Em agosto de 2011, na véspera da Parada do Orgulho Gay de Ribeirão Preto, a Justiça mandou retirar da rua um outdoor considerado homofóbico. O outdoor foi feito pela Casa de Oração de Ribeirão Preto e continha citações bíblicas, entre elas uma do livro de Levítico: “se também um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher, ambos praticaram coisa abominável…”.
Em sua decisão, o juiz que julgou o caso afirmou que “a Constituição Federal protege a conduta do réu de expor suas opiniões pessoais, mas, ao mesmo tempo, também protege a intimidade, honra e imagem das pessoas quando violadas”. Um dia antes da realização da parada gay em Ribeirão Preto, o outdoor foi retirado.
Nos diversos portais de notícias onde essa informação foi divulgada, podemos observar a habitual animosidade entre os defensores dos homossexuais, e os pretensos “defensores da liberdade de expressão”. Esses últimos costumam afirmar algo mais ou menos assim – o que pode se estender não somente para este caso, como para inúmeros outros:
Da mesma maneira que o homossexual tem o direito de viver sua vida como lhe apraz e os simpatizantes dessa conduta demonstrarem sua simpatia, também aqueles que não apoiam esse comportamento devem ter direito a voz e opinião, é simples assim, um peso e uma medida para todos. Parada gay pode, mensagem bíblica em outdoor não pode?
Costumam simpatizar com esse ponto de vista todos aqueles que pensam que “está na moda ser gay”, ou que “defender os gays agora é o politicamente correto”; ou ainda que “precisamos agora é de uma Parada do Orgulho Hetero!”. Se você por acaso também pensa assim, me desculpe, mas acho que precisará rever um pouco os seus conceitos…
Abra a bíblia, e leia
O Levítico é o terceiro livro do Antigo Testamento, cujo autor supostamente é Moisés, inspirado diretamente por Javé (Deus). Basicamente é um livro teocrático, isto é, seu caráter é legislativo; possuí ainda o ritual dos sacrifícios, as normas que diferenciam o puro do impuro, a lei da santidade e o calendário litúrgico entre outras normas e legislações que regulariam a religião. Obviamente, se trata de uma legislação compatível com um povo parcialmente nômade que sobrevivia nos desertos do Oriente Médio há mais de 2 mil anos atrás.
Se reparar bem, a mensagem do outdoor de Ribeirão Preto está incompleta, o versículo completo se lê assim: Quando também um homem se deitar com outro homem, como com mulher, ambos fizeram abominação; certamente morrerão; o seu sangue será sobre eles (Le 20:13).
Como podem ver, no deserto não haviam prisões e, infelizmente, o Deus de Moisés determinava que essas e outras “faltas” fossem punidas com a morte – não se sabe ao certo se pela mão dos homens, ou do próprio Deus.
Ocorre que, esta não é a única “falta” passível de tal punição. Existem muitas, muitas outras…
Algumas “faltas”, segundo o Levítico
– Tatuagens, nem pensar… Pelos mortos não dareis golpes na vossa carne; nem fareis marca alguma sobre vós (Le 19:28).
– É preciso muito cuidado com a forma que cortamos o cabelo… Não cortareis o cabelo, arredondando os cantos da vossa cabeça, nem danificareis as extremidades da tua barba (Le 19:27).
– A cada menstruação, passados 8 dias será necessário sacrificar dois pombos para a purificação da mulher… Quando, pois, o que tem o fluxo, estiver limpo do seu fluxo, contar-se-ão sete dias para a sua purificação […] E ao oitavo dia tomará duas rolas ou dois pombinhos, e virá perante o SENHOR, à porta da tenda da congregação e os dará ao sacerdote (Le 15:13-14).
– Comer carne de porco? Deus me livre… Também o porco, porque tem unhas fendidas, e a fenda das unhas se divide em duas, mas não rumina; este vos será imundo (Le 11:7).
– Muito cuidado antes de consultar um “feiticeiro” [1]… Quando alguém se virar para os necromantes e feiticeiros, para se prostituir com eles, eu porei a minha face contra ele, e o extirparei do meio do seu povo (Le 20:6).
– Mulher casada? Sai fora… Também o homem que adulterar com a mulher de outro, havendo adulterado com a mulher do seu próximo, certamente morrerá o adúltero e a adúltera (Le 20:10).
– Se por acaso acha sua sogra bonitinha, tire imediatamente este pensamento da cabeça… E, quando um homem tomar uma mulher e a sua mãe, maldade é; a ele e a elas queimarão com fogo, para que não haja maldade no meio de vós (Le 20:14).
