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As bases filosóficas do agnosticismo foram assentadas no séc. XVIII por Kant e Hume. O termo, porém, foi cunhado pelo biólogo britânico Thomas Huxley em 1876 – ele definiu o agnóstico como aquele que acredita que a questão da existência de Deus não pode e talvez jamais possa ser resolvida.
“O Cosmos é tudo que existe, que existiu ou existirá” – Assim, com essa frase inesquecível, Carl Sagan inaugura o primeiro episódio da série de 13 documentários intitulada “Cosmos”, veiculados na TV americana em 1980, e depois no restante do mundo. Ao pretender explicar ciência e cosmologia para o público leigo, Sagan acabou criando um épico que abrange também muitas questões existenciais, história, mitologia, religião e espiritualidade em geral.
Em alguma costa rochosa, em alguma praia do globo, Sagan observa as ondas, os pássaros, o vento, e algum tempo depois nos traz outra pérola em sua narrativa: “Recentemente, aventuramo-nos um pouco pelo raso (do Cosmos), talvez com água a cobrir-nos o tornozelo, e essa água nos pareceu convidativa. Alguma parte de nosso ser nos diz que essa é a nossa origem. Desejamos muito retornar, e podemos fazê-lo, pois o Cosmos também está dentro de nós. Somos feitos de matéria estelar, somos uma forma do próprio Cosmos conhecer a si mesmo.”
Sagan era profundo conhecedor de religiões e mitologia, além de cientista e cético, mas não era nem ateu nem teísta ou deísta, era puramente agnóstico. Seu evangelho era constituído de uma obra de divulgação científica totalmente voltada para tal espanto, tal deslumbramento, tal amor pela natureza e todo o Cosmos a sua volta. Essa era a boa notícia de Carl…
Para muitos teístas, o fato de existirem pessoas que não creem em um Deus pessoal, ou que pelo menos não tem certeza de sua existência, parece causar um certo desconforto. Não é raro perceber, em qualquer pessoa ligada a doutrinas eclesiásticas, uma tendência a classificar ateus, agnósticos, céticos, e às vezes simplesmente todo e qualquer cientista, como “gente sem fé”, perdida, afastada de Deus, e até mesmo imoral.
Mas a verdade é que, a despeito do aparente consenso dos eclesiásticos, a moralidade, o amor, não são exclusividade daqueles que oram todos os dias a Deus, que frequentam missas, que consultam algum manual da Verdade Absoluta frequentemente. Para o religioso superficial, isto que digo não levanta muitas questões – “Ora, mas é exatamente assim: uns são bons, outros maus, crer em Deus não faz de ninguém um santo”. Sim, isso faz sentido, mas a questão é mais profunda…
Se Deus existe – e para teístas e deístas ele certamente existe –, porque ele “permite” que algumas de suas criaturas vivam sem sequer crer nele?
Em outro produto da obra de Sagan, o livro de ficção “Contato”, que também deu origem a um excelente filme homônimo, é descrito um contato com inteligências extra-terrestres de uma forma verossímel e científica. Existe também um conflito entre as crenças de cientistas e religiosos – em dado momento, a protagonista do primeiro contato (no livro são vários contatos ao longo das décadas, no filme há apenas um), uma cientista agnóstica, nos traz uma importante indagação:
“Se Deus quisesse nos mandar uma mensagem e escrituras antigas fossem a única forma que pudesse imaginar, ele poderia ter feito um trabalho melhor. E ele dificilmente teria que se confinar a escrituras. Por que não há um monstruoso crucifixo orbitando a Terra? Por que a superfície da Lua não é coberta com os Dez Mandamentos? Por que Deus deveria ser tão claro na Bíblia e tão obscuro no mundo?”
