O Inconsciente é o divino

A superfície consciente da nossa natureza é o nosso pequeno ego humano – as profundezas inconscientes são o nosso grande Eu divino.

A Realidade Universal é o grande Inconsciente, não o Inconsciente da vacuidade, mas o Inconsciente da plenitude. O Inconsciente da plenitude é o Oniconsciente, mas esse Oniconsciente se apresenta ao nosso ego consciente como sendo o Inconsciente. Os extremos se tocam. Quem olha para dentro da treva nada enxerga; quem olha diretamente dentro da luz solar, nada enxerga. Aquela escuridão é a ausência da luz, esta é a plenipresença da luz. Treva total e luz total são, para nossa percepção finita, a mesma coisa – o Nada, o Vácuo, a Treva, a Ausência. Nós, os finitos, só enxergamos o Todo quando ele é reduzido a Algo, mas não o enxergamos como o Todo, que nos parece o Nada.

A luz Incolor da Realidade Total não é objeto de nossa percepção finita; só a Luz Colorida da Realidade Parcial, isto é, do Algo Finito, é que pode ser percebida por nós. Os nossos sentidos e o nosso Intelecto – o nosso ego humano – funcionam como “válvulas de redução”, diz Aldous Huxley; se assim não fosse, não poderíamos existir como indivíduos. O impacto da Realidade Total nos aniquilaria, desindividualizando-nos, universalizando-nos; deixaríamos de existir finitamente, continuando a ser universalmente. Mas esse “ser universal” não sou eu, não és tu, não é nenhuma creatura finita, isto é a Realidade Infinita do puro Ser. Nós, os finitos, existimos graças à nossa finitude; existimos a mercê das nossas limitações. Se não fôssemos limitados, não existiríamos como indivíduos.

Por isto, o Inconsciente do Todo, do Ser, do Infinito, é percebido por nós como um Inconsciente. O ontologicamente Inconsciente é, para nós, logicamente consciente, uma vez que “o conhecido está no cognoscente segundo o modo do cognoscente”.

Quando nos abismamos em profunda contemplação espiritual, estabelecemos ponto de contato entre o nosso finito consciente e o Infinito Inconsciente. E, quando o Inconsciente do Infinito sobrepuja o nosso consciente finito, então perdemos a percepção dos sentidos e a concepção do intelecto; tudo “desmaia” [1] diante do nosso consciente, nada mais sabemos de tempo e espaço, que são criações do ego consciente, e temos a impressão de submergirmos no eterno e no infinito, que são a negação de tempo e espaço.

Quando entramos profundamente no sagrado “Aum”, e quando espira a derradeira vibração sutil do “m” final, então, dizem os orientais, entramos no grande “nada” [2], que é a derrota do nosso consciente pelo Inconsciente. Estamos no terceiro céu, no samadhi, no ekstasis (êxtase), expressões várias para designar a absorção do consciente pelo Inconsciente.

Fonte:
Huberto Rohden, Roteiro Cósmico: Martin Claret, 2011. pg. 129.


[1] – A palavra “desmaiar” não vem do latim. Provavelmente, os portugueses a trouxeram do Oriente, em séculos pretéritos. Maya é a palavra sânscrita para “natureza”, quem desmaia, perde a noção de Maya; está fora de tempo e espaço, ambiente da natureza perceptivo-conceptiva.

[2] – Como a palavra “desmaiar”, também o vocábulo “nada” não é de origem latina. Na língua sânscrita, o termo “nada” quer dizer silêncio absoluto, o Infinito, o Vácuo. Quando o homem atinge o auge da sua contemplação mística, depois de esgotar todas as vibrações do sacro trigrama “AUM”, abisma-se no grandioso “Nada” do silêncio de Brahman. Esse Nada do existir é o Todo do Ser. O Nada da Imanência de Deus é o Todo da Transcendência da Divindade. Da Divindade nada pode o homem saber, de Deus ele sabe um pouco.

