A Língua de Darwin – A seleção natural aplicada às línguas naturais
O que é, de fato, a vida? O que é que caracteriza um ser vivo e o diferencia da matéria inanimada?
Para os biólogos, a vida é caracterizada por alguns fatores: metabolismo, homeostase, capacidade de crescer e responder a estímulos, a capacidade de se reproduzir e, finalmente, a capacidade de se adaptar ao meio em que está inserida, por meio da seleção natural.
Podemos dizer que a vida é a transformação constante de uma estrutura básica e estável.
Há muito se discute se às línguas naturais pode ser conferido o título de “vivas”. De um lado, temos os que defendem as semelhanças entre elas e os seres vivos, e, de outro, temos aqueles que afirmam serem as línguas apenas mais um fenômeno social.
Apesar de a semelhança entre línguas e entidades vivas parecer evidente, é necessária uma breve comparação entre essas duas existências.
O metabolismo pode ser definido como o conjunto de reações químicas que ocorre nos organismos vivos para sustentar sua vida; a homeostase é a propriedade que mantém um sistema regulado e estável internamente; o crescimento é a capacidade de se desenvolver e se transformar em algo maior e/ou mais complexo; a resposta a estímulos é a capacidade de responder a alterações no ambiente externo ou interno, e a capacidade de reprodução é a possibilidade de gerar descendentes; por fim, a adaptação é o processo por meio do qual, com o correr do tempo, a vida se torna mais bem “configurada” ao ambiente em que está inserida, aumentando assim as chances de sobrevivência.
As línguas naturais têm, se não todas, pelo menos a maioria das características que atribuímos à vida.
Notaremos que o metabolismo das línguas se constitui na língua falada. Esta é a realização da língua, isto é, sem ela não existe nada que seja observável ou passível de estudo no campo da linguística. Sem a fala não há uma língua de facto, não há “vida” na língua: apenas um sistema estático, “inorgânico”.
A homeostase da língua se caracteriza pela estrutura lingüística subjacente: sua gramática. Não é possível conceber a existência de uma língua agramatical. Sentenças ditas agramaticais, ou seja, que não estejam de acordo com a gramática da língua por fugirem do “equilíbrio linguístico” que garante a ordem do sistema, não encontram sustentação e simplesmente desaparecem, sem sequer terem sido pronunciadas.
Que as línguas crescem, ou seja, que se tornam maiores e mais complexas com o passar do tempo, é inquestionável. Basta que observemos a quantidade de neologismos surgidos quase diariamente em qualquer língua existente.
No que se refere à resposta a estímulos, talvez a língua seja o melhor exemplo para estudo, uma vez que mudamos nossa forma de expressão a todo momento: conforme os estímulos são alterados (mudanças de situação, interlocutores, o tom de um texto etc.), a língua também se altera, tendo uma espécie de sensibilidade, própria de seres vivos.
Outro ponto inquestionável é a capacidade de reprodução das línguas naturais. O português é uma das muitas línguas-filhas do latim, bem como o italiano, o francês, o espanhol, o romeno, o catalão e outras 42 línguas. A família do indo-europeu, da qual as línguas itálicas fazem parte, consiste em quase 450 línguas diferentes.
Associada à capacidade de reprodução, encontramos a capacidade de adaptação das línguas naturais. Uma vez separadas do ramo principal e isoladas geograficamente de sua língua-mãe, as variantes linguísticas se tornarão maiores e mais maduras até constituírem línguas próprias e distintas, como ocorreu com o português e o francês, por exemplo, após a queda do Império Romano e o consequente enfraquecimento do latim.
Dessa forma, as línguas merecem, sim, o título de “vivas”, ainda que, evidentemente, com reservas.
Como Darwin nos ensina em seu “A origem das espécies”, os seres vivos estão sujeitos a transformações em si próprios e no ambiente em que vivem. Não fosse assim, jamais teríamos a maravilhosa diversidade ao nosso redor, com criaturas perfeitamente adaptadas a certos ambientes e funções, como a famosa Xanthopan morgani, a “mariposa que Darwin previu”.
Darwin descobriu um mecanismo natural que preserva as características úteis à sobrevivência de um indivíduo e descarta as prejudiciais. Esse mecanismo – a seleção natural – é tão poderoso e universal que pode ser aplicado a praticamente qualquer sistema complexo.
A língua de Darwin é afiada e poderosa, já que descreve o funcionamento da Natureza com precisão espantosa. É a língua da variação e da adaptação, da vida e da maravilha que nos cerca neste mundo.
