Esta é uma fábula de Esopo (620-560 a.C), recriada por La Fontaine (1621-1695). Escutei-a este final de semana de um Xamã da tradição Lupina e ela reflete muito o trabalho que tenho feito aqui no Blog, de fornecer subsídios para que vocês possam retirar as próprias coleiras.
Certa noite o lobo encontrou o cachorro todo elegante, com o pelo tratado e uma linda coleira no pescoço. “Invejo você”, disse o lobo. “Tão saudável e gordo, enquanto eu estou aqui magro e faminto.”
“Se você fizer o que eu faço, também vai engordar”, respondeu o cão. “Meu dono me trata muito bem, não falta comida e meu único trabalho é latir à noite quando pressinto a presença de algum ladrão por perto. Se você quiser, pode vir comigo e vai receber o mesmo tratamento.”
O lobo gostou da ideia. Afinal, levava um dia-a-dia muito cansativo, porque tinha de caçar a sua própria comida na floresta. Aceitou a proposta. Mas, enquanto caminhavam, notou que o cachorro estava com o pescoço todo esfolado, em carne viva.
“O que há com o seu pescoço?”, perguntou o lobo.
“Não há nada. É que meu dono me prende a uma corda durante o dia para evitar que eu morda as pessoas da casa. Eu tento escapar, a coleira esfola o meu pescoço e às vezes perco um pouco de sangue. Mas à noite, quando há ninguém por perto, eu fico solto.”
O lobo assustou-se com o relato e imediatamente desistiu da ideia de morar com o cachorro.
“Obrigado, prefiro morar na floresta e trabalhar para conseguir minha comida em liberdade.”
Mesmo tendo sido escrita há 2.500 anos atrás, continua mais moderna do que nunca.
Respostas de 30
Muito boa. E eu fico pensando que tem gente que prefere a vida do cachorro, mesmo com alguém querendo tirar a coleira dela…
Bodeman, é que não funciona quando se tenta tirar a coleira. É preciso ajudar a cada cão tirar a sua própria. E pra isso, ele precisa querer… e a vida de cão pode ser preferível a algumas pessoas à vida de lobo.
Realmente, Thiago, me expressei mal. Eu quis dizer quando uma pessoa está disposta a ajudá-la a melhorar e não tirar a coleira à força. Sei também que cada um tem o seu livre-arbítrio e consigo entender porque a segurança da rotina é tão tentadora, mas penso as vezes no que estas pessoas estão perdendo fazendo esta troca… Vai ver que cada um tem seu tempo mesmo, né?
Moderna mesmo. No instante em que o cachorro mencionou o acordo que tinha com o dono me lembrei das teorias contratualistas do século XVIII onde o Estado surgia de um acordo entre os indíviduos, que perdia parte da liberdade para terem proteção e algumas vantagens. Acho que esse acordo só é respeitado por um dos lados hoje…
O “Patriot Act”, promulgado (há quem diga, outorgado) pós-9/11 é um tratado onde o governo dos EUA barganha com o povo a sua liberdade em troca de “segurança contra o terror”.
Hoje mesmo fiz um questionamento em pensamento, que seria muito mais fácil ser igual a muitas pessoas que são felizes assim: recebendo um salário no fim do mês, casando e com filhos e se divertindo da maneira que lhes convém. Ao invés de trilhar um caminho que nem sempre (e principalmente no minuto após o início) é “fácil”. Se colocando a prova, transformando cada dia coisas tão enraizadas que até doem pra tirar, aprender a “sobreviver” em uma dimensão pouco conhecida. E aí leio esta fábula. Vale a pena. Obrigada por compartilhar.
Rosana.
De certa forma me faz pensar o pq tanta “m***” acontece a noite, acho que pq a noite “nos soltam as amarras” e não ficamos pensando o que os outros estao achando, maioria das pessoas é ética com os outros e não consigo…
mtop legal essa fabula,. já passei adiante
Eh aquela coisa ne? O unico problema da liberdade eh o que fazer com ela…
Genial! Cai naquela dúvida, você prefere Paz ou Liberdade?
Perguntinha fechada não vale – e aprendi com um bom amigo, como se livrar delas…
Afinal, eu quero é PAZ e LIBERDADE!
