O Menor é o Mais Poderoso


Na via de realização pessoal que este manual propõe, a afirmação do título nos indica pôr especial atendimento a tudo aquilo que passa despercebido, mas que no entanto tem uma enorme importância quando se trata de conhecer a causa e a origem das coisas. Numerosas expressões tradicionais fincam pé na superioridade do poder do pequeno, sutil e invisível, sobre o visível, grosseiro e grande. “Semelhante é o Reino dos Céus a um grão de mostarda, que tomando-o um homem o semeou em seu campo (em si mesmo), o qual é a menor de todas as sementes, mas quando se desenvolveu é maior de todas as hortaliças e se faz uma árvore, de maneira que vêm as aves do céu (símbolo dos estados superiores) e aninham em seus ramos” (Mateus, XIII, 31-32).

Igualmente todos nossos gestos, o que somos e seremos, estavam já contidos, em potência, na célula seminal que nos engendrou e nos deu a vida. Estas proporções entre o pequeno e o grande não são só quantitativas, senão qualitativas, e obedecem às leis da analogia, que nos faz conhecer a idéia do Todo por uma de suas partes. Mas aqui falamos melhor das relações hierárquicas entre o Princípio e sua manifestação, que aparecem invertidas quando passamos da ordem celeste, ou espiritual, ao terrestre ou corporal, tendo sempre presente que o primeiro é causa do segundo. O maior no Céu é o menor na Terra, e o maior na Terra é o menor no Céu.
O Cosmo é o desdobramento do “Ovo do Mundo”, que alberga os germes de tudo o que existe e se manifesta ciclicamente. Desta forma, o Espírito, quando se quer dar a conhecer, não o faz através do pomposo e cerimonial, nem de nada que venha do exterior, senão que o realiza por meio do silêncio interno e do inominável, como uma força que brota do mais profundo e se expande por todo nosso ser, alumiando-o interiormente e ordenando-o conforme a seu arquétipo eterno. O verdadeiramente universal, o supremo, não tem dimensões, nem está sujeito a nenhum tipo de lei terrestre e humana. Aninha oculto e secreto no coração dos seres, que sem ele careceriam de toda realidade, da mesma forma que a circunferência não existiria sem o ponto, nem a série numérica sem a Unidade aritmética. Assim, quanto mais identificados estejamos com as coisas “deste mundo” menos participaremos da comunhão salvífica no Ser. “Faz que teu ‘eu’ seja menor e limita teus desejos”. “Renuncia ao conhecimento (quantitativo e profano) e não sofrerás” (Tao Te King, XIX). “Os últimos serão os primeiros e os primeiros os últimos” (Mateus XX, 16). “O menor entre todos vocês, esse será o maior” (Lucas, IX, 48). “Se algum quer ser o primeiro, que seja o último de todos e o servidor de todos” (Marcos, IX, 35).

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Respostas de 15

  1. Interessante a semelhança entre os ensinamentos de Jesus e os de Buda referente ao desapego, a versão de Tomé é bem mais semelhante ao budismo, talves por não ter passado pelas traduções de não-eruditos. Buda salientava que se a pessoa se apegasse muito a alguma coisa, ao perder, o sofrimento seria o equivalente ao apego que tinha, e se não sentisse nada de desejo em relação ao que se perde, não sofreria nada.

  2. Tao Te Ching – Lao Tzu – chapter 66
    Why is the sea king of a hundred streams?
    Because it lies below them.
    Therefore it is the king of a hundred streams.
    If the sage would guide the people, he must serve with humility.
    If he would lead them, he must follow behind.
    In this way when the sage rules, the people will not feel oppressed;
    When he stands before them, they will not be harmed.
    The whole world will support him and will not tire of him.
    Because he does not compete,
    He does not meet competition.

  3. Uma interpretação magnífica da parábola do grão de mostarda tio!
    Agora, me corrija se entendi errado quando você fala:
    Assim, quanto mais identificados estejamos com as coisas “deste mundo” menos participaremos da comunhão salvífica no Ser.
    E nas citações como:
    “Renuncia ao conhecimento (quantitativo e profano) e não sofrerás”
    Você está querendo dizer que devemos abandonar o conhecimento científico, ou seja renunciar a tentativas de ampliar nosso conhecimento em Física, Matemática, Biologia, Química e todas as ciências que usam puramente a metodologia científica?
    Desculpa tio, mas isso soa como aquele mote que os evangélicos usam:
    “O conhecimento de Deus para esse mundo é loucura.”
    Então vocês devem deixar a ciência de lado e estudar somente a Bíblia.

    Olha, eu acho que entendo que você está querendo dizer: que no processo de se unir ao divino você passará a entender tudo no Universo, incluindo o conhecimento científico.
    Eu concordo com isso, mas não totalmente. Sei que aquela ciência “toda-poderosa” propagada por homens como Sagan e Dawkins carece de um conteúdo mais vivificador, sendo fria. Mas eu acredito que um caminho de equilíbrio entre a ciência e o misticismo é possível. Ao mesmo tempo em que você estuda a si mesmo, você pode prosseguir usando metodologia científica para compreender mais o Universo.

  4. @ Estefferson
    Acho que o texto se refere a largar as coisas mundanas e os conhecimentos mundanos para poder progredir.

  5. O Caminho é vazio e inesgotável,
    profundo como um abismo.
    É como se fosse o ancestral das dez mil criaturas.
    Suavizai o corte
    Desfazei os nós
    Diminuí o brilho.
    Deixai que as rodas percorram os velhos sulcos.
    Devemos considerar nosso brilho
    a fim de que nos harmonizemos com a escuridão dos outros.

    Como é puro e tranqüilo o Caminho!
    Não sei de quem possa ser filho
    pois parece ser anterior ao Soberano do Céu.
    Verso 4 do Tao Te Ching, O Livro do Caminho Perfeito (tradução de Murillo Nunes de Azevedo)

  6. @ Estefferson
    Eu não acho que Matemática, Física, Biologia e etc. Sejam conhecimentos mundanos. Acho que big brother, futebol e novela das 8 são.
    Acho que o ser humano tem de trabalhar muito em desenvolver a sua vontade, mas muitos não entendem essa ideia e acham que desenvolver a sua vontade é fazer o que tiverem a fim de fazer e se metem a fazer coisas mais mundanas do que qualquer outra pessoa “comum”. Quando na verdade antes de se fazer a sua vontade deve-se entender o que é a sua verdadeira vontade.
    Do meu ponto de vista a gente faz um monte de coisas durante nosso dia à dia que não é da nossa vontade, entende?
    Quando desenvolvemos e entendemos como funciona nós mesmos somos capazes de despertar a nossa consciência e alcançar os graus máximos da sabedoria.
    Abraços

  7. os últimos serão os primeiros, os primeiros serão os últimos e os do meio serão sempre os do meio…

  8. “Renuncia ao conhecimento (quantitativo e profano) e não sofrerás” (Tao Te King, XIX)
    realmente, de um fundamentalismo eclético essa visão de mundo.paz.

  9. O próprio texto faz jus ao título, com certeza. Foi curto, mas poderoso. Muito interessante a postagem, esclarecedora.

  10. salve salve!
    é nesse tipo de leitura que eu consigo me identificar!
    não conhecia a história da mostarda… muito boa…
    desde que eu parei de comer carne, mostarda é o tempero que eu mais sinto falta!!!
    mas agora eu tô quebrando o paradigma e ponho mostarda em tudo o que me dá na telha/coroa!!
    =D
    boa!

  11. @ Lokão : A filosofia e a sociologia foram banidas do curriculum escolar obrigatório pela ditadura militar. #fikdica

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