O Incenso de Ketoret

Traduzido por Gabriela Ayres
Em março de 1988 foi encontrado em uma caverna de Qumran, uma pequena jarra que continha um oléo avermelhado. Acredita-se que é a única amostra sobrevivente de um óleo balsâmico, descrito na Toráh para ungir o Mishkan (Tabernáculo) e seus vasos, assim como os kohanim, sacerdotes e reis de Israel. O óleo – quando foi encontrado – tinha uma consistência como o mel. A jarra em que o encontraram, estava embrulhada em folhas de palmeiras, cuidadosamente dobradas e preservadas em um poço com profundidade suficiente para evitar que se desperdiçasse devido às intempéries do tempo externo da zona.

Quatro anos depois, descobriram 600 quilos de uma substância orgânica avermelhada dentro de um silo, construído com rochas, em outra parte do complexo de Qumran. Uma série de análises determinaram que a dita sustância avermelhada continha pelo menos oito das onze espécies que eram utilizadas em Pitum haQetoret (mistura de incenso) e oferecidas no Templo.
Alguns anos mais tarde, foi apresentado uma amostra perante dois rabinos que a deram à seus próprios profissionais químicos para analisar a qualidade orgânica, e sugeriram que se queimasse uma porção dessa mistura com propósitos científicos (para tal, utilizaram ácido cloridrico e fogo). Também foi sugerido que a queimasse junto com outras duas espécies que se escontraram no outro lado da caverna.
Os resultados foram assombrosos. Se por um lado, as espécies haviam perdido algum traço da sua potência ao longo dos milênios desde seu enterro, por outro ainda eram poderosas. O resíduo da fragrância permaneceu nos arredores por inúmeros dias depois da experiência. Muitas pessoas informaram que seus cabelos e roupas consevaram o mesmo perfume. Ainda mais assombroso, a área onde foram queimadas as espécies, mudou radicalmente já que estava infestada durante meses, com formigas, mosquitos e outros insetos, que logo depois da experiência do incenso, desapareceram magicamente.
Depois de Ketoret, nenhum inseto foi visto por um bom tempo. Isto traz lembrança da Mishná em Avot 5:5 (Talmude) que diz que não havia moscas na área do Templo.
O poder e efeito prolongado do Ketoret estão também escritos no Talmude Yoma 39b, que as cabras em Jericó (ao norte de Qumrán) espirravam ao sentir o cheiro do Ketoret, e as mulheres não precisavam se perfumar. Em Jerusalém as noivas não precisavam usar seu perfumeiro (um pingente com misturas de ervas) em virtude do dulcíssimo e onipresente cheiro do Ketoret.
O Ketoret e a Bíblia
No Talmude (Arajin 16ª) está escrito que em Beit haMikdash (Templo), o Mishkán (Tabernáculo) assim como os vasos sagrados, o Aron Hakodesh (Arca sagrada), a Menoráh (o candelabro), o Mizbeaj haKetoret (Altar do Incenso), as roupas do Cohen Hagadol (Sumo Sacerdote), as cinzas dos sacríficios, etc., não eram só arterfatos físicos, mas sim, representavam níveis espirituais para estar mais perto de Deus. O mesmo acontece com o Óleo (Shemen) e o Ketoret.
Da leitura de Exôdo 30, podemos destacar que o óleo da unção e o Ketoret estão muito ligados um ao outro, já que contêm várias especiarias iguais.
Outra coisa que podemos destacar é que ambos são muito sagrados. Sagrado em Hebreu se diz Kodesh, quando algo é Kodesh se deve afastar-se e ser mantido separado, adquirindo por tanto o poder de santificar e elevar tudo ao redor (Shabat Hakodesh, Torat Hakodesh, lashon Hakodesh, Ierushalaim Ir Hakodesh, etc.).
Da Kabalah, podemos dizer que o incenso consistía em dez perfumes ou especiarias com uma agradável fragância, e uma especiaria a mais, jelbená (gálbano), com un cheiro horrível. Essas espécies eram misturadas para serem usadas no Templo. Como as onze especiarias representavam as dez, mais uma sefirot (ou originária) da Árvore da Vida do Universo de Tohu (caos), se diz entre tanto que representam a completa retificação do mal. Isto é indicado pela junção da 11ª especiaria, gálbano, que faz menção a elevação do mal retornando ao reino sagrado.