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Respostas de 8

  1. “Nós, os finitos”, simplesmente não existimos, absolutamente, apenas Brahman existe, não existe inconsciente, se conhecemos a experiencia do desmaio, da suposta ausência de consciência, se podemos relatar a absorção no nada, no silencio absoluto, ou de sono sem sonhos, é porque não há intervalos na consciência que é Brahman, que é você, identificado com um homem, com algo finito, iludido por Maya, que é simplesmente medir e nomear, quando medimos ou nomeamos o que quer que seja, criamos uma dualidade que não existe em momento algum, como o ver e o visto, descubra quem é você, verás então que não existe diferença ou separação entre “ego humano e eu divino”, que não existe qualquer diferença ou separação em momento algum, por que apenas Brahman existe, dando nomes e formas diferentes pra si mesmo, que nunca são o que parecem ser, que nada são além de Brahmam, verás então que existe um único Eu, não dois, e esse Eu é onde e de que tudo aparece e desaparece, um único corpo, uma unica consciência e uma unica mente, o corpo é a mente, a mente é a consciência e a consciência é o corpo, tudo isso com nomes e formas diferentes é apenas Brahman, não importa o que seja ou pareça ser, é Brahman, que é infinito, sem nome e sem forma, isso não é uma crença, isso não é uma opinião, isso não é um trecho de alguma literatura ou resultado do estudo de alguma literatura, é o que Eu sou, isso não é uma sabedoria adquirida, aprendida, isso é ser, não foi Deus que me disse ou um ser de uma outra dimensão, etc. por que não existe eu e Deus, eu e o outro, eu e aquilo, apenas um, Eu sou o que sou, descubra quem é você e você saberá quem sou eu, descubra no sentido de remover a ilusão de nomear e medir, que como um véu encobre aquilo que você já é, Eu, Brahman, a ausência absoluta de distinções, fragmentos, separação, o todo é o nada pois não possui dimensões não é objetivo, nem subjetivo, tudo que precisa ser negado é o nomear e medir e tudo que precisa ser encontrado é aquele que procura, quem é você? que “acredita” ser um individuo, que “acredita” ser finito, que “acredita” ser uma parte do todo, quem é esse que “acredita” que da divindade nada pode saber?

    …e, sim, esse “ser universal” sou eu, és tu, é toda creatura finita, isto é a Realidade Infinita do puro Ser.

    1. Belo comentário… expressou em grande parte a conclusão, que não sei se é a mais certa, mas a que eu mais próximo cheguei também, mas sem usar o deus hindu como símbolo.

      1. Deus, Brahman, Alah, Amor, Vida, Todo, ser universal, onipresença, são apenas nomes, definições, não se apegue a isso, olhe a sua volta, e veja neste momento, que aquele que vê, tudo que é visto e o que não é visto também, são isso, Você é essa unica presença, não existe outra coisa além de você, não existe diversidade, não existe dualidade, pode parecer existir, devido a ilusão criada quando você se identifica com uma das formas dentro de você, um corpo, uma história, você não é o corpo, você não é uma pedra, nem uma planta, mas todas essas coisas, tudo que existe no universo infinito, simultaneamente, você se sente separado quando se identifica com algo especifico, então condena ou defende, deseja ou teme, não há nada para aprender, não há nada para conhecer, nada para temer e nada para desejar, que não seja você, veja a tolice disso de buscar, só há você, você está absolutamente só, não é uma trindade, não tem filho nem pai, não é o rei dos reis, não é o criador, apenas é, absolutamente um, eterno e imutável, quer dizer, não tem começo nem fim e não se torna isso pra depois voltar a ser aquilo, seja o que for que pareça ser é sempre só você, seu verdadeiro nome é inominável, sua verdadeira forma é sem forma, essa não é a conclusão mais certa, não é uma conclusão, é a verdade absoluta, e da verdade não há ninguém mais ou menos próximo, por que a verdade, você, Deus, não importa o nome que é dado, é a unica presença, agora, já.

  2. Interessante o texto Marcelo!
    Mas agora tenho uma pergunta (espero que responda).
    Estaria esse inconsciente divino ligado também aos problemas psicológicos de ordem ansiosa? Tive diversas crises de pânico e ansiedade, que me deixavam a beira do desmaio, e me dava sensação de desprendimento “real”. Na verdade é mais correto associar que era uma quase morte. Como se saísse do corpo, se separasse da minha “Matéria”. De lá pra cá mudei meu ponto de vista em tantas coisas, e isso sem remédios e intervenção psiquiátrica. Seria esse “quase” desligamento um contato com esse outro plano também?

    1. Olá Lucas, os problemas psicológicos tem a ver com o ego, a ansiedade é o apego do ego pelas formas que lhe causam medo, então desapegue-se da ideia do medo, entenda que é apenas uma ideia errada que há em você e que não é sua, mas que você a reforça ao não ter consciência de que é apenas uma ideia ilusória (maya) então diminua cada vez mais essa e qualquer outra ideia e sinta a vida de verdade dentro de você e diante dos seus olhos. A sensação que você diz sentir é ilusória, o verdadeiro encontro com Deus só se dá sem a presença do ego então diminua qualquer forma mental

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