Bem, acho que já deu para ter uma ideia do “problema” não? Repare, inclusive, que as 3 últimas “faltas” da lista acima foram retiradas praticamente da mesma página onde se encontra o versículo do outdoor.
Você pode dizer que eu estou apenas citando versículos fora de contexto, que não tenho “a exegese necessária para a interpretação da bíblia”, mas então eu lhe pergunto: e por acaso os versículos do outdoor não estavam mais fora de contexto ainda?
Pois, me parece que numa interpretação mais aprofundada, não seriam somente os homossexuais que mereceriam a morte, mas no mínimo também os adúlteros, os que se consultam com “feiticeiros” e, quem sabe, até mesmo aqueles que comem carne de porco na churrascaria…
Atire a primeira pedra…
No entanto, estranho de se pensar, no mesmo Levítico encontramos ensinamentos do tipo: “Não oprimir os estrangeiros” (Le 19:33); “Não amaldiçoar os deficientes” (Le 19:14); “Não se vingar” e “Amar o próximo como a si mesmo” (Le 19:18).
Não quero aqui discutir se Moisés conseguiu ou não receber as leis de Javé na forma correta, ou ainda se era o próprio Javé quem parecia ter algum problema em elaborar leis que fizessem algum sentido, mas, antes, lembrar do doce Rabi da Galiléia, que nos disse:
Atire a primeira pedra quem não houver pecado.
Será mesmo que o temos escutado? Será mesmo que temos sido cristãos, ou ainda estamos perambulando pelas tribos de Israel, ainda mais no “olho por olho, e dente por dente”, do que no “ama ao próximo de todo o teu coração”?
Errar o alvo
Podemos interpretar as “faltas” mencionadas acima como pecados, sem dúvida.
A origem etimológica da palavra “pecado” remete a um conceito até mesmo bastante simples: errar o alvo. Errar o alvo! Sim, como quem gostaria muito de estar agindo acertadamente mas, seja por ignorância do bem, ou do que quer que seja “o certo”, ainda tem errado o alvo…
Agora, eu te pergunto: quem será que tem errado o alvo por uma distância maior? Aqueles que se dizem cristãos, mas que se aventuram em cruzadas e guerras santas, esquartejando infiéis e fendendo grávidas, ou os pacíficos que atendem a “feiticeiros”? Aqueles que se dizem cristãos, mas traem as esposas, e às vezes até humilham e batem nas esposas, ou os pacíficos que, embora em relações homossexuais, procuram adotar crianças necessitadas? Aqueles que se dizem cristãos, mas julgam “pecadores e condenados a queimar eternamente num lago de enxofre” todos aqueles que cometem às menores faltas, embora não vejam as inúmeras traves a obstruir a própria visão, ou os pacíficos que valorizam a liberdade acima de tudo, e deixam que cada um leve sua própria vida da forma que achar melhor?
Antes de atirar a primeira pedra, cerifique-se de que você mesmo não esteja a errar o alvo – ainda mais do que aqueles a quem as pedras estão endereçadas… Pode ser que mude de ideia, e opte por deixar a pedra cair ao chão, inofensiva. Se, no entanto, não mudar, que Deus tenha piedade de nós, pois pedras não faltarão, e nem alvos.
Você não precisa viver pensando nas “faltas alheias”
Sobretudo, ao encontrar com um homossexual, lembre-se que ele não passa metade da vida fazendo sexo… Mas, ainda que fosse o caso, isso não o impediria de lidar com ele de forma civilizada (supondo, é claro, que ele também seja civilizado): você não precisa apertar a mão de um homossexual imaginando onde ele a tem colocado; você não precisa sentar ao lado de um homossexual imaginando onde ele tem sentado; você não precisa abraçar um homossexual imaginando quaisquer espécies de práticas sexuais “heterodoxas”, pois um abraço é um ato amoroso, e não sexual; e, sobretudo, você não precisa passear na rua próxima a uma Parada Gay – haverão inúmeras outras oportunidades no ano para tal.
Os estrangeiros
Voltando ao Levítico: não oprimais os estrangeiros. Sejam os estrangeiros de sua terra, sejam os estrangeiros de sua cultura, sejam os estrangeiros de sua raça, sejam os estrangeiros de sua crença, sejam os estrangeiros de sua opção sexual.
Se Javé é mesmo o Senhor, ele é o Senhor de todos nós.
