Livro sobre Exu causa guerra santa em escola municipal

Publicado no S&H dia 27/10/09,

Professora umbandista diz que foi proibida de dar aulas em
unidade de Macaé, dirigida por diretora evangélica

POR RICARDO ALBUQUERQUE, RIO DE JANEIRO

Rio – As aulas de Literatura Brasileira sobre o livro ‘Lendas de Exu’, de Adilson Martins, se transformaram em batalha religiosa, travada dentro de uma escola pública. A professora Maria Cristina Marques, 48 anos, conta que foi proibida de dar aulas após usar a obra, recomendada pelo Ministério da Educação (MEC). Ela entrou com notícia-crime no Ministério Público, por se sentir vítima de intolerância religiosa. Maria é umbandista e a diretora da escola, evangélica.
A polêmica arde na Escola Municipal Pedro Adami, em Macaé, a 192 km do Rio, onde Maria Cristina dá aulas de Literatura Brasileira e Redação. A Secretaria de Educação de lá abriu sindicância e, como não houve acordo entre as partes, encaminhou o caso à Procuradoria-Geral de Macaé, que tem até sexta-feira para emitir parecer. Em nota, a secretaria informou que “a professora envolvida está em seu ambiente de trabalho, lecionando junto aos alunos de sua instituição”.

A professora confirmou ontem que voltou a lecionar. “Voltei, mas fui proibida até por mães de alunos, que são evangélicas, de dar aula sobre a África. Algumas disseram que estava usando a religião para fazer magia negra e comercializar os órgãos das crianças. Me acusaram de fazer apologia do diabo!”, contou Maria Cristina.

Sacerdotisa de Umbanda, a professora se disse vítima de perseguição: “Há sete anos trabalho na escola e nunca passei por tanta humilhação. Até um provérbio bíblico foi colocado na sala de professores, me acusando de mentirosa”.

Negro, pós-graduado em ensino da História e Cultura Africana e Afro-Brasileira, o diretor-adjunto Sebastião Carlos Menezes aguardará a conclusão da procuradoria para opinar. “Só posso lhe adiantar que a verdade vai prevalecer”, comentou. Pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, Sebastião contou que a diretora Mery Lice da Silva Oliveira é evangélica da Igreja Batista.

ATÉ CINCO ANOS DE PRISÃO

“Se houver preconceito de religião, acredito que deva ser aplicado todo o rigor da lei”, afirmou o coordenador de Direitos Humanos do Ministério Público (MP), Marcos Kac. O crime de intolerância religiosa prevê reclusão de até 5 anos. Em caso de injúria, a pena varia de 3 meses a 2 anos de prisão. O MP poderá entrar com ação pública penal se comprovar a intolerância religiosa. “Caso contrário envia à delegacia para inquérito”, explicou Kac.

Em 180 páginas, o livro ‘Lendas de Exu’, da Editora Pallas, traz informações sobre uma das principais divindades da cultura afro-brasileira. O autor da obra, Adilson Martins, remete ao folclórico Saci Pererê para explicar as traquinagens e armações de Exu.

Na introdução, Martins diz que ele é “um herói como tantos outros que você conhece”. Em Macaé, 35 alunos do 7º ano do Ensino Fundamental leram o livro.

Nas religiões afro-brasileiras, Exu é o mensageiro entre o céu e a terra, com liberdade para circular nas duas esferas. Por isso, algumas pessoas acabam o relacionando a Lúcifer
O presidente da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, Ivanir dos Santos, garantiu que outros autores de livros, como Jorge Amado e Machado de Assis, sofrem discriminação nas escolas: “As ideias neopentecostais vêm crescendo muito, desrespeitando a lei”.

Ivanir explicou que o avanço da discriminação religiosa provocou o agendamento de um encontro, dia 12 de novembro, com a CNBB: “Objetivo é formar uma mesa histórica sobre os cultos afro e estabelecer uma agenda comum”.

VIVA VOZ
Até mães de alunos me proibiram de falar sobre a África

“Acusam-me de dar aula de religião. Não é verdade. No livro ‘Lendas de Exu’, de Adilson Martins, há histórias interessantes, são ótimas para trabalhar com os alunos. Li os contos, como se fosse uma contadora de histórias, dramatizando cada uma delas. Praticamos Gramática, e os alunos ilustraram as histórias de acordo com a imaginação deles. Não dá para entender por que fui tão humilhada. Até mães de alunos, evangélicas, me proibiram de falar sobre a África”.

MARIA CRISTINA MARQUES, professora, 48 anos

Fonte: O DIA on Line Rio de Janeiro / Portal Terra

E, do lado Católico, nosso presidente semi-analfabeto, que se orgulha de nunca ter lido um livro na vida, faz acordos mendicantes com o Vaticano para ensinar criacionismo em nossas escolas.
É uma Guerra de cachorros grandes. Só os inocentes céticos e ateus ainda acreditam que vivemos em um País Laico. Só não fomos mandados para a fogueira porque os evangélicos não podem (por enquanto) fazer isso, porque se pudessem, haveria festivais de queimas de hereges por aqui. Mas difamar outras religiões, agredir pessoas de outras religiões e quebrar imagens sacras de valor histórico eles já fazem, nem que tenham de se aliar a traficantes para isso….

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Respostas de 19

  1. Ironia do destino, a tão destemida e implacável ICAR de outrora hoje é uma flor perto desses trogloditas evangélicos..