Realmente, “há grandeza nessa forma de ver a vida”.
*Paulo Manes é pesquisador-bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPT) na área de estudos linguísticos.
Maria Flávia Figueiredo é doutora em lingüística pela Unesp.
Fonte: http://www2.uol.com.br/sciam/artigos/a_lingua_de_darwin.html
@MDD – Línguas são seres vivos; apenas vivem no Plano Mental, e não no Material. A Linguagem vai sendo construída na Esfera de HOD e, sem ela, tudo o que está acima na Árvore da Vida pode apenas ser SENTIDO; Daí a analogia de se qualificar Hermes, Toth e Exú como “Intermediários entre os Deuses e os Homens”… porque sem a linguagem, não se compreende os atributos dos Deuses. Daí a dificuldade em se catalogar a Magia, Astrologia e os Símbolos usados em Ordens Iniciáticas no Modelo Científico vigente.
Respostas de 27
MDD, e os pensamentos? Se não me engano quem estuda Logosofia afirma que os pensamentos tem vida, existindo até uns que “dominam” os outros.
A propósito, ótimo texto.
@MDD – Egrégoras pertencem às esferas mais superiores do macrocosmo (Geburah e Chesed) enquanto a Linguagem pertence à Esfera de Hod/Netzach no Microcosmo, mas ambos são “seres vivos” neste aspecto de reprodução, mutação, morte, adaptação…
Isto me lembra é estudado pela memética. Senão souber o que é da uma olhada nisto:
Um meme, termo cunhado em 1976 por Richard Dawkins no seu bestseller O Gene Egoísta, é para a memória o análogo do gene na genética, a sua unidade mínima. É considerado como uma unidade de informação que se multiplica de cérebro em cérebro, ou entre locais onde a informação é armazenada (como livros) e outros locais de armazenamento ou cérebros. No que diz respeito à sua funcionalidade, o meme é considerado uma unidade de evolução cultural que pode de alguma forma autopropagar-se. Os memes podem ser ideias ou partes de ideias, línguas, sons, desenhos, capacidades, valores estéticos e morais, ou qualquer outra coisa que possa ser aprendida facilmente e transmitida enquanto unidade autônoma. O estudo dos modelos evolutivos da transferência de informação é conhecido como memética.
@MDD – Memeplexes é o nome científico para Egrégoras…
A memética foi uma proto-ciência que não se desenvolveu e foi largada por muitos dos próprios criadores, por não formar um corpo científico “adequado.”
Mas ela ainda me parece muito útil como linguagem (embora seja mais um conjunto complexo de jargões).
A relação Memeplexos & Egrégoras faz sentido na minha cabeça, mas me parece que Egrégoras tem um sentido muito mais móvel, enquanto Memeplexos parecem mais estagnados, embora isso seja uma percepção nem sempre adequada.
Talvez um dos motivos pela implosão do desenvolvimento da memética seja essa propensão pela análise de sistemas (calmamente) observáveis.
@MDD – e também porque os cientistas materialistas não vão querer se aprofundar muito em conceitos como “pensamentos tem vida” ou como “vírus elétricos de neurônios”… os Memeplexos seria egrégoras “congeladas” para serem estudadas, da mesma maneira que um pássaro é um “exemplo” de uma evolução… na verdade, um passaro (exemplar de um pássaro genérico) é um PONTO na curva de evolução. Um Meme é um ponto em uma curva evolutiva muito mais dinâmica do que a curva evolutiva material (que leva décadas, séculos, milênios até para produzir mutações mensuráveis).
Pois é. Tu continuas escrevendo SENTIDO e eu continuo pensando SINTAXE. Não vejo sentidos em Tiferet e além. Só a maravilhosa sintaxe nonsense metafísica.
Simplesmentes genial e esclarecedor.
Estou estudando linguística na faculdade agora. É divertidíssimo ver como NÃO EXISTE resposta cética que justifique a linguagem na forma de mero produto de reações químicas cerebrais.
Tio, uma dúvida… Totalmente off-topic, mas… Vamos lá.
Lendo coisas aqui e ali, eu entrei em contato com a seguinte linha de pensamento:
– O deus dos cristãos/protestantes (Javé, Jeova, etc), na tradução do nome, LITERALMENTE e BEM literalmente, significa “Eu Sou”, certo?
Vi uma linha de pensamento que dizia que Moisés, quando perguntado sobre o nome do Deus dos Hebreus, respondeu que seu Deus apenas “era”, porque, quando se conhece o nome de uma entidade, se tem controle sobre ela.
