O Labirinto e o Minotauro

Havia um labirinto na antiga Grécia, na ilha de Creta. Esse labirinto foi criado com o intuito de abrigar umas das feras do mundo antigo chamada Minotauro: uma criatura que tem corpo de homem, cabeça de touro e dentes de leão, os quais usa para devorar todos que se aproximam.

Conta-se que o rei de Atenas, Egeu, fez um acordo com o rei Minos para que não invadissem sua amada cidade; de sete em sete anos o rei Egeu deveria enviar à ilha de Creta sete rapazes e sete moças para que a cidade de Atenas permanecesse intacta, pois a frota marítima de Minos era numerosa e terrível.

Mas aconteceu que Teseu, filho do rei, se apresentou para embarcar junto às 14 pessoas oferecidas em sacrifício, porém, com o intuito de matar o Minotauro. O rei Egeu insistiu para que seu filho não embarcasse em tão desesperada missão, mas Teseu estava irredutível; por fim, seu pai concordou com seus planos; Teseu faz a viagem até a ilha de Creta, e consegue convencer o rei Minos a aceitar o acordo de libertar Atenas dessa obrigação caso ele conseguisse matar o Minotauro.

Na noite anterior, Ariadne, filha de Minos, vai até o quarto de Teseu e lhe dá de presente um punhal e um carretel de fio de ouro, dizendo-lhe “Ainda que você tenha força para matar o monstro, precisará achar o caminho para fora do Labirinto. São tantas curvas e desvios escuros, tantas passagens falsas e vias sem saídas, nem mesmo meu pai conhece todos os segredos. Se está determinado a levar adiante esse plano, leve isso.”

– Logo que entrar no Labirinto – ela disse -, amarre a ponta do fio numa pedra e segure com firmeza o carretel todo o tempo. Quando quiser sair, o fio será seu guia.
– Por que está fazendo isso ? Estará em grande perigo, se seu pai descobrir.
– Sim – Ariadne respondeu lentamente – Mas se eu nada fizer, você e seus amigos estarão em perigo ainda maior.

E Teseu descobriu que a amava.

Na manhã seguinte, Teseu foi levado ao labirinto. Tão logo os guardas o deixaram, atou a ponta do fio a uma pedra aguçada e se pôs a andar devagar, segurando firmemente o precioso carretel. Avançou pelo corredor mais largo, do qual saíam outros à esquerda e à direita, até chegar a uma parede. Voltou sobre seus passos e tentou outra passagem, e mais outra, parando a cada passo para tentar ouvir o monstro. Atravessou muitas passagens escuras e tortuosas, voltando às vezes a lugares por onde já passara, mas adentrando cada vez mais o Labirinto. Finalmente chegou a um salão cheio de pilhas de ossos. O monstro estava próximo.

Sentou-se, quieto, e ouviu ao longe um ruído abafado, como o eco de um rugido. Levantou-se e prestou atenção. O som estava mais perto e mais alto, não rouco como o bufar de um touro; era um ruído mais estridente, mais fino. Teseu abaixou-se rapidamente e apanhou um punhado de terra do chão do Labirinto, empunhando com a outra mão o punhal.

O bufar do Minotauro se aproximava cada vez mais. Já se ouvia o barulho dos pés, ecoando pesados no chão. Um rugido, uma bufada e silêncio. Teseu recuou para o canto mais escuro de uma via estreita e se agachou. Seu coração batia forte. Veio o Minotauro. Percebendo a figura agachada, deu um rugido alto e avançou diretamente para ele. Teseu pulou e, desviando para o lado, atirou um punhado de terra nos olhos da besta.

O Minotauro urrou de dor. Com as mãos monstruosas esfregou os olhos, bramindo em confusão. Sacudiu fortemente a cabeçorra, rodopiou, estendendo as mãos para encontrar a parede. Estava totalmente cego. Teseu agarrou o punhal, esgueirou-se por trás do monstro e desfechou-lhe um golpe rápido nas pernas. O Minotauro veio ao chão com um urro e um estrondo, mordendo o chão com os dentes de leão, debatendo-se, as mãos dilacerando o ar. Teseu esperou a chance e, quando as mãos em garra pararam de se agitar, enfiou três vezes a lâmina afiado do punhal no coração do Minotauro. O corpo se contorceu no ar e caiu, quieto.

Teseu ajoelhou-se para agradecer aos deuses e, ao terminar a prece, pegou o punhal e cortou fora a cabeça do Minotauro. Segurando a cabeça degolada, pôs-se a seguir o fio para fora do Labirinto. Parecia que nunca mais conseguiria sair daquelas passagens escuras e sinistras. Teria o cordão se partido em algum lugar e ele, afinal, estava perdido ? Seguiu ansiosamente até chegar à entrada, onde deixou-se cair exaurido pela luta e caminhada.

– Não sei que milagre o fez sair vivo do Labirinto – disse Minos, ao ver a cabeça do monstro. – Manterei minha palavra. você e seus companheiros estão livres. Agora haverá paz entre seu povo e o meu. Boa viagem.

Teseu sabia que devia a vida e a libertação de sua terra à coragem de Ariadne, e sabia que não partiria sem ela. Alguns dizem que pediu sua mão ao rei, que concedeu com prazer. Outros afirmam que ela escapuliu para o navio no último minuto antes da partida sem o conhecimento do pai. Seja como for, os amantes estavam juntos quando a âncora foi levantada e o navio partiu de Creta.

Mas esse final feliz se mistura à tragédia, como acontece em muitas histórias. Pois o capitão do barco não sabia que deveria içar velas brancas para anunciar a vitória de Teseu e o rei Egeu que, do alto de um penhasco perscrutava aflito as águas, viu as velas negras surgirem no horizonte. Seu coração se partiu e ele despencou do alto do penhasco em pleno mar, que hoje se chama mar Egeu.

Adaptado de Andrew Lang. Retirado de “O Livro das Virtudes” – William J. Bennett

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Respostas de 3

  1. Um filho que vence o seu lado animal e, seguindo o fio do amor, retorna a superfície. Um pai que, desesperado com a perda de sua “posse”, prefere dar cabo da própria vida. Duas formas de amar, uma que nos leva para aventuras gloriosas, e outra que nos leva para o penhasco e o abismo…

  2. Acho que essa é uma das história com maior conteúdo oculto e prático da mitologia.
    Um desafio, entrar em um mundo de ilusão e não se perder. Derrotar o seu lado animal e o monstro que temos lá dentro, touro é algo muito ligado aos bens terrenos, ambição, prazeres carnais. Como o amigo Raph disse acima, ‘seguido pelo fio do amor’, pois mesmo derrotando nossos inimigos internos, sem o amor não há saida e não faz sentido toda essa batalha.
    Muito bom texto, e excelente história.

  3. Interessante texto da Mitologia GREGA, Nao conhecia todo o teor desse conto secular! Parabéns! aguardo outros textos para um bom conhecimento.

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