Ao contrário do que muitos eclesiásticos possam imaginar, esta mensagem não denota um pensamento que diminua de alguma forma a importância da Bíblia, mas antes um pensamento que aumenta enormemente a amplitude do que há de sagrado no mundo – o reino é todo o Cosmos. E não poderia ser de outra forma…
Podemos encontrar neste mundo ateus, agnósticos, teístas e deístas, sim isso tudo é verdade. Mas será muito difícil encontrar algum ser que negue a existência de um sistema que rege todo o universo. Seja a crença nas leis fundamentais da natureza, seja a crença nos desígnios divinos, seja um misto de ambos, todos creem em algum sistema, cuja função pode ainda ser um mistério – mas que há de ser buscado, há de ser resolvido passo a passo, por todos nós, juntos!
Sim, nós realmente somos a forma do Cosmos conhecer a si mesmo. E pouco importa, na prática, se tal Cosmos é um ser pessoal, uma força cósmica ou até mesmo um acaso miraculoso – pois no fim, conforme postularam Kant e Hume, não compreendemos ainda muito bem nenhum deles, não podemos ainda resolver tal questão. Será que poderemos um dia?
Para resolvê-la, talvez não bastem apenas orações e experiências místicas, apenas meditação e autoconhecimento, mas também o estudo meticuloso, prático, objetivo, material, profundamente mundano, da natureza a nossa volta. Há muitos gigantes da história da ciência que, buscando talvez um deus barbudo senhor dos exércitos, acabou esbarrando em verdades muito mais profundas. Talvez buscando um reino confinado a um pequeno pedaço de rocha na periferia da uma de bilhões de galáxias, acabou esbarrando no infinito.
E, se mesmo hoje existem seres que buscam aos mistérios de Deus sem sequer crer nele, que se aventuram pelas entranhas dos átomos e quarks, pelo reino bizarro da mecânica quântica, pelos códigos ocultos do DNA, pelos quasares e sóis distantes, pelas singularidades de seções inimagináveis do espaço-tempo, deixem que busquem, pois de uma coisa teremos sempre a certeza: é impossível estar “fora” de Deus.
Talvez o trabalho deles seja tão importante para o mundo quanto os mandamentos dos evangelhos. O importante é encarar as boas novas não como enigmas solucionados, mas como o início de um caminho, subjetivo e objetivo, interior e exterior, que preenche toda nossa existência.
Amai sim, o próximo, e toda a vida, como a ti mesmo. Mas amai a coletividade da vida, amai os átomos que nos conectam a tudo e a todos em uma teia sem fim, amai ao Cosmos acima de todas as coisas.
***
Crédito das imagens: Divulgação (Cosmos de Carl Sagan).
O Textos para Reflexão é um blog que fala sobre espiritualidade, filosofia, ciência e religião. Da autoria de Rafael Arrais (raph.com.br). Também faz parte do Projeto Mayhem.
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Respostas de 16
Muito legal Raph.
@raph – 🙂
Tenho que tirar meu chapéu: a cada dia aparecem reflexões melhores. Somos as células conscientes desse imenso corpo cósmico. Se ele em si é consciente ou inconsciente, no fim, não é tão importante e creio ser essa a questão final entre deístas e ateístas. O mais importante agora é nos conhecermos, conhecer os mecanismo dessa teia ou corpo e mante-lo em harmonia, pois mesmo em um corpo inconsciente, os mecanismos para isso estão presentes e dependem, em parte, de seus constituintes, que não deixam de ser parte desse corpo. Como as células tem em seu DNA o design de todo o indivíduo, temos o design do corpo em nós. A viagem, para dentro ou para fora, sempre é válida e mostra a mesma coisa: os mecanismos da homeostasia desse corpo…
Parabéns pelos post, muito interessante.
Raph,
Ótimo texto, só gostaria de somar que de acordo com estudos filosóficos e de sociologia o ateu atual só desenvolveu este “bom caráter” pois herdou os preceitos criados com as religiões. As religiões foram fundamentais na definição de algumas regras básicas do pensar e agir que acabaram por criar nossa atual noção de certo e errado.