Eu sou heterossexual, casado há quase uma década… Não me preocupo nem um pouco com o que homossexuais fazem ou deixam de fazer em suas camas, mas me preocupo com as pessoas que os acham “abomináveis”, verdadeiros estrangeiros de si próprias, quase como se fossem demônios ou seres a parte… Como deve ser complicado viver cruzando com demônios imaginários em todos os cantos!
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Obs (1): Você pode conferir facilmente todas as citações de versículos do Levítico na Bíblia Online.
Obs (2): Há um consenso atual, mesmo entre os defensores dos direitos homossexuais, de que a Parada Gay se tornou uma espécie de “micareta de carnaval” no Brasil (e provavelmente em boa parte do Ocidente), que retrata os homossexuais como “fanáticos sexuais em busca de sexo fácil e go-go-boys”, não exatamente como a maioria deles realmente é: casais como quisquer outros, que as vezes até criam crianças adotadas, e a noite vão a restaurantes e não a casas de swing. Porém, ainda assim na Parada Gay não há violência, e qualquer manifestação popular onde não haja violência ou depredação do patrimônio público deve ser respeitada em um estado democrático. Ou, em outras palavras, as mesmas críticas que cabem a promiscuidade em uma Parada Gay, cabem igualmente a promiscuidade dos bailes de Carnaval e afins (onde a maioria é heterossexual).
[1] Existem inúmeras discussões acerca do que “feiticeiros e necromantes” significavam exatamente no contexto da época. Em todo caso, é bastante conveniente para os que interpretam a bíblia ao pé da letra considerar “feiticeiros” praticamente qualquer praticante de uma religião situada (teoricamente) fora do cristianismo.
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Crédito das imagens: [topo] Agência O Globo (este é o outdoor vetado pela Justiça em Ribeirão Preto); [ao longo] Ted Horowitz/Corbis.
O Textos para Reflexão é um blog que fala sobre espiritualidade, filosofia, ciência e religião. Da autoria de Rafael Arrais (raph.com.br). Também faz parte do Projeto Mayhem.
Respostas de 26
Muito bom Raph!
Apenas para salientar:
O Pentateuco é normalmente aceito como uma compilação de quatro tradições: Javista, Eloísta, Deuteronomista e Sacerdotal; diferentes quanto à idade e ao ambiente de origem, mas todas elas muito posteriores a Moisés.
Caro irmão Raph, é por textos como esse que eu me permito aceitar um código moral que faça sentido num contexto de evolução da humanidade, algo que justifique a expressão “bom senso” sem subjetividades, mas sim uma força motora que impulsione as pessoas à verdadeira liberdade.
Parabéns.
@raph – Acredito que essa também era mais ou menos a esperança dos sábios de outrora, e de hoje. Gosto muito do poema de Tagore que se encerra com: “neste Céu de Liberdade, Pai, deixe meu país acordar”. Abs 🙂
Esse é um texto antigo, mas sempre vale relembrar:
“A Dra. Laura Schlessinger é uma radialista norte-americana de extrema-direita. Apesar de ser judia, ela é adorada pelos fundamentalistas evangélicos, uma vez que defendem rigorosamente os mesmos princípios. Seu discurso é tão virulento que o programa que apresenta nos EUA foi proibido no Canadá, onde a lei proíbe a pregação de ódio contra minorias. Há cerca de três anos, ela causou furor ao condenar o homossexualismo com base nas Escrituras, uma vez que em Levítico 18:22 tal prática é considerada uma abominação. E emendou: “A Palavra de Deus é eterna e imutável”. A afirmação fez com que um anônimo internauta escrevesse a pérola abaixo:
Querida Dra. Laura:
Obrigado por fazer tanto para educar as pessoas a respeito das Leis de Deus. Aprendi muito com seu programa e tento compartilhar esse conhecimento com o maior número possível de pessoas. Quando alguém tenta defender o estilo de vida homossexual, por exemplo, eu simplesmente lembro-lhe que Levítico 18:22 claramente classifica isso como abominação. Fim da argumentação.
Entretanto, eu preciso de conselho seu a respeito de outras leis bíblicas e como segui-las da melhor maneira. Em especial:
* Quando eu queimo um touro no altar como sacrifício, sei que isso cria um odor suave ao Senhor (Levítico 1:9). O problema é com meus vizinhos. Eles dizem que o odor não lhes é agradável. Devo castigá-los?
* Eu gostaria de vender minha filha como escrava, conforme autorizado em Êxodo 21:7. Na sua opinião, qual seria o preço justo que eu deveria pedir por ela hoje em dia?
* Eu sei que não posso ter contato com uma mulher quando ela está no seu período de impureza menstrual (Levítico 15:19-24). O problema é como saber. Eu tentei perguntar, mas a maioria das mulheres se ofende.
