Estar aqui, nesse momento, nesse corpo, nessa vida, tem sido muito desafiador… o desafio de se viver. O desafio de existir nessa condição, de se ter um corpo e de todas as responsabilidades que isso acarreta.
Só responsabilidades?
Claro que não. Também há vantagens, prazeres…
Porém, parece não ser possível fugir da dualidade…
Pois se você só usufrui, imediatamente isso criará um desequilíbrio na área diametralmente oposta.
E isso parece ser uma Lei da Vida. Da Natureza.
Pois não importa onde eu olhe, eu vejo isso atuando.
Em algumas situações, o desequilíbrio é mais evidente, pois seus efeitos são bem perceptíveis aos meus sentidos.
Mas em outras situações, os efeitos são mais ocultos. Eles ocorrem em um nível mais sutil de realidade. Nível esse que muitas vezes não é detectado pelos meus sentidos comuns.
Mas eu acredito que o efeito está lá, pois acontecem certas sincronicidades absurdas que acabam conectando fatos aparentemente desconexos…
Fazendo uma simulação de todos os efeitos desequilibradores que causei e que causarei na minha vida… a imagem que surge diante da minha mente é a de um equilibrista sobre uma corda bamba.
Quando a corda pende demais para um lado, o equilibrista deve recuperar a posição neutra, ou, ao menos, contrabalancear na direção oposta, para que não caia.
Talvez na vida se deva fazer algo semelhante. Equilibrando-se sobre a corda, para poder ter a melhor experiência de vida possível.
Não balançar na corda é extremamente difícil. O mais provável é que você e eu iremos balançar; é inevitável.
E ficar parado não é uma opção, pois ficar parado é ainda pior para se manter o equilíbrio.
Aumenta-se as chances de cair. Ou seja, para se ter segurança, deve-se continuar se movendo.
Outro fato é que nenhum equilibrista nasce sabendo a arte do equilíbrio. O artista só cresce em alguma arte se praticá-la. Para isso, deve tentar. Ao tentar, irá errar. Irá cair.
Mas ao cair, o artista estará realizando sua obra: que é praticar. O erro faz parte do caminho.
Interessante como costumo pensar que errar é ruim, é errado. Ao meu redor, também vejo pessoas pensando o mesmo. Mas errar é essencial ao caminho. Errar é a melhor experiência de aprendizado que se pode ter, se você souber usá-la. Ao errar, deve-se ao mesmo tempo perdoar-se pelo erro e aprender a lição que aquele erro está ensinando.
O erro é o ajuste que deve ser feito. Ao mesmo tempo que devo fazer o melhor que posso para não errar, não devo me crucificar nem me martirizar por ter errado. Afinal de contas, eu não sou perfeito. Eu não sei tudo. Nem mesmo os mestres sabem tudo, embora eles não gostem de admitir. Na verdade, o verdadeiro mestre somente é mestre porque aprendeu o máximo que pôde com os erros, foi humilde o suficiente para reconhece-los e saber seu próprio nível na arte, e foi galgando degrau por degrau. O verdadeiro mestre continua aprendendo, pois sempre há algo para aprender, não importa quão alto se suba na graduação de alguma arte.
Então, o perdão é essencial. A humildade também. Ambos estão ligados. Só se perdoa quando se é humilde, consigo mesmo e com outras pessoas. Quando se é tolerante, também. Humildade e tolerância são valores meio que mesclados… onde termina um começa o outro e vice-versa. E só se perdoa quando se reconhece quem se realmente é. Isso tudo, mais a perseverança; a vontade que se mantém, o fogo que arde no peito e te leva aonde você precisa ir.
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Texto publicado originalmente no blog Labirinto da Mente em 25/07/2014.
Respostas de 10
Ótimo texto Tiagão 🙂
Mesmo após fechar esta página, continuarei pensando sobre o equilíbrio.
o equilibrista, o ajustador, aquele que separa as experiencias entre melhores e piores, é uma farsa, um personagem do sonho, o único obstaculo a ser superado é a identificação com ele, bastando ser reconhecido, quando essa farsa é constatada, se desmancha, o quadro completo se desvela, sua real identidade se apresenta, revelando a ininterrupta inexistência de imperfeição, de desequilíbrio, tudo está perfeito e em harmonia sempre, nada precisa ser feito, nada precisa ser aprendido, desenvolvido, melhorado, modificado, nada precisa nem pode ser diferente do que é, não há o que ou quem perdoar, não há erros, não há acertos, a perfeição é onipresente e imutável, dispensa zeladores, não há ninguém vivendo, há apenas a vida, eternamente perfeita e inalterável. Nada afeta o absoluto de forma alguma, todo evento é neutro pois é irreal, infinitamente pequeno, não trás nem ganhos nem perdas de forma alguma, para aquilo que é real, não representa nada, como as imagens de um filme não afetam a tela do cinema, assim também, é o sonho tridimensional do universo, para sua essência atemporal e sem forma.
Interessante texto e interessante resposta d’Aquele que despertou. Diria que o equilibrista representa sim um aspecto humano digno de nota, assim como os antigos iniciados e pensadores gregos tambem avaliavam. Vejo que o comentario sobre o absoluto é importante, mas nao esqueça de pensar que aquilo que esta acima é como aquilo que esta embaixo, portanto no microcosmo das sociedades humanas, por graos de areia de sejamos, é importante pautar a vida em objetivos e realizaçoes altruístas. Nao devemos pensar, sempre, macrocosmicamente.
Agora que descobriu a farsa da vida, o que irá fazer a respeito disso? Ser ou nao ser, eis a questão?
Existe aquilo que é real e aquilo que é imaginado;
Aquilo que é imaginado é feito daquilo que é real;
Mas aquilo que é real não pode ser imaginado;
Enquanto você não sabe quem é você;
enquanto não “ser” a realidade;
Tudo que você conclui sobre qualquer assunto;
É apenas a descrição de sua fantasia;
Que você crê ser realidade;
Quando esquecemos o que é a real comunicação;
Empregamos a fala, os símbolos e os significados;
Seres humanos são personagens fictícios, de um romance concluído;
Não possuem autonomia;
Não escrevem a sua história;
Você não é um ser humano;
Quando o pensamento ocupa o trono o paraíso é velado;
Quando o pensamento é desacreditado a verdade se apresenta;
Não existe trono nem pensamento;
Nem em cima, nem em baixo;
Se um personagem de uma historia é egoísta ou altruísta;
Não foi escolha dele e sim do autor, portanto ele não tem culpa nem mérito;
Você não tem história;
Você não é o autor;
Você não é o personagem;
A vida é um teatro de fantoches;
Só que os fantoches não sabem disso;
Você não é um fantoche;
Você sabe disso;
Quem é você?
Somos um fragmento de consciência do universo, um adensamento de energia que um dia disse Eu Sou, e mais do que isso Diz Eu Sinto. A vida é um aprisionamento pela própria energia que constitui o ser.
isso é apenas uma crença, remova-a…
Somente enquanto alguém se considera aprisionado, pensamentos de aprisionamento e Libertação continuam. Quando alguém investiga ‘quem está preso?’, o Ser é realizado, eternamente obtido, eternamente livre. Quando os pensamentos sobre escravidão chegam ao fim, podem os pensamentos sobre Libertação sobreviver?
Ramana Maharshi
Maravilhoso !!!
muito bom o texto, parabéns.
– Mestre, como faço para me tornar um sábio?
– Boas escolhas.
– Mas como fazer boas escolhas?
– Experiência – diz o mestre.
– E como adquirir experiência, mestre?
– Más escolhas…