@raph – Acho que os ateus diriam que ética é uma coisa e religião é outra, mas é claro que na realidade o verdadeiro religioso é um ser ético, o problema é que muitos não são nem verdadeiramente religiosos nem verdadeiramente éticos, mas isso é outra história…
O problema é ue é muito mais facil ser “bom”, “fazer o certo” e ter “bom carater” quando se imagina que existe alguem observando, alguem pode te punir se vc for “mal” e te presenterar se vc for “bom”.
Um religioso fervoroso pode dedicar a vida aos pobres, ajudando-os e se secraficando em beneficios dos menos afortunados. ele pode realmete amar seus semalhantes e gostar de ajudar, mas é obivio ue ele faz o q faz esperando uma recompensA, nem q seja apos sua morte.
@raph – Quem faz caridade esperando recompensa e/ou “passagem livre” do Lago de Enxofre é porque não entendeu bem nem a caridade nem a religião. O amor é a própria recompensa em si mesma, como os grandes sábios da humanidade sempre nos disseram. O homem em ascensão não é aquele que age no amor esperando “algo em troca”, mas aquele que age no amor naturalmente.
Agora imaginem alguem totalmente materialista, q nao acredita em deus ou que exista nada apos a morte do corpo fisico, imaginem uma pessoa dessas q igualmente dedica sua vida a ajudar seus semelhantes e com isso nao receba nenhuma recompensa material, nem social (digamos q ele ajude anonimamente).
digamoes q essa pessoa seja extremamente “bom carater”.
ela é do jeito é apenas porque acredita que desse jeito esta fazendo algo q tornara o mundo melhor para as pessoas que viram apos ele “deixar de existir”.
NAo conheço ninguem se encaixa no segundo perfil. MAs uma pessoa assim é o q poderia ser chamada de “santo”.
@raph – Vou citar apenas dois exemplos de pessoas assim, uma teísta e a outra ateísta: São Francisco de Assis, Patch Adams. Acredite, existem sim muitos deles, embora em se comparando com a humanidade como um todo, sejam ainda como uma pequena ilha no oceano. Mas uma ilha que pode um dia virar um continente.
alguem ja disse “se Deus nao existir, entao tudo é permitido”
@raph – Viver assim (seguindo esta ideia), em todo caso, é viver ignorante de Deus. De certa forma, tudo é permitido exatamente porque Deus existe. E se não existisse a substância que não pode criar a si mesma, nada mais existiria, nada, de verdade.
Adoro a ciência, e acho que devemos estudar a matéria para resolver os “problemas” da vida material (mesmo para podermos termos uma qualidade devida melhor para podermos a dedicar a quaisquer outras questões). mas existem questões que não fazem parte do mundo material e por isto e simplesmente por isto é impossível uma abordagem materialista resolver tais questões, logo, não entendo que saber tudo sobre a matéria possa me ajudar a entender o mundo fora dela, embora entenda que possa sim me fazer uma pessoa melhor em inúmeros pontos. Jamais vou apontar como o estudo da matéria como algo desnecessário, mas não entendo como imprescindível para o individuo que busca uma espiritualidade. Admiro muito grandes cientistas, mas as pessoas que entendo serem os melhores seres humanos não eram. Gosto muito da abordagem do Buda onde ele fala que não se deve acreditar na experiencia dele e se viver a própria, eu não acredito em qualquer coisa que eu bote na pratica e ela não se mostre eficiente e real, por isto nego a abordagem católica, ela não é pratica tão pouco não reflete uma realidade que eu observo, o mesmo digo de diversas vertentes cientificas, que negam coisas que eu vivo simplesmente por não saber como “medi-la” ou “prova-las” dentro se certos critérios.
