uso da palavra.”
    E o Tarô?
    @MDD – O tarot corria em paralelo com os Liber Mutus. Na Itália, fazia parte do Mestrado dos grandes pintores e escultoris uma série de gravuras intituladas trionfi, que mais tarde (final do século XIV) se tornariam o âmago do tarot. Na França, só se tornou conhecido com as guildas do Sul da França, em especial Marselha, por volta de 1500.

  2. Obrigado pela resposta. Meu comentário foi mais sobre o Tarô também ser uma condensação da sabedoria hermética sem o uso de palavras.

  3. Você vai achar a pergunta muito besta, mas por gentileza, pode me dizer a diferença entre Alquimia e Hermetismo? Eles me parecem bem indissociáveis… penso que são uma coisa só, sendo que enquanto o Hermetismo é um conjunto de axiomas e regas teóricas, a Alquimia seria a aplicação prática. É uma visão correta ou devo voltar pro primário?
    @MDD – Está correto. O hermetismo é o conjunto de leis teóricas e a alquimia é a aplicação prática destas leis.

  4. Tio, revendo esse post, que é MUITO legal, queria te perguntar se vc poderia escrever algo , qq dia desses, sobre:
    1- Albrecht Durer – o simbolismo “explicitamente” oculto (!) que ele deixava em suas obras…sabe-se a qual Ordem(ns) ele pertencia? Podia falar uma pouquinho sobre os símbolos presentes no quadro “Melancolia”…?
    2- Hyeronimus Bosch: tudo indica tbm que ele era um iniciado, e não era qq um não, né…?! Algum historiador associa ele com alguma Ordem específica..?
    pq, quadros com simbolismos riquíssimos, sutilezas devidamente camufladas…sei não…
    No “Jardim das Delícias”, eu sinto um clima bem sensorial/malkutiano…sem contar o monte de “esferas” (sephiras, talvez…?) e formas lembrando caduceus, etc…
    e “Nau dos Insensatos “, prá mim, é uma baita crítica ao mundo “créu ” da época dele…vc poderia dar mais umas dicas, desses simbolismos, na obra dele…??
    3- A tapeçaria medieval “A Dama e o Unicórnio” : tem mensagens alquímicas ali, ou é apenas (duvido…rs) uma obra de arte “bonita de se ver” ?!
    Não acho muitas informações mais detalhadas sobre isso…
    No mais;
    Paz e Luz!!

  5. Marcelo, falando em “livros mudos”, se me permite a ousadia, gostaria de sugerir uma postagem sobre o misterioso livro Aurora Consurgens (supostamente escrito por São Tomás de Aquino)… e, se for possível, correlacioná-lo com o brilhante trabalho de Carl Jung. Acredito que seria interessante.
    Fica a sugestão.
    Grande abraço.

  6. Meu queridossou um ALquimista artesão selador,só estou passando para enformar um local bom para estudos (Natal rn-na biblioteca da ufrn )lá vc encontra bastante conhecimento com contratos proteçoes e etc….

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