Movimentos Rosacruzes

Assim como a Maçonaria se intitulava uma Sociedade Secreta, assim também eram os Rosa-Cruzes [cada corrente adota uma maneira especial de grafia: Rosacruz, RosaCruz, Rosa-Cruz, Rosa Cruz]. Hoje, os movimentos Rosacruz são considerados uma Irmandade Secreta, ocultista-cabalística-teosófica, que pretende ter conhecimentos e sabedoria esotérica preservados do mundo antigo.

O tema central dos antigos rosa-cruzes era a reforma geral do mundo. A idéia da Reforma, que no âmbito da Igreja começou com Lutero e seus seguidores, mas que depois ficou atolada no pântano das instituições, teria de ser reavivada e difundida. Agora não se tratava mais de reformar a Igreja, mas na verdade, segundo princípios esotéricos, de reformar o mundo. Os rosa-cruzes assumiam a consideravam como oponentes os jesuítas e os que fossem contra a Reforma. Eles achavam que as pessoas inteligentes de todo o mundo deveriam unir-se para melhorar a sorte da humanidade e aprofundar seus conhecimentos sobre Deus e a Natureza.
Pode-se afirmar que o rosacrucianismo é um tipo de sociedade religiosa eclética, pois admite em seu quadro associativo pessoas de todas as religiões. Tem seus sinais de reconhecimento, palavras de passe e apertos de mão, e também diversos graus hierárquicos, havendo cerimônias especiais para a entrada nesses graus.
Alguns historiadores sugerem a sua origem num grupo de protestantes alemães, entre 1607 ou 1616, quando três textos anônimos foram elaborados e lançados na Europa.
O ano de 1582 foi o ano de mudança de calendário da humanidade. O calendário dito “juliano” cedeu ao “calendário gregoriano”: o dia 5 de outubro de 1582 passou a ser 15 de outubro de 1582. Este fato suscitou impressão sinistra nos povos europeus, já abalados pela revolução marítima, geográfica e histórica do séc. XVI: imaginaram alguns que o mundo estava para acabar, e sombrias profecias se espalhavam pela Europa Central… É sobre este pano de fundo apavorado e dado a alta imaginação que tem origem a Rosa-Cruz.
A história dos rosa-cruzes teve início na pequena cidade alemã de Kassel no ano de 1614, com a publicação de um pequeno manifesto anônimo de 38 páginas intitulado “Fama Fraternitatis R. C. – Reforma geral e comum de todo o amplo mundo” (ou Chamado da Fraternidade da Rosacruz), com um subtítulo, “Mensagem da Irmandade da altamente digna de louvor Ordem de Rosa-Cruz a todos os sábios e líderes da Europa” (vinda da tipografia de Wilhelm Wessel) – ainda que cópias manuscritas do mesmo já circulassem desde 1611, em determinados meios seletos. Ele foi seguido, um ano depois, pelo Confessio Fraternitatis (Confissões da Fraternidade) e, em 1616, por O Casamento Alquímico de Christian Rosenkreutz. Esses três documentos estabeleceram a história, os estatutos e o programa de uma fraternidade até então desconhecida, chamada de a “Ilustre Ordem dos Rosa-cruzes”. Em uma época de enorme tumulto político e religioso, esses documentos louvavam a importância da ética, da moral e da espiritualidade, que poderiam salvar o homem dos erros ocasionados pelos costumes mundanos. Os textos alcançaram um público crescentemente numeroso, e foram republicados em vários países. A Europa inteira tomou-se de entusiasmo pelo personagem que ocupava o centro desses novos ensinamentos, um personagem de perfil lendário: Christian Rosenkreutz.