@raph – Mas a ciência não é ideologia, não é nem materialista nem espiritualista, é o conhecimento da realidade detectável. A ciência não provou nem o materialismo nem o espiritualismo – ambas são apenas teorias. Mas a matéria pode formar o espírito, como os próprios espíritos disseram a Kardec (pergunta #82 do Livros dos Espíritos): o espírito não é formado de “nada”, mas de “alguma coisa”, alguma informação, e a matéria fluida, que não interage com a luz, parte dos 96% da Matéria e Energia Escuras, pode ser uma explicação viável, mesmo dentro da ciência “materialista”.
Enfim, existem muitas questões insolúveis que possuem explicações a centenas de anos, exemplos de pessoas que de maneira simples transcenderam sem nenhum conhecimento cientifico, exitem vários exemplos de caminhos, não são formulas, não são atestados, mas funcionam na prática, nem todos tem a capacidade de entender e seguir tais caminhos, natural, mas negar algo, simplesmente por não conseguir absorver apenas por preconceitos ou interesses, não acho algo lógico.
A ciência é ótima para tentar resolver os assuntos relativos a vida material, mas não é suficiente para resolver um ser que se entende ser espiritual em uma situação material, e mais entendo que quanto mais nos desvinculamos dos apegos da materialidade, mais próximo estamos de um equilíbrio, pois menos nos afetamos por questões menores que outros podem achar extremamente relevantes, mas que quando você quebra esta barreira de entendimento se mostram irrelevantes.
No final, no balanço que eu faço entre dois momentos de minha vida, um que me via como pura matéria e como me vejo agora, um espirito inserido em uma realidade material, as respostas de ser um espirito em um momento me faz muito mais satisfeito e tranquilo do que o que a ciência me apresentou como “realidade” ou “verdade”. Mas é obvio que nada disto que eu vivo de fato explica um deus de maneira clara e obvia, pois o fato de sermos espíritos (ou inteligencias imortais) não explica necessariamente a nossa origem, mas esta é uma questão que por sua vez também não acho imprescindível para a minha qualidade se vida e compreensão dos mecanismos do universo (seja o material ou o espiritual).
Por fim, estas questões são minhas e provavelmente não dizem nada a um materialista, e é assim que deve ser, pois o meu comprometimento é com a minha existência, sou responsável pela minha própria qualidade de vida e entendimento, não pretendo convencer ninguém de nada pois ninguém me convenceu de nada, muitos apontaram caminhos e isto faço sempre que posso de peito aberto, mas no final, a verdadeira resposta e caminho é do indivíduo, e se o individuo prefere negar tudo que eu compreendo, muito bem, quem sou eu pra saber se ele não pode até estar mais certo do que eu? Se tiver, espero um dia compreender isto, estou sempre aberto para isto, mas até o momento o caminho se mostrou outro. Se pra alguém for interessante, eu mostro qual foi, mas se não, eu jamais vou perder meu tempo querendo provar que este caminho é o melhor, é apenas um entre “infinitos” caminhos, provavelmente nem é o melhor ou mais próximo do caminho perfeito, só um caminho, mas é o caminho que me satisfaz. Se você já está plenamente satisfeito com o seu caminho, então ele sem duvida é desnecessário para você (você sendo qualquer um com ponto de vista diverso), agora se esta infeliz e inquieto e se sente perdido, ai sim, quem sabe não vale a pena conhecer este e outros caminhos?
Enfim, a ciência é imprescindível para resolver muitos dos grandes problemas materiais da humanidade, mas quando o indivíduo compreende os caminhos espirituais, a materialidade já não apresenta mais muitos problemas, logo, já não existem problemas materiais para serem resolvidos, logo, a compreensão da ciência é ótima para resolver os problemas coletivos, mas não os existenciais por assim dizer.
Veja bem, nem de longe quero dizer que desprézo ou não me interesso pelas questões materiais.