* Levítico 25:44 sustenta que eu posso ter escravos, homens e mulheres, desde que comprados de nações vizinhas. Um amigo meu afirma que isso se aplica aos mexicanos, mas não aos canadenses. Pode esclarecer? Por que não posso ter escravos canadenses?
* Tenho vizinhos que insistem em trabalhar no dia sagrado (sábado para os judeus, domingo para os cristão). Êxodo 35:2 sustenta claramente que eles devem ser mortos. Estou moralmente obrigado a matá-los eu mesmo?
* Um amigo meu acha que, embora comer crustáceos seja uma abominação (Levítico 11:10-11), é uma abominação menor que o homossexualismo. Eu discordo. Qual de nós está certo?
* Levítico 21:20 afirma que não devo me aproximar do altar de Deus se tiver um defeito em minha vista. Tenho que admitir que uso óculos de leitura. Minha visão precisa ser 20/20 ou há alguma flexibilidade aí?
* A maior parte dos meus amigos homens usa o cabelo aparado, incluindo o cabelo das têmporas, apesar disso ser expressamente proibido em Levítico 19:27. De que forma eles devem morrer?
* Meu tio tem uma fazenda. Ele viola Levítico 19:19 plantando duas culturas diferentes no mesmo campo, assim como sua mulher ao usar roupas feitas de dois tecidos diferentes (algodão e poliéster). Ele também costuma praguejar e blasfemar. É realmente necessário ter o trabalho de reunir toda a população da cidade para apedrejá-los (Levítico 24:10-16)? Não podemos simplesmente queimá-los vivos numa cerimônia familiar reservada, como fazemos com aqueles que dormem com as sogras (Levítico 20:14)?
Sei que a senhora estudou a fundo esses assuntos, por isso estou certo de que pode me ajudar. Obrigado por nos lembrar que as palavras de Deus são eternas e imutáveis.”
@raph – Nossa, ainda não conhecia… Texto extraordinário, é bem o que queria passar com este artigo mesmo hehe… Obrigado por compartilhar!
Achei muito bom o texto, excelentes argumentos que realmente levam à reflexão. Parabéns!
Genial… vc descreveu em poucos paragrafos tudo que acredito a cerca da oriantação sexual das pessoas que vivem em sociedade. :]
@raph – Que bom, resumir é o que tento fazer mesmo, já que aqui na web nem é viável postar textos muito longos 🙂
Posso estar sendo ignorante no assunto, mas será que esse “deitar” da bíblia atual não é mais uma das tradução erradas? Fora do contexto até significaria ‘deitar’, mas em um contexto significaria ‘brigar’, sei lá, homens se engalfinhando na terra…
No mais, tenho que elogiar o belo texto. Complexo e fácil de ser entendido! Parabéns Rafael 😀
@raph – Pois é, eu preferi nem entrar nessa polêmica – acho que Jesus já resumiu tudo quando “simplificou” os 10 mandamentos com o “ame ao próximo como a ti mesmo”, daí independe das traduções e “edições” terem sido bem feitas ou não…
Aproevito para agradecer a todos os outros parabéns acima 🙂
Entendo o propósito do texto e, consequentemente, as exageradas redundâncias, mas ter que ver explicado que homossexuais não são seres hipersexuais distintos e que casais do mesmo sexo agem no geral como agem os casais de sexo oposto é uma tristeza. Não criticando o autor por tê-lo feito, mas o fato de que perdura a necessidade de fazê-lo.
@raph – Eu concordo inteiramente contigo, é uma pena mesmo; Mas devagar, bem devagar, vai melhorando…
Imagino o que essas pessoas que consideram a homossexualidade anormal (no sentido de abominável, não de divergente) pensam das outras gradações da sexualidade, se sequer as conhecem.
Uma ligeira pesquisada apresentaria-lhes toda sorte de relacionamentos afetivos… hétero, bi ou homo assexuais integrais, “cinza”, seletivos; hétero, bi ou homo demisexuais; pansexuais, etc.
Seria logicamente impraticável tentar categorizar o comportamente de todo um grupo de pessoas baseando-se em sua orientação sexual após apronfundar-se um pouco no estudo da sexualidade humana.
@raph – Já seria complexo catalogar a sexualidade dos Bonobos, imagina do Homo Sapiens 🙂
Cara, vc escreve mto bem!!
Alguma indicação pra pobres leitores pra melhorar a escrita?rs
@raph – Obrigado.