    Mas, por essas e outras que defendo que a religião deve estar a milhares de anos luz de distância das escolas.. Com tanta religião diferente é IMPOSSIVEL você conciliar ensino religioso e escola, ainda mais quando estamos “a nivel de” (sic) GADO.. hehe

    No mais, isso é tarefa da FAMILIA e não do estado..

    @MDD – Epa epa… flor aonde, cara palida? a Igreja evangelica é um amor perto da ICAR do passado… hoje eles nao queimam mais ninguém, lembra?

    1. De certa forma, concordo com ele, MDD. Acho que a ICAR FOI um espinho. Doeu, mas passou, já era.

      Creio que é necessário ocupar-se dos espinhos de hoje (cuja raiz é a mesma: ganância e inteligência aguçada mal-dirigida de uns, e ignorância dos que seguem esses primeiros). Afinal de contas, dê-lhe neo-pentecostalismo em todos os cantos de vários países e até na política……..

      Erva daninha cresce, e depois que cresce……………

    2. Há um artigo aqui mesmo no site sobre a Inquisição Protestante.
      O mais correto a dizer é que tanto evangélicos quanto católicos são farinha do mesmo saco.

  2. Falar o que né?
    Me faltam palavras para descrever toda a minha tristeza e indignação com esse tipo de relato…

    Fanatismo religioso e intolerância são alguns dos atos mais abomináveis que um ser humano pode praticar.
    Realmente espero que os responsáveis sejam identificados e punidos.

    Ps: Será que a humanidade ainda tem solução?!

  3. Particularmente, no caso em questão vejo que a conduta da diretora deve ser enquadrada pelo menos no artigo 20, caput da lei 7.716/89, que prega a reclusão de um a três anos e multa para quem praticar, induzir ou incitar discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Haja vista que a referida diretora praticou um ato de discriminação para com a cultura religiosa afro-brasileira no momento em que proibiu a professora Maria Cristina de ministrar suas aulas somente por que esta utilizou um livro falando sobre as lendas do grande Exu que, inclusive estava na lista aprovada pelo MEC. A conduta da diretora é simplesmente lamentável, para combater tais condutas proponho a organizações de passeatas pela tolerância religiosa por todo o Brasil. Por favor, senhor moderador, vamos espalhar esta ideia.
    Grato,
    Carlos Augustus

  4. Resumindo,

    1 – O estado deve ser laico

    2 – Existem milhões de livros que não causariam polêmica

    Assunto encerrado certo?

    A professora quis chamar atenção, a diretora é uma ignorante e quem perde é a criançada.

  5. Antes, eles queimavam nas fogueiras, hoje fazem perseguições sociais fortes. Não fica tão diferente: queimar na fogueira, ou lentamente, por tentativas de fazê-lo perder emprego, respeito, amigos e família, através da perseguição e da difamação, quando não é através da agressão física. Nem precisam matar, apenas esperam que a vítima se fragilise ao ponto dela mesma o fazer. E essa postura, infelizmente, não se resume à intolerância religiosa… Enfim, continuamos um bando de símios sem noção…

  6. Fico meio divido nessa questão. Acho que a forma que a diretora agiu errada. Porem se analisarmos seria mesma coisa se dessem aulas com livros “evangelicos”, o que poderia ofender alguns pais. De forma alguma deve-se deixar de falar da África, que é um berço cultural, se não o principal. E é nesse caso que deveria se ter aulas de historia das religioes ou algo assim, pois seria o terreno certo pra tratar destas questões.

  7. É dificil tomar partido. De fato oque foi feito com a professora é errado, principalmente a forma que ela foi hostilizada. Porem se pararmos pra pensar essa situação pode entrar um pouco com o post sobre a ideia de se ter ensino religioso nas escolas. Da mesma forma que alguns pais ficaram “ofendidos” outros tb teriam se a escola ministrase aulas com livro “evangelicos”. Não se deve de forma alguma deixar de ensinar sobre a África, pois é um dos nossos berços culturais, se não principal. Mas acredito que este tipo de livro se encaixaria melhor emuma aula sobre historia das religioes.

    Obs.: tenho tido problema pra posta aqui. Depois de enviar aparece normal, mas depois de um tempo entro no site o que escrevi não está mais la e se tento mandar de novo aparece que ocomentario ta repetido.

    1. Achei muito legal a reportagem e o que ele faz. Mas pessoalmente acho que as vezes falta um pouco de tato do pessoal quando faz algum trabalho dessa forma. Principalmente o que diz a respeito a velas que tra serio risco no periodo seco as matas. Acho que cada um devia fazer seu trabalho e depois ir recolher.

  8. Realmente lastimável que isto ocorra.
    A luta pela tolerância religiosa é uma luta demorada, sofrida e amarguradamente antiga. Espero que a tal diretora seja punida de acordo com a lei. Seria um bom exemplo para outras pessoas que ainda mantém estas práticas.

    Só não entendi a parte que toca os Ateus e Céticos. O estado é SIM laico. A constituição define isto de forma clara e objetiva. Infelizmente, o que acontece é que alguns setores da sociedade preferem ignorar a lei em prol de benefícios e pseudo motivações para seus preconceitos.

    O fato de alguém quebrar a lei, não significa que ela não exista. Nenhum ateu ou cético acredita que as coisas estão perfeitas ou perto disso. Tanto é assim que há inúmeras iniciativas de mobilização a favor do laicismo e secularismo do estado.

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