@raph – No fim, é o caminho de cada um, viva e deixe viver, mas procure amar na medida do possível, e evoluir, passo a passo, hoje melhor do que ontém, amanhã melhor do que hoje… A ciência é uma lente para o mecanismo do Cosmos, a espiritualidade é uma outra lente, para seu sentido. Usando apenas uma das lentes ainda enxergaremos mais do que os cegos, mas é apenas com as duas sobrepostas que teremos uma visão cada vez mais clara da realidade do Cosmos – de tudo que foi, é, ou será… A substância que não pode criar a si mesma.
Abs!
Entendo que um espírito é tão material quanto uma ideia, uma memória, uma linha de pensamento, e sabemos que pensamento é vida, que ele vibra uma certa energia, mas se é difícil a ciência atual sequer considerar uma série de “medicamentos” ou métodos por não ter um principio ativo aparente, uma substancia conhecida e palpável…
Logo estas energias ou fluidos podem até ser tidos como matérias de fato, mas é um tipo de matéria que a ciência (no geral) não compreende e ou ignora, uma matéria que para a ciência ( no geral) não é relevante e é ignorada, logo não existe pelo menos para eles. Mas existindo ou não podemos ver o resultado naqueles que consideram estas energias como algo natural e pertencente ao cotidiano me parecem ter um estilo de vida mais saudável e satisfatório dentro de si!
@raph – Sim, é claro que quando eu falo em “lente da ciência”, estou falando da Ciência, a mesma que também é praticada no espiritismo (ex: Dr. Sergio Felipe Oliveira), tanto quanto por diversos outros pesquisadores das mais variadas doutrinas espiritualistas. Claro que a Academia tem forte tendência ao materialismo (eliminativo), e a neutralidade científica total é mais uma lenda do que um fato, mas não são 100% dos cientistas da Academia que são materialistas, Sir John Eccles, prêmio Nobel, é um belo exemplo de cientistas dualista. Temos hoje, mesmo na neurociência, o Dr. Mario Beauregard batendo de frente (e mto convincentemente) nos materialistas (eliminativos), por exemplo no O cérebro espiritual.
Enfim, na impossibilidade de se compreender e absorver toda a informação do mundo em uma existência especifica continuada de 80 anos em média, embora adore a ciência, hoje entendo que meu foco nesta existência é trabalhar o meu interno em vez de querer contemplar (estudar) os materiais externos, uma vez que esta passagem é efêmera e minima dentro de uma existência maior, e que não importa a procura pela vida eterna pois esta já é uma realidade, só não é conscientemente continuada nas experiencias materiais mas sendo possível acessar estas informações pela expansão de consciência. Enfim, no final a ciência caminha para se melhorar e resolver o mundo, mas se espiritualizando se passa a perceber que isto é bom para as pessoas que estão longe desta condição de poder se espiritualizar (uma vez que nossa “educação” ocidental não nos prepara para esta visão) mas aquele que realmente alcança um estado de espiritualidade adequado passa a perceber que o mundo é perfeito como ele é, sempre foi e sempre será, em sua constante transformação e o que pode estar errado é o sentimento interno do indivíduo que não se sente conectado a esta perfeição e é esta a verdadeira luta, aprender a se conectar ao mundo e não mudar o mundo para nos sentirmos mais confortáveis, pois a busca de conforto e facilidade (quase sempre ligados a preços altíssimos) é do ego, e para se tornar melhor é necessário dominar (ou eliminar por assim dizer) o ego, logo esquecer o externo e trabalhar o interno, logo, a ciência nos permite ter ferramentas que nos apresentam um caminho, mas ele por si pode não ser um caminho em si (pelo menos na abordagem que eu compreendo, que por sua vez pode estar completamente equivocada, não que eu estou pedindo desculpa pela minha visão, mas sou consciente de que ela é relativa apenas a minha consciência limitada e por isto está longe de ser uma verdade, no máximo algo que eu possa acreditar).