Outros dois documentos sucederam-no: Confessio Fraternitatis (“Confissões da Fraternidade Rosacruz”) (1615), publicado simultaneamente em Kassel e Frankfurt, e Chymische Hockeit Christiani Rosenkreuz (“Núpcias Alquímicas de Christian Rozenkreuz”) (1616), publicado na então cidade independente de Estrasburgo (posteriormente anexada pela França, em 1681).
Essa declaração anônima causou um grande estardalhaço tanto na Corte como na cidade, conforme provado nas “memórias” e anais da época. Difundiram-se os boatos mais contraditórios.
A publicação destes textos provocou imensa excitação por toda a Europa, provocando inúmeras re-edições e a circulação de diversos panfletos relacionados com os textos, embora os divulgadores de tais panfletos pouco ou nada soubessem sobre as reais intenções do(s) autor(es) original(ais) dos textos, cuja identidade ficou desconhecida durante muito tempo.
A sociedade européia da época, dilacerada por guerras, tantas vezes originadas por causa da religião, favoreceu a propagação destas idéias que chegaram, em pouco tempo, até a Inglaterra e a Itália. A perturbação causada pela Guerra dos Trinta Anos que irrompeu na Europa deve ter tido algo a ver com isso também.
Em Paris, em 1622 ou 1623, foram colocados posters nas paredes, que incluiam o texto: “Nós deputados do principal colégio dos irmãos da Rosa-Cruz, constituímos residência visível e invisível nesta cidade, pela bondade do Altíssimo, para o qual estão voltados os corações dos justos. Mostramos e ensinamos a falar todas as espécies de línguas, para que possamos livrar os homens, nossos semelhantes, de erro mortal” (…) “Os pensamentos ligados ao desejo real daquele que busca irá guiar-nos a ele e ele a nós”. Em uma Europa dilacerada por guerras religiosas entre católicos e protestantes, o conteúdo dos manifestos rosa-cruzes encontrou solo fértil. Os panfletos circularam rapidamente e logo as idéias da fraternidade eram assunto de conhecimento geral.
Havia diversas razões para tal sucesso. Os objetivos da ordem correspondiam aos propósitos sociais, espirituais e intelectuais das novas elites literárias e científicas européias. Muitas pessoas se sentiam atraídas pela mentalidade progressista da fraternidade, visto que, quando se tratava de admitir novos membros, os rosa-cruzes não faziam distinção de raça, sexo ou posição social.
Muitos alquimistas e “místicos” puseram-se a procurar alguma sede da Rosa-Cruz para nela ingressar. Todavia ninguém encontrava núcleo algum da mesma. Aparentemente sem um corpo dirigente central, assumem-se como um grupo de “Irmãos” (Fraternidade). Em conseqüência, os admiradores mais hábeis tentaram organizar eles mesmos, e segundo os padrões indicados nas citadas obras anônimas, Sociedades Secretas ditas “Rosa-Cruz”. Principalmente na Renânia (Alemanha) fundaram-se numerosos grupos de Irmãos Rosa-Cruz. Nomes como Michael Maier e Robert Fludd apareciam como admiradores das doutrinas rosacruzes.
Logo após terem sido lançados, uma série de outros textos, livros e panfletos surgiram como resposta, alguns defendendo, outros atacando os textos originais.
Entre os anos de 1618 e 1625 existiram aproximadamente 20.000 publicações direta ou indiretamente relacionadas com o Rosacrucianismo editadas por admiradores externos que desejavam apoiar o movimento ou, na maioria dos casos, por inimigos tentando subvertê-lo e desacreditá-lo através da publicação de alegações que consideravam absurdas.
Durante esse período, uma série de organizações também teriam a sua vez nos anos que se seguiram a publicação dos primeiros manifestos rosacrucianos. O mito Rosacruz estava finalmente estabelecido