Pela minha teoria, o Deus católico só é tão famoso por ninguém ter seu nome e um pouco de imposição pela força da ICAR. Mas enfim, divago.
A questão é: Ter o nome de uma entidade realmente possibilita o controle sobre ela?
@MDD – “ter o nome” é só simbólico… os nomes reais dessas entidades são impronunciáveis pelo nosso sistema precário de vocabulário. ter as chaves energéticas pelas quais estas entidades respondem, ai sim…
na boa, esse negócio de ver abstrações como entidades é um retrocesso, pode até levar a algumas boas conclusoes novas por ser um visao nova, mas acho que faz muito mais sentido perceber que as coisas que a gente tem como concretas, como nós mesmos, se vistas micróscopicamente, tb são abstrações
@MDD – Sim, vc está correto… nós SOMOS abstrações… mesmo se parecemos sólidos a uma visão macroscópica… não passamos de vibrações e frequencias.
Então é possível afirmar que assim como Chesed e Geburah, Hod também expressaria, através da Língua, um modelo específico de Egrégora?
Se sim, aprimorar-se no contato com Egrégoras, principalmente no processo de “associação”, facilitaria no aprendizado de uma Língua?
Esse paralelo entre Línguas e Egrégoras seria suficiente pra explicar, por exemplo, pessoas que possuem uma facilidade muito grande para aprender outras línguas? Uma explicação mais completa que o simples “carrega de uma vida passada”, como me disse um espírita uma vez, pelo menos.
E por último, como acontece com as “Línguas-Mortas”, como o Latim? Elas continuam a existir em Hod, porém em algum tipo de estado de “dormência”, ou é possível que de fato elas encerrem suas atividades completamente e, não sei, “desapareçam”?
@MDD – Nao creio que desapareçam, pelo menos não no Plano Astral.
Muitas perguntas, eu sei, mas Egrégoras são de longe o meu assunto preferido, meu “foco”, digamos assim. As possibilidades e interpretações me absorvem completamente.
42!
O Latim ainda é estudado nos cursos de Letras e Direito. Ainda também é falado entre os eclesiásticos e eruditos… Não há motivo para classificá-la como língua “morta”…
A grande pergunta seria – o que veio antes, a linguagem ou o primeiro ser capaz de interpretar símbolos?
De certa forma, a própria Natureza é uma linguagem…
Lendo esse texto e os comentarios pensei em algo:
É possivel “morrer/matar absolutamente”? Digo, é possível tornar o algo em nada, seja uma pessoa ou ate mesmo uma língua?
E com uma egregora, ela sumiria completamente ou sobraria algum traço/resquício dela e, algum lugar?
Post inspirado no twitter.
Tudo são átomos….
Adoro este blog. =)
Por isso que Exú sabe todos os idiomas? legal…
Acho que num nível mais sutil as línguas – e não a linguagem – são vivas, e bem vivas. Isso se torna bem perceptível quando se estuda mais de um idioma.
Achei tão interessante essa discussão quando ela apareceu no twitter e acho que dá pra divagar tanto sobre o tema que eu seria capaz de responder a esse post com um testamento 😛
Mas a última divagação, depois de ler os comentários, é pensar em linguagens, em línguas, sistemas linguísticos, na forma como a linguagem expressa pensamentos e sentidos e expressa e constroi comandos e pensei em lógica de programação – que, coincidentemente ou não, são linguagens de programação.
A partir de assertivas simples, dá para se construir um sistema complexo e garantir autonomia a esse sistema – e até mesmo fazer com que tal sistema se auto-replique. Daí penso que lógica de programação não se limita a informática e penso em DNA (que também é um programa a ser encodado e produzir proteínas em determinada ordem, padrão e frequência, né), penso nos mapas astrais e penso que isso tudo faz MUITO mais sentido do que consigo verbalizar.
E daí me retiro antes de disparar a falar bobagem.
(mas só por causa da resposta do Marcelo ao Adama, eu me lembro de uma das minhas frases prediletas de Shakespeare, “nós somos feitos da mesma matéria dos sonhos”)
Ironicamente, quem popularizou (não tenho certeza se mesmo inaugurou) o conceito de meme foi o próprio Richard Dawkins, descrito no capítulo final do seu primeiro livro “O Gene Egoísta”.