Olha, a melhor coisa é ir escrevendo mesmo, eu escrevo sobre espiritualidade em geral desde 1996, mas no meio tempo também escrevi RPG e roteiros de quadrinhos… Certamente os meus textos melhoraram muito em todos esses anos, e particularmente desde que meu blog começou a “bombar” com a ajuda do MDD… Mas um dia ainda devo fazer um post não exatamente sobre escrever bem (porque isso é muito subjetivo e pode ser perigoso me auto-intitular um “bom escritor”), mas como escrever para blogs e web em geral. Infelizmente não posso te dar uma data, mas está na minha lista de “por fazer” aqui 🙂
Bacana!!!Esperarei ansioso!!!
Espero começar um blog nessas férias com um tema mais voltado para a arte em si rs nada de magia ou religiões rs.
Veremos.
Abçs.
Concordo com seu posicionamento quanto a essa questão, Raph.
Mas confesso que o que mais me chamou atenção para uma reflexão foi sua frase: “pedras não faltarão”.
Veja você como é simples colocarmos uma frase fora de contexto e criar todo um “dogma” em torno dela. Depois para desconstruir e recontextualizar essa frase há que se gastar toda uma retórica… E ainda assim, pedras não faltarão contra seu trabalho.
Belo texto,
Abraço!
@raph – Valeu Igor! Acho que foi Pessoa quem disse: “Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo…” Abraço 🙂
Muito BOM!!!! Parabéns!
palavras com efeito, parabéns!
É uma pena rever surgir, nas últimas décadas, um número cada vez maior de adeptos da Teocracia, seja com governos Talibãs e movimentos afins no Oriente Médio, seja pelos cristãos conservadores no Ocidente, e tudo isso alimentando o ateísmo ativista, pois a ação e reação se auto-alimentam. O que as pessoas se esquecem é que a tão proclamada liberdade de culto será o próximo alvo, caso isso vá adiante, ou os cristãos conservadores ainda não perceberam que depois unir forças para “esmagar” minorias, as diversas correntes vão se degladiar entre si para legislar em proveito próprio? Sim, pois vejo muitos evangélicos falarem que irão fazer do país um país evangélico, como vejo católicos que querem um país católico e cada vez mais temos deputados de ambos os lados. Em todas as discussões desse caso, as pessoas começam citando: “a Blíblia diz que”… Querem legislar com a Bíblia, como os Talibãs legislaram com o Alcorão. Como cantado por um gay: “eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades…”. Já passaram dos ataques verbais para lâmpadas fluorescentes. Logo, logo, voltaremos às pedradas e às fogueiras. Os gays só serão o primeiro “marshmallow” desse circo pegando fogo, caso não haja uma mudança profunda de consciência dessa “espécie de símios” que somos e se não somos, ao menos aparentamos ser, com nossas atitudes. É uma pena que eu acredito na reencarnação. Esse mundo não é sociedade de “gente”. Ainda me pergunto o que fiz para parar aqui… Pior que isso é saber que amanhã de manhã, vou voltar a acreditar na capacidade das pessoas evoluirem e prosseguir com a esperança de que a humanidade melhore e vou voltar a abrir a minha boca para falar de liberdade com respeito, igualdade com respeito as diferenças, vontade com responsabilidade e de amor ao próximo com amor próprio, como um louco gritando para as paredes. Fazer, o quê? Ainda não aprendi a me render… Realmente, a esperança é a última que morre e reascende um pouco lendo textos assim.
@raph – Tiago, acredite, eu sei exatamente como se sente, ainda mais compreendendo a reencarnação (ou seja, quem morre ignorante, ainda voltará ignorante)… Mas penso que não há razão para pessimismo se formos analisar a história em períodos de, quem sabe, séculos, ao invés de décadas… Eu explico melhor o que estou querendo dizer aqui: http://textosparareflexao.blogspot.com/2011/07/involucoes-parte-1.html
E, para entender o estado atual das religiões no mundo, e as tendências do século, recomendo ler este livro excelente, “O futuro de Deus”, lançado há poucos meses: http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/3452848
Abs!
Comprei “O Futuro de Deus” esse feriado, e não consigo parar de ler.
Como você chegou a esse livro? (E por favor, dê mais dicas desse tipo).
Obrigada!