O Talmude (Shabat 89ª) ensina que Moisés foi instruído sobre o mistério do incenso pelo Anjo da Morte (o Anjo da Morte revelou a Moisés que o Ketoret tem poder de anular um decreto maligno, ainda que fosse o da morte).
Por que o Ketoret supera a maldade da morte? De onde sai o seu poder? Obtêm-se do fato da pulverização das especiarias se assemelharem ao rompimento da morte das sefirot originais. As sefirot originais dão luz com uma pequena porção de escuridão. A escuridão não poderia se manifestar como “mal” integro até que a luz fosse “pulverizada”. O rompimento da luz se demomina morte e escuridão. Mas o Ketoret, na precisa forma que está, e especialmente pelo número e natureza dos seus ingredientes tem o poder de sobrepôr-se a morte e a escuridão, e tranformar completamente o mal, tanto em nós e no mundo, no bem.
O Jelbená
O incenso consistia em dez especiarias, ou perfumes, com boas fragrâncias e uma 11ª, gálbano, com um cheiro horrível que se refere a elevação do mal no reino sagrado.
É interesante observar que o jelbená, uma das quatro especiarias mais importantes do Ketoret, descrita no Toráh, corresponde a nada mais nada menos que o carbono, ao carbono animal, um dos quatro elementos primários encontrados no Universo, que junto com o oxigênio eram essenciais para manter a vida!
Continuando com a idéia das dez fragrancias especiais e uma desagradável, o Talmude diz: (Keritot 6b): Todo jejum coletivo que não inclua os pecadores de Israel, não é jejum”.
Isto tem a ver com o fato de que o incenso tinha jelbená. Assim como o jelbená, era preciso que o incenso adquirisse esse aroma, uma congregação não está completa sem alguém que tenha errado e queira redimir-se através do arrependimento. Em particular quando um castigo era decretado contra Israel devido a alguma má ação, este mesmo mal deve ser elevado. Entre tanto, a idéia de trasformar o mal, o elevando novamente a sua fonte no sagrado está incorporanda no incenso. É por essa razão, que todo jejum coletivo deve incluir os pecadores de Israel.
A Toráh menciona quatro especiarias fundamentais para o Ketoret: Bálsamo, estacte, gálbano e frankincenso puro. É somente através da trasmissão oral que conhecemos as outras sete, somando um total de onze. Os sábios, tentam nos explicar, de que maneira se menciona na Toráh, repetindo duas vezes, a palavra “samim”, ou especiarias. A Toráh não especifica quais eram.
O Talmude mais uma vez explica as propriedades do Keroret:
Keritot 6ª: “De que era composto o Ketoret? Continha 368 maneh (medidas). 365 correspondiam ao número de dias do ano solar, uma medida por dia: meia pela manhã e meia a noite. As outras três são aquelas que o Cohen Hagadol (Sumo Sacerdote) traria (ao Sancta Sanctorum) como dobro da porção no “Iom Kipur”
Existe uma súplica, dizendo que nossa oferta seja agradável e aceitável a Deus. O Ketoret tem o poder de anular os efeitos do Lashon Hará (palavras torpes, fofocas, insultos, ofensas verbais, literalmente, a “lingua afiada”). Aqui devemos frisar que a Toráh e a súplica são a forma mais poderosa de utilização da linguagem para o bem. Às vezes, é muito fácil dizer palavras, aquelas que não são nossas e acostumamos repeti-las a ponto de perderem a profundidade e o significado. Mas o segredo da verdadeira súplica é nos colocarmos atrás das palavras, de convertê-las em ações, especialmente aquelas que foram pronunciadas para purificar durante milênios

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Respostas de 13

  1. Marcelo, eu estava pensando em escrever um post exatamente sobre este assunto semana passada para o meu blog (me atrasei por causa das provas –‘). Acho que vou utilizar o seu dando os devidos créditos e linkando seu blog no post.
    Excelente texto, parabéns!