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Respostas de 14

  1. “e não é meio que assim hoje tbm?” Referente a que parte do texto? Meditei, espremi o cérebro a fim de dar-te uma resposta, mas essa não me veio… Resta tentar entender a pergunta. Hehe… Afinal, “se cogito, penso, se penso, logo existo” (“Cogito, ergo sum”).
    No mais, o que posso comentar é o que digo sempre quando me perguntam sobre a Rosa-Cruz: É um belo caminho para o buscador sincero, o que tem como Vontade instruir-se e evoluir em todos os aspectos do Ser. Como o é também o Martinismo, a Maçonaria, a SCA e assim por diante. (Addendum: Nada impede que freqüente todas).

  2. Caro Marcelo Del Debbio, fazendo parte do movimento Rosacruz como você enxerga as Sessões Espíritas?
    Em textos rosacruzes como http://www.fraternidaderosacruz.org/mh_mben.htm é aconselhado que as pessoas evitem os locais onde são realizadas sessões com espíritos invisíveis.
    Também é desaconselhado que se queime incenso. Qual a sua opinião sobre este tópico?
    @MDD – O Max Heindel é um pouco exagerado nesses aspectos. Isso talvez valha para quem tem uma mediunidade muito forte, que fique mais susceptivel a estas influências. Os efeitos que ele diz estão corretos, mas a pessoa tem de ter uma Thelema (força de vontade) muito fraca para ser manipulado através de uma canalização de incenso… mas de qualquer forma, o link vale muito a pena pelos livros disponiveis em pdf no final do trecho.

  3. Prezado MDD, estou em busca da verdadeira “luz”, a qual procuro a anos, porém não achei em nenhum dos lugares “convencionais” (igrejas) e demais religiões, leio o seu blog alguns anos… e foi aki que me achei, quanto a A.’.A.’. é uma coisa seria? o estudo de thelema é bom?, qual a sua visão sobre a OCT.
    Abraços.

  4. Demais! Obrigado! Eu queria mesmo conhecer um pouco mais sobre RC. Ainda pretendo conhecer pessoalmente…

  5. Procure uma loja Rosa Cruz em sua cidade Eduardo, eles com certeza lhe cederão alguns impressos ou sugerirão algum Frater que lhe dará instruções iniciais sobre a Loja e a Ordem, que poderão lhe deixar mais claro o por que dos símbolos Egípcios.
    Outra dica é buscar uma série produzida pelo canal Infinito, chamada “O Olho de Hórus” ( disponível no Youtube em micro capítulos) Ali vc compreenderá um pouco sobre o uso dos símbolos Egípcios não só pela Ordem Rosacruz como também por outras diversas Ordens Ocultas e até mesmo em situações mundanas. O conehcimento Egípcio está constantemente entre nós, muitas vezes desapercebido.

  6. Não tem muito a ver com o post, mas… “O calendário dito ‘juliano’ cedeu ao ‘calendário gregoriano’: o dia 5 de outubro de 1582 passou a ser 15 de outubro de 1582.”
    Na confecção do mapa astral é levado em consideração isso?

  7. Trabalhei quando adolescente em um sebo de livros de um centro espírita, quando certo dia tive a chance de entrar em uma loja da rosa cruz ou maçonaria não sei bem ao certo qual a loja,pois a mesma passava por reformas e tinha muitos livros velhos ,na qual fiquei sabendo por um senhor q freqüentava o sebo que havia um lugar que estava doando livros velhos p serem reciclados .Fui de imediato ao local quando me deparei com um quanto escuro cheio de livros velhos .Peguei vários em estado de decomposição ,mas dois me chamaram á atenção .Eram simples as capas dos livros e de imediato não fui fisgado pelos mesmos .Nesse período não lia muita filosofia até uma certa vez uma colega chegar em minha residência e vê na estante do quarto essas preciosas relíquias a mesma disse :vc tem dois fantásticos livros em teu poder já leu ? Disse q ñ. Esse é o saudoso CABALION e o outro é o NOVO SINAL dizia a colega. A nunca mais fui o mesmo adolescente !Após ter iniciado aquela leitura q se transformaria em estudo .Digo sem medo de errar que foi a melhor coisa que aconteceu em minha vida,pois abriu o meu leque de conhecimento e gosto pela verdadeiro saber sou fanático hoje por filosofia leio de tudo e estou escrevendo algumas experiências de meu aprendizado .Hoje tenho vontade de retorna a aquela loja e relatar o acontecimento ,uma vez que o livro diz que deveria o portador retornar .No entanto sabemos que devemos ser convidados e isso torna se uma barreira ….quanta sensação fisiológica e mental eu tive como senti e sinto toda vez que abro o mesmo toda vez que a fé ameaça fraquejar lá estou eu folheando o manuscritos dos sábios….

  8. Del Debbio, vc me ajudou, estava muito precisando ler isto aqui, não necessariamente o textop, mas os comentários.
    Tenho muita simpatia pela filosofia e pelos ensinamentos da linhagem rosacruz de Max Heindel, mas também considero algumas coisa dele como exagero.
    Me ajudou a tomar uma decisão.
    Muito grato pelo seu site existir.

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