@raph – Oi Mariana, pois é esse livro é assustadoramente bom! Eu cheguei até ele “por puro acaso” ao achá-lo em um livraria no aeroporto de Congonhas. Eu tinha alguns livros “na fila de leitura” e tinha prometido para mim mesmo que não compraria mais nenhum.. Mas quando dei uma folheada no livro já me convenci que teria de abrir uma exceção para ele hehe.. Agora já tô considerando comprar o outro livro do Bakas, “O futuro do amor”, mais pra frente… Abs.
ps. Talvez queira dar uma olhada aqui tb: http://textosparareflexao.blogspot.com/2008/07/os-10-melhores-livros-sagrados.html
Tenho de dizer que não gosto do cristianismo (tenho até certa birra com ele, mesmo já tendo sido católico um dia) e acho perfeitamente natural a existência de homossexualismo, bissexualismo, heterossexualismo… enfim, todas estas definições.
Porém, não posso deixar de achar errado que se retire um texto de espaço público, por opinião de que determinada honra de um grupo tem de ser protegida, ou que a incitação de ódio deva ser parada.
Não gosto de ódio, de fato, acho uma das coisas mais tolas que se pode fazer…. e sei porque existem esses termos na constituição (em um país como o nosso, falta apenas um pouquinho de incitação ao ódio, e cairemos em radicalismos, pelo que compreendo do pensamento brasileiro como um todo).
Ainda assim, é errado calar alguém porque ele está falando algo que possa ofender a outro. Gera moralismos, gera abusos de poder, gera hipocrisia (e quanta hipocrisia !), gera paradigmas de que todos pensam em certos dogmas dos “tempos modernos”, o que demoniza aos que pensam diferente, exclui a visão de mundo que podem dar….
A ideia de que o ato de proteger alguns valores deva se sobrepor à liberdade de alguém divulgar o que se passa em sua mente vem muito da obssessão que temos em manter imágens perfeitas de algumas pessoas ou grupos. De não aceitar que insultos e ofensas existem e são válidos de existência e, principalmente, de que existem pessoas que não aceitam o paradigma divulgado do que seriam os “tempos modernos”.
No fim das contas, opinar diferentemente dos demais, principalmente com relação aos aspectos sombrios de ter uma opinião, é, hoje, um pouco menos perigoso do que costumava ser. Mas ainda é proibido, e ainda traz consequências ruins.
@raph – Na minha opinião, a questão central da polêmica em torno do outdoor é que eles mesmos (a Casa de Oração de Ribeirão Preto) colocarm os “…” no final do versículo, suprimindo a parte do “devem morrer”. Ou seja, de certa forma, eles mesmos tiveram vergonha ou certo pudor de expor o versículo todo no outdoor. Porque será, não é mesmo?
Então, uma atendente de loja falar com um menino negro: aqui não é lugar de pessoas como você… seria melhor se você procurasse um lugar apropriado pra gente como você e convidá lo a se retirar; como já aconteceu na minha cidade, não é problema? Ou pessoas dizerem que negros ou nordestinos devem ser mortos, como aconteceu há pouco tempo?
Então, eu ir na rua e falar para católicos e evangélicos com folhetos dizendo que Jesus fazia milagres porque era filho de Belzebú seria aceito? Porque eles fazem coisa parecida com os deuses do candomblé e demais.
Se eu pedir para um casal hetero a se retirar de um estabelecimento, como um bar ou uma boate, por causa de um beijo, o que fariam? OBS: agarramento desenfreado é atentado ao pudor, seja pra heteros ou homos, mas basta qualquer demonstração de afeto entre um casal homo, como um braço sobre o ombro e dá lhe lâmpada na cabeça…
Acontece que, incitação e apologia ao crime e a violência não é só liberdade de expressão, é crime previsto pela lei. A constituição também prevê que os cidadãos viveriam protegidos de todo tipo de discriminação. Uma pessoa pode pensar o que quiser, mas a partir do momento que se expressa, deve pensar se não cai na incitação ao crime e na injúria. A sorte no outdoor é que não colocaram o final, dizendo que devem morrer. Bíblico ou não, apologia e incitação ao crime e a violência já é um crime, amigo… Dizer que acha errado, que acha pecado, que acha feio, tá todo mundo se fu… Agora dizer que deve morrer, insultar na rua com pregações enquanto as pessoas andam, etc, já é demais. O guia da liberdade é o respeito, o que até Crowley fez muito bem equivalendo gematricamente sua lei da vontade com a lei do amor, o que claro, inclui respeito.
Uma pessoa pode falar praticamente o que quiser, desde que saiba falar.