  2. Tradição Oral Apenas? Posso estar enganado e o autor pode estar enganando as pessoas http://www.betemunah.org/ketoret.html
    @MDD – Não… está certinho…
    (1) balsam, (2) onycha, (3) galbanum [chelbena], (4) frankincense — each weighing seventy maneh; (5) myrrh, (6) cassia, (7) spikenard, (8) saffron — each weighing sixteen maneh; (9) costus — twelve maneh; (10) aromatic bark — three; and (11) cinnamon — nine.
    Já não se fazem mais segredos cabalísticos como antigamente hehehehe

  3. Ótimo post tio! Os rabinos ainda utilizam o Ketoret ou a “receita” dele foi perdida?
    (Tem um kra usando meu nick. ¬¬’)

  4. Ok. Para os iniciados o uso do incenso já é comprovado, mas me diga Marcelo, e quanto aos mundanos que se interessam ou interessaram pelo assunto e buscam comprar e usar os incensos tipo Mirra, pelo fato de ser dado como presente a Jesus em seu nascimento.
    As varetas que vendem em várias bancas, casas de artigos indianos e afins vendem de tudo que é tipo, o uso desses incensos tem pelo menos 1% de efeito espiritual, proteção, meditação e afins como em ordens iniciaticas?
    Ou só deixam um cheirinho gostoso na casa?
    @MDD – Os incensos de varinha tem seu efeito simbólico, mas bem inferior aos incensos de verdade, claro.

  5. 1 – Uma pena que hoje em dia vagabundo vende azeite de terceira categoria dizendo que é o óleo de Israel.
    2 – Devo imaginar que os outros 7 ingredientes devem ser conhecidos apenas pela galera altamente gabaritada, correto?
    3 – Se cada material equivale a uma sephira, então eu posso utiliza-los como elemento ar para uma consagração ou outro ritual a qual queira utilizar as emanações especificas dessa Sephira?

  6. Del debbio,
    Por essas navegancias da internet, e andancias da vida refletindo.
    Ficou uma ideia na mente que gostaria de compartilhar com você, e com os outros.
    Porque querendo ou não, você virou uma referencia para mim, como para outros tambem.
    Conhecimento = Consciencia .
    Ao adquirirmos conhecimento estaremos alimentando nossa consciencia.
    Mas não seria o contrario tambem verdadeiro?
    Se estamos em um mundo 3D. Ao utilizarmos algumas substancias, que promovem (ou denigrem) nossa consciencia, tambem não adquirimos conhecimento? Me veio na cabeça Castaneda, daime, cogumelos, Salvia divinorum, essas ervas que alteram o estado de consciencia. Me veio na cabeça tambem um video por voce postado, sobre a glandula pineal. E pesquisando na epoca descobri que ela sintetiza o DMT.
    Não seria certo tambem trazer um certo equilibrio entre os diversos estados de consciencia? Me recordo tambem de uma experiencia com a Salvia Divinorum.
    2 Anos atras, eu e alguns amigos usamos a Salvia, talvez de um jeito totalmente irresponsavel e infantil. Porem estive em outros mundos, mesmo que por poucos minutos ( ja que o efeito não dura nem 5 minutos). Atingi o estagio “I” da S.A.L.V.I.A, ou o 5 estagio. Não vou me alongar na descrição para nao ficar muito grande. Simplesmente descobri novos mundos, onde tudo se funde e tudo fica conectado. Onde o tempo nao corresponde, eu fiquei confuso estava em 2 locais diferentes ao mesmo tempo, e em um deles eu estava me grudando na parede.
    (Se você quiser apagar essa parte, para eu não influenciar alguem, fique a vontade, assim como outras se ficar necessario.)
    Enfim,
    é visivel que os povos de antigamente utilizavam ervas, incensos, oleos etc.
    Não seria necessario alem do conhecimento, estudo, meditaçoes, tambem utilizar desses recursos para aumentar nossa consciencia?
    E mais algumas perguntas que me intrigam minha mente .:
    O pinaculo da grande piramide, será que esta perdido? Ou algum “miseravel” a esconde? Quando os britanicos explodiram tudo por la, o pinaculo estava la ainda?
    Vou pesquisar.
    Você acredita nos Anunnaki?

