O infinito e por aí

O convite para escrever sobre o livro Ad infinitum é para mim honroso por dois motivos: primeiro, se tratar de uma publicação de meu amigo Rafael Arrais; segundo, creio que este livro coroa todo um trabalho que acompanho faz tempo.

Em Análise Institucional, há certos acontecimentos que chamamos de Analisadores. Permitam-me uma pequena contextualização aqui: a sociedade é composta por instituições que formam a trama social e que se mantém ou se alteram através de nossas práticas. Uma instituição é, definindo de maneira geral, tudo aquilo que um dia foi instituído e hoje tomamos como normal, usual, corriqueiro, e nelas se incluem comportamentos e pensamentos, modos de agir ou pensar. Entretanto, a sociedade não é algo fixo e imutável ao longo do tempo, mas se transforma constantemente devido a variadas questões históricas, econômicas, políticas, entre outras. Chamamos as mudanças sociais que ocorrem por variados motivos de instituintes, aquilo que visa alterar o instituído. O estudo e a prática da dinâmica instituído-instituinte é o que poderíamos chamar de Análise Institucional. 

Quando há a manifestação de algo que não está em conformidade com o instituído, são estas manifestações elas mesmas reveladoras dessa dinâmica que buscamos entender. E as chamamos de Analisadores. Um analisador recente ao momento em que escrevo é a série de protestos que ocorrem no país. Não era comum faz certo tempo a população ir a rua para reivindicar seus direitos, mas aconteceu. E esta manifestação revela que há algo que não vai tão bem como a televisão mostra.

A publicação de Ad Infinitum é um Analisador de uma nova geração de autores. Com a internet, temos visto uma revolução no modo como o escritor atinge seu público. Se antes era necessário toda uma atividade editorial, Rafael Arrais nos mostrou que isso hoje não é mais tão importante assim. O próprio foi responsável por diversas etapas do processo, desde a escrita propriamente até toda a arte e diagramação do livro. Isto revela que estamos testemunhando uma grande mudança de como a informação é transmitida.

A pessoa de Rafael Arrais não está presente apenas na “cara do livro”, mas em seu conteúdo. Os quatro personagens que se encontram para debater diversas questões existenciais são manifestações de seu pensamento e suas próprias dúvidas e respostas que temos acompanhado faz tempo em seu blog Textos para Reflexão. Este livro consagra, portanto, todo um longo trabalho de discussão e reflexão.

No entanto, dizer que apenas Rafael Arrais está presente no livro por outro lado também seria não fazer justiça a obra. Escrita sobre ombros de gigantes, Ad infinitum traz diferentes discursos e pensamentos para dialogarem. Você provavelmente reconhecerá muitos deles, até porque já escutou, leu ou mesmo refletiu sobre eles.

O enredo é uma ode à amizade e à boa conversa. Parece difícil imaginar que um debate que discuta questões tão profundas e que atinge crenças diversas tão valorizadas por seus defensores possa se manter tão pacífico e amistoso como o livro nos apresenta. Mas sim, é possível. Basta pensarmos quais valores nos são mais importantes: a “verdade” a qualquer custo ou a boa convivência e o livre circular das ideias.

Por fim, é sempre importante dizer que nenhuma obra é neutra. Se Rafael Arrais compila discursos e nos apresenta ideias, ele também defende um ponto de vista. Imaginar que assim não seria é ingenuidade, pois qualquer um que tentasse fazer o mesmo, na própria seleção e escolha de argumentos já estaria enviesando um pensamento mais que outro.

Deste modo, Rafael oferece uma nova forma de pensar a espiritualidade. Não a de que um espiritualista seja um alienado, crente em uma fé cega e perdido em mistificações, como muitos podem acreditar. Mas a de que um espiritualista seja alguém como outro qualquer, com suas próprias crenças, e que também pode sustentar um pensamento racional.

Você pode até não concordar com sua lógica por ter preferência própria por outros métodos racionais, mas o que não é possível dizer é que não há lógica.

Igor Teo                                       

Rio de Janeiro, 30 de junho de 2013

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Respostas de 2

  1. Valeu mesmo Igor, eu admito que já havia lido na segunda quando vi o post na categoria do “Textos para Reflexão”, mas depois vou publicar no meu blog também 🙂

    Abração!
    raph
    @Teo – Não consegui fazer a surpresa então rs
    Abraço!

  2. Igor estou pensando em cursar psicanálise no método EAD pois onde moro não tem nenhum curso. Eu encontrei a ABRAFP – http://www.abrafp.org que tem turmas presenciais e EAD e conclusão do curso em 2 anos.

    Você sabe dizer se ela é séria, ou poderia me indicar alguma EAD.

    O curso creio que agregaria bastante nos meus estudos de ocultismo e também como pessoa.
    @Teo – Olá, Phillipe. Não conheço a ABRAFP.

    Eu, particularmente, por concordar com a postura de Jacques Lacan em relação ao ensino da psicanálise, não acredito muito que ela possa ser ensinada apenas na “formação formal” oferecida por escolas. Desta forma, não consigo ver seu ensino através apenas do estudo teórico, que seria dado por um curso de apenas EAD. A própria análise é o primeiro passo para se estudar a psicanálise, e esta não teria como ser feita a distância. Então mesmo que seu estudo teórico seja a distância, será necessário fazer análise presencialmente com algum analista.

    Na transmissão da psicanálise e na formação de um analista há o clássico tripé: a análise pessoal do aspirante a terapeuta, o ensino teórico e supervisão clínica de um analista mais experiente. Ao procurar por alguma formação, procure se atentar se esses três pontos são contemplados.

    Sem dúvida, a análise é algo que tem muito a agregar 🙂
    Abraço!

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