Um conselho: vá a algum lugar desconhecido, para evitar estragar o resto da sua vida e finja ser gay por uma semana ou algo menos ortodoxo que isso… Pode fingir ser um satanista, um Hare Krishna, ou um mulçumano, melhor seria uma mulçumana de burca, ou algo do gênero. Depois de uma semana ouvindo piadinhas e insultos na rua, se tiver sorte de não ser agredido e ter que mostrar seu karatê, quando simplesmente sair pra comprar pão, vai mudar de idéia… Essa é a vida de muita gente, que você acha que deve simplesmente ignorar isso. Realmente, é só o que cabe, porque esse Estado de m… não faz nada mesmo. Enquanto isso, a Wanessa deve ganhar uma boa grana por causa da piada com o bebê…
Muito bom o Texto!
Isso que dá traduzir a torah para o português coisa que acho impossivel de se fazer,e também a torah existe 4 niveis de interpretação quem não sabe cabala , fica nesse fundamentalismo religioso infelizmente =/
sobre a parada gay , não acho correto também e concordo com você quando fala que se parece um carnaval ^^ ,Sexo hoje em dia se tornou tão banal tanto hetero e gays,
Incubus e Succubus devem estar tão alegres nesses tempos =) .
Ralph,
Para todos nós que estamos na incessante busca do crescimento e evolução espiritual e que conseguimos compreender que na verdade o nosso espírito é masculino e feminino, que somos ying e yang, que somos partes de um todo…a questão da sexualidade se torna algo muito mais bem resolvido.
No passado, já vivi em um contexto em que pessoas homossexuais (e sem qualquer sentido pejorativo aqui por favor !) viviam querendo me convencer de que eu deveria me relacionar sexualmente com eles, tipo um assédio sexual mesmo.
Te confesso que eu ficava triste e que acabei me afastando do convivio dessas pessoas, por elas não respeitarem a minha opção sexual, do fato de eu não ter desejo por homens e sim por mulheres, pois sempre achei que a homossexualidade não deveria ser um rótulo, pois na verdade para mim o que sempre valeu e importou é o que a pessoa tem dentro do seu coração.
Depois de muita reflexão, hoje te digo que acredito que muitos homossexuais não tem ainda muito bem resolvida a sua sexualidade (assim como muitos héteros é claro !) e que muitos homossexuais não respeitam a liberdade do outro em não compartilhar da mesma opção sexual. Outro fato interessante é que se um homem hétero se aproxima de um homossexual dificilmente estes últimos vão conseguir enxergar a tua aproximação como algo respeitoso e amistoso, acabam sempre levando a relação para uma conotação sexual, pelo menos foi assim com as pessoas com quem tive prazer de conviver.
No mais agradeço o teu brilhante texto e o que quis com esse meu comentário foi expor um outro ponto de vista sobre esta temática, pois afinal, nunca estamos totalmente certos e nunca estamos totalmente errados, pois para mim a verdade é sempre relativa ao contexto.
Muito obrigado,
Leandro.
@raph – Oi Leandro. Sim é claro que essas coisas ocorrem também, e que muitas vezes há pequenos desencontros e interpretações apressadas nas relações de amizade em geral, quando um dos lados sente atração sexual e o outro não. Mas onde não há violência, onde não há “demônios e abominações imaginários”, há sempre espaço para a contrução de uma relação de respeito, no mínimo. Abs!
Interessante… mas mesmo assim, não resolveu a questão fundamental…
Antes de começar, quero dizer que não, eu não tenho o MENOR preconceito contra homossexuais. Eu tenho um amigo homossexual que, pqp… dou muitas risadas com ele, ele é gente fina e também é bem “bicha alegre” como se diz por aí… Ou seja, uma pessoa normal que, a despeito de qualquer coisa que se queira achar, eu considero um amigo (um amigo bem “feliz”, mas um amigo mesmo assim…). E além disso, em todo o decorrer da minha vida, nunca tive problemas com gays, lésbicas, trans, e o baralho que seja… pessoalmente, acho que separar as pessoas em caixinhas por “orientação sexual” é praticamente o mesmo que separá-las por “raças”. E já sabemos bem os resultados de uma ideia perniciosa como essa…
Porém, cadê a resposta para o problema apresentado? O post começa com o argumento de que se os gays devem ter liberdade de expressão, os religiosos fanáticos também devem (assim como QUALQUER grupo deveria ter, independente das idéias…). Então, o autor apresenta um típico “ataque à pessoa” julgando que todos os que tem um pensamento parecido com esse pertencem ao grupo dos que acham que “precisamos agora é de uma Parada do Orgulho Hetero!”. E depois, apresenta um longo conjunto de fatos que não tem nada à ver com a pergunta proposta, e por fim, uma conclusão “bonitinha” que também nada tem à ver com o que foi proposto discutir…
Oras, eu acho que, se quisermos ter uma tal “liberdade”, que essa liberdade seja total, e não infantilizadamente modelada para servir ao “politicamente correto”, já que isso é assaz relativo e muda constantemente com o tempo. Todos aqui somos adultos, ninguém precisa “defender” o cérebro de ninguém (aliás, é exatamente isso, criar “cérebros em bolhas” que gera boa parte das preguiças de raciocínio e comportamento “de gado” do povão). Se por um lado, a atitude do juizado é bem vista e alegremente comemorada, por outro, é apenas um “tapa buraco” em algo muito maior, muito mais profundo que o próprio preconceito, que é o intrínseco “uso do poder”. De fato, é impossível sair do relativismo em uma questão destas; os gays ganham, a suposta “sociedade” ganha, porém os religiosos fanáticos perdem. E aí, como é que fica? Será realmente justo isso?