  7. Minha mãe com 11 anos tomou a extremulsão da igreja católica pois estava desenganada pelo medico, e naquela época na roça era muito comum, (ela disse que era comum, hoje esta com 60 anos firme e forte hehe),
    contei sobre esse post para ela, e ela falou que sentiu a fragrância da extremulsão (um tipo de oleo que o padre passa na testa e no peito em forma de cruz), por cerca de 6 meses, mas que só ela sentia, nenhuma pessoa conseguia sentir a fragrância…
    MDD tem alguma coisa em comum com esse Incenso de Ketoret?? é mais uma cópia da igreja?

  8. DD estava lendo o livro do kardec (livro dos espiritos) a parte de “Anjos da Guarda, Espíritos Protetores, Familiares ou Simpáticos” que fala de espíritos bons, que nos ajudam, guiam, aconselham etc..
    A duvida é: ao fazer um ritual de proteção ficamos “invisíveis” para esses espíritos também? perde-se o contato?
    @MDD – Não, pois eles estao em estado bem mais elevado do que voce. O superior sempre enxerga o inferior.

  9. Incensos , qual marca comprar ?
    Vi que alguns tem formol e outras substancias nocivas. Vc indicaria uma marca
    Boa que não contenha ou contenha poucas substancias prejudiciais ?
    E qual é o melhor para as iniciações ? de varinha , de cubo ,etc.
    ( os aromas com suas propriedades já vi uma lista na NET )
    @MDD – Os palitinhos sao mais simbolicos do que praticos. Um ocultista FAZ seus próprios incensos com ervas compradas em casas de umbanda, carvão e incensário.

  10. Um bom engenheiro químico com um pouco de Ketoret, poderia dizer o que
    Esta contido nessa formula, desvendando TODOS os ingredientes.( só seria mais
    Dificil saber a proporção e o modo de preparo ).Como por exemplo se seriam folhas secas,Amassadas,só o suco dessas folhas , enfim ,seria como a coca –cola, ja descobriram que vai folha de coca ( que é viciante ) mas ninguem sabe
    a quantidade e como ela é adcionada.

  11. Eu achei no orkut uma dica pra secar as folhas,Que é coloca -las entre duas folhas de papel absorvente no microondas por 1 ou 2 minutos.e usar carvão compactado que não emite fagulhas e pode ser encontrado em supermercados.
    Mas a receita em si ( com as quantidades ) não achei .
    se possivel vc poderia fazer um novo Tópico para ensinar suas crianças ( e os adultos tbm ) a fazer seu próprio incenso. Que acha da idéia ?

    1. Não é preconceito com o Orkut, mas lá tem muita bobeira escrita. Colocar aparelhos eletrônicos, que emitem ondas eletromagnéticas, não me parece muito bom para fabricação de incenso. Meios “industriais” de produção não me parecem boa idéia, já que a espera pela natureza também faz parte do processo de produção, bem como o seu cuidado com o que será utilizado, o seu trabalho pensando em como fazer, como será quando ficar pronto, etc… Tudo isso influencia no produto final.

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