Esse é o preço da comodidade, né? Mesmo o cachorro tendo conhecimento da coleira – imagine a dor física, espiritual e moral que ele deve sentir – prefere continuar aceitando as imposições do dono em troca de comida e conforto. O pior não é não saber que existe uma coleira, é saber que ela existe e apenas se conformar com ela. Triste isso…
É uma bela reflexão. Acho que todo mundo quer colocar coleira na gente. E quando tiramos uma, às vezes ganhamos outra…
Até parece que esta história vale pra mim… rsrs
Anos atrás um médium disse que eu deveria ser como um lobo. Livre. Transmitindo o que sei por onde passasse. Nunca esqueci o que ele disse. E de tempos em tempos a mensagem volta a minha mente…
Interessante, mas é uma transformação enorme para um animal acostumado a coleira ter que se virar sozinho, disputando comida com o lobo e animais maiores e inclusive servindo de presa, porem claro que compensador.
Those Who Sacrifice Liberty For Security Deserve Neither
Mas acho que existem cães livres que passam a vida procurando a coleira para se libertar e lobos que acham que são livres e não passam de peças de um jogo muito maior.
Estas fábulas são atemporais.
Pão e Circo. Ah, como é bom!
Mas vejam só,eu estava pensando em uma discução de hoje de manhã sobre trabalhar com o que gosta ou trabalhar com o que te da dinheiro,eu mostrei meu ponto de vista sobre a verdadeira vontade ao pobre mas parece que a matrix o pegou,e agora estava refletindo sobre isso e vejo este post,”mas que COINCIDÊNCIA”,eu nasci e cresci entre os cães,é raro encontrar um lobo,mas é como Trinity disse para Neo,”você ja esteve la,e sabe muito bem onde esse caminho termina”.
Carpe Diem
Sim…Um lobo pensa quão fácil seria a vida de cachorro…Mas sabe que aquilo não é pra ele…O lobo é da floresta e sabe seu papel nela. O lobo é parte da floresta, e não peça de quem controla a cidade.
Trabalho muito bem feito DD.
=)
Sou lobo vivendo numa casa (cidade). Tive que aprender a ser manso, de vez em quando. Ilusão é pensar que somos livres nessa vida. Se alguém acha que é livre, é porque não consegue ver as próprias coleiras.
Sincronicidade…rsrsrs
MDD., tava lendo um texto da coluna de um jornal da minha cidade, “De que tipo você é”, e, percebi que tem tudo a ver com esse belo conto.
Para quem quiser dar uma lida, segue o link:
http://diariodoscampos.com.br/interregno/1843/
Essa coisa de classificar as pessoas por tipo mais parece uma forma de controle do que uma dica pela busca da real vontade. Cada pessoa é um individuo, e uma pessoa pode ser feliz cuidando da sua casa, do jardim, das amizades, da familia. Colocando a virtude a frente de tudo que faça, seja limpar a latrina ou fazer sexo.
Todos temos o potêncial de sermos diferentes uns dos outros, sermos quem somos e porque queremos ser.
Como posso classificar infinitas possibilidades de existir?
em tempo
http://www.chongas.com.br/wp-content/uploads/2011/05/presos.jpg
semelhanças meras coincidencias? hahaha
ótima tirinha tbm
Qual o problema em ser um cachorro ignorante e feliz?
Melhor do que ter consciência e nada poder fazer, diferente do lobo, que ao menos tem sua floresta para caçar.
Igonorance is bliss!
Off topic (sry)
Contar até 3 é de origem ocultista, né?
Viver na coleira é viver na escuridão pela falta de consciência do que se é de verdade, assim como a maioria das pessoas se encontra. Nosso papel, enquanto pessoas privilegiadas pela entrada de luz em nossos olhos despertos, é multiplicar todo o conhecimento a que temos acesso a fim de despertar a humanidade que dorme.
Parabéns, MDD, por ser um multiplicador e nos incentivar a sermos também.
Pena que há tempos está aberta a temporada de caça aos lobos e todos os cachorros ladram enquanto eles passam, esperando que sejam também aprisionados. Seria melhor se não fosse necessário viver em “matilha”…
o triste é que o cão não sabe caçar, se ele fugisse iria morrer de fome
Viva Saint Loup!
Viva Saint Radegonde!