Vou finalizar com um dito que sintetiza todo o comentário, proclamado por Voltaire: “Eu posso não concordar com uma palavra do que você diz, mas defenderei até a morte o direito de dizê-las”
@raph – Olha eu até concordo com Voltaire, mas como disse na resposta de um comentário acima:
“a questão central da polêmica em torno do outdoor é que eles mesmos (a Casa de Oração de Ribeirão Preto) colocarm os “…” no final do versículo, suprimindo a parte do “devem morrer”. Ou seja, de certa forma, eles mesmos tiveram vergonha ou certo pudor de expor o versículo todo no outdoor. Porque será, não é mesmo?”
Ou seja, eles poderiam, por exemplo, expor com as própria palavras os motivos de não concordarem com a Parada Gay, e provavelmente até encontraiam uma ressonância maior com o pensamento da população não-homofóbica (ver a Observação #2 no final do artigo). Nesse caso duvido muito que a justiça iria barrar o outdoor…
Uma coisa é liberdade de expressão, de crítica do comportamento alheio, outra bem diferente é incitar a violência (na verdade, incitar o assassinato mesmo)… Ou seja, não oprimais os estrangeiros (de sua opção sexual).
Mas, em todo caso, o objetivo do post era mais demonstrar porque não faz o menor sentido usar a Bíblia para justificar que a homossexualidade é “abominável”.
Acho que o autor não foi imparcial em seu texto, pois defende abertamente o direito de liberdade de um grupo (gays) em detrimento do direito de expressão do outro.
Está claro que a supressão da expressão “devem morrer” teve como objetivo evitar a acusação de se estar incitando a violência(crime tipificado no CP).
Caso tivessem mantido o versículo na integra e o MM. juiz teria usado uma desculpa menos esfarrapada para justificar a sua decisão de mandar retirar do out door.
@raph – Então, vc disse que fui parcial. Leia novamente o que acabou de escrever acima… Vc tem certeza que o “direito de expressão” envolve citar trechos bíblicos com “…”, onde qualquer pessoa com acesso a Bíblia poderá conferir em minutos que após os “…” temos basicamente uma recomendação de assassinato?
O site da revista Carta Capital publicou literalmente menos de 1h antes deste artigo, um artigo com temática bem similar (e, não, eu não havia lido ele antes de escrever este):
Ser gay é pecado? por Cynara Menezes
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/ser-gay-e-pecado/
Abs
raph
Muito bom o texto! Crítica extremamente coerente e equilibrada. Parabéns!
@raph – Obrigado Priscila 🙂
Raph, parabens pelos texto. Realmente em Levitico o verbo usado, traduzido como abominavel quer dizer, na verdade “usual”, “habitual” e até mesmo plantar dois tipos de legumes diferentes lado a lado era punivel com morte (fora que é um livro dirigido praticamente aos levitas). Mas há outro texto muito citado para criticar o homossexualismo:
Romanos 1:26-27 “Pelo que Deus os entregou a paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural no que é contrário à natureza; semelhantemente, também os varões, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para como os outros, varão com varão, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a devida recompensa do seu erro.”
O que vc pode me dizer sobre ele?abs
@raph – Bem, Romanos é uma carta de Paulo, e expressa a opinião dele. Crer que “Paulo fala em nome de Deus”, em absolutamente tudo, é crer, no mínimo, que ele tinha a mesma autoridade de Jesus. E lembramos que Jesus sequer menciona a homossexualidade…
Além disso, Paulo estava criticando especificamente certos rituais pagãos onde havia sexo (de toda a espécie) envolvido.
Há um comentário sobre isso aqui (Jovens Gays Cristãos):
http://www.jovensgayscristaos.com/2011/06/romanos-1-26-e-27-idolatria-e-ritos.html