Meu objetivo (fail) não é se opor a qualquer visão, e sim mostrar a minha sendo apenas mais uma visão nem de longe mais importante que que qualquer outra, mas pode servir para alguém.
flasHQ,
Se eu entendi, entre outras coisas você coloca a evolução material como algo de pequena importância em relação a grandiosidade da evolução espiritual. E por isso, dedicar-se a uma vida material seria um desperdício, quando poderíamos estar plenamente voltados para a evolução espiritual.
Porém não existe separação entre físico e espiritual. Quero dizer que o “físico-físico” é só mais um nível dentro da coisa única que é o todo espiritual. Tudo que se passa aqui é parte do processo de evolução. Como a evolução individual caminha em ritmo diferente da evolução coletiva, uns sonham com mundos distantes e conhecimentos de esferas superiores. Outros se agarram ao sonho da mega-sena.
Mas isso é só uma meia verdade. É certo que muitos dos que passam uma encarnação alheios ao “espiritual”, têm, no entanto, um conhecimento e sabedoria espiritual imensos, embora desconhecido de si e dos outros. Vai depender muito do propósito daquela vida. Evolução espiritual é também aprendizado dentro das grandes áreas de atuação: política, ciência, vivências, religião, artes, etc.
Elas podem se misturar e o individuo ter por exemplo, uma atuação da política dentro da religião (Gandhi), Religião dentro da ciência (Pitágoras, Giordano Bruno). Tudo isso é espiritualidade, e são estes avanços que permitem à sociedade como um coletivo progredir, com acesso a novas bases e perspectivas de aprendizado.
Essa visão é decorrente também da ideia simplória de evolução espiritual que foi possível as grandes religiões nos legarem. Que em geral, se resume ao aperfeiçoamento moral e ético do individuo. Longe de ser algo de pouco importância, mas a realidade compreende uma gama imensa de outras questões que suplantam em complexidade toda a nossa ciência.
É bom ter em mente que o físico está emaranhado em sua estrutura por leis espirituais e que todo esse processo se faz necessário por razões que temos somente um parco entendimento.
Essa semana uma dos meu professores deu uma aula sobre semântica. Ele explicou que ideia da semântica é meramente fazer um mapeamento entre ideias e algum tipo de código utilizando para representar essa ideia. (A gente estuda isso aplicado a computação, as linguagens de programação dependem disso).
E quando eu leio essa frase:
“Sim, nós realmente somos a forma do Cosmos conhecer a si mesmo.”
Eu penso, que pelo menos PARA MIM, não existe nenhuma diferença semântica entre a palavra COSMOS e a palavra DEUS nessa frase.
O COSMOS “precisa” entender a si próprio através de algo que possua consciência. Esse algo por acaso seriamos nós. Mas como o COSMOS pode conhecer alguma coisa se ele próprio não tiver consciência?
@raph – Outro dia estava pensando: uma das únicas soluções lógicas para a incerteza quântica pode ser realmente que a realidade só se “decide” como real quando tem alguma consciência a observa-la. O fóton só está lá quando observado, senão pode estar em vários lugares ao mesmo tempo. Cientistas tem entrado em conflito com espiritualistas que afirmam que isso significa que, se não tem ninguém a observar a lua, ela não existe… Mas talvez esse paradoxo possa ser reconciliado: mesmo que não existisse vida na Terra, nem nenhum ser consciente capaz de observar a lua, a todo momento, a cada segundo, ela continuaria a existir, porque Alguém sempre a observou. Obviamente, seja lá quem Ele for, é Seu pensamento, Sua consciência em ação, que dá forma a realidade. Eu ainda espero um dia desenvolver melhor o que quero dizer com isso…
Nós até podemos ser o COSMOS, mas o COSMOS não está limitado a apenas os seres humanos.