Eu sinceramente gosto muito do Dawkins. Infelizmente, muitos dos pseudocéticos ignoram totalmente seus trabalhos “biológicos”, por assim dizer, e dão total atenção aos seus escritos sobre o Deus bíblico, “analisado” literalmente e ao gosto dos ateus de internet. “Deus, um Delírio” é um trabalho insignificante se comparado ao “O Gene Egoísta”. O foda é que o próprio Dawkins, ao invés de ampliar espiritualmente sua teoria do seleção natural pelos genes (pra mim ela explica muito bem 99,9% da vida puramente em Malkuth, quase tangendo além do Reino), ele prefere usá-la para atacar os religiosos, fanáticos ou não, mundo afora (sem falar os doidos dos Criacionistas…)
Aproveitando o tópico sobre linguas…
Lendo o livro “Nosso Lar”, fiquei com a impressão de ter entendido que no astral (pelo menos no plano em que estava a “colônia espiritual” descrita), a língua ainda seria uma “barreira” na comunicação entre almas que vivenciaram diferentes culturas e países na sua última reencarnação. Isso realmente existe ou eu me equivoquei durante a leitura?
@MDD – Sim, ainda é. Tive este problema conversando com espíritos tibetanos uma vez. Para conseguir me comunicar com eles, o grupo onde eu estava teve de ser elevado até o sétimo Nível do astral, nas fronteiras do Plano mental, onde conseguimos nos comunicar através de sensações e intuições (na falta de um nome apropriado)… era como se cada um de nós tivesse se colocado dentro da mente do outro e compartilhamos nossos pensamentos em um nível mais “código de máquina”. Mas não sei descrever qual é esta sensação, está acima de palavras…
Interessante sua colocação MDD.
Lendo sua descrição, me surgiu uma questão. Qual será a melhor língua já construída pela humanidade?
@MDD – nao saberia responder… só conheço bem portugues, ingles, alemao, frances, espanhol e italiano. Gostaria de me aprofundar em chines, japones, coreano, hebraico e as linguas que usam imagens e ideogramas para se expressar, mas duvido muito que alguma delas seja “melhor” do que a outra quando se trata de expressar imagens. Das que eu conheço, a que gosto mais é o Inglês.
Não existe língua “melhor” ou “pior”. Cada língua mostra o modo de ver o munda de uma determinada cultura. É o famoso exemplo do gelo: Diz-se de uma lingua de esquimós que tem aproximadamente 4 dezenas de palavras para o que chamamos “gelo”. Isso não a faz nem melhor nem pior que outras línguas, é só uma necessidade da cultura que usa a tal língua pra dar uma visão de mundo aos seus falantes (acho q o MDD falou disso em outro post, sobre como a língua MOLDA a nossa cabeça). Quem nunca pensou em uma coisa, um conceito, que fica “muito mais elucidado em inglês” (ou outra lingua), por exemplo?
Ah, Marcelo, muito legal colocar a língua como egrégora!!!
@MDD
Para conseguir me comunicar com eles, o grupo onde eu estava teve de ser elevado até o sétimo Nível do astral, nas fronteiras do Plano mental, onde conseguimos nos comunicar através de sensações e intuições (na falta de um nome apropriado)… era como se cada um de nós tivesse se colocado dentro da mente do outro e compartilhamos nossos pensamentos em um nível mais “código de máquina”. Mas não sei descrever qual é esta sensação, está acima de palavras…
Mas Tio, além deste exemplo ilustrativo, não é possível inferir que todo contato no astral também partilha desta característica, desta comunicação direta com sentimentos, intuições e idéias, e que é muitas vezes, subaproveitado em outras circunstâncias ?
Galsworthy já dizia que palavras eram cascas de sentimento.
Lingua é uma exteriorização do pensamento em algo materia, que se pode ser entendido. É uma ferramenta que nos possibilida sermos entendidos, desde que, considerando lingua nada mais que uma forma de comunicação.
Se não existissemos, não haveriam “linguas”, apenas as outras formas de vida (VIDA DE FATO).
Assim como a ciência é uma união humana da “curiosidade” com “pespectiva” (ponto de vista).
A lingua não nasce, não evolui, não se reproduz ou morre, todos esses atributos são nossos, e todas essas ações advem de nossa vontade ou necessidade.
As linguas não crescem, apenas existem pessoas que as usam mais que outras.
Como afirmou o pesquisador cidado no final do texto, na forma que se ve a vida, é que esta a grandeza.
Então posso conceber alma a minha cadeira de balanço, se assim o quiser. Um ponto de vista.
Parece que vale a pena citar a lingua de sinais das pessoas surdas (nem sempre mudas) como lingua viva e em constante transformação. Falar e comunicar-se não tem necessariamente que produzir som.
Seria, então, as “esferas superiores do macrocosmo” um outro nome para o Mundo das Ideias de Platão?