Eu me julgo um deísta (acho que meu contato com a doutrina espírita e a umbanda me derem essa visão do mundo. Eu acredito no Deus Programador, que escreveu o código fonte do universo, o colocou para rodar, e não precisou fazer nenhuma manuntenção e/ou alteração), mas eu também acho que a verdadeira natureza do Deus não pode ser compreendida por nós (não nesse nosso estágio de evolução).
Qualquer definição ou ideia que eu tenha a respeito de Deus está automaticamente limitada ao meu entendimento, e a linguagem que eu uso para expressar o meu entendimento. Como as duas coisas são extremamente limitadas, acho que é lógico pensar que seja lá como eu pense ou defina Deus… eu estarei simplesmente simplificando de forma muito grosseira o que de fato é Deus. Então eu estarei simplesmente ERRADO.
Então, superficialmente a diferença entre minhas crenças e a crença de um agnostico são claras. Mas na essência… eu tenho dificuldades em ver a diferença.
Mas do ponto de vista cientifico, é como se isso tudo fosse irrelevante. Afinal é baseado em crença e achismo mesmo.
@raph – Irrelevante se considerássemos que apenas a ciência “dita” o que é ou não relevante… Felizmente, tivemos muitos e grandiosos cientistas na história que caminharam em ombros de gigantes e que eram, não apenas cientistas, mas também religiosos (no melhor sentido do termo).
Abs.
Já que o assunto cita Carl Sagan, não vou postar a série de entrevistas aqui porque estão divididas em 3 partes, mas sugiro que assista “Carl Sagan – Última entrevista”, onde Sagan relata de uma forma clara sua visão de mundo, a perspectiva da ciência na sociedade americana e a contribuição das religiões.
Sagan foi um cético como poucos, não o vejo como agnóstico, muitas vezes ele transmite um otimismo pelo avanço da ciência em busca do entendimento, mesmo depois de 15 anos, é lembrado como a pessoa que mais se adequou ao papel que a ciência precisa exercer na humanidade.
@raph – Talvez a melhor “classificação” para a crença de Sagan seja: agnóstico espiritual 🙂 (ele não concordaria com “agnóstico espiritualista”).
Belíssimo texto
sou um seguidor de Carl Sagan.
Há um outro livro de Sagan que é uma descoberta. Chama-se OS DRAGÕES DO ÉDEN. Tenho uma edição já meio antiga e não sei se ainda é editado, mas vale a pena procurar.
@raph – Ah esse é mesmo um dos poucos livros dele que ainda não li, e gostaria de ler…
ah esses “ateus” de escorpião…são mais espirituais do que imaginam rsrs
Gosto dos teus textos irmão. Sua mente é muito “plástica” e vai além da compreensão e visão que tenho do Todo. Belíssima e profunda reflexão, caro Raph !
@raph – Valeu 🙂 A plasticidade da mente é uma coisa que realmente busco com afinco…
Só gostaria de salientar os cuidado com uma possível associação com Carl Sagan em ser agnóstico, nunca o vi ou li a respeito de ele afirmar o mesmo. Abaixo há uma entrevista com ele onde poderá ver o seus pensamentos sobre esses assuntos: http://www.youtube.com/watch?v=h9DwkAWJTew
@raph – Realmente Sagan pouco tocava diretamente no assunto, acho que exatamente para fugir de “rótulos”… Mas é precisamente na sua ficção, Contato, que fica muito claro que ele é agnóstico, e não ateu, ou pelo menos o próprio Kentaro Mori assim descreveu no Ceticismo Aberto: http://www.ceticismoaberto.com/ciencia/2116/o-contato-de-sagan
Texto maravilhoso. Sagan era um cara diferente. É sempre bom voltar a ele que tanto provocou o mundo a refletir. “Sim, nós realmente somos a forma do Cosmos conhecer a si mesmo.” Se você trocar cosmos por Divindade, essa frase poderia muito bem ter saído de algum livro da Blavatsky ou de algum tratado Hermético…torna a coisa toda mais fascinante ainda!1
Abs!